sábado, 10 de junho de 2017

Santo Anjo Custódio de Portugal



«Hoje a festa pagã de "Portugal, Camões e Comunidades Portuguesas" apagou quase por completo a verdadeira festa "Santo Anjo Custódio de Portugal". Consequentemente, quem comemora aquela sem comemorar esta é PAGÃO, ou porta-se como tal. Assim me parece. Mas certamente muitos portugueses nunca se deram conta deste fenómeno.

Tal como as pessoas, as nações têm um anjo da guarda. O caso de Portugal é nisso bastante especial pois não há outro país que tenha culto público oficial ao seu Santo Anjo. Também é o único país a quem o seu Anjo Custódio apareceu como tal (em Fátima, aos três pastorinhos). E digo assim porque, evidentemente, S. Miguel Arcanjo apareceu não como Custódio de Portugal. E dou como exemplo a aparição que fez em 1750, aqui em Portugal também, à Irmã Antónia d'Astonaco (carmelita) a quem deu a devoção da Coroa Angélica, que vai ser aqui difundida (aprovação da devoção e reconhecimento da aparição feito pelos Papa Pio IX a 8 de agosto de 1851):

“O glorioso Arcanjo prometeu que quem o honrasse desta maneira antes da Sagrada Comunhão seria acompanhado à Sagrada Mesa [a “mesa” , ou “comungatório” é aquilo que hoje ainda restam em algumas igrejas que por ignorância costuma ser agora chamada de “grades” e que se situa uns depois do altar-retábulo e antes dos fiéis] por um Anjo de cada um dos nove coros. Prometeu também a quem rezasse todos os dias essas nove saudações a sua assistência e a dos Santos Anjos durante a vida, e que depois da morte os livraria do Purgatório a eles e aos seus parentes.” (Com autorização da Autoridade Eclesiástica – Lisboa)

A devoção e culto ao S. Miguel Arcanjo como Custódio do Reino de Portugal é tão antigo quanto o próprio Reino. O seu culto propagou-se para e com a recuperação dos territórios cristãos lusitanos sob patrocínio régio:

"S. Miguel Arcanjo. Foi sempre conhecido dos Portugueses por Anjo Custódio deste Reino, depois que o invicto Rei D. Afonso Henriques venceu com seu patrocínio a Albaraque nos campos de Santarem; e por isso lhe erigiu copiosas Capelas, assim na Igreja de Alcáçova da dita Vila, como nos Mosteiros de Danta Cruz de Coimbra, e Santa Maria de Alcobaça, onde seuas santas Imagens são veneradas, e milagrosas." (Agiológio Lusitano. Tomo III pag. 126)

“No ano de 1329, em que reinava D. Afonso IV, era Abade deste Mosteiro Paio da Vaia, e confessa dever de cento e dois jantares cada ano a D. Rodrigo Bispo de Tuy. Haverá cento e tantos que foi daqui Abade Diogo Anes Aranha, instituidor da Capela do Outeiro, de que falámos na Freguesia de Pacó. Deviam já ter suas anexas esta Freguesia, e as de S. João da Parada, e S. Lourenço do Cabrão, em que o Reitor apresenta Vigário, e dois dízimos, e outros fóros se fez a Comenda de Cristo, que tende trezentos mil reis. Tem esta Freguesia 120 vizinhos com um Reitor, que apresenta o Ordinário, e há nela uma Capela de S. Miguel o Anjo, Ermida antiga, que no tempo da Rainha D. Teresa se chamava S. Miguel de Veiga, e nela eram obrigados os Bispos de Tuy a cantar cada ano uma Missa por sua Alma, e pelos Reis seus sucessores. A esta Ermida vai a Camara dos Arcos no terceiro Domingo de Jullho, em que se festeja o Anjo Custódio, acompanhando o seu Mordomo, que sempre é mancebo nobre, e solteiro; dizem Missa; voltam a ensaiar os cavalos a Requeijó, onde lhes dão um refresco de doces. Chegam ao terreiro da Vila, ali correm suas parelhas, lançam canas, e fazem uma escaramuça dobrada, com perfeição grande. A Rainha D. Teresa, quando deu à Sé de Tuy este Mosteiro, deu-lhe mais a Igreja de S. Miguel de Aurega na ribeira do Lima, que devia então ser Paroquia.” (Corografia Portugueza e Descripçam Topográfica do Famoso Reino de Portugal. LISBOA, ano 1706. pag. 228.)

