31 agosto 2017

O PÓS TERRORISMO, UMA NOVA FORMA DE TURISMO?

 “S. Miguel Arcanjo defendei-nos neste combate, cobri-nos com o vosso escudo contra os embustes e ciladas do demónio. Instante e humildemente vos pedimos, que Deus sobre ele impere e vós, Príncipe da milícia celeste, com esse poder divino, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos que vagueiam pelo mundo para perdição das almas. Ámen.”
                                         
Papa Leão XIII


Um homem que não se importa de morrer é invencível. Será?

É-o no sentido de que, decidido a morrer, é muito mais difícil de ser neutralizado pois não precisa pensar num plano de fuga e não tendo pejo em perder a vida, actua sem condicionantes que não sejam os de causar os maiores danos num hipotético alvo.

Tem apenas, para quem o manipula, o óbice de não poder ser reutilizável o que deixa de ser um incómodo caso não haja dificuldade no recrutamento.

Por outro lado ficará invencível quer faleça ou fique vivo, se as ideias ou ideologia que, porventura, sustentam a sua actuação se mantenham vivas e a circular.

Por isso só há duas maneiras, que têm de ser complementares, de acabar com o terrorismo – já decerto perceberam que é disso que estamos a tratar, e mais concretamente no terrorismo de raiz islâmica – é matar o (s) terrorista (s) por antecipação (opção preferível) ou no acto, já que prendê-los é difícil, custa dinheiro ao contribuinte e, sendo mais tarde libertados, voltam ao mesmo.

Depois é preciso combater ideológica e moralmente as ideias que sustentam tais comportamentos, firmemente (as ideias combatem-se com ideias, não de outras maneiras), sem receios serôdios de ofender consciências ou com laivos de “tolerância” e “respeito” absolutamente deslocados quando não, estúpidos.
Que é o que por aí se vê mais…

Quando, porém, o potencial terrorista juntar a tudo isto, estar eivado de certezas e com firme convencimento da boa razão da causa que abraçou, o problema ainda se torna mais complicado e são necessárias medidas mais drásticas para se atacar e neutralizar toda esta ameaça.

Ora tudo isto necessita de acções duras, porventura cruéis, fora do “regulamento” e até “incivilizadas” num quadro de convivência normal em sociedade.

Acontece que o terrorismo não pode nem deve ser considerado como normal seja em que sociedade for (enfim só em Portugal é que a banditagem que atentou contra a Família Real e implantou a República à bomba, é que depois foi chamada para o Governo; mas enfim, isso são outras histórias…).

Ora a classe política que tem desgovernado o Ocidente, grande arauto das ideias que assumem como democráticas (e a maior parte da população segue-lhe as pisadas),não está minimamente preparada para lidar com este assunto.
Por isso – e já começa a ser ridículo e confrangedor – é que após um acto terrorista se passa o seguinte: choque e indignação; mensagens de solidariedade; "slogans" do tipo ”somos todos…”; iluminação de edifícios com as cores da bandeira do país atingido (“máxime” a Torre Eiffel); romaria ao local do atentado, com deposição de mensagens, velas e flores; promessas políticas de “não cedência”; “perseguição implacável”; “condenação absoluta”; minutos de silêncio em jogos de futebol e concertos de solidariedade, etc..

Acompanhados, ipso facto, de um coro que já todos sabemos de cor, de que “o islão é uma religião de Paz”; “quem faz isto não é muçulmano” (embora se fartem de gritar invariavelmente Ala Akbar); não se deve confundir a grande massa dos muçulmanos com os terroristas; “a emigração não é responsável por isto”; “tem que haver maior coordenação entre os Serviços de Inteligência”, “não podemos deixar que estes actos ponham em causa a nossa maneira de viver” e mais um conjunto de frases que, não sendo de todo desajustadas ou parvas se tornaram vazias de sentido pela sua repetição e inconsequência.

Já me esquecia, também se refere sempre, vá-se lá saber porque bulas, que “o autor do atentado” já estava referenciado pelas autoridades”…

Agora, em Barcelona inventaram um novo “slogan” “Não temos medo”. É bonito e mobilizador, o que não quer dizer que vão deixar de morrer…

Findo este ciclo, até porque a todas as horas, novas notícias de eventos batem à porta, tudo volta ao quotidiano.

Quando se dá novo atentado, a cena repete-se.

Ora isto só se pode resolver com atitudes de dureza assíria, feitas com inteligência e onde lhes possa doer.

A única coisa que parece importar aos extremistas islâmicos é a própria religião. Deve ser então, por aqui que se tem que actuar. E actuar por antecipação.
Vamos só apontar alguns exemplos do que se deve fazer das muitas dezenas que já deviam ter sido postas em prática.

Controlo aturado de toda a movimentação de islâmicos e restrições à sua aceitação como emigrantes; reciprocidade de direitos e deveres entre países de maioria islâmica e os estados europeus (ocidentais) – os japoneses em todo este âmbito não lhes dão qualquer abébia, por exemplo); obrigação ao estrito cumprimento e respeito das leis e costumes nacionais dos países em que vivem, acabar com, ou suspender temporariamente, as leis mais restritivas, de modo a permitir que os Serviços de Informação, as Forças de Segurança e os tribunais façam o seu trabalho adequadamente, sem o que qualquer esforço neste âmbito está à partida, condenado ao fracasso.

Isto só, porém não chega. Tem que se ir ao psicológico dos putativos terroristas e naquilo que os possa dissuadir a fazerem o que fazem.

Por exemplo, há que avisar (e levar à prática) que qualquer terrorista que seja apanhado vivo, ficará preso toda a vida em circunstâncias muito pouco agradáveis e ser-lhe-á cortada a mão direita.

Os que forem mortos, ser-lhes-á separada a cabeça do corpo e serão enterrados embebidos em banha de porco e a sua localização não será conhecida.

Todos os seus haveres serão confiscados e os seus familiares se viverem no país serão presos, a sua propriedade arrasada (os países de origem serão convidados a colaborar nisto, daí se verá de que lado estão…); qualquer mesquita ou outro local que tenha sido provado ter sido usada para preparação de acções terroristas ou de doutrinação radical será arrasada e o seu chão salgado.

Verão que a coisa pára num ápice.

Se por acaso tiverem dúvidas, aconselho leitura da acção histórica (e memorável) desse “enorme” português que deu pelo nome de Afonso de Albuquerque.

Até lá vamos ter que ficar com o novo turismo baseado no terrorismo, inaugurado pelos políticos bem-falantes, muito bem comportados, com uma correcção política ao mais alto nível, que se dedicam agora a visitar-se mutuamente e aos locais dos atentados, quando se dá mais uma qualquer tragédia.

E têm demonstrado ser de uma cobardia e incapacidade que começa a ser patológica.

