terça-feira, 31 de outubro de 2017

SS. AA. RR., Os Duques de Bragança presentes no concerto oferecido pelos Reis da Holanda



Realizado ao início da noite de quarta-feira (11), no Teatro D. Maria II, o concerto que juntou Nynke Laverman, cantora neerlandesa, oriunda da Frízia, e a fadista portuguesa Cristina Branco, foi oferecido pelos reis da Holanda, Willem-Alexander e Máxima, para agradecer a hospitalidade portuguesa ao longo de três dias de visita de Estado.

Dom Duarte e Dona Isabel de Bragança, José Luís Arnaut e Maria Herédia e Francisco Pinto e Mercedes Balsemão assistiram ao espectáculo.








Fonte: VIP

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

O bravo sipaio (1) landim, tropa de choque do exército africano português

Foto de Nova Portugalidade.

Garbosos, disciplinados e ferozes em combate, os sipaios landins foram durante décadas a espinha dorsal do exército da África Oriental portuguesa, prestando serviço nas terras do Índico português, mas igualmente nas parcelas asiáticas do Império. Os landins eram os vátuas, outrora destemidos guerreiros que serviram Gungunhana com lealdade no decurso das guerras contra o exército português. Após a rendição do grande chefe negro, os guerreiros landins prestaram voto de lealdade ao Rei de Portugal, constituindo-se em unidades de infantaria com funções de policiamento.

No decurso da Grande Guerra, lutaram ombro a ombro com as unidades do corpo expedicionário enviado a Moçambique para combater os alemães no norte do território e no Tanganica, então colónia alemã, dando provas de grande coragem e destemor. Depois, os landins passaram a polícias adstritos à rede administrativa colonial e a guarda dos mais importantes quadros coloniais, nomeadamente os governadores de distrito e o Governador-Geral de Moçambique.

MCB

(1) Sipaio (ou cipaio) vem de sepoy, palavra oriunda do persa sepāhī que significa soldado de infantaria.

Foto: Sipaio landim. NP agradece a António Botelho de Mello.

domingo, 29 de outubro de 2017

A adúltera apedrejada

No último domingo, o 29º do tempo comum, a leitura do Evangelho era lapidar sobre o que, com toda a propriedade, se poderia designar como o fundamento cristão da laicidade: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21).
Infelizmente, este salutar princípio não foi tido em conta por um muito infeliz acórdão do Tribunal da Relação do Porto no qual, invocando-se desastradamente a Sagrada Escritura, se pretendeu justificar um tristíssimo caso de violência doméstica.
Com efeito, a título de justificação da leve pena imposta ao marido traído, que foi também o agressor da mulher infiel, lê-se: “a conduta do arguido ocorreu num contexto de adultério praticado pela assistente. Ora, o adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem”.
É evidente que, em qualquer sociedade, o incumprimento de um dever de fidelidade é sempre grave, mais ainda se se trata de uma relação tão relevante como é a matrimonial. Mas, para a moralidade cristã, não faz sentido dizer que o incumprimento do pacto conjugal é vergonhoso e imoral quando praticado pela mulher, como se o adultério masculino não fosse igualmente grave!
O conhecido episódio bíblico da casta Susana é, a este propósito, muito significativo (cfr. Dn 13, 1-64). Instada a prevaricar com dois velhos sem escrúpulos que, em caso contrário, ameaçavam caluniar a sua pureza, a mulher de Joaquim preferiu manter-se casta, mesmo pagando com a vida a sua inocência. Graças a Deus, a providencial intervenção do jovem Daniel não só evidenciou que Susana não tinha nenhuma culpa, como provou o perjúrio dos idosos, que foram depois exemplarmente castigados.
Também o adultério do rei David, agravado pelo assassinato do general Urias, marido de sua amante, a mãe de Salomão (2Sm 11, 1-26), é uma lição bíblica de como Deus, embora punindo o adultério feminino, não castiga menos a infidelidade masculina, por muito que a sociedade – a de então, a do Código Penal de 1886 ou a de agora – seja mais permissiva em relação ao adultério masculino. Na realidade, aos olhos de Deus, qualquer cônjuge que gravemente incumpra os seus deveres de fidelidade conjugal incorre na mesma culpa, qualquer que seja o seu sexo que, para este efeito, é irrelevante.
Escreveu-se ainda no referido acórdão da Relação do Porto: “Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte”. É verdade: aí estão, por desgraça, os países islâmicos em que a sharia é a lei penal vigente. Mas esta citação, no contexto em que é feita, mais do que condenar tão desumano preceito, parece legitimá-lo, para efeito da desculpabilização do cônjuge agressor. Também há, infelizmente, sociedades em que se pratica a escravatura e até o canibalismo, mas não seria razoável que um magistrado invocasse esses casos para mitigar a culpa de quem incorresse em tão lamentáveis atitudes.
Quanto mais comum é um comportamento criminoso, mais necessário é que a lei seja severa na sua punição: por isso, faz sentido que a lei canónica continue a castigar com a excomunhão o aborto voluntário, mas já não seria lógico que mantivesse essa pena para os duelos, hoje inexistentes. Ora, infelizmente, a violência doméstica está longe de estar erradicada.
“Na Bíblia – acrescenta-se no referido acórdão – podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida com a morte”. É verdade que, no Antigo Testamento, previa-se a pena capital para este crime (Lev 20, 20; Deut 22, 21; Ezq 16, 38-40; etc.), mas depois Jesus Cristo, reformando a lei mosaica, revogou essa medida numa das mais belas páginas do Evangelho joanino (Jo 8, 1-11). O que ele não fez, nem permitiu que ninguém fizesse, à mulher adúltera, a todos os cristãos ficou, desde então, interdito, pois só quem nunca tivesse pecado poderia apedrejar um pecador…
Os escribas e fariseus levaram aquela mulher à presença de Jesus de Nazaré, alegando que “foi surpreendida em flagrante delito de adultério” (Jo 8, 4). Ora, mesmo não tendo eu nunca frequentado as modernas aulas de educação sexual, tenho entendido que o adultério não é um acto solitário, pelo que seria de esperar que também fosse apresentado a Jesus o cúmplice masculino. Por que não está presente?! Por que motivo a sanha daqueles escribas e fariseus se abate só sobre a mulher, se o seu cúmplice, com o qual foi apanhada, não só não era menos responsável, como podia ter até mais culpa, se porventura a tivesse seduzido ou forçado?! De facto, é iníqua esta discriminação contra as mulheres, bem como a farisaica condescendência com a culpa masculina, igualmente contrária aos princípios cristãos.
Também à laia de justificação, lê-se no polémico acórdão: “Com estas referências pretende-se, apenas, acentuar que o adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) e por isso vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher. Foi a deslealdade e a imoralidade sexual da assistente que fez o arguido X cair em profunda depressão e foi nesse estado depressivo e toldado pela revolta que praticou o acto de agressão”. Que o meritíssimo me desculpe mas, assim sendo, não deveria também dizer que foi a adúltera que teve o desplante de pôr a cabeça onde o extremoso marido tinha a moca, com pregos, com que a golpeou?!
O que os escribas e fariseus de há dois mil anos não se atreveram, logrou este acórdão do Tribunal da Relação do Porto, que não só apedrejou socialmente esta alegada adúltera, como atentou contra a dignidade de todas as mulheres e ofendeu os princípios humanitários do sistema jurídico português. Invocando-se a letra da Bíblia, contradisse-se o seu espírito que é, em Jesus Cristo, o mandamento novo da caridade, que, segundo São Paulo, “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13, 7). Os Estados não se podem permitir uma tal atitude, mas a sua justiça social nunca pode deixar de reconhecer a imensa dignidade do ser humano: qualquer que seja a sua culpa, cada mulher e homem, mais do que um mero súbdito de César, é imagem e semelhança de Deus.
Fonte: Observador

