quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

A Reforma Pelo Rei

“Considerando que as coisas aqui não iam bem, e vendo os exemplos de toda a Europa, onde não vão melhor, decidi fazer uma revolução completa em todos os procedimentos do governo daqui, uma revolução a partir de cima, fazendo um governo de liberdade e de honestidade, com ideias bem modernas, para que um dia não me façam uma revolução vinda de baixo, que seria certamente a ruína do meu país. (…) Até ao momento, tenho tido sucesso, e tudo vai bem, até melhor do que eu julgava possível. Mas para isso, preciso de estar constantemente na passerelle e não posso abandonar o comando um minuto que seja, porque conheço o meu mundo e se o espírito de sequência se perdesse por falta de direcção, tudo viria imediatamente para trás, e então seria pior do que ao princípio.”

– Sua Majestade Fidelíssima El-Rei Dom Carlos I de Portugal ao seu amigo e companheiro das lides oceanográficas, o Príncipe Alberto I do Mónaco, em Carta datada de Fevereiro de 1907


Fonte: Plataforma de Cidadania Monárquica

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Real Associação do Porto manda celebrar uma missa pela alma do Rei D. Carlos e do Príncipe Real D. Luís Filipe

Estimados Associados e amigos,
Uma vez mais, na passagem de mais um ano sobre o trágico regicídio, a Real Associação do Porto cumpre o doloroso dever de mandar celebrar uma missa de sufrágio pelas almas de Sua Majestade El-Rei Dom Carlos I e de Sua Alteza Real o Príncipe Dom Luiz Filipe, no próximo dia 1 de Fevereiro (Sábado), pelas 18:30, na Igreja de São João da Foz.

É importante a presença de todos, contamos consigo!