Que S. Miguel Arcanjo nos acuda.



   João José Brandão Ferreira
   Oficial Piloto Aviador


Fonte: O Adamastor

30 agosto 2017

29 agosto 2017

Caná: o milagre que nunca devia ter acontecido

É São João quem relata o primeiro milagre de Jesus de Nazaré. Tendo sido sua mãe convidada para um casamento em Caná da Galileia, bem como ele e alguns dos seus discípulos, faltou o vinho. Maria comunicou esta carência ao seu filho, que disse que não importava, porque não tinha ainda chegado a hora de se manifestar ao mundo. Sua mãe, contudo, não desistiu: logo disse aos empregados de mesa que obedecessem a Cristo. Por sua indicação, encheram com água uns grandes recipientes e resultou depois que os mesmos estavam, na realidade, repletos de bom vinho (Jo 2, 1-11).
Os outros evangelistas – Mateus, Marcos e Lucas – não referem este acontecimento e a razão é óbvia: este milagre, pura e simplesmente, nunca devia ter acontecido! Ou, tendo-se realizado, deveria ter sido silenciado! Com efeito, este facto pouco ou nada abona a favor de Cristo, por mais que João diga, em jeito de happy end, que foi graças a este prodígio que os seus discípulos acreditaram nele (Jo 2, 11).
Uma primeira objecção deve ser feita à presença de Jesus e dos discípulos naquele banquete. Se os fariseus e João Baptista jejuavam, o mesmo era de esperar de Jesus: a sua participação naquela festa não condiz com a sua condição de mestre espiritual. Não consta que tenha pregado lá, nem feito nenhuma cura, pelo que a sua presença foi, na realidade, desnecessária, senão mesmo fútil. Decerto, não só ele como também os seus seguidores foram, para os fariseus, motivo de escândalo: em vez de se comportarem como uma santa milícia de ascetas, em demanda dos árduos caminhos da salvação, agiram como um grupo de amigos na pândega, a gozar os prazeres da vida!
Aliás, não foi caso único, porque Jesus ia a festas que, não só não eram religiosas, como nelas abundavam os publicanos e os pecadores que, segundo o Evangelho, são os melhores compinchas para a diversão! (O que explica a sua ida para o Céu, onde se dispensa a presença dos chatos e dos ‘beatos’ …). À custa destas más companhias, Cristo não só ganhou a fama de glutão e bebedor (Mt 11, 19), como também provocou o muito puritano escândalo dos fariseus de então e de agora.
Também não se percebe por que razão Maria se intrometeu numa questão que não lhe dizia respeito, não sendo ela mãe de nenhum dos noivos, nem a anfitriã. Diga-se, de passagem, que é de má nota que alguém, faltando o vinho na casa onde é convidado, trate de o arranjar e, pior ainda, o consiga até de melhor qualidade do que o que antes se tinha servido! A advertência de Maria também pecava por moralmente inconveniente: o vinho não era essencial e a sua ausência era mais proveitosa do que prejudicial.
De facto, o milagre religiosamente correcto era o contrário: em vez de converter a água em vinho, transformar o vinho em água! Com efeito, está provado que o excesso de água, excepto no caso dos náufragos, é muito menos pernicioso do que o do vinho. Portanto, o que se esperava de um santo homem de Deus era o milagre inverso: como o fruto da videira, embora produza uma momentânea euforia, é muito nocivo para quem o consome de forma destemperada – como já aconteceu com Noé, a quem a Bíblia atribui a sua invenção – Jesus deveria ter mudado o vinho em água. Naquele caso, vinha até muito a propósito, uma vez que se tratava, precisamente, de um copo-de-água!
O milagre também não se justificava em relação aos apóstolos. É verdade que neles aumentou a fé em Cristo, mas talvez também a ilusão de que poder-se-iam entregar a uma vida ociosa, uma vez que, por virtude daquela extraordinária capacidade do mestre, estavam garantidas todas as suas necessidades: graças a Jesus, não teriam que ganhar a vida com o suor do seu rosto. Mais do que um exército de laboriosos operários da vinha, poder-se-iam converter num conjunto de ociosos parasitas que, à conta desse poder milagroso, se entregassem a uma vida de prazeres. Pior ainda: por via da produção industrial e posterior comercialização daquele excelente vinho, os apóstolos poderiam sucumbir à tentação de trocar a sua missão espiritual por aquele muito mais rentável negócio que, certamente, nenhum judeu digno deste nome desprezaria.
Um último reparo a este primeiro e tão desastroso milagre de Cristo: a viagem de ida e volta de Caná da Galileia foi demorada, bem como a cerimónia religiosa do casamento e o posterior banquete. Também a operação que antecedeu o milagre foi trabalhosa: foi preciso encher de água seis grandes talhas de pedra, cada uma com capacidade para uns cem litros. Só depois o seu conteúdo foi levado ao chefe de mesa, que foi quem provou o bom vinho, felicitando o noivo pela excelente zurrapa. Pergunta-se: mas Jesus não tinha nada mais importante para fazer?! Será que o filho de Deus veio ao mundo para fazer de taberneiro?! Porque não empregou esse tão precioso tempo a curar doentes, a consolar aflitos, a ressuscitar mortos, a pregar a palavra de Deus, a resolver conflitos, a alimentar pobres, a ensinar ignorantes, a perdoar pecados, ou a realizar outras obras de misericórdia?!
Mais do que o esplendor da divindade de Cristo, aos fariseus de todos os tempos exaspera a amabilíssima humanidade de Jesus! Mais do que os rigores da penitência mais exigente ou do dogma mais incompreensível, irrita-os a imensa alegria de viver de Jesus e dos cristãos! Por isso, eram tão azedas e ressabiadas as suas críticas ao nazareno, como agora são as que os novos fariseus fazem aos seus discípulos. Eram capazes de perdoar a Cristo as suas ousadias doutrinais, mas não lhe podiam desculpar aquela tão pura e intensa felicidade, que é, afinal, a grande novidade cristã!
Os fariseus de ontem e de hoje não sabem que a vida é uma festa, porque ignoram a alegria do amor de Deus, a que se acede pelo arrependimento e pelo perdão. São uns tristes, porque não sabem que Deus é amor (1Jo 4, 8), nem que o Pai do céu “não enviou o seu filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3, 17). Jesus não veio à terra para complicar a existência humana com uma infinidade de preceitos e proibições, mas para conceder aos seus fiéis a “liberdade gloriosa dos filhos de Deus” (Rm 8, 21) e o dom da vida na abundância (Jo 10, 10).
Fonte: Observador

28 agosto 2017

Portugal é Portugal, os outros são apenas europeus



Preparam-se em Bangkok as grandes cerimónias da coroação do novo Rei da Tailândia. O novo monarca, Maha Vajiralongkorn, tomará o nome de Rama X, é o décimo soberano da dinastia Chakri, no trono desde 1772 e um devotado amigo de Portugal. Tive o prazer de o conhecer há cinco anos, por ocasião do simpósio sobre os 500 anos de relações luso-tailandesas, no início do qual proferiu o discurso que traduzo e transcrevo.

