domingo, 16 de fevereiro de 2014

Honi soit qui mal y pense

Muito se tem escrito sobre as aventuras amorosas do presidente da República francesa. Depois de uma duradoira união de facto com a mãe dos seus filhos, passou a conviver com outra senhora, que com ele habitou no Eliseu, até à data em que a imprensa descobriu um novo episódio na atribulada vida sentimental de Hollande. Indignada com o 'affaire', a ex-primeira-dama abandonou recentemente o palácio presidencial.

Entendem alguns que a vida privada é coisa que só ao próprio respeita. É possível que assim seja. Mas será eticamente legítimo que um titular de um cargo público partilhe as instalações a que tem direito, por razão do seu ofício, com alguém com quem não está casado? É razoável que o presidente viva, com o cônjuge, na residência oficial mas, tratando-se de um espaço custeado pelo erário público, não é aceitável que nele habite com amizades ocasionais.

Parece óbvio que o presidente não deve levar para o Eliseu a sua actual amiga, nem o deveria ter feito com a sua agora ex-companheira porque, não sendo legalmente suas esposas, nenhuma delas tem direito ao estatuto de primeira-dama. O contrário é confundir a vida privada com responsabilidades públicas. Hollande é livre de viver com quem quiser, mas não pode pretender que se outorguem os privilégios exclusivos do consorte presidencial a quem com ele não é casado.

A bem dizer, também o estatuto de 'primeira-dama' tem que se lhe diga. Compreende-se que a mulher do rei seja rainha porque, na monarquia, mais do que o indivíduo, é a família que representa a nação. Mas no regime republicano, o chefe de Estado é-o a título pessoal, pelo que não faz sentido que associe à sua função os seus familiares. Até porque, como neste caso, há candidatas ao lugar que 'damas' talvez sejam, mas 'primeiras' decerto que já não são …

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada

Fonte: Povo

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