01 novembro 2017

Proposta de oração pela chuva



Caros diocesanos 

O nosso país tem sofrido este ano uma prolongada seca, que muito afecta o ambiente e as culturas. Os incêndios foram extremamente gravosos, com grande número de vítimas mortais e de feridos, além de muitos danos materiais e prejuízos económicos e sociais, que é urgente colmatar. Toda a solidariedade é devida a quem sofreu, toda a intervenção estatal e social é absolutamente prioritária. 

A realidade, também a natural e meteorológica, tem vários níveis de compreensão, que podem e devem convergir. À ciência compete a primeira explicação, a partir da observação e interpretação correcta dos fenómenos. Daqui se tiram conclusões para bem gerir e melhor prevenir os factos naturais.

Mas a natureza admite ainda interrogações mais profundas, que sondem o sentido último das coisas, para além do seu mero acontecer. Para um crente, a natureza é propriamente “criação”, dom inicial e permanente de Deus Criador. Na tradição bíblica, esse dom é confiado à humanidade, para que o administre com gratidão e corresponsabilidade. Os cristãos encontram nas palavras e atitudes de Jesus Cristo a luz e o estímulo para de tudo cuidarem e tudo recuperarem quando é caso disso. Quando se aproximava de algo ou alguém, Jesus transmitia sempre a vida recebida de Deus Pai e assim mesmo fazia e refazia tudo em seu redor. É o que assinalam as suas curas físicas e espirituais, chegando mesmo a acalmar tempestades. 

Nos dois milénios que o cristianismo já leva, esta atitude de Cristo repercutiu-se em muitos factos confirmados da vida dos santos, que com Ele estiveram inteiramente do lado de Deus para refazerem vidas, com repercussões felizes na própria natureza. Na verdade, respeitando os vários níveis e qualidades dos seres, tudo tem origem divina e com Deus se pode e deve manter e melhorar. 

É este o sentido da oração, pedindo a Deus o que Ele mesmo nos quer dar, em absoluta coincidência de vontade. O Missal Romano inclui orações por necessidades de vária ordem, também no que à natureza se refere. Na presente situação, proponho aos irmãos sacerdotes do Patriarcado de Lisboa que, quando a Liturgia diária o permita, celebrem a Missa para Diversas Necessidades, com a prevista Oração Coleta: «Deus do universo, em quem vivemos, nos movemos e existimos, concedei-nos a chuva necessária, para que, ajudados pelos bens da terra, aspiremos com mais confiança aos bens do Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo». Além disso, pode-se sempre juntar idêntica intenção na Oração Universal.

Com a oração insistente, mais coincidiremos com a vontade de Deus, que conta sempre com a nossa corresponsabilidade. Como disse Santo Afonso e o nosso Padre Cruz tanto repetia, «quem quer o que Deus quer, tem tudo quanto quer».


Lisboa, 30 de outubro de 2017
+ Manuel, Cardeal-Patriarca

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