"É com grande prazer que acorro a este importante evento em que a Tailândia e Portugal se juntam para celebrar 500 anos de relações amistosas entre os povos de ambos os países. Esta relação pode ser seguida desde aquele ano de 1511 quando, animados pelo fervor de descobrir novas terras, os navegadores Portugueses tocaram o Sião. A História lembra-nos que foi graças ao pensamento visionário do monarca português e do apoio concedido a Vasco da Gama na sua primeira expedição que Portugal se antecipou aos restantes países europeus e se estabeleceu na Índia e no Sudeste-asiático. Os Portugueses chegaram a Ayutthaya, então capital do Reino do Sião, no reinado de Ramthibodi II, corria o mês de Julho de 1511.

Ao longo dos tempos, as cordiais relações abriram passo a outras formas de relacionamento e trocas culturais e artísticas, do comércio à arquitectura, da gastronomia à introdução do uso da artilharia ocidental. Portugueses estabeleceram-se em Ayutthaya sob protecção real e aí exerceram livremente o comércio e puderam praticar a sua religião.
Desde o seu início, as relações luso-tailandesas diferiram acentuadamente daquelas existentes entre o Sião e outras nações europeias, pois não foram marcadas nem pela ambição de cristianizar o Sião nem na presunção de estabelecer dominação militar mascarada pelo argumento da protecção ao comércio. Estas relações desenvolveram-se em permanente interacção entre os dois povos e mediante integração dos Portugueses na sociedade siamesa, em cujo exército se alistaram e destacaram na luta contra os inimigos de Ayutthaya.

Prova de que a amizade entre Thais e Portugueses ultrapassou aquela existente com outras nações europeias, o desejo do Rei Chulalongkorn em visitar Portugal no périplo que realizou à Europa em 1897. Ao longo dessa viagem, merece apontamento a diferença de tratamento que a imprensa europeia e a imprensa portuguesa deu ao Rei Chulalongkorn. Para a imprensa europeia de então, o Rei do Sião era o "Rei o Elefante Branco", enquanto que para a imprensa portuguesa aludia a Chulalongkorn como o "Senhor da Vida".

Gostaria ainda de aludir a um outro aspecto da amizade entre as duas nações: a do estabelecimento dos Portugueses em Ayutthaya. Ali, o assentamento de Portugueses diferiu daquele ocorrido noutras paragens da Ásia, por exemplo, em Malaca e Singapura.

No momento em que a Universidade Chulalongkorn, através do seu Centro de Estudos Europeus e com o apoio do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em colaboração com a Universidade Técnica de Lisboa e o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal organizam este simpósio internacional para promover o estudo e conhecimento sobre as relações luso-tailandesas (...), gostaria de formular os meus mais sinceros desejos de pleno sucesso. É minha esperança que este esforço fortaleça os laços entre nós e conduza a uma maior colaboração nos campos académico, científico, cultural e comercial. Assim, declaro aberto este Simpósio Internacional sobre os 500 anos de relações entre Portugal e a Tailândia". (Maha Vajoralongkorn, Príncipe Herdeiro)

MCB


27 agosto 2017

Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho

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Santa Mónica nasceu no norte da África, em Tagaste, no ano 332, numa família cristã que lhe entregou – segundo o costume da época e local – como esposa de um jovem chamado Patrício.
Como cristã exemplar que era, Mónica preocupava-se com a conversão de sua família, por isso se consumiu na oração pelo esposo violento, rude, pagão e, principalmente, pelo filho mais velho, Agostinho, que vivia nos vícios e pecado. A história nos testemunha as inúmeras preces, ultrajes e sofrimentos por que Santa Mónica passou para ver a conversão e o baptismo, tanto de seu esposo, quanto daquele que lhe mereceu o conselho: “Continue a rezar, pois é impossível que se perca um filho de tantas lágrimas”.
Santa Mónica tinha três filhos. E passou a interceder, de forma especial, por Agostinho, dotado de muita inteligência e uma inquieta busca da verdade, o que fez com que resolvesse procurar as respostas e a felicidade fora da Igreja de Cristo. Por isso se envolveu em meias verdades e muitas mentiras. Contudo, a mãe, fervorosa e fiel, nunca deixou de interceder com amor e ardor, durante 33 anos, e antes de morrer, em 387, ela mesma disse ao filho, já convertido e cristão: “Uma única coisa me fazia desejar viver ainda um pouco, ver-te cristão antes de morrer”.
Por esta razão, o filho Santo Agostinho, que se tornara Bispo e doutor da Igreja, pôde escrever: “Ela me gerou seja na sua carne para que eu viesse à luz do tempo, seja com o seu coração para que eu nascesse à luz da eternidade”.
Santa Mónica, rogai por nós!

26 agosto 2017

OLEIROS – Partilhe este apelo e, se puder, ajude. Bombeiros necessitam de água, alimentação e pomada para queimaduras



Oleiros está a ser fustigado com dois incêndios muito violentos. Há mais de 48 horas centenas de bombeiros estão a combater as chamas pelo que, nesta altura, são já visíveis sinais evidentes de fadiga, uma situação que só é debelada, de alguma forma, com um mínimo reforço alimentar e de hidratação. Por isso, está a circular um apelo de auxílio aos operacionais que se encontram no terreno, nomeadamente para a entrega de água, sumos com adição de açúcar, bolos, bolachas, enlatados, frutas e legumes, nestes últimos casos para as cozinhas improvisadas destinadas a providenciar alimentação a bombeiros e populações afectadas. Se puder, auxilie com a entrega destes mantimentos, sendo que essa ajuda poderá ser encaminhada pelo quartel de bombeiros da sua área de residência.


Fonte: Rádio Hertz

25 agosto 2017

A Portugalidade em pedra – Forte Português do Bahrein

A imagem pode conter: céu e atividades ao ar livre


Durante o século XVI, o Império Português impunha respeito a todas as outras forças no Oceano Índico. Os Portugueses eram, portanto, uns verdadeiros senhores dos mares, ainda que estivessem a milhares de quilómetros da sua metrópole. Para além de rotas comerciais, o Reino também controlava diversos pontos estratégicos como, por exemplo, o Estreito de Ormuz.

Em 1521, a ilha do Bahrein é invadida pelos portugueses, que nomeiam Badr al Din como administrador da praça. As forças portuguesas ocupam, assim, o território, ficando em seu poder o forte mais importante da ilha, situado no topo de uma elevação com cerca de doze metros de altura.

