31 julho 2018

Há 172 anos nascia a última Princesa Imperial do Brasil, Dona Isabel de Bragança

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Há 172 anos nascia no Palácio de São Cristóvão, Dona Isabel Cristina de Bragança e Bourbon (1846-1921), cognominada “A Redentora” por ter liberto os escravos brasileiros com sua assinatura no decreto da Lei Áurea de 13 de maio de 1888. Dona Isabel foi à última Princesa Imperial do Brasil. Filha de dom Pedro II e dona Teresa Cristina, foi casada com Gastão de Orleans, Conde d’Eu, e com ele teve três filhos; Dom Pedro de Alcântara, Dom Luis e Dom Antônio.

Dona Isabel faleceu em 14 de Novembro de 1821, um dia antes do aniversário de 32 anos do golpe militar que a exilou junto com sua família. Foi primeiramente sepultada em Dreux na França e posteriormente tendo seu corpo transladado para o Brasil junto de seu consorte e sepultados em 1971 na Catedral de São Pedro de Alcântara em Petrópolis.

Dona Isabel do Brasil era prima de Dom Manuel II de Portugal em terceiro grau.

30 julho 2018

Aniversário D’El-Rei D. Afonso I Henriques de Portugal



A 25 de Julho de 1109 nascia o Maior de todos os Reis na Terra: Sua Mercê Dom Afonso I Henriques, Pela Graça de Deus Rei dos Portugueses e Pela Graça de Deus Rei de Portugal. O Rei Fundador, era filho do Conde de Portucale D. Henrique de Borgonha e da Infanta Dona Teresa de Leão, auto-proclamada Rainha de Portugal.

El-Rei Dom Afonso I Henriques tinha por avoengos os Imperadores romanos da Dinastia Comnenus e Paleólogo, os Reis Capetos de França, o Imperador da Hispânia, o 1° Rei de Leão e Castela, e assim, era Príncipe de Borgonha e Infante de Leão, e foi Dux Portucalensis a partir de 1128 e Sua Mercê Dom Afonso I Henriques, Pela Vontade dos Portucalenses Rei dos Portugueses e Pela Graça de Deus Rei de Portugal a partir de 1139.

Devem-se-Lhe os Actos que levaram ao Nascimento de Portugal: no dia 24 de Junho de 1128, à dianteira dos barões e fidalgos portucalenses, Dom Afonso Henriques defrontou no campo de São Mamede, perto de Guimarães as forças galegas comandadas por Dona Teresa e por Fernão Peres de Trava, derrotando-os naquela que ficou conhecida pela Batalha de São Mamede e que marcou a Fundação da Nacionalidade Portuguesa, uma vez que o Infante Dom Afonso Henriques avoca a si o governo do Condado Portucalense, com pretensões de independência. Não é ainda após esta Batalha que se auto-intitula Rei, Rex Portucalensis, pois com duas frentes de Batalha – uma contra Leão e Castela, outra contra os sarracenos –, tal só se viria a acontecer após a Batalha de Ourique, em 1139, quando arrasou os mouros – que o temiam sobremaneira e Lhe chamavam o terrível Ibn Erik (Filho de Henrique) – e consegue uma importante vitória que o engrandece sobremaneira e assim declara a Independência face a Castela-Leão. Nascia, assim, em 1139, o Reino de Portugal e a sua 1.ª Dinastia, com El-Rei Dom Afonso I Henriques de Borgonha. Em 1143, quando assina a Paz em Zamora com o Primo Rei de Castela e Leão, onde é reconhecido como Rei, Dom Afonso Henriques usava já o título havia três anos, desde o torneio de Arcos de Valdevez, em 1140, após o episódio de Ourique. Mas desaparece, assim, e só aí, a designação histórica de Condado Portucalense e nasce o Reino de Portugal.

Assim, Dom Afonso Henriques, guerreiro completo, governante exemplar e virtuoso cristão, nasceu em 1111 e Reinou entre 1128 e 1185, como Dom Afonso I Henriques, 1.º Rei de Portugal, isto é, 57 anos – o 4.º Reinado mais longo da História, imediatamente ao Rei-Sol Luís XIV de França e a Suas Majestades a Rainha Isabel II e a Rainha Victoria do Reino Unido.

Morreu em Coimbra onde jaz sepultado em túmulo manuelino no Mosteiro de Santa Cruz , na capela-mor do lado do Evangelho.

Na inscrição original do túmulo podia-se ler:
“Aqui jaz um outro Alexandre, ou outro Júlio César,
guerreiro invencível, honra brilhante do orbe.
Douto na arte de governar, alcançou tempos seguros,
alternando a sucessão da paz e das armas.
Quanto a religião de Cristo deve a este homem
provam-no os reinos conquistados para o culto da fé.
Alimentado pela doçura da mesma fé, cumulou,
além das honras do reino, riquezas para os pobres infelizes.
Que foi defensor da Cruz e protegido pela Cruz
assinala-o a Cruz, formada de escudos, no seu próprio escudo.
Ó Fama imortal, ainda que reserves para ti tempos longos,
ninguém pode proclamar palavras dignas dos seus méritos.”
Ainda no dia 25 de Julho de 1139 travou-se a célebre Batalha de Ourique, em que D. Afonso Henriques, segundo o Mito, recebe as Armas de Cristo e à frente dos barões e fidalgos portucalenses, arrasa os exércitos mouros de Omar que eram em razão numérica cinco vezes superior. Após a Batalha, na qual derrota avassaladoramente a hoste inimiga, os Barões aclamam Rei o jovem Infante que os guiara à vitória sobre cinco reis mouros que comandaram os exércitos sarracenos de África e da Hispânia.

Miguel Villas-Boas

29 julho 2018

O genocídio dos Romanov

Omitir a responsabilidade moral do regime que matou um casal inofensivo e os seus cinco jovens filhos é faltar à verdade e ofender a memória das vítimas.