sábado, 28 de outubro de 2017

La duchesse de Bragance au dîner de gala au Palais d’Ajuda



Image de la duchesse de Bragance coiffée d’un diadème de diamants lors du dîner e gala donné à Lisbonne en l’honneur du roi et de la reine des Pays-Bas(merci à Anne)


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

870 anos do Cerco de Lisboa

Foto de Nova Portugalidade.


A Portugalidade é sinónimo de riqueza histórica e cultural. Raro será o dia em que não haja uma importante efeméride a assinalar, não estivéssemos cá há quase nove séculos. Porém, a data que hoje celebramos é deveras especial e merece estar nos livros de História escrita com tinta de ouro: falo-vos do Cerco de Lisboa.

Decorria o ano de 1147 e as gentes Lusitanas, que em Outubro de 1143 tinham visto a sua independência ser reconhecida pelo rei de Leão, avançavam rumo a sul, conquistando terreno aos reinos muçulmanos da Península. A 1 de Julho de 1147, D. Afonso Henriques encontra-se às portas de Lisboa, comandando um exército de Portugueses e outros Cruzados vindos de outras partes da Europa, em especial de Inglaterra, das terras Germânicas e da Flandres.

Os Portugueses dirigiram-se para Lisboa por meio terrestre, após o sucesso militar que fora a Conquista de Santarém. Os seus aliados Cristãos, vindos numa grande frota que zarpara do Norte da Europa, chegariam à foz do Tejo no mês de Junho.
Após as habituais guerrilhas próximas dos imponentes muros da cidade, nas quais as forças cristãs tinham sido bem-sucedidas, iniciou-se o cerco às forças Infiéis que defendiam Lisboa.

De início, a batalha parecia poder pender para qualquer um dos lados. De facto, não havia grande disparidade de números entre aqueles que atacavam, pela Cruz de Cristo, e aqueles que defendiam, pelo Crescente. Era, pois, um confronto que se adivinhava longo.

É no mês de Outubro que a sorte da guerra começa a desenhar-se. As tropas Cristãs conseguem derrubar parte da muralha, abrindo uma brecha importantíssima para tomar de assalto as ruas da cidade e destruir as forças defensoras. Nesta altura, o ataque começava a desenvolver-se em duas frentes e, para além da brecha aberta na muralha, os Cruzados Portugueses e Europeus haviam já construído uma torre de madeira que permitia o acesso ao adarve (caminho existente no topo dos muros de uma fortificação).

Vendo-se nesta delicada e desgastados pelos meses de guerra, de fome e de doenças, os combatentes Muçulmanos acabam por ceder em finais de Outubro de 1147.

MBF

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

NOITE DEDICADA À MÚSICA PROPORCIONA RECOLHA DE FUNDOS PARA O BANCO DO BEBÉ



A convite das Produções Boa Nova by AMDG Productions, o Banco do Bebé beneficiou de uma iniciativa de angariação de fundos para a sua causa. Como já é habitual, D. Isabel de Bragança, presidente da Assembleia Geral da instituição, marcou presença nesta noite de espetáculo e assistiu ao musical A Caminho – Todos Temos uma História. Antes disso, reservou alguns minutos para falar sobre esta sua caminhada no Banco do Bebé. “Esta aventura tem corrido bem. Tenho visto a instituição a crescer, a fazer um serviço extraor­dinário. Para além das vitaminas, das roupas, da assistência que dá às mães, aos bebés e às famílias, essa assistência continua em casa”, explicou a duquesa de Bragança, adiantando: “Acho que há cada vez mais pessoas a precisar. Em Portugal temos muita pobreza envergonhada, infelizmente nascem cada vez menos bebés, mas as necessidades não param de crescer. Uma obra de caridade é inversamente proporcional a uma empresa: quanto mais uma empresa cresce, mais tem; uma obra de caridade, quanto mais cresce, mais precisa.”
Opinião partilhada por Maria da Assunção Masca­renhas, a actual presidente do Banco do Bebé. “Temos uma equipa fantástica, sempre com a Marina [Arnoso] a ajudar. Estamos a ir por um ótimo caminho e precisamente por isso precisamos cada vez de mais ajuda.”


Fonte: Caras

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Diga à RTP que não paga insultos a Portugal - A NP DE PÉ pela verdade

Para dar expressão à inqualificável provocação, desacertos, manipulação emocional, deformação histórica, embuste anti-científico e terrorismo cultural insertos no programa História a História – África, apresentado por Fernando Rosas, um historiador ideologicamente comprometido que nada sabe de África e nutre indisfarçável ódio por Portugal, a Nova Portugalidade pede a todos os portugueses que sentem o ultraje daquele programa pago por dinheiros públicos e difundido pelo canal público de televisão que façam chegar à RTP o seu protesto e desagravo.

Foto de Nova Portugalidade.

