sábado, 31 de agosto de 2019

Uma benigna bomba atómica espiritual na história da humanidade

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Os Descobrimentos e a Expansão marítima dos portugueses marcam o início da grande confluência, como um dia notou Felipe Fernández-Armesto. O planeta, até então separado em galáxias civilizacionais fechadas que só interagiam na orla umas das outras, foi convulsionado, gerando-se uma crescente dinâmica de trocas linguísticas, culturais, religiosas, artísticas e comerciais que transformaram radicalmente a face do mundo. Arnold Toynbee chamou a este novo ciclo Era Gâmica, pelo que há um antes e um depois da Expansão portuguesa. Antes, o fechamento do horizonte, a ilusão da unidade, a solidão temerosa do desconhecido.

No que à Europa respeita, o seu pequeno mundo limitava-se às margens do Mediterrâneo, ao Báltico e ao Mar do Norte, parando abruptamente nas estepes da Rússia já cristianizada, mas sempre exposta à ameaça asiática. Ora, Fernand Braudel, ao escrever esse imenso tratado de erudição e inteligência a que daria o título de O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na Época de Filipe II, notou que o Mediterrâneo do século XVI era uma região em rápido empobrecimento: terras sobre-exploradas, recursos naturais residuais, sobre-população exposta a fomes cíclicas. A Europa antes do surto expansionista europeu era pobre e incapaz de projectar poder.

Entre 1415 e 1543, ou seja, entre a tomada de Ceuta e a chegada das naus ao Japão, o mundo sofreu uma dramática mutação. O fascínio motivado pela revelação do mundo aos homens teve um efeito só comparável àquele que um dia, num futuro incerto, terão os nossos descendentes quando - a existirem - forem confrontados com seres inteligentes de outras galáxias. O impacto de Portugal na história dos homens foi profundo e só o podemos comparar a uma bomba atómica espiritual: todas as certezas foram abaladas, todos os medos superados, todos os objectos escondidos revelados.

Depois, foram cinco séculos de hegemonia europeia, seguidos da era americana, agora em lento mas insofismável declínio. No mundo que está a nascer todos os dias perante os nossos olhos - um mundo em que as civilizações chinesa, indiana e islâmica já exigem o direito a uma globalização negociada, recusando a imposição cega do critério ocidental - a Portugalidade, expressão da primeira globalização, com fortes e profundas raízes na América, em África, na Ásia e na Oceania, pode ser um importante agente de intermediação e actor no diálogo entre as civilizações.

A Portugalidade não é uma nostalgia pós-imperial; antes pelo contrário, a Portugalidade anuncia a chegada de um tempo em que os homens, passado o ciclo colonial, regressam à universalidade de uma mensagem de liberdade, respeito e abertura que um dia desembarcou nas praias do Brasil ao Japão.

MCB

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Cada vez mais sindicalista!

Estou surpreendido comigo mesmo, habituado a ver o movimento sindical português como correia de ventoinha do PCP (e da esquerda em geral) nunca dei para aquele peditório. Além do mais, e falando em privilégios de classe, ou outras fórmulas marxistas, reconheço-me mais perto dos patrões que dos trabalhadores. Por isso não esperava chegar a esta idade e sentir alguma simpatia por um sindicato que o poder político quer abater a qualquer preço! Uma sanha revanchista que se estende ao Ministério Público com acções que visam ilegalizar o dito sindicato das matérias perigosas! E a história repete-se: - a esquerda quando chega ao poder a primeira coisa que faz é silenciar qualquer fonte de contestação. Também o povo conhece esta reacção dos pseudo democratas - 'Se queres ver o vilão, dá-lhe o chicote para a mão'!

É claro que tudo isto são ilusões e eu às vezes esqueço-me daquilo que ando a pregar a vida inteira: - em república, sem um poder moderador não eleito, é ilusório apoiar uma das partes contra a outra. Pois logo que uma delas vence, transforma-se imediatamente naquilo que combate. Não gosto de citar Simone Veil, uma republicana que não percebeu as causas. Mas exprimiu bem as consequências: - 'a justiça, essa eterna desertora do campo dos vencedores'.


Saudações monárquicas



Fonte: Interregno

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O Bergantim Real de Portugal

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O bergantim real é mais bela de todas as galeotas preservadas e expostas pelo Museu de Marinha, de Lisboa. O bergantim real foi construído em 1780 por encomenda da rainha D. Maria I (daí também ser chamada, por vezes, ‘galeota de D. Maria I’) e distingue-se pelos riquíssimos trabalhos de talha dourada que adornam todo o seu casco, mas com mais visível requinte na popa. Esta magnífica embarcação, concebida para ser usada no estuário do Tejo pelos monarcas e por outros proeminentes membros da casa real, era movida por 40 remos accionados por 78 robustos marujos, dirigidos por um patrão e por um cabo proeiro. A sua única superestrutura, a camarinha, está decorada com elementos luxuosos, dos quais se destacam uma deslumbrante pintura do artista Pedro Alexandrino de Carvalho e uma magnífica caixilharia de espelhos venezianos. Depois de retirado do serviço da família real, este bergantim foi utilizado em várias ocasiões solenes, nomeadamente aquando das visitas oficiais ao nosso país dos soberanos de Inglaterra Eduardo VII e, mais tarde, Isabel II (ocorrendo esta em 1957, última vez em que navegou), do rei Alberto I da Bélgica, do imperador da Alemanha Guilherme II e do presidente da República Francesa Émile Loubet. A preciosa galeota recolheu definitivamente ao Museu de Marinha em 1963, onde foi soberbamente restaurada e onde desperta a admiração dos muitos milhares de turistas que visitam, anualmente, aquela prestimosa instituição.