O ano 2018 é o do centenário do fim da primeira guerra mundial, que foi a principal responsável pelo desaparecimento de quatro grandes impérios e respectivas dinastias: o russo, com a destituição do czar em 1917; o austro-húngaro, na pessoa do imperador Carlos I; o alemão, com a abdicação do kaiser Guilherme II, que depois se exilou na Holanda, onde morreu em 1941; e, por último, o otomano, cujo califa, Maomé VI, foi destituído a 1 de Novembro de 1922, embora a república da Turquia só tivesse sido proclamada a 29 de Outubro de 1923.
Curiosamente, tanto o kaiser Guilherme II como o czar Nicolau II – kaiser e czar são variações do título de César – eram primos direitos do rei Jorge V da Grã-Bretanha. Com efeito, o imperador alemão era neto da rainha Vitória, que também era avó de Jorge V. Este último era, por sua vez, primo co-irmão do czar Nicolau II, com quem aliás era muito parecido, mas por via das respectivas mães, que eram filhas do rei Cristiano IX da Dinamarca. Este soberano bem podia ser cognominado, a par da rainha Vitória, o avô da Europa, porque dele descendem os reis da Dinamarca, da Noruega, da Grécia, da Rússia, da Grã-Bretanha, da Suécia, da Espanha e da Roménia.
Destes quatro monarcas destronados, dois mereceram a coroa da santidade, bem mais valiosa do que a que, na terra, cingiram. Com efeito, Carlos I de Áustria, que faleceu na Madeira, foi posteriormente beatificado pela Igreja católica, estando também a caminho dos altares a sua falecida viúva, a imperatriz Zita de Bourbon Parma, filha da infanta portuguesa Maria Antónia de Bragança e neta materna de D. Miguel, irmão de D. Pedro IV de Portugal e primeiro imperador do Brasil. Por sua vez, o último czar da Rússia, Nicolau II, sua mulher e cinco filhos foram canonizados pela Igreja ortodoxa, que os venera como mártires, por terem sido assassinados pelos bolcheviques, em 1918, por ódio à religião cristã.
São conhecidas as circunstâncias dramáticas em que foi exterminada a família imperial russa, na madrugada de 17 de Julho de 1918, em Ecaterimburgo. Não só os soberanos foram mortos sem terem sido julgados, nem lhes ter sido dada nenhuma hipótese de defesa, à boa maneira comunista, como também os seus cinco filhos foram executados. Foram-no aliás sem dó nem piedade, não só porque eram absolutamente inocentes das eventuais culpas de seus pais, mas também porque, por inépcia dos assassinos, não tiveram uma morte imediata. Com efeito, depois da primeira série de disparos na cave onde a família imperial russa foi morta, levantou-se uma grande nuvem de pó e os executores saíram para fora, para melhor respirarem. Porém, ouvindo os gemidos das vítimas, que também incluíam alguns fiéis servidores da família imperial, entraram de novo na sala, para darem o tiro de misericórdia aos que ainda agonizavam. Só Deus sabe o que foi o sofrimento daqueles jovens, cuja única culpa era a de serem membros da família imperial russa: foram mortos depois de assistirem à execução dos seus pais e de padecer uma mais ou menos longa agonia, por incúria dos seus carrascos. Como é da praxe em todos os regimes ditatoriais, nunca ninguém foi responsabilizado por este hediondo crime, que contou com a aprovação de Lenin, que não era menos brutal do que o seu sucessor, Stalin.
Não foram apenas o czar Nicolau II, a czarina Alix de Hesse, e os seus filhos – as grã-duquesas Olga, Tatiana, Maria e Anastácia e o czarévitch Alexis – que foram mortos pelo regime de Moscovo. Na realidade, as autoridades bolcheviques tentaram exterminar toda a família. Praticamente só sobreviveram os Romanov que emigraram, pois todos os outros foram, pelo simples facto de serem parentes do deposto czar, eliminados pela ditadura do proletariado.
É impressionante a lista dos Romanov que os bolcheviques abateram, depois da revolução de Outubro de 1917. Para além do czar, da czarina e dos seus cinco filhos –com idades entre os 13 e os 22 anos – também foi assassinado o grão-duque Miguel, o irmão do czar que Nicolau II designou seu herdeiro e sucessor, na impossibilidade do czarévich herdar a Coroa, pela sua pouca idade e grave hemofilia.
Já o czar Alexandre II, avô paterno de Nicolau II, tinha sido vítima de um regicídio, em 1881; e um dos seus filhos, o grão-duque Sérgio morreu num atentado, em 1905, mas outro, o grão-duque Paulo, foi morto pelos bolcheviques em 1919. Dois sobrinhos de Alexandre II, ambos filhos do grão-duque Constantino, foram também executados pelos sovietes: Nicolau, em 1918; e Dimitri, em 1919. Deste Nicolau foi filho o príncipe Iskander, igualmente assassinado pelos comunistas em 1919, no mesmo ano em que também foi morto Boris, outro príncipe da família imperial. Também os filhos do grão-duque Miguel, irmão do czar Alexandre II, não escaparam à sanha marxista-leninista: seu filho Sérgio foi morto em 1918, enquanto os seus irmãos Nicolau e Jorge o foram no ano seguinte.
Não obstante a perseguição comunista contra a família imperial, os Romanov não se extinguiram. A sucessão da casa real russa foi assegurada pela descendência de Vladimir, tio paterno do último czar. Seu filho Cirilo sucedeu-lhe na chefia da casa e família imperial, intitulando-se, no exílio, czar de todas as Rússias. Dele foi filho, entre outros, o grão-duque Vladimir, que nasceu em 1917 e casou com uma princesa Bagration, que nas suas armas ostenta a harpa do rei David, de quem essa família diz descender. Deles foi única filha a grande-duquesa Maria, actual chefe da família Romanov e mãe do grão-duque Jorge, nascido em 1981. Será ele, algum dia, czar da Rússia? É certo que não lhe falta legitimidade dinástica, mas é duvidoso que Putin nele venha a restaurar, algum dia, o trono dos czares.
Milhares de russos, no centenário do assassinato de Nicolau II e da sua família, peregrinaram até à catedral da fortaleza Pedro e Paulo, em São Petersburgo, para venerarem os restos mortais dos mártires imperiais. A verdade histórica não permite que se esqueça que foram vítimas de uma ideologia imoral que, para alcançar os seus objectivos políticos, não teve pruridos em matar pessoas inocentes, nomeadamente mulheres e crianças. Não prestar, no primeiro centenário desta terrível tragédia, a devida homenagem ao czar e à sua família seria matá-los outra vez. Como seria ofender a sua memória omitir, por cobarde cumplicidade, a referência à responsabilidade moral do desumano regime que impunemente matou um casal inofensivo e os seus cinco jovens filhos.
Fonte: Observador