Pede a NP que tal expressão de protesto patriótico e cidadão seja enviado a:


Contamos consigo para defender a honra e memória da obra social, cultural, espiritual e material desenvolvida por Portugal em África, pedindo que tal infâmia seja retirada da programação ou que a RTP conceda o direito do contraditório.


terça-feira, 24 de outubro de 2017

Le duc de Bragance présent lors de la visite d’Etat des souverains néerlandais au Portugal



Le duc de Bragance faisait partie des invités conviés au Palais de Belem à Lisbonne pour le déjeuner donné en l’honneur du roi et de la reine des Pays-Bas. (Copyright photo : www.ppe-agency.com) 


Fonte: Noblesse & Royautés

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Mentiras da História de Portugal - A lenda negra de Carlota Joaquina

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Li em tempos As Lobas do Escorial, de Michel del Castillo, verdadeiro novelo erótico-paródico e dei-me conta das flagrantes similitudes com muita da panfletagem posta a circular nas décadas de 1830 e 1840 contra uma das mais inteligentes, argutas e politizadas mulheres de finais do Antigo Regime em Portugal e Espanha. Carlota Joaquina, infanta de Espanha, Princesa Real de Portugal e, depois, Rainha de Portugal, uma das mais ridicularizadas e caricaturadas figuras desse extraordinário momento de transição da ordem antiga para o Liberalismo, merece sem dúvida um lugar destacado na história da difamação. Não obstante terem sido impugnadas as lendas e acintes contra ela postos a circular por uma sub-literatura inquinada a extremos de pornografia - vide Sara Marques Pereira, D. Carlota Joaquina e os Espelhos de Clio, Lisboa, Livros Horizonte, 1999 - persiste a lenda de uma mulher desbragada, desequilibrada, presa de furores de uma Messalina, matéria quente que comprova o sucesso antecipado dos enredos baixos; espelho, afinal, da irresistível atracção que as pessoas vulgares têm pelo sórdido.

Conhecidas são as Cartas Inéditas de Carlota Joaquina, editadas por Francisca Nogueira de Azevedo. Ali, não há vislumbre de loucura, de desequilíbrio nem qualquer palavra que indicie o estendal de imundície que logo se instituiria.

Tratando-se de uma das principais protagonistas da intriga política que culminaria com a invasão de Portugal e Guerra Civil entre legitimistas e pedristas, sempre me questionei sobre o lugar e o papel de Carlota Joaquina nesse crisol de ódios caseiros [inspirados e pagos de fora] e que culminou com a instauração de uma nova ordem política na década de 1830. Não, uma figura insignificante, medíocre e torpe não poderia ter alcançado o lugar que Carlota Joaquina ocupou ao longo de quase duas décadas. O ódio contra ela foi crescendo, atingindo culminâncias após a sua morte e continuando a acastelar-se de anedotas e piadas ao longo de um século - vide de Francisco de Assis Cintra, Os Escândalos de Carlota Joaquina, 1934; vide Laurentino Gomes, 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil, Rio de Janeiro, Planeta, 2007 - a tal ponto que se converteu em anexim do partido derrotado. O século XIX foi particularmente cruel com as mulheres - que haviam dominado o século XVIII - e a ordem burguesa triunfante tratou de as reduzir a mínimos de visibilidade, inteligência e importância, pelo que Carlota Joaquina - por ser mulher, por ser política, por ser tenaz e, também, por ser espanhola - reuniu o complexo de medos e preconceitos de uma nova sociedade.

A lenda negra de Carlota Joaquina tem por promotor um tal Jose Prezas, aventureiro espanhol que em 1808 se insinuou junto da Corte e passou a ocupar funções de secretariado da então Princesa Real no Rio de Janeiro. Tratava Prezas de todas as matérias atinentes à relação de Carlota Joaquina com a agitada vida da corte espanhola, num momento em que se iniciava em Espanha - por força da aliança com Napoleão, logo transformada em ocupação francesa - uma sangrenta luta pelo poder. Carlota Joaquina tinha ambições e estava decidida a jogar toda a sua capacidade na ocupação da regência espanhola. Era uma ardente defensora a ordem antiga, mas temperada pela leitura e alguma curiosidade pelo Iluminismo católico. Ferozmente anti-revolucionária, não era contudo uma imobilista. Na sua correspondência evidencia-se a capacidade de procurar compreender o que estava em curso na Europa pós-1789, havendo até na sua correspondência curiosas notas e reflexões sobre a possibilidade de dominar o curso dos acontecimentos por meio de concessões negociadas com sectores aberturistas do Antigo Regime e com os homens de "ideias avançadas" (liberais). Não deixa, porém, de ser uma evidência que era uma fiel depositária de um conceito de ordem política centrada na Coroa, uma católica devota e uma inimiga declarada de forças obscuras cuja menção se nos afigura desnecessário referir. Ora, entre 1808 e 1812 (Cortes de Cádis), Prezas foi o confidente da Princesa Real. Em Cádis decidiu-se que a regência passaria para um orgão colegial - Conselho de Regência - e não para um Príncipe/ Princesa de sangue, pelo que Carlota Joaquina abandonou as suas pretensões. Prezas, subitamente desempregado, passou a exercer chantagem sobre a sua benfeitora, pedindo-lhe uma pensão por serviços prestados. Carlota Joaquina sacudiu a criatura, não temeu as ameaças. De secretário, Prezas transformou-se em inimigo e partiu, convertendo-se em apóstolo das "novas ideias", coisa não rara noutros momentos da história, quando rancores, ódios, invejas comezinhas se coroam de princípios para melhor se justificarem. Assim foi com Junqueiro contra D. Carlos e até com Herculano contra o Portugal Antigo.

A obrazinha de Prezas seria publicada em França em 1827 (Memorias secretas de la Princeza del Brazil) pelo editor Carlos Lavalle e Sobrinho. Brest era, na França que antecedeu a Revolução de Julho (1830), um viveiro de imprensa anti-monárquica. A edição das Memórias Secretas - correspondência apócrifa do punho de Prezas - transformou-se num dos estandartes dos "exilados". Paga por Mendizábal, foi acolhida com grande júbilo. Não se compreende como D. Pedro, filho de Carlota Joaquina, pôde dar assentimento a tal repugnante ultraje à memória da sua mãe, entretanto já falecida. Como sempre digo a um bom amigo, a política é coisa perigosa como repugnante - um Minotauro sem alma e sem princípios - mas há limites para a indecência.

Miguel Castelo-Branco


domingo, 22 de outubro de 2017

O inferno passou por aqui!

Não basta que um governante não roube, nem mate, porque também por omissão pode faltar gravemente aos seus deveres, se não fizer o que devia ter feito.

