sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Parece que conseguimos: 5 de Outubro, fora!

Abolir o feriado da Restauração num momento em que somos governados pelo Conselho de Portugal - a troika -, é um erro.
Portugal é um dos poucos países do mundo que não tem como dia nacional, o da sua independência. O 10 de Junho parece seguir o pressuposto secundo-republicano salazarista da "conciliação" entre monárquicos e republicanos, apresentando o "dia de Camões" como o necessário consenso que torna mornas, as outrora caudalosas águas da questão do regime. O pior é que à beira do estuário, deu-se um súbito refluxo da corrente.
Pois é isto mesmo que salta à vista. O 5 de Outubro é escarnecido como coisa sem préstimo, quando na realidade, se enquadrado por uma verdade histórica bem mais importante que um tolo bambúrrio de patifes, representasse a data primeira na contagem de séculos que já vivemos como Estado soberano, aliás em perigo de extinção prematura. É quanto muito, o derradeiro dia de ida à praia.
Os donos do território a que hoje se chama "país" e que até há cem anos era simplesmente conhecido como Portugal, já consideram terem perdido a sua feriazita de início de Outono. O "dia da República" parece subir em espiral gasosa, para sempre se volatilizando da memória, "colectiva" - de colher - como convém.
Quanto à claríssima "moeda de troca" política que é o feriado do 1º de Dezembro, notemos apenas uns tantos factos, sobressaindo o clássico protesto do "mundo de negócios" espanhol refastelado em Portugal e que se insurge contra este pretenso insulto a Espanha. O verdadeiro insulto provirá daqueles vinhoso hálitos de Rioja de rasquíssima qualidade, pois barafustarem em terra alheia contra o direito de liberdade das gentes locais, é já coisa do domínio do insólito, como se uma composição de Beethoven fosse acompanhada por ritmados clapa-clapes de mãos e sonoros ais de dançarinos de flamenco. Compreende-se a insistência dos "amigos de António Reis", sabendo-se como os republicanos sempre foram iberistas, chucha que lhes vem do primeiro e privilegiado berço de pantagruélica casta.
Se os nossos leitores repararem em algumas coincidências, o 1º de Dezembro serviu para a cerimónia de assinatura do aborto imperial que se denomina de Tratado de Lisboa, coisa tão efémera como a herança peninsular do também prematuramente defunto príncipe D. Miguel da Paz. A data do 1º de Dezembro, além de significar o dia mais importante da nossa História, representou o fracasso de um projecto de criação de um potentado com sonhos de domínio mundial que tendo origem na Europa Central, depressa se estendeu ao sul da bota italiana, terras de Espanha e às costas do Mar do Norte. Conhecemos bem esse A.E.I.O.U., hoje de mais prussiana pronúncia.
Além de ser o dia da nossa segunda independência, aí está uma das razões do ruminante pavor que o 1º de Dezembro significa para alguns beneficiários dos "direitos adquiridos" do regime dos panças. Não têm emenda, mas todos os topam a anos-luz.

Nuno Castelo-Branco
 

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