segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Uma Causa Política

Em declarações à imprensa há uns anos, o republicano José Ribeiro e Castro considerava constituir um incalculável privilégio para um País com a nossa história, mais ainda quando ameaçado por uma sinistra crise de soberania nacional, possuir uma tão venerável quanto unânime Casa Real. Apesar da improvável origem destas sábias declarações, essa é quanto a mim a principal e mais preciosa motivação para a minha militância monárquica. Trata-se afinal de uma simples mensagem sobre Esperança. Um país com quase 900 anos de história bem merece exibir no topo da pirâmide do Estado uma isenta instituição transgeracional, exclusivamente vocacionada para o serviço público, contribuindo decisivamente para a materialização de uma Nação una e para a conciliação dos diversos interesses, facções e corporações que pela sua natureza se digladiam, organizadas em inevitáveis “partes” e “partidos”.
Tamanha tarefa choca no entanto com a incontornável realidade: destituídas de recursos materiais e humanos, as estruturas da Causa Real as reais Associações, salvo honrosas excepções, roçam a inexistência reduzidas à participação em jantares, efemérides e cerimónias religiosas.
Para começarmos a contrariar esta lógica, teremos de entender definitivamente a Causa Real como uma organização intrinsecamente política. É como tal que deveria ser assumida pelos seus líderes que, para todos os efeitos, deverão assumir-se também como políticos. Mas acontece que as Reais Associações não têm militantes, têm sócios, e, ainda por cima, difíceis de mobilizar para este ambicioso projecto: promover eficazmente a utilidade, notoriedade e reputação da sua Casa Real.



Urge assim alterar as nossas prioridades para uma intervenção aglutinadora de ideias e para a disputa do espaço mediático, seja ele analógico ou digital, físico ou virtual. A nossa prioridade não é convencer os monárquicos a serem mais monárquicos, mas cativar o homem da rua que hesita entre a simpatia e o preconceito, usando uma mensagem clara e atractiva.
Deste modo, defendo que compete às Reais Associações imiscuírem-se nas discussões de temas económicos, nas questões políticas candentes do país que é de todos nós. É paradigmática a facilidade com que conseguimos juntar oitocentas almas num jantar elegante à volta da Família Real, ao mesmo tempo que somos impotentes para reunir mais de vinte e cinco militantes a discutir temas importantes da actualidade política. Não animamos um núcleo estudantil, não temos voz nos partidos políticos. É irónico como enchemos igrejas pelo menos duas vezes por ano e não conseguimos juntar três bandeiras da monarquia num jogo da selecção nacional para atrair a atenção do cidadão comum. A pergunta que sobeja é esta: está a nossa organização condenada à insignificância dum grupo de patuscos saudosistas? Que mudanças organizacionais são necessárias para operar inversão deste declínio?
Há três anos consecutivos que a Causa Real vem disputando o palco político proporcionado pelo 5 de Outubro com considerável sucesso, sempre granjeando protagonismo através de entrevistas e reportagens nos telejornais, imprensa e rádios nacionais e regionais. Por outro lado a Causa Real anuncia neste número do Correio Real a criação de dois grupos de trabalho, a Comissão Política e a Comissão Económica, por forma a reforçar-se a sua a componente política e substanciar o argumentário económico-financeiro para uma restauração da Instituição Real.
Num panorama de profundas dificuldades, há animadores sinais de uma Causa Real que ambiciona extravasar a sua relevância para o terreno que é o seu por natureza e obrigação: o político, o da conquista dum futuro de esperança para Portugal.

Novembro 2011 - Texto adaptado. Publicado no boletim Correio Real nº 6

João Távora
 

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