Porém, ainda que tenham nomeado um governador local – talvez numa atitude de boa-vontade e simpatia para com a população nativa -, a permanência lusitana não é de todo pacífica. O próprio administrador, Badr al Din, promoverá uma revolta contra aqueles que o nomearam, revolta essa que é esmagada por D. Simão da Cunha, no ano de 1529. Mais tarde, em 1559, D. Antão de Noronha, Capitão de Ormuz, vê-se obrigado a responder a um ataque turco, sendo que o forte anteriormente conquistado revela-se fundamental na vitória portuguesa contra as tropas turcas.

Por conseguinte, a fortificação, localizada na actual capital do Bahrein – Manama-, é então remodelada, no ano de 1561, por obra do arquitecto Inofre de Carvalho – reputadíssimo homem que também trabalhara na concepção do Forte de Ormuz.

Graças à modernização efectuada pela mão de Inofre de Carvalho, o forte passa a estar dotado de uma área com baluartes – estrutura assaz importante em contexto defensivo.
Não há, no entanto, certezas quanto à configuração do forte nessa altura. Segundo alguns registos, a estrutura seria quadrangular, com torres de planta circular em cada um dos vértices.

Em 1602, os portugueses acabam por ser expulsos pelo Xá Abbas I. Ainda que a presença portuguesa não tenha sido tão prolongada como fora noutras partes do globo, o legado sobreviveu até aos nossos dias e, em 2005, o forte foi considerado Património Mundial da UNESCO sofrendo, inclusive, obras de conservação e restauro com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

Mamede Broa Fernandes

24 agosto 2017

INCÊNDIOS: UM ESTRANHO COMPORTAMENTO…

“Os governos têm sido tão incompetentes (relativamente aos incêndios) que até o dinheiro os estorva…”
 (Cidadão português em entrevista na, RTP 2, Jornal das 21:30, no dia 17/8/17)

Sobre toda esta catástrofe nacional os incêndios florestais representam, já se verteram resmas e resmas de artigos, opiniões, entrevistas, reportagens, estudos, análises e o mais que a mente humana pode lucubrar.

Embora, convenhamos, sem qualquer resultado prático.

Sobre um aspecto, porém, tem recaído o mais sonoro silêncio, uma reserva púdica inexplicável e um estado de negação militante, que tem impedido qualquer acção minimamente eficaz sobre o mesmo.

Quero referir-me à questão do fogo posto e da mão que está por detrás, sem dúvida alguma a causa de 99% dos fogos, quer seja por negligência, quer por premeditação criminosa. 

Ora este é o único âmbito em que praticamente não se fala – ou por outra fala-se mas chuta-se para canto como fez o nosso primeiro, no passado Dia da Infantaria (que por sinal, não se comemorou) - não existem estudos, nem relatórios policiais, tão pouco alguma vez se pensou em estabelecer qualquer plano de prevenção ou combate!

E, sem embargo, nele reside a principal causa dos incêndios e a dificuldade em os combater.
Porque é que as coisas se passam assim? 

É o que vamos tentar dilucidar, mesmo correndo o risco que a censura existente – muito maior, mais insidiosa, limitativa e perigosa (e nunca assumida) do que aquela existente durante o Estado Novo - vá tentar por todos os meios silenciar.

A questão explica-se fundamentalmente pelo mesmo fenómeno ocorrido na antiga URSS, em que se levou muito tempo a que fosse criada uma polícia de investigação criminal (só havia a KGB), já que era assumido que a bondade da ideologia comunista reinante excluiria, à partida, que tais manifestações (criminosas) próprias de uma sociedade burguesa e das contradições e exploração funestas do capitalismo, não teriam lugar na nova sociedade socialista. A luz e o elixir do mundo!

Penso que o raciocínio contemporâneo é semelhante. Pois não é suposto que estas coisas não têm razão de ser numa sociedade dita democrática?

Além disso as ideias racionalistas, jacobinas e positivistas, oriundas da Revolução Francesa que tentaram (e têm conseguido) esmagar o Trono e o Altar, não colocaram o homem no centro de tudo – apeando Deus de tal pedestal - e o individuo como “Rei” e “Senhor” de si mesmo?

Como é que um qualquer se pode comportar desta maneira ateando fogos, pelo prazer mórbido da destruição, do espectáculo, de um qualquer apetite vicioso ou mais pragmaticamente, pela ideia avara da ganância e da vingança?

E os discípulos de Rousseau e outros de semelhante jaez, não andaram e andam, a pregar a bondade dos seres que nascem, a igualdade que lhes assiste e o facto da sociedade é que os transforma para o pior, no maior exercício de desresponsabilização individual e colectiva, que jamais foi posto em marcha?

Ou seja ninguém pode ser responsabilizado ou castigado (além de ser proibido proibir)!...

A única coisa que se pode fazer é explicar, desculpar, integrar, facultar as oportunidades todas e mais algumas, reeducar e mais uma quantidade de chavões que estão a sepultar a sociedade num cemitério de coitadinhos desvalidos?!

E ainda virá o dia em que se defenderá, num espectro cada vez maior de imbecilidade colectiva onde só existem direitos e nenhuns deveres (a não ser o sacrossanto dever de pagar impostos, pudera!), que o cidadão também tem o direito quando lhe der na realíssima telha, de pegar fogo ao seu hectare anual, como se tal fosse uma espécie de tiro ao pato numa feira minhota, onde antigamente o varapau era rei! 

Será que ninguém (com responsabilidade) quer perceber e assumir que em cada pessoa e na natureza humana, coexiste o Bem e o Mal e que temos que organizar a sociedade, pelo tempo em que por cá andamos, de modo a que as acções do lado do Bem vençam as do lado do Mal? E que não só as vençam, como as enterrem, sempre que possível?

As coisas são o que são e não as que gostaríamos que fossem…

No Portugal florido a cravos e agora regado a afectos, também não passa pela cabeça de ninguém que possa haver acções subversivas do Estado e da Nação.

Pois bem a mim parece-me que esta acção demoníaca e demolidora, dos incêndios florestais pelas implicações e estragos que provoca, bem se pode classificar como subversiva e terrorista!

Por tudo isto espanta que o edifício legal não seja adequado para fazer face a esta onda de criminalidade e taradice; não se desenvolva um tipo de prisões (diria uma espécie de campo de concentração) para arrecadar pirómanos; não haja investigação criminal a sério que permita descobrir as origens de toda esta débacle e descortinar acções de causa/efeito; os juízes soltam sistematicamente aqueles que as Forças de Segurança vão capturando; não haja escrutínio para uma série de funções ligadas a toda esta temática (incluindo bombeiros) e informações sobre cidadãos em “desequilíbrio mental” e sobre eles se tomem acções preventivas.