Com os melhores cumprimentos,

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

18 de Janeiro de 1367 - Morre El-Rei D. Pedro I, O Justiceiro

O Infante D. Pedro de Portugal, 4° filho (os irmãos varões mais velhos morreram à nascença) do Rei D. Afonso IV e da Rainha D. Beatriz de Castela, nasceu em Coimbra, a 8 de Abril de 1320.
Cognominado ‘o Cruel’ ou ‘o Justiceiro’ foi o 8° Rei de Portugal.
Era um notívago e era normal vê-lo nas tabernas ou, como era grande apreciador de música, a dançar à volta de uma fogueira na companhia dos amigos fidalgos e ainda de outra gente de reputação duvidosa. Era grande caçador, cavaleiro e corajoso espadachim. Comia e bebia muito, pois era senhor de uma grande compleição física, pelo que mantinha uma linha elegante e atlética.
Em 1328, D. Pedro casou por “palavras futuras” com D. Branca, filha do Rei de Castela, mas por razões políticas acaba por desistir, pelo que em 1336, casou por procuração com D. Constança Manoel, filha do Infante D. Juan Manoel de Castela (Príncipe de Vilhena e Escalona, Duque de Penafiel, tutor de Don Afonso XI de Castela, «poderoso e esforçado magnate de Castela», e neto do Rei Don Fernando III de Castela), e de D. Constança de Aragão.
No entanto o casal real só receberia a bênção nupcial, em 24 de Agosto de 1340, na Sé de Lisboa, depois do cunhado D. Afonso XI de Castela (casado com a Infanta D. Maria de Portugal) ter deixado D. Constança sair do Reino.
D. Constança chegou a Portugal. No seu séquito vieram parentes, criados e pajens, entre elas, a dama de companhia D. Inês de Castro - foi aqui que a vida de D. Pedro conheceu o que seria o mais importante episódio.
D. Inês Pires de Castro (n. 1325) foi uma nobre galega, da Casa de Castro. Inês de Castro nasceu provavelmente em Monforte de Lemos, na província de Lugo, na Galícia, no ano de 1325. Era filha natural de D. Pedro Fernandez de Castro, da Galícia, e de uma dama portuguesa D. Aldonza Soares, de Valadares, Portugal. D. Pedro de Castro era um dos mais importantes nobres da corte de Afonso XI de Castela.
D. Pedro apaixonou-se imediatamente (coup de foudre) pela formosa rapariga loura que fazia parte da entourage da Infanta na vinda para Portugal e que era para além de sua Aia, sua grande amiga: D. Inês de Castro, filha do nobre galego D. Pedro Fernandes de Castro, mordomo-mor do Rei Don Afonso XI de Castela, e que era neto por via ilegítima de D. Sancho IV de Leão e Castela, era um dos nobres mais poderosos do Reino de Leão e Castela.
Mesmo apaixonado por D. Inês, casou-se com D. Constança. Quando a princesa D. Constança teve seu primeiro filho em 1342, deu ao infante o nome de Luís. D. Inês foi convidada para madrinha. De acordo com os preceitos da Igreja Católica de então, a relação entre padrinhos era de parentesco moral e o amor entre eles era quase um incesto, porém, os encontros entre D. Pedro e D. Inês eram frequentes, iniciando-se assim um grande romance.
D. Pedro e D. Inês deram azo àquela que foi a mais bela e mais famosa história de amor em Portugal. Este romance que era conhecido por todos começou a ser comentado e a ser mal visto, sobretudo pela Corte, que temia a influência galega e castelhana sobre o infante D. Pedro (só a partir do reinado d’El-Rei Dom Duarte I (1433-1438), o herdeiro presuntivo da Coroa de Portugal, normalmente o filho varão mais velho do rei, passou a ter o título de ‘Príncipe’, distinguindo-se assim dos seus irmãos, que tinham o título de ‘Infante’. Até esse momento, o herdeiro do trono tinha tal-qualmente o estilo de ‘Infante’). Sendo a relação mal aceite, Pedro e Inês passaram a ter encontros furtivos na antiga Vila do Jarmelo na Guarda.
Sob o pretexto da moralidade, o Rei D. Afonso IV não aprovava esta relação, não só por motivos de diplomacia com Don Juan Manuel de Castela, mas também devido à amizade estreita de D. Pedro com os irmãos de D. Inês - D. Fernando de Castro e D. Álvaro Pires de Castro. Nomeadamente D. Álvaro Pires de Castro - que ulteriormente viria a ser 1.º Conde de Viana (da Foz do Lima), 1.º Conde de Arraiolos ,e 1.° Condestável do Reino de Portugal
O rei D. Afonso IV, pai de D. Pedro, para separar o casal, enviou a bela Inês para a cidade de Albuquerque na fronteira espanhola, entregando-a sob a proteção de D. Teresa de Albuquerque, viúva de seu meio irmão. Mas a distância não separou os dois apaixonados, que continuaram a se comunicar por cartas levadas e trazidas secretamente.
A distância não acabou com o amor entre Pedro e Inês, e em Outubro do ano seguinte D. Constança morreu ao dar à luz o futuro rei, D. Fernando I de Portugal. Viúvo, D. Pedro, contra a vontade do pai, mandou D. Inês regressar do exílio e uniu-se a ela, excitando o escândalo na corte e o desagrado ao Rei, seu pai. Contrariando as ordens do Rei, iniciou-se, assim, o antagonismo entre El-Rei e o Infante, seu filho.
Instalados em Coimbra, D. Pedro e D. Inês, finalmente, estavam juntos. No Mosteiro de Santa Clara viveu feliz o casal.
Em 1351, D. Pedro solicitou ao Papa que lhe concedesse dispensa para poder casar com D. Inês, já que eram primos, grau de parentesco que impedia o casamento, segundo o Direito Canónico da época, pedido este que foi indeferido.