José de Almeida Basto

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Santo Agostinho, grande Bispo e Doutor da Igreja


Celebramos neste dia a memória do grande Bispo e Doutor da Igreja que nos enche de alegria, pois com a Graça de Deus tornou-se modelo de cristão para todos. Agostinho nasceu em Tagaste, no norte da África, em 354, filho de Patrício (convertido) e da cristã Santa Mónica, a qual rezou durante 33 anos para que o filho fosse de Deus.
Aconteceu que Agostinho era de grande capacidade intelectual, profundo, porém, preferiu saciar seu coração e procurar suas respostas existentes tanto nas paixões, como nas diversas correntes filosóficas, por isso tornou-se membro da seita dos maniqueus.
Com a morte do pai, Agostinho procurou se aprofundar nos estudos, principalmente na arte da retórica. Sendo assim, depois de passar em Roma, tornou-se professor em Milão, onde envolvido pela intercessão de Santa Mónica, acabou frequentando, por causa da oratória, os profundos e famosos Sermões de Santo Ambrósio. Até que por meio da Palavra anunciada, a Verdade começou a mudar sua vida.
O seu processo de conversão recebeu um “empurrão” quando, na luta contra os desejos da carne, acolheu o convite: “Toma e lê”, e assim encontrou na Palavra de Deus (Romanos 13, 13ss) a força para a decisão por Jesus:”…revesti-vos do Senhor Jesus Cristo…não vos abandoneis às preocupações da carne para lhe satisfazerdes as concupiscências”.
Santo Agostinho, que entrou no Céu com 76 anos de idade (no ano 430), converteu-se com 33 anos, quando foi catequizado e baptizado por Santo Ambrósio. Depois de “perder” sua mãe, voltou para a África, onde fundou uma comunidade cristã ocupada na oração, estudo da Palavra e caridade. Isto, até ser ordenado Sacerdote e Bispo de Hipona, santo, sábio, apologista e fecundo filósofo e teólogo da Graça e da Verdade.
Santo Agostinho, rogai por nós!

terça-feira, 27 de agosto de 2019

A Moral tem de preceder a Política


A imoralidade frustrou esta regeneração, e se Deus não prometesse que nunca mais afogaria os homens, seriam tantos os dilúvios, como as tempestades; porque a Liberdade de que tanto se vangloria o ser humano, só lhe serve de pasto e de estímulo para aniquilar-se.

É portanto muito dificultosa uma regeneração política, não sendo precedida de uma regeneração moral, sustentada pela força, que é o que significa o auxílio de braço secular prometido à Igreja: não se ofende a liberdade quando se obriga o homem a fazer o que deve: este direito é o de Pai de famílias no estado primitivo, e bem se sabe que os sacrifícios eram os mesmos enquanto ao objecto, ou fossem bons, ou fossem maus os sacrificadores, donde se infere o poder paterno na direcção do culto ao Autor da Natureza.

Pe. José Agostinho de Macedo in jornal «O Escudo», Nº 1, 1823


Fonte: Veritatis

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

A ideologia de género, a imprensa e as redes sociais

O Governo, por via dos secretários de Estado para a Cidadania e a Igualdade e da Educação, publicou no passado dia 16 o Despacho nº 7247/2019, que “estabelece as medidas administrativas para a implementação do previsto no nº 1 do artigo 12º da Lei nº 38/2018”, enquanto o país estava a banhos e a imprensa entretida com a greve dos motoristas de combustíveis.

Esta lei é a que impõe a ideologia de género nas escolas. Por ser de muito duvidosa constitucionalidade, a sua fiscalização foi recentemente pedida por mais de um terço dos deputados. À socapa do parlamento e no mais absoluto desrespeito pelo Tribunal Constitucional, dois membros do governo, em fim de mandato, apressaram-se a implementar, às escondidas dos órgãos de soberania e do país – numa sexta-feira de Agosto, em plena ponte do feriado do dia 15! – medidas que decorrem de uma ideologia que não tem qualquer fundamento científico e, muito provavelmente, é inconstitucional.
Como se todos estes atropelos ao normal funcionamento das instituições democráticas não bastassem, a notícia foi praticamente silenciada pelos principais meios de comunicação social. Com efeito, o referido despacho foi publicado no passado dia 16, mas a primeira notícia do mesmo só foi dada, a 19, pelo Notícias Viriato. O que diz muito da imprensa e das redes sociais que temos.
No caso Watergate, um jornal norte-americano conseguiu o que parecia impossível: a demissão de um presidente dos EUA! Mas, quase meio século depois desta façanha, a imprensa não foi capaz de evitar as eleições de Trump e de Bolsonaro.
Quase toda a imprensa norte-americana empenhou-se em impedir a eleição de Donald Trump, apresentado invariavelmente como um louco e um potencial detonador da terceira guerra mundial. Hoje, estas acusações devem fazer sorrir até os maiores inimigos do dito. Apesar das suas evidentes limitações, a verdade é que Trump parece ter derrotado o Estado islâmico e travado a ameaça nuclear norte-coreana, ou seja, fez muito mais pela paz mundial do que o seu antecessor que, no entanto, recebeu, não se sabe bem porquê, o Nobel da paz. Mas, se a imprensa norte-americana – que, mais do que pró-Hillary Clinton, era furiosamente anti-Trump – não conseguiu evitar a sua eleição presidencial, é porque os eleitores já não ligam ao que alguns media dizem.
O mesmo aconteceu no Brasil: alguma imprensa e muitos intelectuais também tentaram, por todos os meios, que o denominado fascista-nazi-antidemocrático Jair Bolsonaro não ganhasse as eleições presidenciais. Mais uma vez, os cidadãos fizeram orelhas moucas a tais paternalistas advertências e presságios de mau agoiro, e o horrível candidato da direita, passe o pleonasmo, foi mesmo eleito, sem que o seu país tenha mergulhado no caos que muitos profetizaram (e alguns, decerto, desejavam). Decididamente, a imprensa já não é o que era.
Estes acontecimentos criaram uma situação paradoxal: a de pretensos democratas criticarem, em nome da democracia, eleições democráticas. A mal disfarçada irritação dos media pôs também a nu a sua falta de isenção: afinal, os meios de comunicação social não são, salvo honrosas excepções, instâncias de reflexão crítica do poder instituído, mas instrumentos desse mesmo poder. Na realidade, já foi assim no fascismo (Estado Novo) e no social-fascismo (PREC) quando, para saber o que realmente acontecia no país, era preciso recorrer às agências noticiosas estrangeiras.
É verdade que a imprensa é essencial à democracia, mas não é um poder democrático, porque os jornais, rádios e televisões têm donos e interesses que não estão legitimados pelo voto popular. Em geral, a imprensa está alinhada com o politicamente correcto e, por isso, quem queira aceder a um discurso livre, tem que recorrer a meios alternativos, como são as redes sociais, os blogues e sites independentes, que têm também, como é óbvio, as suas debilidades: recorde-se a censura, feita pelo Facebook, a ‘sites’ católicos e o seu fraudulento uso, para fins eleitorais, de dados pessoais.
Um sinal significativo desta perda de influência de alguma comunicação social é o seu insucesso entre a gente mais nova. Durante três semanas deste mês participei num curso de verão, frequentado por mais de três dezenas de profissionais com formação universitária, com idades entre os vinte e cinco e os oitenta anos. Curiosamente, só vi os mais velhos a assistir aos telejornais, porque todos os outros preferiam informar-se por outras vias. Eu próprio, que já não sou jovem, há já vários anos que não vejo um telejornal, não só por falta de tempo, mas também de interesse.
Por acaso, no referido curso, ao passar por uma sala onde três pessoas de idade viam a televisão, vi-me obrigado a ouvir, durante alguns minutos, o telejornal da RTP. Era na antevéspera da greve dos motoristas de combustíveis e essa estação tinha repórteres em várias bombas de gasolina do norte, centro e sul do país. O pivot fez a ligação para os jornalistas destacados e todos, em directo, informaram … que não havia nada para informar! Foi como naquela tempestade-que-era-para-haver-mas-depois-não-houve, da qual as televisões fizeram uma impressionante cobertura! Não critico os infelizes profissionais destacados para tão inglórias missões, mas quem faz questão em informar o país inteiro de que … não há nada para informar! Como alguém disse: bem-aventurados os que, nada tendo para dizer, o não explicam com muitas palavras!
Enquanto as televisões estavam entretidas a noticiar o que não aconteceu, ocorreu uma coisa muito importante e grave, não só porque afecta milhares de crianças e famílias, mas também porque é, pela certa, inconstitucional: a publicação, de forma sorrateira, de um despacho que implementa a perniciosa ideologia de género nas escolas. Mas, como se trata de uma manigância muito politicamente correcta, alguma comunicação social fez o favor de nada dizer. Ante esta cúmplice conspiração do silêncio, valeu-nos a rede social que se ufana de ter sido o primeiro meio de comunicação a denunciar o escandaloso despacho, três dias depois da sua publicação.
Não estranha que haja quem não esconda o seu propósito de controlar, ou mesmo proibir, as redes sociais. Em nome da qualidade da democracia, claro! As redes sociais, na medida em que dão voz a quem a não tem nas televisões, rádios e jornais detidos pelo poder politicamente correcto, são hoje um dos mais importantes espaços de liberdade de pensamento e expressão, religiosa e política, dos cidadãos. Felizmente, como dizia o poeta, “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”!
Fonte: Observador