Um jornalista perguntou uma vez ao cardeal Lustiger, já falecido, se acreditava na condenação eterna. O então arcebispo de Paris respondeu afirmativamente, como era de esperar de um católico coerente, mas depois, surpreendentemente, explicou que acreditava no inferno porque já o tinha visto! Perplexo, o entrevistador perguntou-lhe onde o vira, ao que o prelado, de origem judia, respondeu: Em Auschwitz, Treblinka, Dachau, etc. Se fosse hoje, o cardeal parisiense poderia acrescentar mais alguns lugares, como Pedrógão Grande, Mação e todas as outras povoações portuguesas que foram pasto das chamas nestes últimos meses.
Depois da tragédia de Pedrógão, todos pensámos: Nunca mais! Não todos, a bem dizer: o primeiro-ministro disse que os fogos iriam continuar, a então ministra da administração interna, a quem corresponde a tutela dessa área da governação, aconselhou resiliência às populações e um seu secretário de Estado até se deu ao luxo de recomendar aos cidadãos uma atitude mais pró-activa… Ante esta indiferença e conformismo governativo, não é muito de espantar que, num só dia, tenha deflagrado meio milhar de incêndios, que causaram a morte a mais de quatro dezenas de pessoas indefesas, destruíram por completo os bens de muitas famílias, dizimaram várias povoações e consumiram extensas zonas de vegetação. Em menos de meio ano, há já mais de uma centena de vidas humanas a lamentar, por manifesta negligência das autoridades, cuja incompetência é apenas comparável à sua descoordenação técnica e ineficácia operacional, não obstante os heroicos esforços dos bombeiros e das populações.
Um atentado terrorista, ou um terramoto, não são previsíveis; um furacão, ou um tsunami, só podem ser detectados com algumas horas de antecedência; mas estes incêndios ocorreram precisamente na época em que todos os anos, infelizmente, acontecem e por isso, mais do que previsíveis, eram certos, se nada se fizesse para os evitar ou extinguir. Também se soube, com antecipação, que este mês de Outubro iria ser excepcionalmente quente, pelo que ninguém – muito menos o governo ou a protecção civil – pode agora alegar qualquer imprevisibilidade, nem o desconhecimento, ou a excepcionalidade, das circunstâncias meteorológicas, aliás comuns a outros países.
Ante a manifesta incompetência do executivo, sempre muito atento às sondagens sobre a sua popularidade, mas alheado das desgraças que afligem o país, o chefe de Estado protagonizou, pelo contrário, uma atitude notável. Não só cancelou todos os seus compromissos protocolares, como se pôs a caminho das zonas mais afectadas, para prestar às populações, ainda em estado de choque e justamente indignadas, um apoio de que urgentemente careciam. Talvez alguns possam pensar que essa manifestação de afecto pelas vítimas dos incêndios é meramente sentimental, mas a verdade é que o presidente da República se expôs a ser incompreendido pelos que tanto sofreram pela incúria do Estado de que ele é, afinal, o máximo representante. Coragem que, ao que parece, faltou ao primeiro-ministro, à demissionária ministra da administração interna ou aos seus secretários de Estado …
Não é por acaso que, na Bíblia, a condenação eterna é muitas vezes representada pelo flagelo do fogo. Na pregação de Jesus Cristo, é recorrente a comparação do inferno com a geena, a lixeira de Jerusalém onde os detritos eram queimados (cf. Mt 5, 29-30; 10, 28). Tomás de Aquino afirma que a imagem do fogo pode não ser meramente simbólica, na medida em que traduz de forma realista o imenso sofrimento dos condenados.
É significativo que, na parábola do juízo final (Mt 25, 31-46), não são os assassinos, os idólatras, os adúlteros, os avarentos ou os ladrões que são excluídos do céu. Quem são, então, os condenados ao inferno?! Não são os que fizeram o mal, mas os que não fizeram o bem que podiam e deviam ter feito: os que não deram de comer nem de beber aos famintos e sedentos; os que não receberam os peregrinos; os que não vestiram os nus; os que não visitaram os presos, nem os doentes. Não se condenaram pelo mal que praticaram, mas pelo bem a que estavam obrigados e que omitiram.
Foi agora tornada pública a acusação contra o anterior primeiro-ministro socialista, por mais de trinta crimes alegadamente cometidos no exercício das suas funções. Quero crer que o actual chefe do governo não incorre nas supostas culpas daquele seu predecessor e correligionário, de quem foi, por ironia do destino, ministro da administração interna. Mas não basta que um governante não roube, nem seja corrupto: também pode faltar gravemente aos seus deveres públicos por omissão do que devia ter feito e não fez. Se uma tal negligência for responsável pelas mais de cem vítimas mortais já verificadas, é certamente criminosa.
Fonte: Observador

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Somos uma democracia há séculos: o mito da preponderância da nobreza no Portugal Antigo



O filão de mitos a respeito da suposta preponderância da fidalguia no Portugal Antigo merece-nos os maiores cuidados, pois não só são amiúde inverídicos, carregando lamentáveis confusões, como prolongam preconceitos instilados ao longo do século XIX, podendo-se, pois, dizer que são mera propaganda que urge rebater.

Na fase tardia do paradigma corporativo, ou seja, no século XVII, a sociedade repartida em três estados (Clero, Nobreza e Povo) já só funcionava como largo quadro de referência, posto que a realidade social era bem mais complexa e em permanente mudança. A mudança iniciara-se em finais da Idade Média, mas no século XVI era já bem patente. A ascensão dos letrados e a queda dos fidalgos parecia acompanhar uma dinâmica social irreprimível, na qual o apoio da Coroa parecia cada vez mais inclinar-se para o favorecimento do Povo. A prová-lo, a legislação produzida durante o governo de Dom Sebastião marcou uma grande mudança na governação das cidades. Em 1572, o Rei afirmava-o claramente numa lei sobre o estatuto dos governantes da capital portuguesa: “daqui em diante, haja na Câmara um presidente fidalgo principal e três vereadores (do braço popular) que sejam seus desembargadores e sigam os cargos que adiante vereis” (Livro de Reis, vol. VIII, pág. 88).

Esta evolução democrática tornou-se evidente na estruturação da sociedade portuguesa do século XVII. Depois das pessoas de condição “vil” – actividades braçais – encontrava-se um grupo a que os tratadistas chamavam de “Estado do Meio” ou “Classe Média do Antigo Regime”, ou seja, aquelas que desempenhavam funções inicialmente consideradas “mecânicas” (lentes universitários, tabeliães, livreiros, artistas, cirurgiões, boticários) mas que tinham sofrido um processo de ascensão social que as colocava junto do estado de nobreza. Também os desembargadores eram considerados nobres, tendo direito a cavalo e porte de armas. Depois, advogados e escrivães passaram a gozar de privilégios similares aos dos nobres. Ao contrário da nobreza generativa – aquela que se transmitia de pais para filhos – a sua nobreza era reconhecida no quadro das funções que desempenhavam.

