27 novembro 2016

Santos, precisam-se!



Eles abundam na lista telefónica, mas escasseiam na toponímia e na estatuária das nossas cidades. Até nas igrejas católicas, os santos estão cada vez mais ausentes. Mas, como todos os anos se recorda no dia primeiro de Novembro, eles são necessários, sobretudo agora que, à falta de verdadeiros heróis, proliferam os falsos ídolos.

Por louvável iniciativa de um grupo de cidadãos, a cidade de Lisboa conta agora com uma estátua de D. Nuno Álvares Pereira, que em religião se chamou Frei Nuno de Santa Maria. O Santo Condestável, representado de joelhos diante da sua espada, alçada como se fosse uma cruz, está agora presente na iconografia olisiponense, depois de um longo processo, não isento de vicissitudes. Muitos foram os projectos, mas muitos também os obstáculos a vencer, porque é antiga a pretensão laicista de confinar a fé ao interior dos templos e à penumbra das sacristias.

A presença do Presidente da República e do Cardeal Patriarca, bem como a dos Duques de Bragança e do presidente da autarquia, deu especial relevo à cerimónia que, por feliz coincidência, teve lugar no passado dia 6, memória litúrgica de São Nuno de Portugal. A estátua do Condestável e Santo, como se refere no respectivo pedestal, pode ser agora vista no Restelo, no topo da Avenida da Torre de Belém, num lugar muito apropriado porque, como é sabido, foi graças à acção militar de D. Nuno Álvares Pereira que se firmou no trono a dinastia de Avis. E foi com D. João I e com os monarcas que lhe sucederam no trono lusitano, que se promoveram os descobrimentos e a expansão ultramarina, que deu novos mundos ao mundo e à fé.

Também na Igreja a devoção aos santos parece estar em crise. Basta entrar numa igreja católica, de recente construção, para constatar a chamativa ausência de imagens de santos, tão abundantes, pelo contrário, nos templos erigidos nos séculos passados, também por reacção à supressão deste culto pelos protestantes, especialmente avessos a tais devoções. É salutar que, graças à reforma litúrgica conciliar, se dê agora mais ênfase à centralidade de Cristo, bem como à mediação de Maria. Mas o culto dos santos não diverge desta orientação, antes a cumpre e exemplifica, como acontece em São Nuno de Santa Maria: mais do que generalíssimo dos exércitos reais, foi humilde soldado de Cristo, sob o pendão de Nossa Senhora da Conceição. A bem-aventurada vida do Santo Condestável é um exemplo de imensa actualidade e pertinência para qualquer jovem que tenha também ânsias de grandeza no serviço de Deus e da nação.

As pessoas de idade gostam de se rodear das fotografias dos seus familiares e amigos já desaparecidos, mas não se pense que esta tradição é exclusiva dessas idades, porque também os jovens procuram referências e, por isso, forram as paredes dos seus quartos com os ‘posters’ dos famosos de que são fãs. Se os cristãos mais novos não conhecerem as vidas dos santos que a Igreja elevou aos altares, idolatrizarão os actores e cantores seus preferidos, ou os desportistas da sua eleição, cujas vidas, nem sempre exemplares, procurarão imitar, em prejuízo da sua fé.

Urge uma nova catequese da santidade cristã, pela divulgação – também pelos sofisticados meios técnicos a que hoje quase todos os cristãos têm fácil acesso – das actualíssimas vidas dos santos: não há aventuras mais apaixonantes, nem histórias mais educativas! Mas também pela presença das suas imagens nas igrejas e ruas das nossas cidades.


P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA


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