sábado, 24 de agosto de 2019

Hoje é aniversário do Império, a maior das realizações portuguesas

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A 21/22 de Agosto de 1415, Portugal conquistava Ceuta, dando assim início à expansão marítima portuguesa, não obstante já terem ocorrido inúmeras incursões no Atlântico.

A tomada de Ceuta, localidade situada no norte do continente africano, deu-se por motivos de ordem religiosa, social, política e estratégica. Representou um passo decisivo na afirmação da cristandade além-mar. Por outro lado, era um ponto estratégico para as investidas que o Infante Dom Henrique delineava no continente africano. Não menos importante ainda, Portugal conseguia, através da empresa, afirmar-se junto dos seus vizinhos peninsulares. Há quem avente motivos de ordem económica, mas as vantagens para Portugal, nesse domínio, são suspeitas. Na falta, então, de um caminho marítimo para a Índia, os produtos orientais passavam também por Ceuta, o que a convertia num entreposto comercial de suma importância. Militarmente, Ceuta permitia uma defesa mais eficaz do Algarve, que facilmente poderia sucumbir ao assédio sarraceno.

Ceuta manter-se-ia portuguesa até 1668. Em 1640, por estar pejada de castelhanos, recusou-se a reconhecer Dom João IV e manteve a sua lealdade aos Habsburgo. Importa acrescentar que, na conquista da cidade, participaram também numerosos galegos.

MTF

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Este, sim, devia dar o nome ao aeroporto de Lisboa

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Bartolomeu de Gusmão, “o padre voador” cientista e inventor nascido na capitania de São Vicente, Santos, no Brasil português. Educado pelos Jesuítas, ficou famoso na corte de Dom João V por ter inventado o primeiro aeróstato operacional, a que chamou de "passarola". Fez perante a corte portuguesa cinco experiências com balões de pequenas e médias dimensões construídos por ele. Cinco testemunhas registaram essas experiências: o cardeal italiano Miquelângelo Conti, eleito papa em 1721 sob o nome de Inocêncio XIII, os escritores Francisco Leitão Ferreira e José Soares da Silva, nomeados membros da Academia Real de História Portuguesa em 1720, o diplomata José da Cunha Brochado e o cronista Salvador António Ferreira, portugueses. O invento, divulgado por meia Europa em estampas fantasiosas que, em geral, o retratavam como uma barca com formato de pássaro, ficou conhecido como “Passarola”. Gusmão faleceu aos 38 anos de idade em Toledo, Espanha. Era irmão do famoso diplomata Alexandre de Gusmão.


quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Nagasaki



Nagasaki foi a primeira cidade japonesa a ser visitada pelos Portugueses, em 1542. Tornada feitoria sob os direitos do Padroado Português do Oriente, foi durante séculos o grande centro de expansão do Catolicismo no Japão. Entre 1640 e 1859 era o único local do Japão a poder ser visitado por estrangeiros. A 9 de Agosto de 1945, Nagasaki foi alvo da segunda bomba atómica americana, incinerando a cidade, e cerca de dois terços dos católicos no Japão.

Fonte: Veritatis

terça-feira, 20 de agosto de 2019

IMPÉRIO DAS NAÇÕES

Agora, que até o assustado sistema mundialista já fala em internacional nacionalista, dá-me gozo recordar que sempre disse e escrevi, aqui e em toda a parte, há décadas, que este século seria o do triunfo definitivo dos nacionalismos. E também sempre acreditei que os ventos de mudança viriam das nações do leste da Europa. De facto, Rússia, Polónia, Hungria, República Checa, Eslováquia, e etc. e tal, não me deixaram ficar mal, reencontrando-se com as suas diferentes mas semelhantes identidades culturais e provando que é possível criar uma sinergia comum em prol da verdadeira Europa. Confesso contudo que não esperava que a primeira nação ocidental a despertar e a dar o sinal fosse a Itália; mas, afinal, bem vistas as coisas, essa é a tradição.

JOÃO MARCHANTE


segunda-feira, 19 de agosto de 2019

O nosso império foi um império de civilização, não de extorsão

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Na imagem, uma alegoria do século XVIII ao Império português. Na legenda pode ler-se, em latim, "Império da Religião e da Justiça".