A vigilância tem que aumentar muitíssimo, os castigos devem ser duríssimos e a indústria nacional (diria a Força Aérea) deve desenvolver rapidamente um “drone” especialmente dedicado àquele efeito.[1]

Cumulativamente com tudo isto parece existir medo nas entidades governativas em se falar neste assunto, por receio que a fúria popular possa fazer justiça pelas próprias mãos.

É isto que explica, certamente, o dito a despropósito do Director da Polícia Judiciária, sobre a trovoada seca que teria provocado o incêndio de Pedrógão Grande, ao lançar um raio sobre a infeliz árvore cuja identificação certeira no meio de milhares, tinha sido localizada sem sombra de qualquer dúvida!

Mal comparado é assim como antigamente os jornais não darem notícias (e bem) sobre suicídios, ou os de hoje (mal) deixarem de noticiar as prisões dos pedófilos (mais uns anos de Bloco de Esquerda e lá os teremos legalizados, quiçá, incentivados…).

Só que as coisas não são comparáveis e a actual política de esconder o sol com a peneira, só irá exacerbar o sentimento de revolta já latente, não havendo futebol, novelas ou concertos, que o trave – talvez só mesmo a praia, quando toda a população portuguesa estiver acotovelada a viver junto à linha de costa….

Enfim, criámos uma sociedade amoral, paralisada politicamente pela demagogia e pela mentira e onde apenas o negócio transformado no (quase) vale tudo faz sair o cidadão da atonia.

O meu prezado concidadão da citação acima, tem carradas de razão.

O País, esse, vai continuar a arder.





[1] Drone – veículo aéreo não tripulado.



João José Brandão Ferreira
Ten. Cor. Piloto Aviador (ref.)


Fonte: O Adamastor

23 agosto 2017

A necessidade de ser monárquico e o Ideal da cavalaria

Entre as recordações mais vivas que tenho da infância, a velha sala do meu tio José na casa de Tendais é uma das mais recorrentes. O fascínio não era dedicado à mesa em si, mas aos adornos que encimavam a mesma – duas pequenas esculturas de ferro figurando cavaleiros medievais, em posição de ataque, como se se confrontassem numa justa. A alma da casa e do seu velho dono pareciam revolver no mesmo espírito desta cena – as imagens, tal como o meu tio, enchiam a casa de uma dureza, de um rigor frio e velho, uma espécie de inverno branco que, em conjunto com a luz que entrava pelos cortinados da janela, enche as recordações daqueles dias com uma cor que cega.
Os corredores gelados da casa de Tendais, especialmente para a mente de uma criança, criaram em mim uma impressão muito forte, que acompanhou na pele os ensinamentos que os homens da minha família, o meu pai, tios e avôs, partilharam comigo.
 
Lições de dever, de coragem, de generosidade, de caridade.

Levei comigo essas palavras e agucei as minhas conclusões ao longo dos anos. Questionei durante muito tempo os valores familiares. Um deles, o mais pitoresco, a tradição monárquica, foi talvez o que mais abalos sofreu. Enfrentei a dúvida que tantos jovens monárquicos enfrentam: porque razão nos devemos bater por uma ideia que mais não é do que uma afirmação estética, uma diferenciação social que, para os que não sofrem do pedantismo snob da suposta velha aristocracia, é mais prejudicial do que proveitoso?

A verdade é que a Monarquia não é palco para as vaidades da consanguinidade de sangue azul. A Monarquia não é também, ao contrário de tantos cientista políticos, um “atenuador” das lutas partidárias das democracias modernas. Isto não são monarquias, são velhas situações.

A Monarquia é a conclusão do Pensamento, é a Árvore, e a flor desta Árvore é o ideal da Cavalaria.
Numa coisa os democratas da monarquia têm razão: a Monarquia controla a paixão pelo poder dos poderosos. Mas fá-lo porque substitui essa paixão pelo amor ao serviço da Pátria, pelo amor aos feitos corajosos, pelo amor aos mais fracos e desprotegidos.

Numa coisa os snobs hemofílicos da monarquia têm razão: a Monarquia enobrece. Mas a Monarquia não enobrece os inúteis e os pedantes, os covardes e irresponsáveis, os que assumem as benesses da sua casta como direitos adquiridos. A monarquia enobrece os que vivem à lei da nobreza. Que nobreza?

O ideal de nobreza merece ser aperfeiçoado. A nobreza não depende de um canudo universitário ou de um salário milionário – encontra-se em todas as camadas sociais, pertence a todos os grupos profissionais e a todas as actividades que garantem o bem comum na sociedade portuguesa. Encontra-se no estudante que luta por uma bolsa ou por conseguir o dinheiro das propinas, no empregado fabril ameaçado pelo fecho da sua fábrica, no desempregado que todos os dias navega anúncios atrás de anúncios de emprego na Internet.

Quando tantos e tantos destes homens e mulheres, na sua luta diária, encontram tempo e disponiblidade para dar de si aos outros, é que nos apercebemos que o ideal de cavalaria, aquela dura rigidez do dever, naquela alma de ferro que se demonstra nos mais calorosos actos de amor, de facto existe, mais forte do que nunca, somente à espera de alguém ou algo que lhe dê significado. Esse alguém é, sem dúvida, a monarquia e esse algo é a necessidade de ser monárquico.


Manuel Marques Pinto de Rezende


22 agosto 2017

O fenómeno da "espiral do silêncio"



O termo "espiral do silêncio" foi cunhado pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann para explicar a razão pela qual as pessoas tendem a permanecer silenciosas quando têm a sensação, por vezes falsa, de que as suas opiniões e mundividências estão em minoria. O modelo do conceito de "espiral do silêncio" baseia-se em três características:

1. As pessoas têm uma percepção que lhes permite saber qual a tendência da opinião pública, mesmo sem ter acesso a sondagens;
2. As pessoas têm medo de ser isoladas socialmente ou ostracizadas, e sabem qual o tipo de comportamento que poderá contribuir para esse isolamento social;
3. As pessoas apresentam receio em expressar as suas opiniões minoritárias, por medo de sofrer isolamento da sociedade ou do círculo social próximo.

Quanto mais uma pessoa acredita que a sua opinião está mais próxima da opinião pública maioritária, maior probabilidade existe que essa pessoa expresse a sua opinião em público. E se a opinião pública entretanto mudar, essa pessoa passará a reconhecer que a sua opinião já não coincide com a opinião da maioria, e terá menos vontade de a expressar publicamente. À medida que a distância entre a opinião da pessoa e a opinião pública aumenta, também aumenta a probabilidade de essa pessoa se calar publicamente.

Os meios de comunicação social são um factor essencial no estabelecimento da "espiral do silêncio", na medida em que formatam a opinião pública. Perante uma opinião pública formatada, as pessoas que não concordam com a mundividência emanada da comunicação social, tendem a entrar em "espiral do silêncio" – muitas vezes constituindo uma "maioria silenciosa".

