02 novembro 2016

O Perfil do Rei – Parte II

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Também, a afabilidade que os Reis sempre demonstram com o Seu Povo não é um excesso de (falsa) cortesia nem compromete a Sua potestade, muito pelo contrário aproxima uns e outros e permite nesse acto de aproximação o dom precioso da concórdia, da harmonia dentro do Estado, algo que só alguém que interpreta a vontade nacional e representa todos os cidadãos, obtém.
Relativamente a um outro aspecto importante, se se pretende que o Chefe de Estado represente o País e, consequentemente, as suas gentes, o Primeiro Cidadão deve ter uma postura que corresponda à dignidade do cargo e às suas funções representativas. Ora aqui é determinante a educação recebida pelo Chefe de Estado, que deve ser desde tenra idade preparado para esse cargo representativo. Esse papel que tem de ser exercido com urbanidade, graça, distinção, só pode ser correctamente desempenhado por um Rei, pois o Príncipe herdeiro é instruído, ensinado, lapidado para melhor representar a Nação. A educação do Príncipe Real é orientada da forma que se entende ser a mais adequada ao melhor desempenho do seu futuro Ofício de Rei, de forma a Reinar da forma mais útil e favorável para o País, tendo uma superior consciência dos problemas nacionais, mas também para representar de forma mais apropriada os costumes da Nação, a civilidade do seu Povo e a ter a polidez necessária que evite embaraços diplomáticos e gaffes protocolares. Por muito que existam pessoas competentes nas instituições de Protocolo de Estado, nas repúblicas, nem mesmo um árbitro das elegâncias e mestre-de-cerimónias como Petronius Arbiter poderia moldar em tão curto espaço de tempo um qualquer mais alto representante de uma qualquer república, que não foi educado durante toda a sua vida para exercer tais funções como foi um Rei. Por isso nunca um qualquer presidente de uma qualquer república pode ter o mesmo grau de urbanidade, polimento, delicadeza e savoir-faireque um Rei – para quem tudo isso é inato, porque para isso foi preparado toda a Sua vida.
‘Toda a sequência dos homens durante o decurso de tantos séculos deve ser considerada como um só homem que subsiste e apreende continuamente’, defendeu Pascal. Essa Continuidade é um dos argumentos que mais qualifica a Monarquia, pois evita as tempestades que podem surgir com uma mudança que ponha tudo em causa e gere instabilidade política e social. A Monarquia evita a cisão! Na Monarquia não há uma nova ordem que institui uma oposição à ordem anterior, mas uma diferença que qualifica, sem ser radical, mas, também, sem ser igual; existe uma remodelação histórica, um novo sentimento que impulsiona a Nação: não corta com o passado, mas também, não se distancia da vanguarda. É mesmo assim, o novo Rei arraiga-se ao que é estável e fixo proporcionando equilíbrio, mas tenta compreender as metamorfoses da sociedade e o continuo fluxo do desenvolvimento. Não fica atolado, não salina para seu conforto e segurança – ficando estático -; antes evolui, manobrando racionalmente a mudança para proveito do Povo e do Estado. O Rei responde ao apelo dos novos tempos, escuta o bom senso, vislumbra os acontecimentos e faz a transição, a passagem do tempo do velho Rei para o tempo do novo Rei. O Rei morreu! Viv’ó Rei! Ao novo Rei obriga-o o dever do trono e destino dos Reis: reinar sobre a morte de quem lhe deu vida! No novíssimo Rei estão personificado todos os imediatos, pois um rei não é apenas um homem, mas um ideal! É a Continuidade… apanágio exclusivo da realeza que, como lembrou o 2. Conde de Alvellos: ‘… visa de longe a meta, pois se não for o Pai a ultimar a realização, seu Filho, automaticamente alçado Rei, educado das mesmas ideias de seu Pai, tudo seguirá como se a mesma vida fosse!’
Servir… Sempre Servir é Ofício e Destino dos Reis – Para o Bem Maior de Portugal!
Sem deslocamento de óptica, o novo Rei, é fruto de um longo trabalho de preparação técnica e cultural para assimilar e interiorizar a Sua Nação que encarnará e representará como mais ninguém poderia. O novo Rei não enterra o passado, mas antes lança mão dos bons exemplos dos seus antepassados, adapta-os e ajusta-os à nova realidade. Apesar de acompanhar sempre os tempos, procura manter um percurso lógico sem desprezar a experiência e a lição dos antecessores. A Monarquia é o melhor modelo adaptado a cada época. A sucessão hereditária não é um obstáculo à Democracia, pois o princípio hereditário não prevalece sobre o democrático.
Como assinalou o historiador francês Jacques Bainville:
‘A Monarquia é o mais maleável dos regimes, o mais pronto a se renovar, aquele que tem menos medo das ideias e o que menos se encerra na rotina.’
Por isso sinos a repicar alegremente, foguetes a estalar nos céus, mantas coloridas nas janelas, faixas e bandeiras nas árvores, tudo sinais com que as povoações com multidões compactas, entusiasticamente, por brios ter, acolhem sempre o novo Rei.
