01 outubro 2015

D. Afonso Henriques Arma-se Cavaleiro



Em 1125, com apenas 14 anos de idade, num acto de importante relevância política, o efebo Dom Afonso Henriques, conforme o uso e costume dos Reis, arma-se a si próprio Cavaleiro na Catedral de Zamora, cidade onde se auto-refugiara. O Infante Portucalense torna-se assim guerreiro e cavaleiro independente, pois quando o Conde D. Henrique faleceu, em 1112, e o governo do condado foi assumido por Dona Teresa, uma vez que, Afonso Henriques, o filho de ambos tinha apenas três anos de idade.
A favor de Dona Teresa colocam-se o Bispo de Santiago de Compostela e os nobres galegos, mas D. Urraca, Rainha de Leão e Castela, vence a irmã, em 1119, e assume o domínio do Condado cujo governo volta, pouco depois, a entregar a Dona Teresa mediante vassalagem.
Dona Teresa pouco fica, entretanto, a dever, a esses compromissos tão feudais e, em 1121, auto-intitula-se Rainha, mas os conflitos com o Clero e a sua relação com o fidalgo galego Fernão Peres, a quem entregara o governo dos distritos do Porto e Coimbra, originou a insurreição dos Portucalenses e do próprio filho o Infante D. Afonso Henriques, invariavelmente afastados, por forasteiros, da gestão dos negócios públicos.
Assim, o Infante Dom Afonso Henriques considerando-se usurpado dos seus legítimos direitos prepara a senda aventureira que o haveria de levar à Ideia e depois à Fundação da Nacionalidade e de Portugal e a recortar pela espada esta tão brava Nação.
O primeiro Acto da Sua Gesta pode-se considerar o episódio em que se Arma a Si próprio Cavaleiro. Atentemos ao relato dessa estória que fez o tão patriota Frei António Brandão in ‘Crónica de D. Afonso Henriques’:
‘Célebre e glorioso se pode reputar, entre nossa gente o ano do Senhor de 1125, pois nele tomou a Ordem de Cavalaria o infante D. Afonso, filho da rainha D. Teresa, com cujas armas se ilustrou o nome português.
E porque o facto foi mui notável e o são também as palavras com que se lhe refere a História dos Godos, será bem trasladá-la neste lugar, para satisfação dos curiosos leitores, e são as que se seguem:
«Na era de 1163 [1125, pois só a partir de 1422 é que os documentos portugueses passam a usar a era de Cristo, logo têm que se diminuir 38 anos] o ínclito infante D. Afonso, filho do Conde D. Henrique, tendo 14 anos de idade, se armou cavaleiro na igreja da catedral da cidade de Samora. Ele mesmo, com suas próprias mãos, tomou as insígnias militares do altar do Salvador, a uso dos reis, e se vestiu a loriga, e como gigante (que era grande de corpo) se mostrou semelhante em suas façanhas ao leão, e ao filho do leão, quando anda feroz na montaria. Foi de gentil presença, amável por sua formosura, de engenho claro, de corpo bem composto e agradável, de ânimo intrépido. Com razão podemos chamar a este rei D. Afonso, o Viriato cristão, ou o primeiro Hércules Lusitano, respeitando os imensos trabalhos que passou na dilatação da Fé, e as obras de valor estranho que executou.»’
Seguiram-se os restantes Actos que culminariam com o Nascimento de Portugal em 5 de Outubro de 1143: no dia 24 de Junho de 1128, à dianteira dos barões e fidalgos portucalenses, Dom Afonso Henriques defrontou no campo de São Mamede, perto de Guimarães as forças galegas comandadas por Dona Teresa e pelo seu valete Fernão Peres de Trava, derrotando-os naquela que ficou conhecida pela Batalha de São Mamede e que marcou a Fundação da Nacionalidade Portuguesa, uma vez que o Infante Dom Afonso Henriques avoca a si, o governo do Condado Portucalense com pretensões de independência.
Não é ainda após esta Batalha que se auto-intitula Rei, Rex Portucalensis, pois com duas frentes de Batalha – uma contra Leão e Castela, outra contra os sarracenos –, tal só se viria a acontecer após a Batalha de Ourique, em 1139, quando arrasou os mouros e consegue uma importante vitória que o engrandece sobremaneira e assim declara a Independência face a Castela-Leão. Nascia, assim, em 1139, o Reino de Portugal e a sua 1.ª Dinastia, com El-Rei Dom Afonso I Henriques de Borgonha.
Em 1143, quando assina a paz em Zamora, onde é reconhecido como Rei. Afonso Henriques usava já o título havia três anos, desde o torneio de Arcos de Valdevez, em 1140, após o episódio de Ourique. Mas desaparece, assim, e só aí, a designação histórica deCondado Portucalense e nasce o Reino de Portugal.
Miguel Villas-Boas

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