O mesmo vinha acontecendo paulatinamente aos produtores agrícolas. Em finais do século XVI, os lavradores – ou seja, proprietários de terras – passaram a ser considerados em estado de nobreza, sendo isentos de obrigações militares. O mesmo acontecia aos concelhos. No século XVII, os concelhos constituíam autênticos senhorios colectivos com atribuição de poderes públicos equivalentes aos nobres, animados por elites locais saídas do povo e que se pautavam pelos valores sociais e de honra próprios da nobreza de linhagem. De facto, eram cavaleiros, ou seja, tratados como se fossem da pequena nobreza, pelo que tais homens não podiam sofrer a humilhação de ser descavalgados – ou seja, privados da sua montada. Descavalgar um homem da aristocracia popular era crime severamente punido.

Também a dinâmica imperial permitiu que largas faixas da população envolvida na gestão e defesa do Ultramar ultrapassassem a condição social em que haviam nascido. Ao partirem para o Oriente ao serviço da Coroa, aos filhos dos membros da Casa dos Vinte e Quatro era reconhecida a condição de nobreza, o mesmo acontecendo depois com a maioria dos militares de pequena patente que saíam a barra do Tejo para o cumprimento de missões no Norte de África, Brasil e Oriente; daí a conhecida expressão de “Fidalgos do Cabo da Boa Esperança”.

Dir-se-ia que pelos finais do Antigo Regime, a nobreza de mérito – ou seja, aquela saída do serviço do Rei – sobrepujara há muito a velha nobreza de sangue. Nas Cortes mandadas reunir por Dom Miguel para o aclamar Rei, dois terços dos representantes da nobreza eram titulares há menos de três gerações, ou seja, até a nobreza titular deixara de ser uma casta fechada de linhagens que se perdiam na bruma dos tempos, passando, ela também a ser uma ordem muito porosa e aberta à crescente entrada de homens de valor saídos do povo.

Miguel Castelo-Branco

Para ler mais:
Ângela Barreto Xavier, António Manuel Hespanha. A representação da sociedade e do poder: paradigmas políticos e tradições literárias, in História de Portugal (dir. Matoso), vol. IV. Lisboa: Círculo de Leitores, 1993.
António Manuel Hespanha, História das instituições: épocas medieval e moderna. Coimbra: Almedina, 1982.


Fonte: Nova Portugalidade

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

SS. AA. RR., D. Duarte e Isabel de Bragança visitaram Casa do Combatente no Funchal



Dom Duarte Pio, Duque de Bragança, visitou ontem a Casa dos Combatentes, onde incitou os presentes a "continuarem a não perder a esperança" e a "fazer algo mais" por todos os combatentes que desde sempre defenderam o País.
Fazendo-se acompanhar pela esposa, Dona Isabel de Bragança, e pelo comandante operacional e da Zona Militar da Madeira, general Carlos Perestrelo, Dom Duarte Pio foi recebido à entrada das instalações pela Direcção do Núcleo do Funchal da Liga dos Combatentes e por um grupo de combatentes, a quem saudou e com quem partilhou algumas memórias pessoais alusivas à sua permanência como tenente piloto aviador da Força Aérea na ex-província de Angola, entre 1968 e 1971.
De acordo com uma nota enviada pela Casa dos Combatentes ao JM, no interior das instalações, o Duque de Bragança teve oportunidade de observar as suas alterações, com destaque para a Capela de São Nuno de Santa Maria, de quem é devoto, o Gabinete Médico e de Apoio Psicológico e, por último, o miradouro que hoje serve de esplanada do bar, onde foi servido um Madeira de Honra.
Durante este momento, o presidente do Núcleo do Funchal da Liga dos Combatentes, tenente coronel Bernardino Laureano, usou da palavra para agradecer a Dom Duarte Pio "a honrosa visita", fazendo referência não só à sua condição como representante da Casa Real Portuguesa, mas também por ter sido combatente e servido as Forças Armadas Portuguesas em terras de África.
"Por fim", adianta a nota, "dirigindo-se aos combatentes presentes", o Duque de Bragança "agradeceu o convite, referindo que a Casa dos Combatentes no Funchal era um exemplo a nível nacional e de prestígio para a Liga dos Combatentes, felicitando todos os elementos pelo trabalho desenvolvido".
Já prestes a abandonar as instalações, Dom Duarte Pio visitou o monumento de São Nuno de Santa Maria que se encontra no parque de estacionamento e, antes de se despedir, "deixou uma mensagem de simpatia e admiração por todos, prometendo voltar ao local sempre que venha à Região". 



Fonte: JM Madeira e FN

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Em novo dia de luto, a NP ajuda-o a perceber o drama dos incêndios

Foto de Nova Portugalidade.

Ao contrário de uma certa crença muito difundida, o processo de desarborização – a chamada crise florestal – não é um fenómeno recente, mas iniciou-se nos séculos XV e XVI com a destruição da economia rural medieval. Arroteamentos, alargamento do espaço destinado ao pastoreio extensivo e procura de madeira «grossa» destinada aos estaleiros navais de Lisboa, Porto, Aveiro, Viana e Lagos, provocaram a destruição das paleo-florestas.

No início do século XIX, quase todas as terras estavam nuas de arvoredo e os bosques das terras altas recebiam golpe sobre golpe num país onde a lenha rareava. Os quadros oferecidos pela literatura portuguesa de base provinciana são eloquentes desse país escalvado, poeirento e pedregoso.

Em 1867, o Relatório da Arborização, primeiro estudo sério produzido em Portugal, mostrava que apenas 7% do território era arborizado. Portugal era um imenso deserto. Com a criação do Regime Florestal (1901), o governo da monarquia apontou o rumo para a rearborização do território entre o Minho e o Tejo. Contudo, a implantação da república, a crise económica, a penúria crónica e a desorganização do Estado tornaram impossível responder à grave crise ambiental que assumia proporções de desastre. Teve de se esperar pelo advento do Estado Novo para que entrasse em execução o Plano de Povoamento Florestal (1938), inspirado nos programas então em voga nos EUA e Europa, o qual prolongou-se até 1972 e foi efectivamente cumprido.

Optou-se pela plantação extensiva do pinheiro bravo, a melhor solução para impedir a erosão dos solos, mas igualmente pela criação de uma polícia florestal e quadros técnicos do Estado com a incumbência de preservar o património florestal. Em 1965, 33% da superfície do país estava já coberta de matas. Os incêndios rareavam. A área de fogos nas décadas de 1950 e 1960 não excedia os 5000 hectares/ano. Veio a revolução, as estruturas entraram em colapso e só em 1975 arderam 80.000 hectares ou seja, o equivalente à soma de todos os incêndios verificados no país entre 1951 e 1974. A devastação continuou. Entre 1976 e 1981, a área anual de fogos foi de 40.000 hectares. O que restava da indústria das florestas entrou em colapso ao longo das décadas de 1980 e 1990. Desde então, verifica-se uma perda anual de 2% da superfície da mancha florestal.

