quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Uma entrevista exclusiva com a Família Real de Portugal: sem assuntos proibidos

Dom Afonso, Dona Isabel, Dona Maria Francisca e Dom Dinis. Na hora das fotos, a duquesa de Bragança comentou: “Meu filho Afonso não é a cara do Dom Joãozinho [príncipe da família imperial do Brasil]?”

Por Michelle Licory

Glamurama recebeu um convite inesperado: entrevistar a família real de Portugal, que depois de passar por Tailândia, Camboja, Bali e Timor Leste, estava até esse fim de semana no Rio de Janeiro, completando um mês de viagens. Vieram para o casamento da princesa Amélia de Orleans e Bragança com o escocês Alexander James Spearman, realizado no último dia 16 na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, e se hospedaram no Pestana, em Copacabana. É que o hotel recebeu um selo real de qualidade: “By appointment, entende? Meu marido reconhece que a rede Pestana representa bem Portugal”, nos explica a duquesa de Bragança, Dona Isabel, mulher de Dom Duarte Pio de Bragança, que seria o rei de Portugal, caso a monarquia voltasse. Ele não veio ao Brasil. Nosso encontro – totalmente informal, na própria suíte que ocuparam – foi apenas com a duquesa e seus três filhos, os príncipes Dom Afonso, 18 anos, o herdeiro, Dona Maria Francisca, 17, e Dom Dinis, de 14, que nunca tinham sido entrevistados antes, de acordo com a mãe. Ela, aliás, foi criada em São Paulo, dos 9 aos 24 anos: seus pais – que se dividiam entre Portugal e Angola - decidiram vir para o Brasil em 1974 “por conta da revolução”. Ah, dona Isabel foi pedida em casamento em Ilha Bela, sabia?

Por marketing, por lógica e pelo lado emocional
 ”Se a monarquia voltasse, seria muito bom para o país. Cada vez que muda o presidente, tem que começar de novo as relações com o mundo inteiro. Quando você tem um rei, um príncipe, ele vai crescendo e conhecendo as pessoas. Se pensar em marketing… Você sabe quem são todos os reis da Europa, mas não quem é o presidente da Alemanha”, exagera a duquesa. ”Duvido que saiba. Ninguém sabe. E é o país mais forte da Europa. Além disso, o povo se vê na família, uma família que está aí para o que der e vier e não vai embora, enquanto o presidente fica quatro, cinco anos e depois o outro que resolva. A monarquia é muito melhor para o povo, sobretudo nessa época de globalização, em que estamos perdendo um pouco da nossa cultura. A gente fica pensando em como vamos salvar nossa cultura, já os presidentes estão mais descansados. A nível emocional… Nunca pensei que ia casar com meu marido e sempre fui a favor da monarquia. Até por lógica, é um sistema muito mais importante para lançar um país no mundo. Uma vez meu marido teve uma reacção furiosa ao entrar em uma loja e ver que não tinha nenhum produto português. Foi a reacção de um homem apaixonado. É importante não se deixar ficar blasé.”

 “A pátria encarnada em uma família”
“A nossa situação em Portugal não e oficial, e oficiosa, o que dá bem mais trabalho. Eu me protejo um pouquinho, mas meu marido viaja sempre pensando em como pode promover a cultura portuguesa, criar ligações com países de língua portuguesa.” Perguntamos se ela cria os filhos como príncipes ou como cidadãos do mundo. “Passamos nossos valores cristãos. Somos católicos, vamos a Fátima… E nos preocupamos em dar para eles noções de responsabilidade. A gente não pode pensar só na tradição. A tradição e a história ajudam a gente, mas para se lançar para o futuro, para aprender e ser gente da nossa época. Não fiquem pensando que é só privilégio. Pelo contrario: é muito mais obrigação. É esse espírito que a gente tem. Eles estudam em um colégio normal, têm amigos normais. Até andam de metro. A maioria dos príncipes é assim. Tem essa ideia de fora de que estão em uma redoma, por alguns exemplos que existem. Mas a maioria são pessoas normais, que trabalham. E somos uma referência, a pátria encarnada em uma família. As pessoas lá me perguntam como estão os ‘nossos meninos’. Não são meus, são de todos.”


Pra quem gosta de escândalo…
“Pra quem gosta de escândalo, nossa família é um pouquinho sem sal. Eles saem, se divertem, mas por enquanto não há nada de escândalo. Espero que não haja.” A gente quis saber se os adolescentes são alvo de paparazzi. “Não porque sempre tivemos esse contacto muito próximo com as pessoas. Quando eles eram pequenos, cada revista queria fazer a sua foto. Mas eles ficavam muito cansados. Então hoje temos o nosso fotógrafo oficial. A gente tira foto no Natal, em ocasiões especiais, e divulga. Isso porque as pessoas gostam de seguir a família. Mas não aparecemos o tempo inteiro. Não é muito saudável.  E você viu aqui como eles ficam presos na hora de tirar foto. Com o nosso fotógrafo, se sentem mais à vontade. É mais prático.”

