sexta-feira, 11 de março de 2016

ASSASSINADOS... (1)


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A sentença estava traçada há vários anos e tinha como objectivo a implantação da república em Portugal.
Por isso, no dia 1 de Fevereiro de 1908, há 108 anos, quando a Família Real, vinda de Vila Viçosa chegou a Lisboa e ia entrar para a Rua do Arsenal, ouviu-se um tiro. O possível sinal para o início da “chacina”. São assassinados a tiro, no Terreiro do Paço, Sua Majestade el-Rei D. Carlos e o Príncipe Real D. Luís Filipe.
A 21 de Maio de 1908, D. Manuel II descreveu a forma como viveu este trágico acontecimento, sob o título de “Notas absolutamente íntimas”:“Vi um homem de barba preta [...] abrir a capa e tirar uma carabina [...]. Quando [o] vi [...] apontar sobre a carruagem percebi bem, infelizmente, o que era. Meu Deus, que horror o que então se passou! Logo depois do Buíça ter feito fogo [...] começou uma perfeita fuzilada, como numa batida às feras! Aquele Terreiro do Paço estava deserto, nenhuma providência! Isso é que me custa mais a perdoar ao João Franco...”   
Magalhães Lima pronunciou a doutrina e o Grande Oriente Lusitano (obediência maçónica portuguesa), executou-a!
Para a concretização do plano, surge a Carbonária Portuguesa - maçonaria irregular, fundada em 1896 por Luz de Almeida, integrada na loja Montanha.
ban.JPGBandeira da Carbonária (veja-se a semelhança com a bandeira da república Portuguesa)
A Carbonária Portuguesa foi criada com uma única finalidade: derrubar a Monarquia, nem que para isso tivesse de recorrer ao assassínio. Era uma força armada e milícia maçónica, que mobilizava alguns milhares de elementos, fabricava bombas, fornecia armas e, clandestinamente, dava instrução militar aos seus membros, tendo sido ela a responsável pelo atentado contra o legítimo Chefe de Estado Português e Seu Augusto filho.
Este Crime Inqualificável é o culminar de alguns anos da feroz e mentirosa propaganda republicana, que culpava El-Rei D. Carlos por todos os males do país, afirmando, insistentemente, que o Rei estava desacreditado, quer no país quer no estrangeiro, bem como a Família Real. Afirmava também que D. Carlos era um Rei ignorante e inexperiente, sempre influenciado pela igreja, indiferente aos interesses de Portugal, entre tantas outras acusações, que ia publicando na imprensa nacional e internacional.
A máquina propagandística estava muitíssimo bem afinada!
Propaganda esta que teve como principal instigador o Grão-Mestre do Oriente Lusitano, Magalhães Lima, que ao longo dos anos foi colaborando e fundando alguns jornais, designadamente: “A Republica Portugueza”, “Comércio de Portugal”, “ O Século”, etc., onde desferiu os seus ferozes ataques à monarquia e ao Rei de Portugal, sendo, pois, ao invés de D. Carlos e da Monarquia, o principal responsável pela impopularidade do regime, através dos seus escritos intencionalmente direccionados e de falsos argumentos.
Para Magalhães Lima, D. Carlos era também o grande responsável pela permanente divisão partidária.
Contudo, nada pode ser mais falso.
Em primeiro lugar, o bipartidarismo resultava, não da vontade do Rei, mas dos resultados eleitorais. E a divisão partidária não acontecia na Monarquia, pois aqui, o Rei representa a Nação na sua plenitude e continuidade e, não sendo eleito, não fomenta qualquer disputa partidária, o que acontece, precisamente, na república, em virtude da eleição do chefe de estado, oriundo de um ou outro quadrante político e normalmente apoiado por forças partidárias.
Em segundo lugar, D. Carlos teve uma intensa actividade diplomática, que credibilizou imenso o país e a sua imagem no exterior. Visitou alguns países e recebeu em Portugal diversos Chefes de Estado, que o admiravam muito, entre os quais Alfonso XIII de Espanha, Guilherme II da Alemanha, Eduardo VII da Inglaterra, o presidente Loubet de França, o rei do Sião Chulalongkorn (Rama V).
Em terceiro lugar, D. Carlos era um Homem culto e avançado para época. Pintor notável e investigador no campo oceanográfico, sobretudo da biologia marítima, era também um ornitólogo, devendo-se a ele a publicação do “Catálogo Illustrado das Aves de Portugal”. El-Rei foi um cientista!
A trágica morte do Príncipe Real, D. Luís Filipe, barbaramente assassinado, privou Portugal de um jovem que teria todas as condições para ser um grande Rei, já que para isso vinha sendo preparado desde o seu nascimento.
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Mas a culpa não é só dos republicanos.
Alguns monárquicos contribuíram, também, para que se criasse um ambiente hostil ao Rei, designadamente os dirigentes do Partido Progressista, caso de José Luciano de Castro e do Partido Regenerador António de Serpa Pimentel.
Desde a Regeneração que o sistema político português se desgastava a olhos vistos, sobretudo devido à alternância de dois partidos no Poder: o Progressista e o Regenerador. A situação agravou-se com o aparecimento de novos partidos, que emergiram de dissidências internas, como foi o caso do Partido Regenerador Liberal, de João Franco, e da Dissidência Progressista de José Maria de Alpoim  sobre quem  recairam inúmeras suspeitas de envolvimento no regicídio.
Cerca de 32 meses após o Regicídio, a 5 de Outubro de 1910, a república é proclamada em Portugal. E logo surgem os “adesivos”, isto é, os monárquicos que se “tornaram” republicanos e vivem, confortavelmente, no regime.
“Adesivos”, ainda hoje os há, e pude constatá-lo recentemente nas eleições presidenciais!...

(2) Lei Maçónica e Lei Civil. Sugestões para um Estudo, in Ensaios de Maçonaria. Lisboa, Quetzal Editores, 1988, pág. 54.
Oliveira Marques, foi professor universitário, historiador e Grão-Mestre Adjunto do Grande Oriente Lusitano (1984-1986) e Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33 (1991-1994).

José Aníbal Marinho Gomes

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