A agravar o quadro de desastre, a indústria das celuloses entrou em força, implantando o famigerado eucalipto, espécie voraz que devastou os solos, a mata e a flora nativas, esgotando igualmente os lençóis freáticos. Ao longo das últimas duas décadas, tendo perdido competitividade, a indústria do papel entrou em recessão. Não sabendo o que fazer com o que restava das nossas florestas, o “poder autárquico” aproveitou-se da falta de autoridade do poder central e lançou mão à destruição do mínimo de racionalidade ainda existente. A absurda política de abertura de estradas para nenhures, as célebres “rotundas”, os loteamentos, os “parques industriais” que jamais passaram da fase de destruição dos bosques pré-existentes, os campos de golfe e “projectos de urbanização” que retiraram populações de cidades e vilas para a conurbação dos velhos centros urbanos, empurrando-as para áreas de bosque, deixaram-nos à beira do precipício. Ora, como as matas não dão votos, e como todo o regime vigora nesta criminosa inconsciência demagógica de “obras”, o que resta da floresta portuguesa está condenada à desaparição.

Não, a floresta europeia não está em regressão, mas em expansão. A excepção é Portugal. Porquê ?

Miguel Castelo-Branco


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O autoclismo

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 ...."Ir-me embora seria o caminho mais fácil, ia ter as férias que não tive".

Foi  isto o que o agarradinho e fedorento dejecto disse hoje. Haja quem urgentemente prima o autoclismo.


Nuno Castelo-Branco


A Portugalidade acaba de ganhar trinta novos Santos

Destruir o mito da "boa colonização holandesa do Brasil": os massacres de Cunhaú e Uruaçu

Foto de Nova Portugalidade.

A Igreja brasileira - e, por isso, a Portugalidade - acaba de ganhar trinta novos santos. São os mártires de Cunhaú e Uruaçu, friamente assassinados pela Holanda, que invadira o Brasil e então lá se encontrava como potência ocupante, no século XVII. A ocasião permite - obriga, até - reflexão sobre a estranha deturpação que se vem fazendo do papel da Holanda no Brasil, programa que sabemos confundir-se com a difamação de Portugal por muita historiografia lusófoba e Portugal e no Brasil.
Filha de muitos anos de propaganda anti-portuguesa nas escolas do Brasil, essa peculiar leitura da História ataca os construtores portugueses do país e exalta como bons, decentes e avançados os invasores holandeses. É outro exemplo do auto-ódio que foi elevado à dignidade de verdade por quem - e assim é com tantos governos de países portugueses, e especialmente com o do Brasil - faz da mentira a sua profissão. Mas este é especialmente extraordinário, pois o que pede do brasileiro - e o brasileiro é o português, mas sul-americano e com o seu próprio Portugal independente do Portugal europeu - é que grite de júbilo pela invasão da sua terra por povo estranho, pela violação das suas mulheres, destruição das suas aldeias e por série temível de saques, torturas, latrocínios e massacres.
Das incontáveis brutalidades cometidas pela Holanda em terra brasileira, há poucas mais repelentes que as de Cunhaú e Uruaçu. A primeira deu-se a 16 de Julho de 1645. Uma coluna holandesa, comandada por um tal Jacob Rabi, juntou-se a número indeterminado de índios potiguares e desceu sobre o Engenho Cunhaú, em Canguaretama. O povo do engenho encontrava-se a ouvir missa do seu padre, um tal André de Soveral, quando a tropa ocupante por lá entrou. Os detalhes do que se terá passado depois são de difícil, porque dura, explicação. Como os outros do aldeamento, o padre Soveral foi torturado; depois, os potiguares aliados da Holanda e às ordens de Rabi arrancaram-lhe o coração pelas costas. Os mortos foram mais de 70. Em reconhecimento do seu martírio às mãos do invasor, o Padre André de Soveral foi beatificado em 5 de Março de 2000 pelo Papa São João Paulo II.
A três de Outubro de 1645, novo acto de horror, nova manifestação de ódio irrefreado, novo motivo de vergonha a quantos ousam hoje cantar as virtudes da conquista holandesa. Cunhaú causara compreensível temor entre a população luso-católica e esta, acossada, refugiara-se na costa. Rabi e seu bando seguiram-nos e, encontrando grupo de oitenta, tentaram forçá-los à conversão ao calvinismo. Se o fanatismo religioso teve origem em J. Rabi, um judeu holandês, é impossível saber; é de crer que o acompanhariam presbíteros calvinistas, e que teria partido deles a exigência de apostasia. O que sabemos é que a população, embora cercada, humilhada e aterrorizada, recusou apostatar. O sacerdote português, Padre Ambrósio Ferro, foi supliciado e forçado a assistir à chacina de todos os outros. A um deles, um camponês chamado Mateus Moreira, foi arrancado, como ao Padre Soveral de Cunhaú, o coração pelas costas. Moreira terá deixado o mundo com brado de coragem e fé: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento!" foi o que exclamou no momento do fim. Hoje, como o Padre André de Soveral e 28 outros mártires, Moreira foi canonizado pelo Papa Francisco em Roma. São trinta novos santos portugueses, brasileiros e da Portugalidade.
A ocupação holandesa do Brasil terminou em 1654. É prova infeliz do estado da educação brasileira que tantos vejam neste período de expropriações, perseguições e massacres uma época de progresso para o Brasil. Mas dessa mentira falará a Nova Portugalidade futuramente.