Se o que nos pedem é histeria auto-penitencial, remorso pelo que de grande fizemos e desculpas a todo o embaixador, ministro e dignitário dos povos com que nos cruzámos ao longo da História, recusamos educadamente o pedido. Não há dúvida de que os portugueses praticaram violências - a violência é da natureza dos impérios, e fatalidade da vida. Sem conquista, não teria havido Pérsia, mas é à Pérsia que devemos as primeiras grandes redes de comunicações, a noção de direitos básicos e a arte de integrar num só Estado a povos diversos e de distinta tradição. Sem conquista não teria havido Grécia, e desconheceríamos hoje a Platão e a Aristóteles; não teria havido Roma, nem nos teria chegado a sua luminosa herança. Mao Tsé-Tung dizia que o "poder nasce do cano do fuzil". Os impérios fazem-se pela guerra, e o nosso não foi nisso excepção.

O que distingue os portugueses e a sua obra não foram tanto os seus meios quanto os seus propósitos. É que, certamente ao contrário de holandeses e ingleses, os portugueses não fizeram os Descobrimentos e a «Expansão» por sede de dinheiros - ou, pelo menos, não os fizeram somente com esse objectivo. Sim, houve portugueses animados pela cobiça, que é pecado comum a todos os tempos e a todas as nacionalidades. Mas a construção do nosso império, hoje objecto de tantas críticas, obedeceu verdadeiramente a ideias mais latas que aquelas que podem ser colocadas numa carteira. Talvez essa noção surja peculiar ao cínico homem do nosso tempo; talvez lhe custe, a ele que vive para o dinheiro, o carro novo, as férias e o telemóvel de nova geração, acreditar que outros homens noutros tempos matassem e se deixassem matar por Deus e pelo Rei. E, contudo, foi justamente essa a bússola por que se guiaram os portugueses construtores de impérios. Francisco de Almeida ou Afonso de Albuquerque não eram particularmente ricos quando partiram para as Índias, e nenhum dos dois voltou da Ásia para vidas de confortos: Almeida morreu perto do Cabo da Boa Esperança em 1510, e Albuquerque faleceu em Goa entristecido com a ingratidão do Rei e as intrigas da corte.

O império português foi europeu de origem, mas não foi como os restantes impérios europeus. A Inglaterra colonizou a Jamaica com um pirata (o infame Henry Morgan), a América através da escravização e deportação de irlandeses e escoceses (a Indentured Servitude) e a Índia recorrendo a um traficante (Pitt). A Holanda ocupou o Brasil com mercenários pagos por banqueiros; além-mar, não era um império, mas um par de grandes companhias comerciais. A sua preocupação era o lucro rápido, não lhe interessando questões de civilização. Eram, um e o outro, impérios de flibusteiros, de bandidos reconciliados com a lei, de oportunistas e ladrões transformados em "comerciantes". Existiam para o "business" - business, de resto, frequentemente sujo - e mais coisa nenhuma. Já o império português, com os defeitos que certamente teve, foi coisa em tudo diferente: era um império de padres e aristocratas, de homens comprometidos com um código de cavalaria e o serviço da Cristandade. Por isso se encarregaram os portugueses de banir a queima ritual de viúvas na Índia logo no século XVI, quando os ingleses só fariam o mesmo trezentos anos mais tarde; por isso tratou o missionário de libertar o indígena brasileiro da sua vida tradicional, em que a antropofagia era comum e a vida sempre incerta; por isso se criaram em todos os nossos domínios missões e aldeamentos em que os locais, cristianizados e aportuguesados, pudessem tornar-se súbditos de primeira dignidade do Rei de Portugal. Por isso o Império ergueu a maior catedral da Ásia em Goa, e fez as primeiras instituições de tipo universitário daquele continente. Por isso o Império não arredou pé da Índia, onde tinha cristãos a proteger, mesmo quando os nossos domínios no subcontinente deixaram de ser claramente lucrativos. Por isso Portugal abdicou de relevantes oportunidades comerciais, como no Japão, sempre que os negócios pareceram colidir com as suas ambições de evangelização. Portugal era um império de escrúpulos e com uma missão moral. Aí não residiu sempre a sua força - mas é essa a verdadeira razão da sua grandeza.

Leandro de Faria

domingo, 18 de agosto de 2019

SAR, O Senhor D. Duarte Pio pretende criar Escola Real das Artes em Castelo de Vide

D. Duarte Pio pretende criar Escola Real das Artes em Castelo de Vide

SAR, O Senhor Dom Duarte Pio de Bragança pretende criar uma Escola Real de Artes na Quinta da Senhora da Luz em Castelo de Vide, projecto que envolve no imediato a realização de um “Architecture Summer School” de 18 a 20 de Junho do próximo ano.
Neste sentido, o proprietário da quinta, D. Duarte de Bragança, reuniu com o Presidente da Câmara Municipal, António Pita, para apresentar a sua proposta.
“Discutimos o conceito, analisámos os objectivos e reflectimos sobre a sustentabilidade e enquadramento institucional do projecto”, referiu o autarca nas redes sociais, sublinhando que “a Câmara Municipal estará certamente disponível para colaborar activamente no projecto que evidencia um inequívoco interesse comunitário”.
“Por ora, é prematuro avançar com mais considerações, mas não deixa de ser um sinal positivo SAR, O Duque de Bragança estar interessado em criar uma solução para este histórico imóvel do nosso concelho, bem como contribuir para o desenvolvimento cultural, social e económico da região”, refere também António Pita.
Recorda-se que Dom Duarte de Bragança procura pelo menos desde 2012 encontrar “um destino” para esta Quinta, que herdou de Virgínia Lee Malone Flores, viúva do Francisco Mimoso Flores. Entre as possibilidades elencadas esteve o turismo de habitação ou mesmo um empréstimo, e uma das hipóteses aventadas na altura chegou mesmo a ser "acolher uma Ordem religiosa expulsa de Portugal há 150 anos”.

sábado, 17 de agosto de 2019

Máximas de um Rei católico


Num memorial de sua letra, que fez antes de tomar o governo do Reino, El-Rei D. Sebastião escreveu as máximas que devia observar, e são as seguintes:

– Terei a Deus por fim de todas as minhas obras, e em todas elas me lembrarei d'Ele.
– Em me deitando, e levantando, conto com Ele muito particular. – Cuidar à noite, em que falei naquele dia.
– Trabalharei muito por dilatar a Fé. – Favorecerei muito as coisas da Igreja. – Armar todo o Reino. – Defender alfaias e delícias. – Fazer mercê a bons, castigar a maus. – Não crer levemente, e ouvir sempre ambas as partes. – Fazer justiça ao grande, e ao pequeno, sem excepção de pessoa. – Tirar as onzenas. – Conquistar e povoar a Índia, Brasil, Angola e Mina. – Todo o que me falar desonestidades, castigá-lo rijamente.
– Quando houver de fazer alguma coisa, comunicá-la primeiro com Deus. – Reformar os costumes, começando por mim no vestir e comer. – Em negócios, ter primeiro conta com o bem comum, e depois com os particulares. – Tirar alguns tributos e buscar modo com que Lisboa seja abastada. – As leis que fizer, mostrá-las primeiro a homens de virtude e letras, para que me apontem os inconvenientes que tiverem.
– Levar os súbditos por amor, enquanto puder. – Ser inteiro aos grandes, humano aos pequenos.
– As comendas sirvam em África.
– Não ter junto de mim senão homens tementes a Deus.
– Devassar dos ofícios de justiça, e fazenda, cada ano.
– Escrever a todos os Prelados que façam dizer Missas e Orações por mim, e pedir jubileu ao Papa.
– Terei nos postos do mar homens de confiança, e os que entram, que não sejam suspeitos na Fé.
– As coisas que não entender bem, comunicá-las primeiro com quem me possa dar parecer desenganado.
– Não dar, nem prometer nada, sem saber se é injustiça ou mal feita. – Mostrar bom rosto e agasalhado a todos. – Prover os cargos e ofícios em quem faz para isso, e não por outros respeitos. – Não desmaiar nas dificuldades, antes ter maior fé e confiança em Deus. – Tirar a cobiça. – Mostrar sempre ânimo liberal e não acanhado. – Gabar os homens, e cavaleiros, que tiverem bons procedimentos, diante de gente, e os que tiverem préstimo para a República, e mostrar aborrecimento às coisas a ela prejudiciais. – Não dizer palavras que escandalizem, mormente quando estiver agastado. – Os meus Embaixadores andarão sempre vestidos à portuguesa.
– Em todas as coisas que fizer, terei primeiro conta com a honra de Deus. – Serei pai dos pobres e de quem não tem quem faça por eles.


Fonte: Veritatis

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

14 de Agosto: o dia em que ganhámos o direito a ser na História

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A 14 de Agosto de 1385, as hostes portuguesas e castelhanas defrontaram-se em Aljubarrota, numa das batalhas campais mais impressionantes da Idade Média. Em inferioridade numérica, na proporção de seis mil e quinhentos homens (6.500) contra trinta e um mil (31.000), os portugueses infligiram uma pesadíssima derrota às forças castelhanas. O luto, em Castela, foi de dois anos, pelas perdas humanas em mortos e em prisioneiros. Em Portugal, a vitória consolidaria definitivamente a soberania portuguesa e ajudaria a incrementar um sentimento de identidade fortíssimo que nos acompanha desde então.

Encerrada a crise dinástica despoletada com a morte de Dom Fernando I, em 1383, Dom João I pôde consolidar a sua posição como Rei de Portugal, o primeiro da sua dinastia. As pretensões de João I de Castela saíram goradas irremediavelmente.

Mitos surgiram, nomeadamente o da célebre Padeira, que teria, de uma assentada, matado sete castelhanos com uma pá. Representações que o imaginário popular cria de tão surpreendente campanha. O engenho português que levou a dianteira sobre a força de cavalariça. Os cálculos, a previsão, a estratégia, que se sobrepuseram à vantagem do inimigo.

De lá para cá, Aljubarrota tem sido frequentemente evocada. Paira sobre os portugueses como um episódio que a todos deve orgulhar. Houvéssemos perdido e o curso da História não nos teria sido favorável. O mundo não existiria tal qual o conhecemos, é uma certeza, pois a expansão não se teria dado, se tanto como se viria a dar, e não muito tempo depois. Já havia, aliás, incursões marítimas pelas ilhas do Atlântico.

Um feito notável para um pequeno reino. Viva Portugal!

MTF

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Espada de Justiça


Nosso Senhor Jesus Cristo abençoa os que têm fome e sede de justiça; o Apóstolo das Nações designa os Príncipes como vingadores do crime, porque de outra sorte era inútil o cingirem uma espada, e até no Céu as ditosas almas dos Santos Mártires pedem com instância ao Senhor, que lhes vingue as suas injúrias, e nomeadamente o sangue que derramaram pela palavra Divina.

Frei Fortunato de São Boaventura in «O Mastigóforo», 1824


Fonte: Veritatis

terça-feira, 13 de agosto de 2019

República incompatível...

Incompatível desde logo com a legalidade, porque não cumpre a lei. E com a justiça porque não a aplica! Ou só a aplica quando entende. E tem ainda a desfaçatez de invocar o desconhecimento da mesma. No caso, uma lei de 1993 que durante a sua 'vigência' sofreu inúmeras alterações, incluindo a que entrará em vigor na próxima legislatura! O que demonstra o contrário do que agora afirmam. Ou seja, conhecem-na bem demais. Mesmo assim ensaiam uma fuga para a frente a ver se pega – a procuradoria geral da república que esclareça o sentido da lei! Isto só na república das bananas! Inventam-se então desculpas infantis e ao mesmo tempo comprometedoras – não há jurisprudência! O que só pode significar que a lei (durante mais de vinte e cinco anos) nunca foi aplicada! E das duas uma – ou não houve fiscalização, ou então houve mas foi varrida para debaixo do tapete. Única maneira de explicar os inúmeros casos de violação agora descobertos! Descobertos por acaso e à boleia do escândalo das golas anti-fumo!

Como é que isto vai acabar?! Como sempre – a procuradoria emite um parecer redondo e inconclusivo, o presidente tira mais uma selfie, e o povo paga a factura.


Saudações monárquicas


Nota: Isto era impensável ficar impune numa qualquer monarquia europeia.



Fonte: Interregno

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Meritocracia sem obstáculo racial

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Pela lei de 19 de Fevereiro de 1624, aplicada em Goa e todo o Oriente português a partir do ano seguinte, ficava estabelecido que doravante chinês algum pudesse ser reduzido à condição de escravo, fosse qual fosse a sua origem e situação jurídica, e que todos, sendo livres na plenitude de direitos, pudessem ocupar postos, desempenhar funções e receber honras (i.e. títulos de nobreza), sendo que os únicos critérios para os investir eram os do mérito (merecimento) e graduação [escolar]. Esta moldura seria depois ampliada em 1761 (Alvará de 2 de Abril), pelo qual que todos os súbditos do rei de Portugal nos domínios asiáticos se poderiam apresentar a concurso para a ocupação de cargos, funções, postos e jurisdições, em plena igualdade jurídica com os naturais do Reino [Portugal]. Mais se advertia que tais asiáticos e luso-asiáticos deviam ser tratados como se europeus fossem, sendo que insultos odiosos e referências à sua origem étnica passariam a ser duramente castigados.

