27 fevereiro 2017

O milagre dos pastorinhos de Fátima



Consta um novo milagre atribuído à intercessão dos beatos Francisco e Jacinta Marto. A notícia ainda não foi oficialmente confirmada mas, se o for, ficará aberto o caminho para a canonização dos dois mais novos pastorinhos de Fátima. Tendo em conta que a sua beatificação ocorreu em Fátima, a 13 de Maio de 2000, quando São João Paulo II peregrinou pela última vez ao santuário da Cova da Iria, não seria impossível, embora muito improvável, que o Papa Francisco ambos canonizasse no próximo dia 13 de Maio, por ocasião da sua peregrinação a Fátima, no centenário da primeira aparição mariana.

O alegado milagre só poderá ser reconhecido como tal depois de analisado por três comissões. À científica cabe provar que o facto extraordinário não é susceptível de explicação natural. A comissão teológica tem que reconhecer que o eventual milagre se deve à intercessão dos bem-aventurados Francisco e Jacinta. Por último, o pleno da Congregação para as Causas dos Santos deverá aprovar a canonização que, em última instância, é decidida pelo Papa. Nestas questões, a Igreja é particularmente cautelosa e, por isso, não é de estranhar que seja longo o processo a realizar desde o rumor de um possível milagre até à beatificação, ou canonização, do servo de Deus em causa.
Mas, mesmo que, por razão da necessária complexidade e demora deste processo, já não seja possível que o Papa Francisco os canonize por ocasião da sua vinda a Fátima, a verdade é que, a confirmar-se o possível milagre atribuído aos dois mais novos pastorinhos, está agora mais próxima a sua tão desejada canonização.

Embora muito se tenha já feito no sentido de dar a conhecer a vida santa de Jacinta e Francisco Marto, é pena que, mesmo entre os cristãos, nem todos conheçam suficientemente estes tão impressionantes exemplos de santidade. De facto, ao ler as Memórias da Irmã Lúcia – cujo processo de beatificação, concluída a fase diocesana, prossegue agora em Roma – fica-se muito impressionado com a heroica virtude a que, em muito pouco tempo, chegaram aqueles dois irmãos.

A sua mudança e conversão é tanto mais significativa quanto é certo que tais crianças eram, antes das aparições, muito normais, também nos seus defeitos infantis. A Jacinta tinha os caprichos próprios das meninas da sua idade e o Francisco fazia as travessuras comuns aos rapazes da sua aldeia: numa ocasião, por exemplo, atirou pedras aos miúdos de uma povoação vizinha, com outros garotos de Aljustrel. Outra vez, ao ver em casa um irmão mais velho que, à lareira, dormitava, só não lhe meteu pela boca um bicharoco porque o pai, in extremis, o impediu de consumar a malandrice … Nem sequer eram crianças particularmente piedosas: apesar de terem todo o dia por sua conta e os pais lhes recomendarem a reza diária do terço, nem isso faziam, para terem mais tempo para as suas brincadeiras pueris, enquanto pastoreavam os rebanhos familiares.

Se é verdade que, de início, de ‘santinhos’ não tinham nada, quando morreram eram já de uma comprovada virtude: impressiona ver a sua rija piedade, a sua mortificação heroica, a sua extraordinária devoção eucarística, sobretudo do Francisco, sempre desejoso de fazer companhia a ‘Jesus escondido’ no sacrário; o seu terno amor pela Senhora mais brilhante do que o sol que se lhes aparecera; as suas ânsias de reparação pelos pecados de todos os homens; a sua filial oração pela Igreja e pelo Santo Padre; o seu empenho em sufragar as almas do purgatório; a sua generosidade na oração e expiação pela conversão dos pecadores, aterrorizados como ficaram com a visão do inferno.

Mesmo que Fátima não estivesse associada a mais nenhum fenómeno extraordinário, a santidade dos pastorinhos seria ‘milagre’ mais do que suficiente para atestar a sua autenticidade sobrenatural. Mas é também um repto e, quase, uma provocação: se eles, em tão pouco tempo, progrediram tanto espiritualmente, porque não aprendemos nós a lição?! Porquê esta nossa demora em segui-los pelos caminhos da santidade, que eles tão heroicamente percorreram em tão pouco tempo?!

Em boa hora a Conferência Episcopal quis assinalar o centenário das aparições marianas da Cova da Iria com uma carta pastoral, “Fátima, sinal de esperança para o nosso tempo”, para ler e meditar. Para os mais novos, que bom seria dar-lhes a conhecer as vidas heroicas dos bem-aventurados Jacinta e Francisco Marto! Se Nossa Senhora confiou tanto naquelas três crianças, que escolheu para suas interlocutoras e mensageiras, porque não fazer outro tanto com os jovens das nossas famílias, catequeses e escolas?

P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA

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