‘Que no nosso coração de patriotas se avive, mais que nunca, a fé pelo futuro de Portugal! Nesse alevantado sentimento se estreita o Rei e o Povo português.’, defendeu S.M.F. El-Rei Dom Manuel II de Portugal, 1908. Ele que tinha por avoengos os Imperadores romanos da Dinastia Comnenus e Paleólogo, os Reis Capetos de França, a estirpe real dos Orleães, os Saxe-Coburgo e Gotha, os Imperadores da Hispânia, o Rei Fundador Afonso Henriques; Ele que privava com os maiores Reis da Terra, mostrava-se português em tudo e não se fazia rogado em estender a mão e a Sua palavra fácil e amistosa ao Povo.
El-Rei Dom Manuel II de Portugal num interesse atento entregava constantemente um sorriso mostrando-se sempre o que era, pois já na sua «Doutrina ao Infante D. Luís», o douto humanista Lourenço de Cáceres Lhe recomendava “que se não aparte da afalibilidade nem dê pouca parte de si ao povo, pois que não há erro mais nocivo para quem seja de senhorear ânimos portugueses!”. Ah, Berço abençoado!
Era a comunhão entre Rei e Povo, represtinada dos primórdios da humanidade que começou por se organizar sob o modelo da Monarquia, o Elo natural que só as revoluções de uma minoria que se apropriou dos meios de força e coacção conseguiu quebrar.
O Rei protegia e amava o Povo e a Nação e todas as suas coisas; aos primeiros amava como um Pai e as suas coisas guardava como se fossem Suas. Lembremo-nos da célebre tirada d’ El-Rei Dom João II: ‘Quero que se entenda que a Bandeira Portuguesa defende e protege até um papagaio!’
Já há milhares de anos, escreveu Aristóteles: ‘A Monarquia é o único sistema de governo onde o bem é exercido para todos.’
Hoje nas Monarquias já não existem propriamente súbditos, mas cidadãos de plenos direitos, iguais perante a Lei e que são muito estimados pelo Seu Rei/ Rainha e que vê essa estima retribuída pelo Povo, que entende ter no Rei o bem mais precioso da Nação.
É, POIS, UM REI QUE QUEREMOS!, pois só um Rei traduz a vontade nacional, sentindo com o Seu Povo e a Sua Nação. O Povo não é uma amálgama de indivíduos, mas um conjunto de entes que num dado momento histórico constitui a Nação, uma comunidade estável constituída por vontade própria, historicamente, com base num território, numa LÍNGUA, e com aspirações materiais e espirituais comuns. Ora se a Nação estiver constituída em Reino, e uma vez que Monarquia é uma instituição que contém um peso emblemático, todos se sentirão parte de um todo.
O Rei, Chefe Supremo do Estado e da Nação, nunca foi político nem militante partidário, e independente de um calendário eleitoral, terá a tranquilidade e a legitimidade para actuar como moderador entre as várias facções políticas ou demais grupos da sociedade civil evitando conflitos e procurando agregar. Sem os vícios do sistema político, o Rei não será refém de favores ou obrigações, de interesses ou lobbies partidários, económicos ou mesmo desta ou daquela classe social. O Monarca é um capital contributo para o normal e regular funcionamento das instituições democráticas e nunca um bloqueador do seu funcionamento.
El-Rei será, também, em último caso, uma ressalva contra a ditadura, pois será travão de políticos eleitos que procuraram obter poderes maiores aos atribuídos pela Constituição. Como o Rei era a História viva da Nação, não havia crises de identidade nacional.
O Monarca tem como função personificar o carácter nacional e dar continuidade à Nação, um Servidor do Povo e do Estado!
Mas além do papel essencialmente político, o Rei tem outro tão ou mais importante: o de servir o interesse da comunidade, da Grei, isto é, assegurar o bem da coisa comum, actuar em benefício da res publica.
Também, não é Rei para ter acesso a um estilo de vida luxuoso, mas um homem que pelo papel que lhe foi reservado pela sucessão hereditária encarna toda a Nação, que se quer viva, e que por isso nas cerimónias públicas aparece dignamente como representante da Nação que se deseja o mais ilustre e brilhante possível. Não com um aparato ao serviço de um homem que é Rei, mas o Rei ao serviço do cerimonial da Nação, sem banquetes sardanapalescos mas mantendo a solenidade do Estado quando se justificar!
A república, essa, não surgiu naturalmente, por vontade do Povo, mas nasceu manchada pelo sangue dos inocentes e pela golpada revolucionária, pelo que por defeito de gestação acabará implodindo devorada pelos parasitas que a consomem, que a sugam!
No Reino de Portugal o poder do Rei sempre adveio de um pacto com as Cortes – que no fundo era um Congresso de Chefes. O Rei era assim o primus inter pares entre os barões do reino. Hoje, numa Monarquia Constitucional, esse pacto será firmado com o Parlamento que deverá representar verdadeiramente o Povo português e não apenas os partidos, porque o Rei não tem partido – é inteiro – que Aclamará o Rei que será assim o primeiro magistrado da Nação e o primeiro entre iguais dos portugueses.
Miguel Villas-Boas

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