28 julho 2018

SS. AA. RR., Os Duques de Bragança presentes na apresentação da autobiografia do Rei Simeão da Bulgária



La princesse Alexandra de Koháry, fille de la princesse Marie Louise de Bulgarie, a organisé la publication en portugais de l’autobiographie de son oncle le roi Siméon de Bulgarie. Le roi Siméon et la reine Margarita se sont déplacés à Cascais pour la présentation qui a eu lieu au palais de Cidadela.

Étaient présents en plus de la famille des princes de Kohary, le duc et la duchesse de Bragance et les filles de la princesse Thérèse d’Orleans Bragance, la princesse Masha Magaloff et de nombreux amis de la famille, historiens,…

La princesse Alexandra, dans son discours, a fait référence aux liens entre le Portugal et sa famille, historiques et politiques mais aussi d’affection puisque sa grand-mère la reine Giovanna a vécu presque 40 ans a Estoril et y est décédée en 2000 à l’âge de 92 ans.






27 julho 2018

OURIQUE: A BATALHA QUE ACONTECEU

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Nota: a descrição que se segue da batalha é inteiramente baseada na reconstituição feita pelo Professor Miguel Gomes Martins, na sua obra "De Ourique a Aljubarrota: A Guerra na Idade Média", à qual acrescentamos apenas algumas notas e menções.


A batalha

Terá sido então nos arredores de Ourique, no Baixo Alentejo, que os dois exércitos se defrontaram no dia de Santiago, protetor dos exércitos da Reconquista. O enfrentamento deu-se apenas por vontade mutua, - sendo que as batalhas eram nesta altura raras e evitadas a todo o custo pelo risco que acarretavam- Ibn Umar saíra ao encalço de D. Afonso Henriques e dos portucalenses para os desbaratar e pôr fim às suas pilhagens, fora no Baixo Alentejo que interceptara os cristãos que já se iam deslocando de novo para norte. Afonso Henriques, que pela inferioridade numérica e por se encontrar no coração de território inimigo tinha todas as razões para se furtar ao confronto, não quer abdicar dos seus espólios de guerra e regressar de mãos vazias a Coimbra, além do mais a retirada seria perigosa e difícil com o exército inimigo sempre no seu encalce a fustigar-lhe a retaguarda, podendo até cortar-lhe a linha de marcha e obrigá-lo a combater de qualquer das maneiras. O jovem príncipe decide então arriscar tudo e aceitar o desafio.

Os exércitos não se hão defrontado de imediato tendo adiado naturalmente o confronto, uma vez que ambos os lados necessitavam de descansar e de se alimentar antes da batalha. Os arraiais terão estado montados a umas centenas de metros de distância, separados pelo terreno onde se daria o confronto. Segundo os “Annales D.Alfonsi” o acampamento estaria montado num ponto alto defendido por um fosso, provavelmente também terão sido erguidas paliçadas e outras defesas para melhor proteger o acampamento do inimigo que se encontrava ali tão perto, e que potencialmente terá aplicado as mesmas medidas.

O dia 24 terá então sido preenchido com o levantamento das defesas e com a preparação para o combate que se avizinhava. Os combatentes terão cuidado do seu armamento, os cavaleiros tratado das suas montadas e todos tentaram descansar e alimentar-se, o que podia ser bastante difícil devido aos nervos que naturalmente antecedem um batalha. Inúmeras preces ter-se-ão elevado aos céus, de um lado e do outro, os soldados procuraram também cuidar da sua alma através da oração e confissão (para os cristãos).

À alvorada do dia 25 de Julho, após uma última refeição e missa campal, os soldados portucalenses acorreram ao campo dispondo-se em formação de batalha. O exército cristão dividia-se então em três unidades táticas: a vanguarda composta talvez pelos 300 melhores e mais bem armados cavaleiros da hoste, que supomos, divididos em duas ou três linhas, juntamente com algumas centenas de peões que no máximo sumariam 500 homens; a retaguarda seria idêntica em composição e dimensão à vanguarda; nos flancos estariam as alas que se prolongariam à esquerda e à direita da vanguarda, cada uma destas alas era formada por, supomos, 200 cavaleiros e algumas centenas de peões que mais uma vez atingiriam um número máximo de 500 homens, todos estes combatentes tinham a missão de impedir que as forças inimigas flanqueassem e envolvessem a hoste cristã.

Quanto ao comando, a Crónica de Portugal de 1419 afirma que D. Afonso Henriques teria comandado em pessoa a vanguarda, o professor Miguel Martins chama à atenção para o facto de tal poder não passar de um artificio literário para exaltar o fundador, e que este estaria antes na retaguarda (onde os riscos não eram tão elevados) de onde poderia comandar a hoste, por isso cabia ao alferes-mor Garcia Mendes de Sousa liderar a vanguarda. Apesar desta hipótese ser bastante válida e verosímil fará também sentido considerar que de facto o príncipe liderou em pessoa a vanguarda e a carga portuguesa pelos seguintes motivos: Afonso Henriques era então um jovem ambicioso de 30 anos que procurava ganhar uma crescente autonomia política, desde de São Mamede reclamava a liderança da nobreza de Entre Douro e Minho; estava potencialmente perante o seu maior desafio militar até então, era altura de demonstrar a sua bravura e valor guerreiro liderando os seus homens da linha da frente como faziam outros líderes militares. Relembremos, pois, o exemplo do próprio filho de D. Afonso Henriques, D. Sancho, que em condições relativamente parecidas no famoso fossado de Triana “agia como se tudo dependesse do seu desempenho, como se tivesse de provar toda a sua valia naquele momento face aos homens que liderava”[1]; o poder de liderar outros homens advinha das capacidades de liderança e bravura demonstrados em campo de batalha, é por isso que D. Sancho lidera em 1178 a vanguarda portuguesa, talvez em semelhança do seu pai em Ourique quando ainda era apenas um jovem conde. Seguindo esta linha de raciocínio não nos parece descabido sugerir que Afonso Henriques tenha efetivamente liderado a vanguarda, enquanto o alferes-mor (um rico-homem mais velho e talvez mais experiente) comandava da retaguarda.