Se não vira ateu e republicano
Perguntamos se Dom Afonso é criado para ser rei, caso a monarquia volte. “De certa maneira. Ele fez 18 anos. Em Timor houve uma cerimónia. Desceram a montanha, vestiram ele todo, puseram uma roupa tradicional. Foi muito bonito. Houve um pacto e o rei de lá trata os outros reis como primos. Então não importa essa questão de não ser mais colónia. Eles não pertencem mais a Portugal, mas tem um afecto. O embaixador da China até há pouco tempo quando vinha a Portugal primeiro cumprimentava meu marido, e depois ia se apresentar. A relação milenar, ou secular, entre Portugal e China era muito mais importante. Eles levam muito em conta essa ligação histórica.” Tudo bem, mas Dom Afonso gosta de ter essa função? ”Ele tem que gostar, mas a gente fala: se você não quer, tem sempre alguém que pode tomar o lugar. Temos muito cuidado porque tanto religião quanto monarquia a gente tem que dar em dose certa, se não vira ateu e republicano.  A gente faz devagar, mostrando que sem duvida é um serviço, e não um privilégio. ” Comentamos que ele é o mais tímido dos três. “Talvez… Mas é o mais observado também, o que é sempre mais complicado.”


E as jóias da coroa?
É claro que perguntamos sobre as jóias da coroa portuguesa, glamurette! “Usei no meu casamento um diadema que foi da última rainha de Portugal, dona Amélia. É uma jóia muito bonita e bem guardada. Como é uma peça histórica, nunca viajei com ela para fora de Portugal. Só usei no casamento e em fotografias oficiais, mas nem daria para usar mais. É muito grande. A maioria das jóias não ficou na família, nem as propriedades. Em Portugal, existe a fundação da Casa de Bragança, e todo mundo pensa que é nossa. Não é. Na época do ditador Salazar, ele pegou as coisas da família e pôs na fundação. Também tem peças em museus. O que está connosco, a gente preserva. Isso tudo passa sempre para o filho mais velho, mas a minha sogra, dona Maria Francisca, era da família imperial do Brasil e, quando casou, recebeu alguns presentes. Esses eu vou passar para a minha filha, Francisca.”

Intelectual de segunda
Por fim, perguntamos o que Portugal pode aprender com o Brasil.  “Os portugueses são um povo sério, trabalhador, mas não são tão à vontade. E o que me chocou muito quando voltei a Portugal… No Brasil, e nas Américas, uma pessoa pode ter sua religião e ser intelectual. Não é conflitante.  Na Europa, se você fala que tem religião é considerado um intelectual de segunda.  Mas Portugal está aprendendo.”


* No final do nosso tempo com a família, conseguimos conversar um pouco com os três príncipes.

Dom Afonso, príncipe da Beira, o herdeiro do trono
Perguntamos como ele se sente no papel de herdeiro da coroa. “Não vou mentir: um pouco nervoso. Penso no peso, na responsabilidade se a monarquia voltar pra cima de mim e para o resto da família. As pessoas ficam de olho em nós. Se nos comportamos mal, fazemos alguma coisa fora do lugar… É um pouco demais, mas por um lado gosto de ser o mais velho porque posso tomar conta dos meus irmãos. Por outro lado, eles não gostam muito que eu fique em cima deles. Gostaria de fazer as mesmas coisas que meu pai faz, conseguir o que ele consegue. O holofote é um pouco chato porque de vez em quando gosto de ficar relaxado, descansado, mas tenho que ter sempre o cuidado de não ser mal interpretado. Se a monarquia voltar, por um lado, fico contente, não só por nós… Não é sempre assim, mas dizem que em um país de república, quem tem poder e dinheiro está contente e o povo descontente. Na monarquia, o povo esta contente e quem está no poder estar cansado. Há mais controle… Quem governa é para manter as pessoas contentes.” Dona Isabel interrompe para explicar melhor o raciocínio do filho. “Tem uma metáfora… A república é como um jogo de futebol, uma partida entre dois grupos, na qual o árbitro foi escolhido [ou eleito] por um dos times. Na monarquia, como o rei está por cima dos partidos, é mais isento… Isso que ele está querendo dizer.”

Dona Maria Francisca
Comentamos que a mãe disse que espera que um dia ela use em seu casamento o tal diadema da rainha Amélia. “Gosto imenso dessas coisas e também acho engraçado uma jóia passar de geração em geração. Quem sabe um dia minha filha também vai usar.” De que mais ela gosta ”imenso”? “De música: Rolling Stones, Phoenix, indie rock. Minha única responsabilidade hoje é ser boa aluna. É minha prioridade. Tenho a preocupação de me comportar bem, ser responsável. E faço voluntariado. Antes fazia no colégio. Hoje participo de jantares para angariar fundos para instituições que recuperam toxicodependentes. E quero ir para a África ajudar lá.” E aí foi a vez de Afonso interromper: “Você quer é ir à praia lá.”

Dom Dinis
“Ser um terço do meu pai já seria um sucesso. Agora é mais responsabilidade com estudos do que com festas… Podemos ter redes sociais. Nós temos. Mas precisamos tomar cuidado com o que publicamos, como qualquer pessoa. Não tenho propriamente um ídolo na música porque esses artistas às vezes fazem coisas…” Que príncipe não faz? “Isso, mas nem pessoas normais fazem. Meu ídolo é meu pai.”


Dom Afonso, Dona Isabel, Dona Maria Francisca e Dom Dinis: Família Real Portuguesa no Rio
Créditos: Juliana Rezende


















Fonte: Glamurama

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