quarta-feira, 10 de outubro de 2012

CARTEIRA DE SENHORA

Anda a carteira triste porque lhe vão roubar o dia 5 de Outubro. Claro que sendo do contra, com isto querendo dizer contra a minha pessoa, lamenta não poder ir assistir àquelesempolgantes discursos republicanos, ao hastear da bandeira verde e rubra nos Paços do Concelho em banho de multidão exaltada. Recomendar-lhe-ia óculos e um aparelho auditivo, mas respeito o entusiasmo e não comento, em omissão piedosa. Estranhamente ou não parece que a última celebração será numa espécie de clandestinidade.
Tive de lhe lembrar que no dia 5 se celebra acontecimento bem mais importante. Uma das datas ligadas à fundação da nacionalidade: o Tratado de Zamora em 1143.

Portugal não faz umas quaisquer dezenas de anos mas oitocentos e sessenta e nove, 869, para ver se percebem bem a grandeza dos números.

Tudo se deve essencialmente à teimosia de um só, alguém que sonhava um Portugal independente. Era alguém especial, D. Afonso Henriques, que após a batalha de Ourique em 1139, e aclamado pelos seus cavaleiros, passou a intitular-se rei de um Portugal que teimava em ver livre da vassalagem a D. Afonso VII de Leão e Castela.

Com avanços e recuos mas com firmeza e usando de uma estratégia política bem delineada, acabou alcançando os seus intentos. Passaram-se anos até ao Tratado de Zamora, muitos outros até ao reconhecimento pontifício (1179), mas a teimosia deu frutos.

É graças a si que aqui estamos ainda hoje como Nação independente. Será? Não sei se o nosso primeiro Rei gostaria muito de ver no que Portugal se transformou. Talvez pudesse pensar se tanto esforço afinal teria valido a pena …

Pelas leis matemáticas e das probabilidades, dizem-nos que todos somos de alguma forma aparentados com D. Afonso Henriques.

É indiferente.

Era mais importante que soubéssemos ser herdeiros da sua firmeza e da sua férrea vontade de defender a soberania.


Leonor Martins de Carvalho
 

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