Face à hoste cristã encontrava-se o exército mouro muito mais numeroso mas sobre o qual as fontes pouco adiantam, seguindo uma vez mais a reconstrução do prof. Miguel Gomes Martins com base nas práticas da altura, supomos que este estivesse dividido em cinco ou seis unidades táticas, sendo estas a vanguarda, um corpo central, duas alas que que defenderiam os flancos do exército, a retaguarda e talvez uma reserva.

Alinhados frente a frente os exércitos terão certamente observando-se mutuamente esperando que o adversário desse um passo em falso, será de imaginar que na hoste muçulmana se terá levantado um enorme clamor de grandes tambores e trombetas à medida que as bandas montadas- características dos exércitos mouros- desfilavam frente aos seus companheiros. Seria nestes momentos que se fariam as últimas bençãos, que os comandantes se dirigiam aos seus combatentes com palavras de encorajamento, relembrando a justeza da sua causa e o valor daquela guerra, que era santa. Após as as ovações e preces a batalha deu início, as fontes são unânimes quanto à iniciativa ter partido dos almorávidas, estes terão muito provavelmente lançados os seus ginetes em manobras de torna fuy,- como era a prática habitual no mundo islâmico- ou seja, a cavalaria ligeira moura, armada com arcos e dardos terá cavalgado até próximo das forças cristãs assediando-as com projeteis; esta tática tinha o objetivo de desorganizar as forças cristãs e induzir em cargas desorganizadas que ameaçavam a coesão do exército. Podemos imaginar que não terão tido grande sucesso e a resposta portucalense não se fez esperar, D. Afonso Henriques lança então aquela que era a grande arma dos cristãos que imenso dano fazia aos mouros, tanto na Hispania e na Terra Santa, a cavalaria pesada.

Ao som de cornos de guerra (muito representados em iluminuras da época), de gritos e apelos a Santiago, os cavaleiros cristãos terão carregado- tendo talvez a coluna assumido uma forma pontiaguda de frente estreita e em profundidade- ganhando velocidade à medida que avançavam, o trote passava a galope, mas os cavaleiros não podiam quebrar a formação, um bom choque inicial era decisivo numa batalha. Terá provavelmente sido o caso, os mouros não aguentaram o ímpeto da carga dos cavaleiros de Ibn Errik que “montavam à brida”, equipados de cota de malha, “presos” ao cavalo pelos estribos e selas, empunhando a lança a direito (lance couchée) como arma de choque. Perante uma boa execução da carga, a “massa de ferro” cristã rompeu as formações inimigas embrenhando-se pelas linhas almorávidas deixando para trás de um rasto de cadáveres.

Esta carga ou vaga de cargas terá sido conseguida com grande eficácia e terá tido grande impacto na hoste inimiga, segundo os “Annales D.Alfonsi” a cavalaria terá feito recuar e dividido as forças do Islão, rasgando as linhas da vanguarda até à segunda linha do exército de Ibn Umar. Por esta altura a vanguarda portucalense perdia o ímpeto da carga inicial esbarrando-se contra as formações mais recuadas; cabia agora aproveitar ao máximo o break through e continuar a a empurrar as linhas inimigas, para tal terão avançado em vagas a cavalaria ligeira- na sua maioria das forças concelhias- a peonagem e contingentes das alas e até da retaguarda. Vaga a após vaga os exércitos ter-se-ão embrenhado na carnificina habitual das batalhas, milhares de homens digladiaram-se sob o sol quente do verão alentejano. Segundo a Crónica de 1419 a batalha terminou ao meio-dia ou já à tarde (como sugerem os “Annales”), as armas cristãs saíram vitoriosas. A superioridade do armamento terá facilitado o triunfo sobre os mouros que hão debandado perante as forças de Ibn Errik, deixando muitos mortos para trás e outros ainda por cair, enquanto retiravam de forma desorganizada à frente das forças cristãs. As baixas almorávidas foram pesadas, Miguel Gomes Martins adianta que terão rondado entre os 20 e 50 por cento das forças mouras, ou seja, 2000 a 5000 homens, entre os cristãos também terá havido várias baixas especialmente na vanguarda onde caiu o alferes Diogo Gonçalves de Cete.

Parece-nos que terá sido então no campo de Ourique, após estar consumada a vitória, que os companheiros de Afonso Henriques no furor da vitória decidiram aclamá-lo rei. Sobre os gritos de entusiasmo e ovações o jovem príncipe foi elevado sobre o seu escudo passando então a ser chamado por rei. Mais à frente havemos de analisar a questão da aclamação com muito mais cuidado.

Consumada a vitória as forças portucalenses ter-se-ão prolongado pelo campo de batalha recolhendo os espólios deixados para trás pelos seus inimigos. Desbaratada a hoste as forças cristãs puderam aproveitar para pilhar mais a região, mas as fontes sobre isso nada dizem, o vasto botim que hão conseguido e a vitória frente a Abu Muhammad Az-Zubayr ibn Umar já deveriam ser suficientes para retornar a Coimbra. A hoste terá demorado vários dias atrasada pelos espólios e pelos prisioneiros apeados que levavam para norte, sem terem, ao que tudo indica, conhecido resistência maior até chegarem a Coimbra, onde entraram vitoriosos certamente recebidos por um clima festivo. O príncipe que partira voltava agora rei, coberto de glória e riquezas.