Imagem: Coronel Nicolau de Mesquita, de família luso-chinesa, membro do Conselho do Governo e comandante militar de Macau.

domingo, 11 de agosto de 2019

(A falta de) Respeito pela velhice

Na semana passada li uma entrevista com um candidato a deputado (cabeça-de-lista) pelo circulo eleitoral do Porto. Neste breve texto, não é relevante referir nem o nome da pessoa, nem o partido que representa, pois essa é uma óptica que para aqui não é chamada. Apenas direi que se trata de um jovem estreante nestas lides e de uma organização partidária pertencente ao que se convencionou chamar o “arco da governação”. Daí a relevância do que a seguir descrevo e comento.

No meio da entrevista, deparei com uma pergunta sobre a hipotética alteração da idade mínima para o direito de voto a partir dos 16 anos. Questão para a qual, certamente, todos poderemos encontrar razões favoráveis ou desfavoráveis. Acontece que um dos argumentos usados pelo entrevistado para reflectir sobre o assunto está expresso neste naco da sua posição: “Quanto mais argumentos me dão para que o jovem não possa votar aos 16, mais eu tenho a certeza de que se calhar é o contrário. Porque os argumentos são na linha do ‘a pessoa de 16 anos não tem maturidade para fazer uma escolha’ e eu conheço muitas pessoas de 70 que também não têm” (in Publico, 17.07.2019). Voltei a ler, não queria acreditar no que estava escrito…

Não é que eu goste do neologismo, mas veio-me logo à cabeça o chamado idadismo, que tem sido definido como o pensamento e a atitude preconceituosas e discriminatórias com base na idade, sobretudo em relação a pessoas idosas. Não conheço o jovem e até acredito que, no fundo, não tenha tido a intenção de assim se exprimir. Mas questionei-me sobre o que o candidato quis dizer com falta de maturidade aos 70 anos, mistério que prefiro não abordar, para não chegar a conclusões familiares, sociais ou geracionais perigosas ou absurdas. Acontece que a argumentação usada, além de falaciosa, é profundamente injusta e mesmo insultuosa. Numa lógica silogística e num confronto entre “seniores” e “juniores”, eis o esplendor do seu raciocínio: se dizem que uma pessoa de 16 anos não tem maturidade para fazer uma escolha (votar), como conheço muitas (!) pessoas de 70 anos que também não têm maturidade, então estas também não estão em condições de fazer escolhas (votar)…

Hoje condenam-se – com justeza – diferentes formas de discriminação, designadamente de origem social e étnica. Não há dia em que não haja notícias sobre o assunto. Quanto a formas de apartar e discriminar os mais velhos, vamos ouvindo, mais larvarmente ou mais directamente (lembro aqui um deputado que, há poucos anos, falou na AR da “peste grisalha”, referindo-se aos reformados), considerações gerontofóbicas, ainda que sem manchetes mediáticas. A velhice, antes uma dignidade inalienável e uma conquista civilizacional é, agora, e não raro, considerada um peso, um passivo ou um fardo social numa abordagem estritamente utilitarista, hedonista e de cultura de descarte (e até de indiferença).

Como dizem os africanos a morte de um velho é como o arder uma biblioteca, a que eu acrescentaria de uma biblioteca de que só existe um exemplar, o que torna a sua sabedoria um bem precioso, uma verdadeira universidade da vida, para a qual não há manuais e dispositivos técnicos para a substituir. É bom não esquecer que uma pessoa mais velha já antes foi nova, ao passo que uma pessoa nova ainda não foi velha…

Uma pessoa mais velha tem naturalmente o desgaste inerente à idade e a longos percursos de trabalho, mas pode transmitir a sabedoria de vida através de um mais livre e integral modo, como também transmitir o testemunho da vivência, a memória que está para além da mera factualidade, a seriedade despojada da agressividade do quotidiano, a disponibilidade, a partilha e a ternura juntas numa simbiose desinteressada de dar sem exigência de troca.

Enquanto somos jovens, somos levados a ignorar a velhice, como se fosse uma enfermidade da qual nos devemos manter à distância; depois, quando envelhecemos […], experimentamos as lacunas de uma sociedade programada sobre a eficácia que, consequentemente, ignora os idosos. Mas os idosos são uma riqueza, não podem ser ignorados! Os anciãos são a reserva sapiencial do nosso povo!”, afirmou o Papa Francisco. Já Bento XVI sintetizou assim: “a qualidade de uma sociedade vê-se a partir do modo como ela trata os idosos”.

Não certamente por acaso, e no meio de tanto lixo mediático que transforma ninharias em assuntos pseudo relevantes, sobre este assunto houve um silêncio desprezível e o habitual “aconchego” mediático, eufemístico e endogâmico político-partidário.

Por coincidência ou talvez não, quanto à questão da “identidade de género” (sic), o entrevistado defende, a mudança de sexo a partir dos 16 anos por decisão própria, o que, certamente, terá sido do agrado do “espectro político fracturante”.

Em suma: na velhice arde-se de maturidade, ao contrário do que disse o jovem político que, por certo, ainda irá beneficiar do conselho de muitas pessoas de 70 e mais anos. Provavelmente, a começar no seu seio familiar.

(O texto não segue o AO, por vontade expressa do autor)

ANTÓNIO BAGÃO FÉLIX


sábado, 10 de agosto de 2019

O Desejado

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Foi dado como morto em Alcácer-Quibir e Filipe II organizou-lhe exéquias em Lisboa em 1582, fazendo passear o seu cavalo em frente do préstito, mas todos sabiam que aquele corpo não era, nem o corpo físico do Rei, nem o corpo místico do Desejado. A longa espera pelo seu regresso continua e por esse reinado restaurado de felicidade, paz e prosperidade, sobre a destruição, as desgraças e a decadência, esse tenente de Deus na terra reinará sobre o Quinto Império. O sebastianismo é o nosso mito político mais arreigado, e por mais charlatães que teimem em apresentar-se, reclamando o lugar do ausente, o povo saberá identificá-lo no momento em que esse homem-força demonstrar que é Dom Sebastião, finalmente regressado coberto de cicatrizes, humildade e sabedoria da guerra com o Miramolim.

MCB

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

DIVAGAÇÕES SOBRE MRS NO “14 DE JULHO”

“Estranha revolução, esta, que desilude e humilha quem sempre ardentemente a desejou.
Estamos a viver em pleno absurdo, a escrever no livro da História gatafunhos que nenhuma inteligência poderá decifrar no futuro. Todas as conjecturas têm a mesma probabilidade de acerto ou desacerto. Jogamos uma roleta de loucos, que tanto anda como desanda.
O espectáculo que damos neste momento é o de um manicómio territorial onde enfermeiros improvisados e atrevidos submetem nove milhões de concidadãos a um eletrochoque aberrante e desumano”.