Adaptado de «Sofos: Expressões Filosóficas».

Fonte: Veritatis

21 agosto 2017

Os jesuítas e São Fiel: a história de um colégio traído (e agora ardido)

A instituição fundada no século XIX, aos pés da Serra da Gardunha, ardeu esta semana num incêndio que não apaga o valor de um edifício histórico para os jesuítas e para o ensino em Portugal.

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O prenúncio está logo nas cartas de S. Francisco de Xavier. Ainda a Companhia de Jesus tem dentes de leite e já o missionário explica a Sto. Inácio que costuma ensinar o catecismo através de músicas e jogos de palavras fáceis de decorar. É a primeira relação pedagógica da Companhia, umas pequenas frases envergonhadas, se as compararmos com toda a produção pedagógica que se seguiu.
A inesperada vocação professoral dos Inácios marcou toda a História do Ocidente. Basta o nosso exemplo: só nos anos 30 do século passado é que voltou a haver igual número de alunos nas escolas ao que havia antes da expulsão Pombalina, foi no Colégio jesuítico de Santo Antão que funcionou por mais de um século a Aula da Esfera — viveiro matemático dos cálculos que tanto serviram e resultaram dos nossos descobrimentos — e foi nos seus colégios modernos, de Campolide ao S. João de Brito, que se educou uma boa parte dos protagonistas dos últimos séculos – dos Integralistas Pequito Rebelo ou Pinto Mesquita ao inesperado Pinto da Costa.
Todo o ensino da Europa se fez ao arrepio ou em concórdia com os métodos Jesuíticos. Numa actualização do método escolástico das questões de Quodlibet, que punham o centro do ensino na contestação das teses apresentadas, os Jesuítas trouxeram para a Era Moderna um método que divisava as classes em dois campos, Roma e Cartago, que se digladiavam em permanência, com cada grupo a farejar constantemente os erros opostos e a contestar as teses apresentadas. A exegese com o objectivo de encontrar a falha, espicaçada pela concorrência, procurava versar os alunos no pensamento crítico e no rigor (pois cada aluno sabia que teria sempre um adversário no encalço) que os adversários sempre negaram aos Jesuítas. O teor do ensino, que tem uma boa descrição na biografia que Edgar Prestage fez de D. Francisco Manuel de Melo ou na famosa História da Companhia de Jesus na Assistência de Portugal, de Francisco Rodrigues, moldou o cânone do pensamento moderno: de Pascal a Descartes, com o Colégio de la Flèche, até à geração de Teodoro de Almeida e Verney, a educação e a Cultura Jesuítica estiveram sempre no centro dos debates culturais.
Ora, é dessa altura que saem as mais fortes contestações ao ensino dos mestres da sotaina, e também dessa altura que nasce, indiretamente, grande parte do prestígio do Colégio de São Fiel.
Com o relaxar da perseguição religiosa que caracterizou o princípio do liberalismo, voltam a aparecer os colégios, reformatórios e orfanatos a cargo de padres e outros religiosos. Entre esses surge, graças à boa vontade de um Frei Agostinho da Anunciação, um orfanato singelo, insulado na encosta meridional da Serra da Gardunha, que o próprio fundador veio a entregar, contra a vontade dela, à Companhia de Jesus.
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A interpretação mais relaxada das leis liberais, que permitiam tomar como habilitado para ensinar, não quem tivesse a habilitação examinada pelo Estado, mas quem quer que o reitor julgasse habilitado na matéria, aliado à formalidade de passar a posse do Colégio para Jesuítas estrangeiro, já que às Ordens portuguesas não era permitido que possuíssem colégios, deu à Companhia um Colégio irmão ao de Campolide, em Lisboa.

Uma devoção científica

A letra da lei podia ser contornada facilmente e sem escândalo, já que até a generalidade dos políticos educava a prole nos Colégios religiosos; o espírito que a motivara, porém, era mais difícil de contrariar.
À acusação vinda dos tempos de Pombal, de que os Jesuítas coleavam entre os corredores do poder, moldando as consciências à seu bel-prazer, São Fiel seria fraca resposta: de facto, o colégio conseguiu, graças à reputação pedagógica de que os Jesuítas gozavam, concentrar grande parte da burguesia do país nas suas salas. Às acusações de obscurantismo e falso saber, porém, os Jesuítas fizeram questão de lhe negar todo o fundamento. Para não haver margem para acusações de inimizade às ciências e aos avanços científicos do tempo, a Companhia apostou com êxito no ensino experimental e científico.
Do que lhe deve na curiosidade intelectual e mesmo na direcção dos seus interesses, deu testemunho Egas Moniz; porém, mesmo o Professor Cabral de Moncada, mais prudente em relação às alegrias do seu tempo de Colégio e mais permeável à imagem pública dos Jesuítas, conta nas memórias as condições privilegiadas que tinham para o ensino experimental: a imensa serra que circundava o Colégio, as constantes actividades ao ar-livre e o espírito varonil bem canalizado levavam naturalmente ao interesse pela botânica, ou pela zoologia, que Cabral de Moncada não dissociava de uma certa liberdade rural e exigência física que o Colégio impunha.
Os testemunhos de um e outro, porém, não dão conta da dimensão científica que teve São Fiel. Seria raro, mesmo numa Universidade, que coabitassem no mesmo espaço, ensinando jovens no seu percurso escolar, tantas personalidades com tanto mérito científico. A plêiade científica dos professores, em primeiro lugar, fundou em 1902 aquela que se viria a tornar a centenária Revista Brotéria, desdobrada em várias vidas, da Brotéria de Divulgação Científica à Brotéria de Cultura, com outras muito mais especializadas – como a Brotéria de genética – pelo caminho. Aquilo que poderia ser apenas uma modesta revista de colégio, em virtude da cultura e produtividade dos seus articulistas, tornou-se logo uma revista importante no meio científico. Foi a primeira Revista jesuíta inteiramente dedicada a matérias científicas e, note-se, de produção original, não de artigos de divulgação. Estes vieram depois, numa série paralela, alimentada pelos mesmos autores para financiar a revista científica. Dedicada a Félix Avelar Brotero, o eminente naturalista, a revista – cuja importância pode ser avaliada a partir do livro Ciência, Prestígio e Devoção, de Francisco Malta Romeiras – caracterizou novas espécies botânicas, tratou com rigor temas em voga, como o Darwinismo, e, com notável variedade, debruçou-se sobre bioquímica ou genética molecular. Francisco Malta Romeiras ensina que, no tempo de vida da Brotéria Científica (a cultural ainda vive) se classificaram 1327 novas espécies zoológicas e 887 novas espécies botânicas.
O corpo de redactores – professores de São Fiel — era notável: de Joaquim da Silva Tavares, que foi reitor de São Fiel e sócio da Academia das Ciências, até António da Costa e Oliveira Pinto, pioneiro em Portugal nos estudos de radiologia, único português no 1º Congresso Internacional de Radiologia e que trabalhou no laboratório de Pierre e Marie Curie.
O interesse e o saber de tais professores passaria, naturalmente, para o Colégio. Não só a Gardunha foi palco de muitas das experiências e observações destes padres cientistas, como o próprio Colégio, dotado de um Herbário, de um Museu de História Natural e de um Observatório Astronómico, tinha condições científicas de excepção. A colecção de lepidópteros que Cândido Azevedo Mendes recolheu paulatinamente no Colégio, depois da nova expulsão dos Jesuítas, passou directamente para a Universidade de Coimbra; as observações astronómicas de São Fiel eram comentadas por Frederico Oom, director do Observatório Astronómico de Lisboa e vinham no relatório oficial do Observatório do Infante D. Luís.
O contributo do Colégio de São Fiel para a História da Ciência em Portugal é inestimável e não apenas pela qualidade dos professores. O zelo na educação científica era tal que Carlos Zimmermann introduzia, no princípio do século XX, o uso do microscópio nas suas aulas e, caso ainda mais singular, aquando do eclipse solar de 1905, os Jesuítas levaram alunos seus (de 13 e 16 anos!) a Burgos para, no meio de comissões de Astrónomos Internacionais, observarem os eclipses.
Ora, enquanto os Jesuítas introduziam os seus alunos nas experiências botânicas e astronómicas a que muitas vezes nem a Universidade os levaria, em Lisboa a loquela parlamentar continuava a discutir o obscurantismo Jesuítico, a inimizade da sotaina para com a ciência e a expulsão dos Jesuítas. As insistências de deputados republicanos pela extinção de São Fiel, o livro de Borges Grainha sobre o Colégio de Campolide ou o relatório de Sousa Refóios sobre São Fiel, que embora se rendesse à singularidade de existir no Colégio um laboratório de Química, considerava o ensino “reaccionário”, contribuíam para as acusações de fanatismo. Embora a estas acusações se contrapusesse com verdade que muitos dos delactores dos Jesuítas lhes confiavam a educação dos filhos, a verdade é que a opinião preconcebida de obscurantismo acabou, com a República, por vencer.