Gonçalo Palmeira

Notas
[1] Maria João Branco, D.Sancho I, p.16
[2]Mário Jorge Barroca, Nova História Militar de Portugal Vol. 1, p.126


26 julho 2018

El misterioso encanto de María Francisca de Braganza, la nueva duquesa de Coimbra


María Francisca de Braganza y Sr. Juan Pedro De Jong. @AssociaçãodosAutarcasMonárquicos

Desde 1910, la monarquía en Portugal podría considerarse extinta. Manuel II fue el último rey y perdió el trono a causa de la instauración de una república. Pese a ello, el primogénito de su primo (lejano, pero igualmente, directo) continúa siendo considerado "pretendiente" a la corona y, de forma honorifica, 'royal'. Así, los descendientes del máximo representante de la Casa de Braganza -Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael- también son considerados "majestades". De esa manera, su única hija acaba de convertirse en duquesa. Aunque el día a día de María Francisca, de 21 años, está lejos de asemejarse a las labores de las duquesas de Sussex o Cambridge. Al contrario, para la también nueva dama de la Orden de Santa Isabel la clave está en ser una noble abierta, pero más que nada... discreta.

Este cuatro de julio, importantes portales promonarquía (como 'Royal Central') informaron que María Francisca de Braganza -que se encuentra en la tercera posición en la línea de sucesión al trono de Portugal- fue proclamada duquesa de Coimbra, antigua capital del país vecino, por su mismo padre. De acuerdo con la página de Facebook de la propia familia real, la ceremonia se realizó en la iglesia Reina Santa de la misma ciudad y contó con la presencia de amigos y familiares. Después del evento, la fotografía de Francisca apareció en numerosas páginas sociales. No obstante, la estudiante de comunicación de la Universidad Católica de Lisboa no parece interesada en los lujos, los flashes o la excesiva atención de los paparazzi.

De hecho, para Francisca, que acaba de terminar su época de Erasmus en Roma, escaparse entre las calles lisboetas, donde comparte piso con sus hermanos Alfonso y Dionisio, parece ser una entretenimiento mayor que lucir tiaras. "Por supuesto, llevar el nombre de mis antepasados me da responsabilidades, pero no suelo hablar de ello", comentó en octubre del año pasado. Asimismo, debido a su simpleza -y a sus actividades benéficas y voluntariados en Guinea- Francisca se ha ganado el apodo de "princesa discreta". Una cualidad que suelen recalcar los portales de farándula portugueses, como Flash. Aunque, en noviembre de 2017, la joven rompió con su habitual mesura y asistió a una de las galas más importantes para la aristocracia mundial, el Baile de Debutantes.

Según la misma princesa, la idea inicial de participar en el famoso evento, más conocido como Le Bal, fue acompañar a sus primas Charlotte de Luxemburgo, Natasha d'Arenberg y Maria Pia de Yong. A pesar de eso, sus padres coincidieron en que la presencia de Francisca en una convención de ese calibre -con participantes tan célebres como Ava Phillippe, la hija de Reese Witherspoon- era una buena estrategia para mantener relaciones diplomáticas internacionales. "Nuestra hija tendrá emocionantes reuniones con jóvenes de todo el mundo y podrá hablar bien de Portugal", explicó su madre Isabel de Braganza en la antesala a la fiesta, que tomó lugar en el Hotel Peninsula de París.

Tras su invitación al baile, la 'royal' protagonizó la portada de la publicación portuguesaEles & Elas, mientras que la revista francesa Point de Vue la posicionó como una de las solteras más codiciadas de la realeza europea. Aunque Francisca -que tampoco parece ser adepta a redes como Instagram- nunca está sola, sino con otro atractivo joven de su misma posición social. Se trata del estudiante de negocios Joannes Pedro de Jong, el hijo de la princesa brasileña María Teresa de Orléans y Bragança, quien la acompañó en su velada parisina y su última jornada en Coimbra. Sin embargo, aun no existe claridad sobre la naturaleza de su relación... y es probable que tampoco se sepa. Y es que el hermetismo de Francisca (todavía) puede más que las narices intrusas y quienes quieren entrometerse en su vida "retirada".

Fonte: El Mundo

25 julho 2018

Em Memória dos Santos Mártires Imperiais da Rússia



Há exactamente 100 anos, consequência totalmente incompreensível da Revolução de Outubro de 1917, no dia 17 de Julho de 1918, a Família Imperial da Rússia foi barbaramente assassinada.
O Tzar Nicolau II, a Tzarina Alexandra, o Tzarevich Alexis, as Tzaritsas Olga, Tatiana, Maria e Anastásia, mais quatro empregados, foram executados por uma fuzilaria e depois trespassados pelas baionetas de um pelotão bolchevique vermelho, a mando de Lenine, na cave da Casa Ipatiev, em Ekaterimburgo.

Os Romanov imolados pelos Bolcheviques Vermelhos são hoje Santos Mártires Imperiais da Rússia.

Sob a liderança de Yakov Yurovsky, além do Czar Nicolau II, a imperatriz consorte Alexandra Feodorovna (Alice de Hesse e Reno), as quatro filhas, Olga Nikolaevna da Rússia, Tatiana Nikolaevna da Rússia, Maria Nikolaevna da Rússia, Anastásia Nikolaevna da Rússia e Alexei Nikolaevich, Czarevich da Rússia, não foram poupados, também, o médico pessoal Eugene Botkin, a empregada da imperatriz Anna Demidova, o cozinheiro da família Ivan Kharitonov e o criado Alexei Trupp.
Baleado múltiplas vezes na cabeça e no peito por Yurovsky, o Czar Nicolau foi o primeiro a morrer. As últimas a morrer foram as Grã-Duquesas Anastásia, Tatiana, Olga e Maria, que foram também golpeadas por baionetas, e de acordo com o diário de Leon Trotsky, a ordem para a execução veio de Lenine e Sverdlov.