Miguel Torga
20 de Junho de 1975

O Presidente português, conhecido na língua japonesa como “Ta Ki Ta Li Ta Kula” foi, desta feita, a Paris – provavelmente com o secreto intuito de visitar os alfarrabistas das margens do Sena – presume-se que a convite do seu homólogo Macron, a fim de assistir à festa nacional francesa.

Um exercício, aliás, de mau gosto como veremos à frente.

À parte o General Eanes, que era austero, circunspecto e levava a sério os assuntos de Estado, cedo se assistiu ao desregramento das viagens, por parte dos inquilinos de Belém, dos governantes, dos deputados, dos presidentes de câmara e, de uma forma geral, de todos os lugares de chefia da máquina do Estado.

Parece uma corrida de deslumbrados.

E, claro, se perguntarmos a cada um e a todos, sobre a importância das suas deslocações, seguramente dirão com ar sério e compenetrado, que sim, são importantes!

É certo que a cada vez maior complexidade das relações internacionais, o desmesurado aumento do número de países (uma parte considerável dos quais não tem sequer condições para o ser) e a multiplicação absurda de organismos, comités, fóruns, grupos de trabalho, etc., não ajuda nada à questão. E tal ocorre um pouco por todo o mundo, sobretudo nos países tidos por mais desenvolvidos.

É claro que as agências de viagens, companhias de transporte (sobretudo aéreo), hotéis, restaurantes, e outros ramos de actividade, que beneficiam desta fúria de deslocações, devem esfregar as mãos de contentes, mas a massa dos contribuintes tem que pagar uma nota preta para sustentar todo este rodopio.

Duvidamos seriamente que os benefícios para os mesmos (contribuintes) superem sequer minimamente, o passivo de toda esta situação. Bem como a justiça social relativa, não parece nada sair reforçada.

            Pensávamos nós, que se tinha atingido o ápice do despudor, ao tempo de um “marajá” que deixou nome na história como Soares, Mário Soares. Mas não, eis que agora – a era dos “Ronaldo's” – passámos a ter um presidente (o Ronaldo das viagens que vai, certamente, querer estilhaçar recordes) que, a avaliar pelo exercício já decorrido, vai bater aos pontos (e por “knock-out”!) a performance do antigo “globetrotter”. As tartarugas gigantes das Seychelles que se cuidem, pois há-de chegar a sua vez e no fim ganham uma “selfie”!

Uma viagem presidencial deve ser uma coisa bem pensada, ser cirúrgica e ter uma razão forte de interesse nacional que a sustente e justifique. Não é a mesma coisa que ir beber um café a Cacilhas.

Tudo o que se passa, há muitos anos, aparenta ser o mais das vezes leviano, vulgar; para cumprir calendário; por capricho e sem o menor respeito pelo dinheiro dos contribuintes.

Não sei mesmo porque é que não se acaba com esta coisa das passadeiras vermelhas; honras militares; condecorações e jantares de estadão…

Vão de "jeans", arranjem uns ajudantes de campo que carreguem umas mochilas, levem uns “tuk tuk” para passear, bebam uns copos e fiquem fora o mais tempo possível pois já ninguém vos leva a sério ou tem saudades vossas…

Será que não há fundo para a fossa abissal das viagens? A Assembleia da República devia, supostamente (ah, ah, ah), autorizar e controlar as ditas, mas como os senhores deputados têm um comportamento semelhante, tal prerrogativa nunca passou de um pró-forma, que deve estar permanentemente em modo “automático”.

Agora o “14 de Julho” leia-se, de 1789, data da tão glorificada Revolução Francesa. [1]  
  
Andariam melhor os franceses em mudar a data do seu dia nacional, pois por um azar dos Távoras, em nada os dignifica e não se vislumbra que orgulho possam ter em tão funesta efeméride.

A data é uma mentira histórica, onde predominaram os baixos instintos da condição humana; não se vislumbram razões sociais e políticas de peso, para mudanças tão radicais; tão pouco são credíveis e verosímeis as terríveis acusações feitas aos responsáveis de então, nomeadamente a Família Real; muito menos se encontra justificação para as depredações efectuadas e os crimes e morticínios cometidos.

Grande igualdade!

As aspirações de “liberdade” acabaram rapidamente num reino de terror e pouco depois tudo virou numa ditadura corporizada num homem de génio militar, administrativo e político, que colocou a Europa (e não só) a ferro e fogo, visando uma tentativa de implantação do imperialismo francês em todo o lado. Espetacular fraternidade

Portugal sofreu cinco invasões do seu território europeu e muitas escaramuças no Ultramar, por causa disso.

Vou elencar as cinco, pois por norma, só se consideram três – e mesmo estas se perguntarmos quais foram aos licenciados que hoje temos, 95% não as saberá dizer (tão pouco o século em que ocorreram…). A tal geração mais bem preparada de sempre (risos) …

A primeira corporizou-se em 1801, a chamada “Guerra das Laranjas”, onde só participaram espanhóis (que nos traíram depois da Campanha do Rossilhão), e que estavam feitos com os franceses; a segunda, em 1807, comandada por Junot; a terceira em 1809, com Soult, à testa; a quarta e mais devastadora, liderada por Massena, em 1810 e a quinta (que só durou 20 dias), comandada pelo General Marmont e que se limitou às terras de Riba - Côa, com início em 3/4/1812.

E ainda tivemos que ir atrás deles, empurrando-os na ponta da espada até Toulouse, quando o cabo-de-guerra corso se rendeu pela 1ª vez.

Por isso ir às comemorações da risível “Tomada da Bastilha”, não é de bom gosto, nem condecora ninguém e especialmente um dignitário da Terra de Santa Maria.

Abaixo, pois, a Revolução; e viva a Contra – Revolução!

A França, aliás, tirando o período do assalto ao ultramar português, nos anos 50 e sobretudo 60, do século passado, em que nos ajudou (ao tempo do General De Gaulle), nunca foi nossa amiga.

Não o foi na 1ª Dinastia, por via das relações que tínhamos com a Borgonha, depois pela aliança que fez com a Espanha na Guerra dos 100 anos e da nossa Aliança Inglesa, acabando num confronto em Aljubarrota; na II Dinastia, passou a atacar-nos no mar com corsários e tentou desalojar-nos de vários locais nomeadamente do Brasil.

Sendo em simultâneo uma potência marítima e continental, esta última teve predomínio, o que por norma a opunha às potências marítimas entre as quais Portugal se encontra.