Os professores fugidos

As peripécias da nova expulsão conta-as Luís Gonzaga de Azevedo no seu livro Proscritos. Conta que após a implantação da República e a explosão de uma bomba no colégio de Campolide, a apreensão previsível tomou conta dos padres professores. As ameaças aos padres e ao Colégio começaram logo no dia 6 de Outubro, pelo que os Jesuítas tiveram de se refugiar em casas da região, protegidos pela boa-vontade local. As suspeitas de que os padres guardavam bombas e armamento, que já tinham motivado uma infrutífera busca a Campolide, justificaram as devassas dos pertences dos Inácios; os padres que não fugiram foram cercados no Colégio pela cavalaria a 13 de Outubro, enquanto aguardavam a prisão e as medições frenológicas a que depois foram sujeitos. Do colégio foram roubados livros, destruídas colecções zoológicas e científicas e vandalizado material enquanto se procurava o famoso e imaginário armamento.
Os jesuítas fugidos, cientes da vontade de tantos pais em submeter os filhos à sua educação, ainda organizaram, a partir dos restos do Colégio de Campolide, um novo colégio em Bruxelas. Este passou depois para a Galiza e, com uma vida um tanto atribulada, regresso anos depois a Portugal, com o nome oficial de Instituto Nun’Alvres e popular de Colégio das Caldinhas, em Santo Tirso. Das instalações, fez-se o campus da Universidade Nova de Lisboa. São Fiel, porém, não teve igual sorte. Os padres, desbaratados pelo mundo, chamados para o Instituto Nun’Alvres, fundado com grande dificuldade, não puderam continuar o colégio; o edifício teve uma vida intermitente e não desejada como reformatório, até cair no abandono.
Já seria uma perda para a região o esfumar daquela fachada sóbria e imponente, tão conhecida e simbólica para Louriçal do Campo e toda a Serra da Gardunha; também seria uma perda emocional a ruína de um colégio que guardava as memórias dos tempos de rapaz de tantos homens que marcaram, com mais ou menos distinção, o século passado. As memórias que Cabral de Moncada tem da “pedra grande” e que tantos terão da imensa paz que circunda a Serra. A perda de São Fiel, porém, não é apenas a perda de um Colégio. É a perda de um museu, com todos os restos de museus que ainda se encontravam lá dentro, cuja importância para a História da Ciência deve ser bem vincada.
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Carlos Maria Bobone
Fonte: Observador

19 agosto 2017

Minhota Com D. Manuel II Ao Colo



Atestando a importância do Traje à Vianesa e das Festas da Senhora D’Agonia, neste cliché datado de 1890, uma rapariga vestida à lavradeira de Viana, segura ao colo o então Infante Dom Manuel de Bragança – na fotografia com apenas cinco meses de idade -, Duque de Beja e futuro e derradeiro Rei de Portugal.
A minhota Maria José Coelho de Castro Malheiro Villas-Boas, à altura, fazia parte da Casa Civil do Paço Real, e pertencia a algumas das mais distintas Famílias do Minho: Coelho Villas-Boas (Casa da Boa-Viagem), Malheiro Pereira, Pitta, Castro Araújo, São Miguel de Mogueimas, etc…
Este ano as Festas da Senhora D’Agonia , em Viana do Castelo, tradição já com 234 anos, decorrem de hoje até 20 de Agosto de 2017.
As já icónicas Festas da Senhora D’Agonia, em Viana do Castelo, tradição já com 233 anos, começam neste dia 18 de Agosto de 2017, com centenas de raparigas e senhoras desfilando no Cortejo da Mordomia vestidas com os trajes tradicionais de cada freguesia da capital minhota. Neste concorrido e emblemático desfile das mordomas na Romaria D’Agonia, progredindo pelas principais ruas do Centro Histórico de Viana do Castelo, as mulheres envergam os tradicionais e coloridos trajes à vianense de lavradeira, de mordoma, de noiva, de meia senhora ou com traje de festa, segurando na mão, envoltos num lenço de Viana, uma vela votiva ou um palmito e envergando ao peitilho os mais variados artefactos do chamado Ouro de Viana: gramalheiras, fios – alguns de três metros – com e sem pendente, colares de contas, peças, custódias, borboletas, cruzes de raios e de Malta, Corações de Viana em filigrana, brincos à Rainha, escravas, tudo em ouro e num valor que rondará os 14 milhões de euro
A Romaria d’Agonia, considerada a Rainha das Romarias, data de 1674 e refere-se à própria  história da igreja em honra da Padroeira dos pescadores. Nessa época, foi erigida uma capela em invocação ao Bom Jesus do Santo Sepulcro do Calvário e, um pouco acima, uma capelinha devota a Nossa Senhora da Conceição.
Hoje em dia, o nome da Senhora está associado à rainha das romarias e às inúmeras tradições da maior festa popular de Portugal: a romaria em honra de Nossa Senhora da Agonia, nascida em 1772 da devoção dos homens do mar vindos da Galiza e de todo o litoral português para as celebrações religiosas e pagãs, que ainda hoje são repetidas anualmente na semana do dia 20 de Agosto, feriado municipal em Viana do Castelo. Tradições seculares que enchem Portugal de orgulho!
‘Minho, o espectáculo prodigioso que faz amar Portugal!’,escreveu Camilo Castelo Branco.