Um guarda, descreverá a barbárie, assim:

‘Na noite de 16 para 17 de Julho, entre as sete e as oito da noite, quando o meu turno tinha acabado de começar, o comandante Yurovsky (chefe do esquadrão de execução) ordenou-me que fosse buscar os revolveres Nagan aos guardas e que os levasse até ele. Recolhi doze revolveres dos sentinelas e de outros guardas e levei-os ao escritório do comandante.
O Yurovsky disse-me, “Temos de os matar hoje à noite, por isso avisa os guardas para não se assustarem se ouvirem tiros”. Percebi então que o Yurovsky tinha todas as intenções de matar a família inteira do czar, bem como o médico e os criados que estavam com eles, mas não lhe perguntei onde nem quem tinha tomado essa decisão. Cerca das dez da noite, seguindo a ordem de Yurovsky, informei os guardas para não se assustarem caso ouvissem disparos.
Cerca da meia-noite, o Yurovsky acordou a família do czar. Não sei se lhes disse a razão pela qual tinham sido acordados ou para onde seriam levados, mas tenho a certeza que foi o Yurovsky que entrou no quarto ocupado pela família do czar. Cerca de uma hora depois, a família inteira, o médico, a criada da czarina e os criados do czar levantaram-se, lavaram-se e vestiram-se.

Pouco antes de o Yurovsky ir acordar a família, dois membros da Comissão Extraordinária (do Soviete de Ekaterinburg) chegaram à Casa Ipatiev. Pouco depois da uma da manhã, o czar, a czarina, as suas quatro filhas, a criada, o médico, o cozinheiro e os criados saíram dos seus quartos. O czar levava o filho nos braços. O imperador e o herdeiro estavam vestidos de uniforme e levavam capas. A imperatriz, as suas filhas e os outros seguiam-nos. O Yurovsky, o seu assistente e os outros dois que mencionei em cima, membros da Comissão Extraordinária acompanharam-nos. Eu também estava presente.

Enquanto estive presente, nenhum membro da família do czar fez perguntas. Não choraram nem se lamentaram. Depois de descer as escadas da Casa Ipatiev para o primeiro andar, fomos para o quintal e, daí, entramos na segunda porta (do lado do portão), chegando à cave da casa. Quando chegamos à sala, adjunta à dispensa e com uma porta fechada atrás, o Yurovsky ordenou que se trouxessem cadeiras e o seu assistente trouxe três cadeiras. Uma delas foi dada ao imperador, uma à imperatriz e a terceira ao herdeiro.

A imperatriz sentou-se perto da parede, junto à janela, perto do pilar negro do arco. Atrás delas estavam três das suas filhas. Conhecia bem as caras delas porque as via todos os dias quando elas iam passear pelo jardim, mas não sabia como se chamavam. O herdeiro e o imperador sentaram-se lado a lado, quase a meio da sala. O doutor Botkin estava atrás do herdeiro. A criada, uma mulher muito alta, estava à esquerda da porta que dava para a dispensa, ao seu lado estava a filha mais nova do czar (Anastásia). Os outros dois estavam encostados à parede, à esquerda da porta de entrada para a sala.

A criada levava uma almofada. As filhas do czar também tinham almofadas pequenas com elas. Uma delas foi colocada na cadeira da imperatriz e outra na do herdeiro. Parecia que adivinhavam o seu destino, mas nenhum deles falou. Neste momento entraram onze homens na sala: O Yurovsky, o assistente, dois membros da Comissão Extraordinária e quatro operativos da Cheka (polícia secreta).

O Yurovsky ordenou-me que saísse, dizendo: “Vai até à rua, vê se está lá alguém e espera para ver se se conseguem ouvir os tiros.” Saí para o quintal, que era protegido por uma vedação, mas antes de chegar à rua ouvi disparos. Regressei imediatamente à casa, só tinham passado dois ou três minutos, e quando entrei na sala onde a execução tinha acontecido vi que todos os membros da família do czar estavam deitados no chão, gravemente feridos ou mortos. O sangue corria como um riacho. O médico, a criada e os dois serventes também tinham sido atingidos. Quando entrei o herdeiro ainda estava vivo e gemia um pouco. O Yurovsky foi até ele e disparou mais dois ou três tiros contra ele. Depois o herdeiro ficou quieto.”

Em 1 de Outubro de 2008, o Supremo Tribunal da Rússia reabilitou formalmente o último Czar, Nicolau II, declarando que o assassínio do monarca e da sua família, em Ecaterimburgo, representou uma acção ilegal das autoridades soviéticas.
A 30 de Setembro de 2008, o Supremo Tribunal da Rússia reabilitou a família real russa e o czar Nicolau II, 90 anos após sua morte. O Supremo Tribunal Russo declarou que a sua execução foi ilegal e que a família real russa foi vítima de um crime, da repressão bolchevique.

Em 1981, Os Romanov foram canonizados pela Igreja Ortodoxa Russa no Exterior como Neomártires. Em 2000, a Igreja Ortodoxa Russa, dentro da Rússia canonizou a família como Portadores da Paixão.

Miguel Villas-Boas

24 julho 2018

Albuquerque não conquistou Goa: Albuquerque libertou-a

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Há meia dúzia de dias, no aceso do debate Prós e Contras sobre o Museu dos Descobrimentos, Ângela Barreto Xavier aludiu à conquista de Goa por Afonso de Albuquerque e referiu as destruições provocadas pelos portugueses. Ângela Barreto Xavier sabe que tal não é verdade, nem conforme com a abundantíssima documentação até nós chegada, à cabeça da qual destacamos a correspondência de Afonso de Albuquerque enviada a D. Manuel I, integralmente publicada em sete espessos volumes entre 1884 e 1935 sob direcção de Bulhão Pato e Henrique Lopes de Mendonça.