Ajudaram-nos em parte, na Restauração, mas por puro interesse estratégico e pontual, oscilando o seu auxílio ou inimizade, em função das suas contendas com o reino vizinho.

Nas grandes guerras em que entrámos (a maioria obrigados), a França esteve sempre do outro lado da contenda, como foram os casos da Guerra da Sucessão de Espanha e da Guerra dos Sete Anos.

Durante todo o século XIX, humilhou-nos várias vezes, além de terem deixado o país exangue com as invasões, semearam por cá as ideias jacobinas e as lojas maçónicas do Grande Oriente Lusitano, que juntamente com a maçonaria irregular de origem inglesa, têm dilacerado e dividido o país até aos dias de hoje.

Mas os basbaques nacionais ficam sempre alvoraçados com as ideias que sopram daquelas bandas…

Durante a I Grande Guerra e tirando um fugaz apoio político por via das ideias republicanas instaladas, para mal dos nossos pecados, após o 5 de Outubro de 1910, ostracizaram o apoio que lhes demos (e nada nos obrigava a fazê-lo) e ignoraram-nos nas negociações de paz e seguintes. Durante a Guerra Civil de Espanha, pouco faltou para se colocarem ao lado de Moscovo contra nós, vindo a claudicar durante a II GM, onde o seu comportamento foi lastimável.

Passou a ser a Pátria do sempre em festa revolucionário, sempre com gabarolices de galo cantante e quase sempre saídas de sendeiro.

Resistem e existem, pois na equação estratégica de Cline, a França tem um elevado potencial disponível (por exemplo, o solo e o subsolo mais rico da Europa), mas não são flor que se cheire. E hoje são seguramente um dos países (a Suécia faz-lhe agora concorrência) mais “doentes” do Continente Europeu – o que os incidentes ocorridos com os coletes amarelos ou outros, espelham. Pelos vistos nem o dia nacional, do seu país, respeitam!

Era bom que MRS entendesse isto para não ficar demasiado vaidoso (basbaque) em ter ficado à direita do presidente francês (apesar de não ser o mais antigo presente), ladeado por uma murcha senhora Merkel (que por acaso se chama Kasner…), nitidamente diminuída de saúde e alquebrada fisicamente.

Vamos ao senhor Macron. O senhor Macron não era propriamente um desconhecido até aparecer candidato a presidente, mas também não era nenhuma estrela com provas dadas. Era uma espécie de Obama francês.

Ou seja não existia, foi criado. Não foi eleito, foi lá posto.

Assim a modos que um tal cônsul Aristides Sousa Mendes, que 99% dos portugueses não conhecia, mas que acabou em 3º lugar (após poucas semanas de propaganda) num concurso bronco, que elegia o melhor português de sempre…

Ora Macron foi funcionário dos Rothschield’s, nome da família mais rica e poderosa do mundo, mas cujo nome há muito deixou de aparecer em qualquer órgão de comunicação social. Fica aqui esta pista…

Do mesmo modo que a Sedes, o Expresso e a ala liberal, foram criados para, aparentemente, prepararem a queda do Estado Novo, e a criação da “SIC”, tinha subjacente a mudança sociológica em Portugal e ajudar a eleger ou não, os principais governantes…

Existe um nome comum a tudo isto e que MRS conhece bem. Muito provavelmente foi até “cooptado” por ele.

Do mesmo modo, julgo não me enganar, ao dizer que depois da situação política e social, começar a estabilizar em Portugal, após o “PREC” (o que levou cerca de 10 anos), não há nenhum PR, Chefe de Governo e, porventura, Presidente da AR, que não tenha sido convidado a ir a uma reunião do Grupo de Bilderberg.

A Democracia que surgiu/derivou, nos tempos modernos, da Revolução Francesa (com antecedentes nas Revolução “Gloriosa” Inglesa, de 1688 e na Americana de 1776 – esta última muito ajudada pelos franceses contra os ingleses) e onde predominou o ataque ao Trono e ao Altar, não poderia dar grandes frutos. Mas não deixa de ser uma capa com laivos de virtuosismo e filantropia, para tudo o que se cozinha “debaixo da mesa”.

Parece que agora o cozinhado que se prepara é o reforço da Defesa Europeia. Pudera, a coisa está de rastos e avizinham-se piores dias com o “Brexit” (com o qual os tais poderes (como fenómeno Trump) aparentemente, não contavam).

A única réstia de defesa situa-se na NATO, que não é propriamente uma organização que a UE domine…

Além disso as coisas estão pretas: Trump não está pelos ajustes de pagar a defesa e desistir da concorrência económica; o senhor Putin joga melhor xadrez a dormir do que os outros todos acordados e não está a fim de deixar que lhe entrem nas suas zonas avançadas de defesa e segurança; a China ameaça reduzir as mais-valias económicas e financeiras dos europeus e comprar-lhes tudo o que ainda não está nas mãos dos países árabes ricos; o mundo muçulmano e Israel estão em convulsão permanente e tentam subverter a sociedade ocidental com proselitismo religioso.

Até o novo califa turco, Erdogan, de sua graça, se puder não se ensaia nada em vir por aí adiante a querer impôr um “país” muçulmano no centro da Europa…

A cereja em cima do bolo está a surgir com a revolta das populações europeias, que apesar de anestesiadas pelo materialismo galopante, estão a revoltar-se para reganharem a sua soberania nacional; normas morais e éticas, postas em causa pela enxurrada do cano de esgoto a céu aberto do Relativismo Moral e vários “ismos”, postos em voga pelos muitos que tentam controlar, “democraticamente”, as coisas sem ser pelas urnas (lindo nome) dos votos!

Por isso o reforço da defesa da Europa (qual Europa?) vai ser adiado mais uma vez, pois ninguém está para aí virado e ninguém se entende. E o principezinho Macron tire o cavalinho da chuva que não vai conseguir passar para a França o papel da Alemanha na Europa.

Por uma vez, os poderes eleitos portugueses tiveram uma posição correcta ao discordarem da criação de um Exército Europeu, o que é sinal de alguma lucidez e esperança, de que não se caminhe mais na integração europeia mas sim na cooperação.

O PR que temos, sorri-se muito, mas não creio que tenha grandes motivos para tal.

Enfim, pelo menos está nas suas sete quintas e diverte-se a fazer o que gosta…
                       

João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)


[1] Sobre o 14 de Julho e a Tomada da Bastilha, favor ler o notável artigo do Prof. Soares Martinez no Jornal O Diabo de 12 de Julho.

Fonte: O Adamastor