D. Manuel com os Bispos do Reino solicitaram ao Papa Leão X a oficialização desta devoção já muito alastrada, ao que o Papa acedeu em 1504 com a instituição da Festa do Anjo Custódio do Reino de Portugal. O Rei determinou depois que em todas as igrejas esta festa fosse solenizada com grande devoção e maior solenidade: e que toda a sociedade estivesse realmente presente, desde os homens de maior responsabilidade até ao mais pequeno súbdito.


O culto tributado a S. Miguel Custódio de Portugal desde sempre teve um impacto forte nos lusitanos. Veja-se nas origens do Reino o significativo encontro desta devoção com aquele motivo de baptismo "Terras de Santa Maria":

“Com a muita concorrência de Romeiros, e devotos que vinham visitar a sagrada Imagem da Virgem Santa Maria, edificaram-se junto do seu Mosteiro algumas casas, que assim como podiam ser para acolhimento e agasalho dos que vinham a visitar esta Senhora, também podiam ser para morada de alguns seus devotos; e com elas foram fundadas contiguas umas com outras, lhe puseram o nome de Burgo, e a seus moradores o de Burgueses.Este foi o primeiro fundamento da nova Vila de Guimarães, e este o seu princípio, que foi muitos anos depois da Vila Velha, como tenho mostrado pelos Autores citados, e o reforça, e verifica esta verdade; que antes da Vila Velha experimentar suas ultimas ruinas, tinha jurisdição dividida da Nossa, e ambas eram governadas por diferentes Ministros; tanto assim, que ainda hoje numa Procissão, que costuma fazer todos os anos a Camara ao Anjo Custódio na terceira Dominga de Junho, que sai da igreja colegiada com o seu Cabido, e mais Clérigos da serventia dela, vão os Vereadores com suas varas em corpo de Camara acompanhados de seu Procurado, Misteres, e Escrivão, e os Ministros da Justiça, Corregedor, Provedor, e Juiz de fora, e entram na Vila Velha, e na sua Igreja de São Miguel reza o Cabido certas orações; e quando está Procissão sai da Colegiada, leva o Juiz de fora um pendão de cor vermelha, e nele um painel do Santo Anjo, e chegando ao distrito da Vila Velha, o entrega ao Vereador mais velho, em razão deste não poder entrar com vara alçada onde não tinha jurisdição; e de presente se está observando este estilo. “ (Corografia Portugueza e Descripçam Topográfica do Famoso Reino de Portugal. LISBOA, ano 1706. pag. 7)

Apenas para reforçar esta última parte, na qual podemos ver que ser português implica ser cristão, olhemos agora um exemplo numa capela de S. Miguel Arcanjo Custódio de Portugal. Observe-se também como se nota toda uma estrutura bem articulada e de muitas matizes da sociedade católica:

“O Mestre da Capela serve a Capela do Anjo Custódio [no Hospital de Todos os Santos, em Lisboa], tem de obrigação Missa quotidiana por El-Rei D. Manuel, tem de ordenado sessenta e dois mil réis, a saber de Capelão quarenta, e dois para sobrepliz, dezasseis de mestre, quatro mil réis, e um moio de trigo para um tiple, e não o tendo não o haverá, tem mais um algueire de grão para a quaresma, um quarto de carneiro por dia de todos os Santos, outro pela Pascoa, e pelo Natal entra com os outros Capelões na repartição de um porco, tem mais cada sábado noventa réis para a barba.” (Livro das Grandezas de Lisboa; ano 1620. Lisboa. pag. 127)

A data da festividade nem sempre foi a mesma. É posterior a data fixa de 10 de Junho, sendo que antes calhava no terceiro Domingo de Julho ou Junho (o terceiro Domingo de Junho prevaleceu). Com o liberalismo, o séc. XIX viu cair esta fervorosa e esplendorosa festividade que sofreu ainda mais com o assalto dos republicanos ao Reino. Assim nos temos mantido com um 10 de Junho do "não sei quê", onde se enfiam por todo o lado as tolices da democracia e da república... bandeirinhas de papel pintado de verde e vermelho, criancinhas levadas a ver a parada dos militares da saudade dos tempos à séria.


Termino lembrando que, em Lisboa, o Corpus Christi tinha a procissão de tal grandeza como a Europa nunca vira, e que a do Santo Anjo Custódio de Portugal, por benefício Papal, equiparou-se-lhe.


Santo Anjo Custódio de Portugal, defendei-nos da Res Pública, defendei os portugueses republicanizados a acordarem do sono em que dormem. Libertai Portugal.»


Publicado por: Fidelissimus

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