Para o leitor atento evidencia-se que a tese de Barreto Xavier não só é abusiva, como falsa. Goa foi conquistada por por forças portuguesas comandadas por Afonso de Albuquerque, juntamente com outros milhares de guerreiros hindus sob o comando de Timoja, habitualmente indicado como "pirata hindu". De facto, Timoja era "pirata", pois não tinha terra sua desde que os seus antepassados, reinetes locais, haviam sido sessenta anos antes desapossados do poder pela dinastia muçulmana de que o Idalcão (Adil Xá) era sucessor.

As forças portuguesas não teriam conseguido tomar a cidade sem a preciosa ajuda das tropas hindus de Timoja. Após a tomada da cidade, os abusos não foram cometidos por portugueses, mas pelos ajustes de contas das tropas de Timoja e população hindu cansada de tantas arbitrariedades e violências de que haviam sido objecto durante décadas pelos governantes muçulmanos.

Miguel Castelo-Branco

23 julho 2018

O Mundial de futebol que a Tailândia ganhou

Não sei se sabem, mas aquilo que acontece num estádio, a que assistem milhares de pessoas e que envolve milhões, é apenas um jogo.

Sim, eu sei que foi a França que ganhou o campeonato mundial de futebol. Mas esse foi o campeonato do mundo menos importante, porque o verdadeiro, o único aliás que interessa, foi ganho por uma outra equipa de futebol e o seu treinador, algures numa gruta da Tailândia. O russo foi o campeonato dos jogos, ou da brincadeira, enquanto este foi o verdadeiro campeonato, o campeonato da solidariedade, dos valores e da vida.
Não sei se todos sabem, mas aquilo que acontece num estádio e a que assistem milhares de pessoas é apenas um jogo, muito embora seja também um negócio que envolve muitos milhões. Os futebolistas, que também ganham milhões, estão a jogar e, por isso mesmo, são os jogadores. O resultado daquela prova não tem nenhuma importância porque, na realidade, não decide nada que seja relevante, como aliás acontece com todos os jogos. As pessoas que gritam e choram, consoante a sua equipa ganha ou perde, parecem ter esquecido que aquilo é apenas um jogo e, por isso, nem se dão conta de que essas suas reacções são patéticas. Como patética é a presença de chefes de Estado e de governo nesses jogos, como se se estivesse a decidir o futuro da humanidade … ou a honra da nação!
Pior ainda foi a forma como a França comemorou a sua vitória daquele campeonato: centenas de carros incendiados, lojas destruídas e outros muitos distúrbios provocados por multidões selvagens. Não sei se, se tivesse sido outro qualquer país a ganhar o torneio, o regresso da sua selecção seria também ‘festejado’ de forma tão violenta e brutal. Não sei se o país que venceu a final se deve orgulhar por ter ganho o campeonato do mundo de futebol porque, insisto, não foi mais do que um jogo. Mas a França deveria estar profundamente envergonhada pela forma como os seus cidadãos celebraram a taça. Eu estou, e nem sequer sou francês, nem tenho nenhuma especial relação com a equipa ou o país que esses jogadores, com tanto sucesso, representaram.
Por pouco, a final do campeonato do mundo que ‘sagrou’ a selecção francesa não coincidiu com a festa nacional gaulesa, que se comemora todos os anos, no dia 14 de Julho, aniversário da tomada da Bastilha. É curioso que um país, com uma história tão gloriosa, tenha como seu dia nacional a tomada de uma fortaleza e a sua total destruição. É certo que aquela prisão era o ominoso símbolo da repressão do antigo regime, a que a revolução francesa pretendia pôr termo, inaugurando uma nova etapa na história da humanidade, sob a auspiciosa protecção da santíssima trindade laica: liberdade, igualdade e fraternidade. Também é sabido que, como sempre acontece nas revoluções, a natureza violenta desse movimento manifestou-se pelo terror que levou à morte milhares de inocentes, bem como à guerra civil. Não sei se é mera coincidência que essa mesma violência, que a França evoca no seu dia nacional, seja também apanágio das suas passagens de ano e comemorações desportivas, como foi a recente vitória do campeonato do mundo de futebol.
No colégio e no liceu, também jogávamos à bola e ao berlinde, entre outros desportos e brincadeiras. Mas sabíamos uma coisa que hoje, pelos vistos, se esquece: que aquilo era apenas um entretenimento, uma diversão para os intervalos entre as aulas, que não em vão se chamavam recreios. Claro que havia sempre alguém que se dava ares de grande futebolista, ou de campeão do ‘bilas’, mas nós sabíamos todos que o importante era o que se passava dentro da sala de aulas. O quadro de honra não era para os que marcavam mais golos, nem ganhavam mais jogos, nem ‘abafavam’ – como se dizia na gíria – mais berlindes, mas para os que tinham melhores notas. Claro que, quando se escolhiam os jogadores para o futebol, ninguém gostava de ser dos últimos a ser selecionado para uma das equipas, nem ser relegado para a baliza, que era função destinada aos menos aptos na prática da modalidade. Mas o que mais interessava eram as notas e não o futebol, que era apenas um jogo.
Nós sabíamos isso, mas hoje ignoram-no as multidões ululantes que enchem estádios imensos – não em vão chamados ‘catedrais’ – e manifestam-se ruidosa e selvaticamente pelas ruas, semeando a violência e deixando um rasto de destruição. Que gente é esta, que dá tanta importância ao que é supérfluo e está tão desinteressada do que é fundamental?!
Se foi degradante o triste espectáculo que a França ofereceu ao mundo, por ocasião da sua vitória desportiva, foi muito estimulante a onda de solidariedade mundial suscitada pela equipa tailandesa de jovens jogadores de futebol, quando ficou retida numa gruta subterrânea. Talvez tenha havido alguma imprudência em aqueles rapazes terem ido para um local de difícil acesso, numa altura do ano em que as chuvas podem tornar impossível o regresso. Verificado o incidente, o que importava não era arranjar culpados, nem bodes expiatórios, mas encontrar a forma de os trazer de volta à superfície. Foi isso que as autoridades tailandesas, com o apoio da comunidade internacional, que contribuiu generosamente com tecnologia e especialistas na matéria, lograram fazer. Que alívio para todos nós quando, finalmente, se soube que toda a equipa tinha sido resgatada e se encontrava bem, graças a Deus e ao esforço dos heroicos mergulhadores!
Uma palavra ainda para felicitar as autoridades tailandesas pela forma como souberam gerir a informação deste caso, privilegiando o bem das crianças envolvidas e das suas famílias. Foi crucial terem interditado a zona aos jornalistas e terem sabido evitar inúteis sensacionalismos, que certamente não teriam sido benéficos para os menores, nem para as respectivas famílias. Num cenário de crise, o importante não é satisfazer a curiosidade pública, mas salvaguardar o superior interesse das vítimas e das suas famílias. Se se soubessem, por exemplo, os nomes dos jogadores que já estavam resgatados, os familiares dos outros rapazes poder-se-iam sentir despeitados, questionando os critérios seguidos para a libertação dos jovens.
Gostei de os ver, já hospitalizados, a acenar aos familiares, que os observavam com um afecto ainda cheio de emoção, por detrás de umas grandes janelas envidraçadas. E dei graças a Deus por ter sido possível resgatá-los e estarem todos sãos e salvos! Talvez não tenham ganho nenhum jogo, nem o campeonato, mas ganharam, pelo menos, um grande susto! E aprenderam uma grande lição: a vida não é um jogo, tudo vale a pena para salvar um ser humano e todos somos necessários para socorrer os que mais precisam!
Fonte: Observador