Miguel Villas-Boas

18 agosto 2017

O rapto dos Pastorinhos de Fátima



À medida que se aproximava o 13 de Agosto de 1917, a notícia das aparições de Fátima espalhou-se por todo o país. A imprensa liberal-maçónica [e republicana] tomou um interesse especial no assunto, não descuidando qualquer oportunidade para o denunciar e espalhar falsidades sobre os três pastorinhos. Quando se tornou evidente que estas tácticas não conseguiam afastar as multidões de peregrinos, cuja fé os levava a viajar de longe para estarem presentes quando Nossa Senhora aparecesse, a imprensa declarou, à maneira anticlerical do costume, que o clero andava a enganar o povo para lhe extrair dinheiro. E apelava com vigor às autoridades para que actuassem.

A autoridade local de Fátima era Artur de Oliveira Santos, Administrador do Concelho de Vila Nova de Ourém e anticlerical fanático. Também conhecido pela alcunha de "Latoeiro", era um maçon a quem o seu cargo dava um poder considerável, e governava o seu Concelho de forma tirânica, impondo restrições às igrejas e às cerimónias religiosas ao seu mínimo capricho. O Latoeiro decidiu pôr um fim à piedade popular resultante das aparições de Fátima, usando os meios que entendesse serem necessários.

A 10 de Agosto, os pais dos três videntes de Fátima, Manuel Marto e António dos Santos, receberam ordem de se apresentarem no dia seguinte, com os seus filhos, em Vila Nova de Ourém. Era um percurso de quinze quilómetros, sem outro meio de transporte que não fosse ir de burro, ou então ir a pé. Manuel Marto recusou-se a obrigar os seus dois filhos pequenos a fazer essa viagem ou a aparecerem em tribunal, e decidiu ir sozinho. Por seu lado, António dos Santos queria que a sua filha Lúcia se explicasse por si própria. O Latoeiro ficou furioso com a ausência do Francisco e da Jacinta.

Sobre a sua experiência com o Latoeiro, Lúcia escreveu:
"Na sede da Administração, fui interrogada pelo Administrador, na presença do meu Pai, do meu Tio e de vários outros senhores que me eram estranhos. O Administrador estava decidido a forçar-me a revelar o Segredo e a prometer-lhe que não tornava a ir à Cova da Iria. Para alcançar este fim, não se poupou a fazer promessas, nem sequer ameaças. Vendo que não conseguia nada, mandou-me embora, mas protestou que havia de conseguir o que queria, mesmo que para isso tivesse de tirar-me a vida."

A 12 de Agosto, começaram a chegar multidões à Cova da Iria, preparando-se para a aparição esperada para o dia seguinte. Na manhã de 13 de Agosto, o Administrador chegou à casa dos Martos para ver as crianças. Convenceu os pais de que desejava "ver o milagre" com eles, e primeiro foram juntos falar com o pároco da freguesia. Depois de responder a umas perguntas, o Administrador fez os pastorinhos entrar para o seu carro. Este começou primeiro a andar em direcção à Cova da Iria, mas de repente deu meia-volta e seguiu para outra direcção. O Administrador tentou serenar os pastorinhos, dizendo-lhes que iam ver o pároco de Ourém. Para que os peregrinos a caminho da Cova da Iria não vissem os pastorinhos, cobriu-os com um cobertor. Finalmente chegou em triunfo a sua casa; acreditava que, se eles fossem impedidos de ir à Cova, não aconteceria nada de sobrenatural e o assunto das aparições chegaria ao fim.

Quando chegaram à casa do Latoeiro, os pastorinhos foram fechados numa sala e disseram-lhes que não sairiam dali até revelarem o Segredo. A bondosa mulher do Latoeiro deu-lhes o almoço, deixou-os brincar com os seus filhos e fez para que não lhes faltasse nada. No dia seguinte tiveram de passar por nove interrogatórios, mas os pastorinhos, fortificados por uma graça especial, não cederam.

O Latoeiro queria saber o Segredo, custasse o que custasse, mas não conseguiu obtê-lo nem confundir os pastorinhos para que se contradissessem uns aos outros. Até chamou um médico, para poder acusá-los de alucinações e histeria. As conclusões do médico nunca foram publicadas; e este facto é de grande importância, porque se o médico concluísse que as crianças estavam alucinadas, o Administrador não hesitaria em publicar-lhe o testemunho sem mais demoras.

Em seguida, o Latoeiro mandou os pastorinhos para a cadeia, que estava cheia de outros presos. Foram então interrogados separadamente, após o que o Latoeiro ameaçou mandá-los ferver em azeite se continuassem a recusar-se a contar-lhe o Segredo de Fátima. Na presença deles, mandou que pusessem a aquecer um caldeirão de azeite, e ameaçou-os que os punha no caldeirão se não colaborassem. Os pastorinhos acreditaram na ameaça do Latoeiro. Um homem que estava na cadeia tentou convencer a Jacinta a ceder, dizendo-lhe que bastava contar o Segredo para escapar a ser morta. A Jacinta respondeu: "Antes morrer!"

O Latoeiro levou primeiro a Jacinta. O Francisco e a Lúcia acreditaram que a levava para a morte. O Latoeiro regressou e disse-lhes que a Jacinta estava morta. Exigiu-lhes de novo que lhe revelassem o Segredo, ou também seriam fritos em azeite. O Francisco foi depois levado, aparentemente para a sua morte. Em seguida, o Latoeiro ameaçou a Lúcia com o mesmo destino se não colaborasse; mas a Lúcia manteve-se fiel, embora acreditasse que os seus primos tinham sido mortos. Porém, tal não sucedera; era só uma ameaça vã. Mas nem com esta derradeira ameaça o Latoeiro conseguiu obter o Segredo. Na manhã seguinte (15 de Agosto), a seguir a um interrogatório final, deixou os pastorinhos regressar a Fátima, sem ter conseguido nada deles.

Fonte: «A Associação de Fátima».
Publicado por: Veritatis