domingo, 15 de outubro de 2017

O milagre do sol que não dançou…

Ante um acontecimento extraordinário, o céptico pura e simplesmente nega o facto, enquanto o fideísta – cujo lema seria a máxima ‘creio, porque é absurdo’ – não admite que o misterioso acontecimento possa ser racional. Entre estas duas atitudes extremas, que contrapõem a fé à razão, cabe uma posição intermédia, que é a católica: o milagre, não obstante o seu carácter extraordinário, pode ter uma explicação científica. A teologia, com efeito, reconhecendo a emergência do sobrenatural e a incompreensibilidade de Deus, não se abstém, contudo, de tentar uma justificação racional – como conhecimento científico que é – dos fenómenos de origem transcendente.
Que se pode dizer, científica e teologicamente, sobre o milagre do sol, acontecido na última aparição mariana, a 13 de Outubro de 1917? Há quem negue que tenha ocorrido algo extraordinário, não obstante o relato unânime de 50 a 70 mil testemunhas oculares, de todas as idades e condições. Alguns destes depoimentos, como ontem o Observador noticiou, foram agora publicados pelo Engº Bernardo Motta, no seu excelente trabalho sobre esta questão (O Milagre do Sol segundo as testemunhas oculares, Lucerna 2017). Também há quem pretenda que o sol bailou mesmo diante daquela multidão. Claro que, se assim tivesse sido, teria sido visto em todo o mundo em que, a essa hora, o sol era visível, pois o astro-rei não é uma exclusividade daquele lugar, província, país ou continente.
Se, na Cova da Iria, pareceu que o sol dançava, mas no resto do mundo não consta que se tivesse desviado da sua órbita natural, poder-se-ia admitir que se tratou de uma alucinação colectiva. Mas essa suposição não é crível, porque o fenómeno foi verificado também noutros lugares, nomeadamente em Minde, Alburitel, São Pedro de Moel – pelo poeta Afonso Lopes Vieira – e até Leiria.
Que toda aquela multidão tivesse tido uma visão simultânea, não obstante as suas diferentes atitudes – havia crentes, mas também incrédulos e ateus – e diversas localizações, também não parece razoável: fenómenos místicos desta natureza não são experimentáveis por uma tão ingente e variada multidão.
Resta a explicação científica deste fenómeno extraordinário. O Prof. Gonçalo Xavier de Almeida Garrett, testemunha ocular do milagre e professor catedrático da Universidade de Coimbra, foi o primeiro a propor uma interpretação meteorológica para ‘a dança do sol’. Mas foi o Prof. Diogo Pacheco de Amorim quem formulou a hipótese de aquele efeito óptico ter sido consequência de uma lente de ar. Este é também o parecer do cientista e teólogo Padre Stanley Jaki, doutorado em teologia sistemática pelo Instituto Pontifício de S. Anselmo, em Roma, e em física, pela Universidade de Fordham, em Nova Iorque; galardoado com os prémios Lecomte du Nouy, em 1970; e Templeton, em 1987. É autor de ‘God and the Sun at Fátima’ (Port Huron, Michigan 1999, Real View Books), uma extensa investigação de cerca de 400 páginas sobre o milagre do Sol; ‘The Sun’s miracle or of something else’ (Port Huron, Michigan 2000, Real View Books, 32 págs.); e ainda do artigo sobre o ‘Milagre do sol’, na notável ‘Enciclopédia de Fátima’ (Principia, Estoril 2007, págs. 355-358).
Segundo Jaki, “a explicação está no facto de duas correntes de vento que se encontrem num ângulo poderem fazer com que uma massa de ar entre em movimento rotativo. Caso haja uma inversão da temperatura, essa massa não só rodará como também será puxada para cima e para baixo, e muito provavelmente seguindo uma órbita elíptica. O tamanho de uma tal lente de ar pode variar entre poucos metros e 30 ou mais metros. Se, além disso, se encher de partículas de gelo, poderá fragmentar a luz do sol em várias, ou pelo menos algumas, cores do arco-íris, tal como foi observado em Fátima. Um fenómeno semelhante ocorre aquando da formação de tornados.”
Talvez alguns crentes fiquem decepcionados com esta explicação científica do que aconteceu na Cova da Iria no dia 13 de Outubro de 1917, mas pior seria se o milagre supusesse uma impossibilidade física, em cujo caso não seria possível a sua compreensão racional. Ora a fé, embora ultrapasse a razão, não a contradiz: nunca o sobrenatural é absurdo. Como dizia Chesterton, “o sobrenatural é natural”. “Se considerarmos que aquilo que foi observado naquele dia memorável na Cova da Iria – explica Jaki – foi uma lente de ar, teremos em mãos a possibilidade de encará-lo como um milagre físico sem nenhuma impossibilidade evidente. Entre as impossibilidades estaria uma mudança súbita da posição do sol, para já não falar na sua aproximação da superfície terrestre”.
Quer isto dizer que, afinal, não houve milagre nenhum na última aparição mariana na Cova da Iria?! Claro que houve, como pedira a Lúcia a 13 de Julho, para que todos acreditassem nas aparições, e a que a Senhora mais brilhante do que o sol se comprometeu para a sua última aparição. Como esclarece Jaki, um cientista que é também um homem de fé – dois atributos que não só não se contradizem como se completam – “o carácter milagroso dessa lente de ar deve ser procurado na formação que se criou por cima da Cova da Iria e na previsão do momento feita por Lúcia meses antes, bem como no facto de a lente de ar, sendo tão frágil, ter mantido a sua forma durante mais ou menos 15 minutos depois de descrever dois ou três percursos elípticos na direcção da terra. A explicação do acontecimento por meio de uma lente de ar dá conta, de forma satisfatória, de um complexo conjunto de ocorrências que são miraculosas na medida em que são imprevisíveis e muito raras”.
Em caso algum a vidente, ou qualquer outra pessoa, poderia produzir artificialmente aquele acontecimento, nem sequer prever, com noventa dias de antecedência, o dia e hora exactos em que tão raro e anómalo fenómeno meteorológico iria ocorrer, precisamente na Cova da Iria! Aliás, foi porque era público e notório que iria haver um milagre, que lá afluíram entre 50 e 70 mil pessoas! A mãe da Lúcia, temendo que nada de extraordinário acontecesse e a vida da sua filha perigasse, fez questão de a acompanhar. Que a vidente tenha previsto e anunciado, com três meses de antecipação, o que todos, crentes e incrédulos, viram, é, de facto, um grande milagre!
Deus, ao criar o mundo, dotou-o de leis, que são a partitura que explica, cientificamente, a harmonia universal. Mas, como não se esgotou a sua divina inspiração, de vez em quando surpreende-nos com um improviso que, sem contradizer as leis da natureza, desafia a nossa razão e interpela-nos. Não será isto, afinal, o milagre?
Fonte: Observador

sábado, 14 de outubro de 2017

Livro: “Nas Teias de Salazar D. Duarte Nuno, entre a Esperança e a Desilusão” de Paulo Drumond Braga

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Uma biografia escrita numa perspectiva mais pessoal, que denuncia as relações entre o Estado Novo, o Presidente do Conselho e o Chefe da Casa de Bragança, S.A.R. Dom Duarte Nuno.
O livro recorre a testemunhos da família, incluindo os dois filhos do biografado sobreviventes, SAR D. Duarte Pio e SA D. Miguel.
Contém caderno com imagens e testemunhos do filho do biografado, o actual duque de Bragança.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Desfazer as mentiras: percebamos a brutalidade portuguesa no Índico