22 julho 2018

Luxemburgo recorda Infanta Maria Ana de Bragança



Filha do Senhor Dom Miguel, casou no dia 22 de Junho de 1893 com Guilherme IV, Grão-duque do Luxemburgo.
Nos 125 anos da celebração do casamento, o Museu Nacional de História e Arte e a Casa Grã-Ducal, com o apoio da Embaixada de Portugal, organizam uma exposição focada na história de amor e nas consequências políticas que a união teve para o país, nomeadamente o acesso das mulheres ao trono.
Como o casal não teve filhos do sexo masculino, o pacto da família de Nassau foi alterado de forma a permitir o acesso das mulheres ao trono, em 1907.
Com a doença de Guilherme IV, pouco tempo depois de se ter tornado Grão-duque, Maria Ana de Bragança foi nomeada regente, passando a assumir um papel político determinante na vida do país.
Após a morte do marido, em 1912, sucede-lhe a filha mais velha, Maria Adelaide, seguindo-se a segunda filha do casal, a grã-duquesa Carlota, após uma crise política em 1918-1919.
Esta coroa dominada por mulheres, foi uma novidade num mundo político controlado por homens.
Da exposição, inaugurada no passado dia 9 de Julho pelo Grão-duque herdeiro Guilherme e a Grã-duquesa herdeira Stéphanie de Lannoy, faz parte a Banda das Três Ordens, que reúne as Grã-Cruzes das Antigas Ordens Militares de Cristo, de Avis e de Sant’Iago da Espada, criada por D. Maria I em 1789, emprestada pelo Palácio Nacional da Ajuda.
Este objecto tão importante para História Portugal, representa bem a importância da ligação entre os dois países, que hoje é reforçada por mais de 80.000 luso-luxemburgueses a viver naquele país. Uma relação de amor e amizade que começou no casamento da Infanta Maria de Bragança e dura até aos dias de hoje.

A Infanta Maria Ana de Bragança nasceu em Bronnbach, no dia 13 de Julho de 1861, onde vivia no exílio o Senhor Dom Miguel, bisavô do actual Duque de Bragança.
A bisavó do atual Grão-duque Henrique morreu em 1942, em Nova Iorque, com 81 anos, estando sepultada na Catedral do Luxemburgo.

Fonte: Causa Real

21 julho 2018

José Hermano Saraiva seis anos depois

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Passam 6 anos do seu desaparecimento e contudo ainda nos acompanha: os seus livros continuam a vender, a sua imagem continua a ser conhecida e os programas que ensinaram gerações continuam a ser transmitidos. Era simplesmente "o professor" - e talvez um dos poucos que merecia o título acima das vaidades.

Tinha um jeito natural de ser e uma harmonia calorosa no carácter. Foi durante décadas uma figura tão presente como aquele simpático familiar a quem sempre abrimos a porta. Ensinou-nos muito e despertou-nos a curiosidade. Sobretudo ensinou-nos a entender Portugal na sua dimensão secular e a descobrir os segredos mais profundos de um mundo imenso que se orgulha da identidade lusiada repartida pelos quatro cantos do mundo.

Hoje faz falta este tipo se compromisso com o ensino da história, um ensino livre de preconceitos e de ideologias.

Daniel Sousa

20 julho 2018

Novo capítulo

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16 de Julho de 1918, 22.30, Ekaterinburg
A czarina Alexandra descreve no seu diário um dia tranquilo de verão: licença de meia hora para passear, leituras bíblicas, o oficial bolchevique que veio trazer ovos para Alexis, jogo de cartas com o Czar antes de se deitar.
A página seguinte está em branco. Nessa noite acabou um capítulo mas não a História.


2013, São Petersburgo
O restauro de um grande quadro de Lenine, pintado em 1924, fez aparecer no verso um retrato de Nicolau II que se julgava desaparecido. Desobedecendo às ordens que tinha, correndo risco de vida, o pintor não quis destruir a imagem do seu Czar e cobriu-o com tinta solúvel em água, como se esperando por um novo capítulo em que a Rússia se reencontrasse com ela própria.
Ele sabia que há ligações que não se destroem por decreto.

O valor simbólico da Monarquia está todo aqui: uma relação entre um povo e o seu Rei que vai muito para além dos capítulos da história por mais violentos que sejam, o encarnar de uma cultura e de uma forma de vida, a certeza da continuidade de um povo.

É tudo isto que estes cem anos do assassinato da Família Imperial Russa também representam.


Teresa Côrte-Real
Vogal da Comissão Executiva da Causa Real