A historiografia recente, concentrada que vem andando na constante perseguição e vilificação do passado português, usa frequentemente relatos de violências perpetradas por Portugal no Índico para a sua crítica do império. Episódios comummente citados são o bombardeamento de Calecute por Pedro Álvares Cabral após a chegada à Ásia da segunda Armada da Índia, ou o brutal ataque de Vasco da Gama, em 1502, ao grande navio árabe "Miri". No primeiro caso, Álvares Cabral ordenou o bombardeamento intenso do grande porto indiano de Calecute e a destruição das muitas embarcações de comércio ali fundeadas. Os portugueses terão feito fogo de um dia inteiro sobre a cidade, cuja população foi forçada a fuga desordenada; terão, ainda, tomado, apresado e destruído todos os navios mercantes que encontraram no porto. Pela contabilização de Roger Crowley, historiador britânico especializado em assuntos navais, a armada portuguesa teria feito, só na investida contra os navios de comércio no porto, para cima de seiscentos mortos.

O caso do navio árabe "Miri" (em persa, "Comandante", "Governador"), atribuído por Gaspar Correia e grande número de outras fontes a Vasco da Gama, é especialmente chocante. Tratava-se de grande navio muçulmano. Transportava coisa de trezentas pessoas de todas as condições, assim como rica carga, e devia dirigir-se a Meca ou ao Egipto quando Vasco da Gama o localizou e atacou. O navio rendeu-se prontamente e terá oferecido farto resgate a Gama. Este recusou-o repetidamente, mesmo quando as ofertas muçulmanas se tornaram desmedidamente generosas; depois, abandonou o Miri, a que fora para negociar, e ordenou que se fizesse fogo sobre a nave. A tripulação daquela pôde controlar os muitos fogos que nela deflagraram, seguindo-se depois batalha de vários dias. O Miri resistiu até ao limite das suas forças acabando por afundar-se apenas após terrível perseguição. A morte intencional, lenta e pelo fogo de centenas de civis corajosos chocou a tripulação portuguesa, abundando desta os relatos críticos da actuação do almirante. Um deles, e talvez o mais relevante, é o do próprio Correia em "Lendas da Índia".

Sendo inquestionável que um e outro casos demonstram razoável dose de brutalidade, a sua análise racional convida-nos a conhecer a circunstância em que foram praticados. Portugal não chegara à Índia com o propósito inicial de fazer a guerra. A sua política fora, num primeiro momento, de comércio e aliança com aquilo que Lisboa esperava serem as potências cristãs da Índia. A estratégia portuguesa era de desviar o comércio oriental das mãos dos muçulmanos do Mediterrâneo; o que pretendiam era secar os cofres e do Islão, roubar-lhe a riqueza que usava para pagar o seu poder, abrir a Portugal as portas da Terra Santa e, assim fazendo, defender a Cristandade e engrandecer a monarquia. Com efeito, a primeira e terceiras armadas da Índia - a de Gama, que lá chegou em 1498, e a de Cabral, que chegou à costa indiana em 1501 - tinham tido ambas o objectivo de fazer do Samorim de Calecute um aliado. Gama, julgando então tratar-se o rei asiático de monarca cristão, levou-lhe presentes; Cabral, conhecendo o desinteresse do Samorim pela medíocre oferenda de Gama, embarcou em Lisboa prendas formidáveis com o intuito de conquistar a amizade daquele rei asiático. Os portugueses começaram, pois, por apresentar-se como amigos potenciais do Samorim, intenção que a escolha de Cabral, um diplomata sem especial experiência naval ou militar, como almirante sublinha.

Os planos portugueses para o Oriente alteraram-se rapidamente e, quase sempre, por motivos alheios ao seu controlo. O momento inaugurador da discórdia ocorreu em Calecute e na presença de Álvares Cabral. Aquele comandante, como vimos, fora enviado à Índia com a missão de fazer do Samorim amigo dos portugueses. Esse propósito saiu plenamente gorado. Manipulado, provavelmente, pela rica classe mercantil muçulmana residente naquele grande porto indiano, o Samorim dificultou o embarque da especiaria desejada por Cabral. Pior, os mercadores islâmicos terão, ao que parece, engendrado o ataque de multidão hindu à feitoria portuguesa existente na cidade desde a viagem de Vasco da Gama. A feitoria foi cercada e incendiada; uns setenta portugueses, entre os quais se incluiu o feitor, Aires Correia, acabaram brutalmente abatidos. O primeiro homem a fazer chegar a Lisboa notícia do Brasil, Pêro Vaz de Caminha, foi igualmente atacado e retalhado pela multidão enfurecida. O bombardeamento de Calecute, de que resultou a demolição de parte da cidade e a morte, só no porto, dos referidos seiscentos homens, foi resposta à agressão indiana - não constituiu, como vemos, acto de agressão.

A derrocada das relações entre Portugal e o primeiro potentado indiano que conheceu aprofundar-se-ia nas décadas seguintes. Desfeitos pelo massacre da feitoria portuguesa, a que Cabral replicou brutalmente ao destruir a fogo de canhão parte da cidade, os laços viram-se ainda mais danificados pela decisão do Samorim em perseguir os portugueses após a saída destes de Calecute. Nada conseguiram, pois a artilharia potente, melhores navios e tripulações experimentadas de Portugal impuseram, no recontro que se seguiu, respeito à armada do Samorim. Mas o ataque a Calecute, a que sucedeu, na segunda viagem de Gama ao Oriente, a carnificina no Miri, devem ser compreendidos como resposta indesejada a uma provocação que, em rigor, Portugal não pediu ou pretendeu. O Miri era propriedade de um tal Al Fanqi, rico mercador de Meca e feitor muçulmano de Calecute. O afundamento do navio foi represália pela investida do ano anterior à feitoria portuguesa na cidade indiana, recontro em que haviam caído Vaz de Caminha e setenta outros soldados de Portugal. Gama conhecia Al Fanqi, sabia-o um dos causadores da tragédia, dispôs-se a vingar-se e, com isso,a refazer a reputação de Portugal no Oriente. Se, pois, houve inversão de política - e se Lisboa passou, do plano comercial, a esboçar para a Índia verdadeiro projecto de conquista militar e assentamento imperial - tal deve-se muito mais a hostilidade local atiçada por mercadores islâmicos que à agressividade gratuita dos portugueses.

RPB