D. Afonso IV ainda tentou mitigar a situação casando o seu herdeiro presuntivo com uma dama de sangue real, mas D. Pedro rejeitou esse projecto, argumentando que ainda sentia muito a perda de sua mulher, D. Constança, e que não conseguia ainda pensar num novo casamento. Do idílio amoroso entre D. Pedro e D. Inês foram nascendo filhos: D. Afonso, em 1346, (que morreu pouco depois de nascer), D. João de Portugal em 1349, D. Dinis de Portugal em 1354 e Beatriz em 1347. O nascimento destes ilegítimos de sangue real veio agudizar a situação até porque, durante o reinado de D. Dinis, o seu filho e herdeiro D. Afonso IV sentira-se em risco de ser preterido na sucessão ao trono por um dos filhos bastardos do seu pai, D. Afonso Sanches. Passaram a circular, então, boatos de que os Castros conspiravam para assassinar o infante D. Fernando, legítimo herdeiro de D. Pedro, para o trono português passar para o filho mais velho de D. Inês de Castro. Corriam, ainda, boatos de que o Infante se tinha casado secretamente com D. Inês. Sentindo-se ameaçados pelos irmãos Castro, os nobres da corte portuguesa pressionavam o Rei para afastar D. Inês (e a família) do herdeiro do trono. O Rei D. Afonso IV entendeu, por isso, que a melhor opção seria mandar matar a dama galega. Na tentativa de saber a verdade, o Rei ordenou a dois conselheiros seus que dissessem a D. Pedro que ele se podia casar livremente com D. Inês se assim o pretendesse. D. Pedro percebeu tratar-se de uma cilada e respondeu que não pensava casar-se nunca com D. Inês.
A 7 de Janeiro de 1355, houve uma denúncia por parte de um dos carrascos, que era habitante da Vila do Jarmelo, alegando que se encontravam às escondidas. El-Rei, aproveitando a ausência de D. Pedro, foi com Pero Coelho, Álvaro Gonçalves, Diogo Lopes Pacheco e executaram D. Inês de Castro, em Santa Clara, conforme deliberara o Conselho. Reza a lenda que as lágrimas derramadas no rio Mondego por D. Inês teriam criado a Fonte das Lágrimas da Quinta das Lágrimas, e algumas algas avermelhadas que ali crescem seriam o seu sangue derramado.
A morte de D. Inês provocou a revolta de D. Pedro contra D. Afonso IV. D. Pedro assolou diversas terras a norte do Douro e chegou mesmo a tentar tomar o Porto, mas após meses de conflito, a Rainha D. Beatriz conseguiu intervir e fez selar a paz, em Agosto de 1355. O acordo de paz entre D. Pedro e seu pai foi firmado em Canavezes, tendo desde logo D. Afonso IV delegado em D. Pedro grande parte do poder. Ficou o Infante desde esta altura incumbido de, com certas reservas, exercer justiça em todo o reino. Esta transferência de poderes explica o facto de, ainda Infante, ter D. Pedro promulgado o beneplácito régio. Este importante decreto proibia a divulgação no reino de quaisquer documentos pontifícios sem prévia autorização do Rei. Esta medida provocou a reação do clero, que, nas cortes de Elvas de 1361, solicitou a revogação do decreto. No entanto, D. Pedro estabeleceu oficialmente o beneplácito régio, não para agravar as relações com a Igreja mas para marcar a força do Estado.
Após a morte de D. Inês de Castro, fruto de uma ligação amorosa de D. Pedro com Teresa Lourenço, uma dama galega que estava integrada no séquito de D. Inês de Castro, nasceu em 1356 D. João, futuro Mestre de Avis e D. João I.
Com a morte do Rei, D. Pedro subiu ao trono em 28 de Maio de 1357, com 37 anos de idade, tornou-se no oitavo rei de Portugal como D. Pedro I.
Alçado no trono, o primeiro acto de D. Pedro I foi vingar a morte de D. Inês: promoveu uma troca de prisioneiros com o rei de Castela, que entregou ao monarca português os fugitivos Álvaro Gonçalves e Pêro Coelho (o fidalgo Diogo Lopes Pacheco conseguiu fugir) e que foram cruelmente executados.
Então, D. Pedro I procedeu à exumação do cadáver de D. Inês, mandou vesti-la de paramentos régios e coroou-a Rainha, acomodou-a no Trono e obrigou toda a corte, em adoratio, a beijar-lhe a mão.
Em Junho de 1360, D. Pedro I fez a Declaração de Cantanhede, legitimando os filhos ao afirmar que se tinha casado secretamente com D. Inês, em 1354, em Bragança. A palavra do rei, do seu capelão e de um seu criado foram as provas necessárias para legalizar esse casamento.
D. Pedro, o Justiceiro, distinguiu-se precisamente pela aplicação da justiça, e nas palavras de Fernão Lopes, in Crónicas, descrevendo a actividade de Juiz Supremo d’ El-Rei Dom Pedro I: “Trabalhava-se quando podia de as gentes não serem gastas, por azo de demandas, e prolongados preitos”. Ou seja nas suas Ordenações, o Rei cuidava para que as pessoas não andassem demasiado tempo em conflito judicial. Reformador, Dom Pedro I, ordenava que fosse logo despachado o que estava nessas condições para que as partes in casu concreto não andassem em “demanda prolongada nem façam despesas grandes”, ou seja, El-Rei exigia uma justiça célere e que não fosse dispendiosa quer para as partes quer para o Estado, e, de acordo com o historiador Joel Serrão, "a sua justiça não conhecia discriminações: julgava de igual modo fidalgos ou vilãos, amigos ou inimigos."
D. Pedro reinou durante dez anos, conseguindo ser extremamente popular, ao ponto de dizerem as gentes «que taaes dez annos nunca ouve em Portugal como estes que reinara elRei Dom Pedro».
D. Pedro I morreu, em Estremoz, a 18 de Janeiro de 1367. Os seus restos mortais encontram-se na capela-mor da igreja do mosteiro de Alcobaça diante dos de D. Inês de Castro. Os seus dois túmulos representam duas das mais belas peças da escultura portuguesa do século XIV.

Miguel Villas-Boas

domingo, 19 de janeiro de 2025

Os 58 dias em que foram assassinados 108 sacerdotes em Toledo

Entre Julho e Setembro de 1936 a cidade de Toledo (Espanha) tornou-se uma cidade de martírio, com o sangue dos católicos literalmente a escorrer pelas ruas.

Milícias republicanas/comunistas assassinas assolaram a cidade nos primeiros meses da Guerra Civil Espanhola. Cometeram crimes terríveis. Em apenas 58 dias, perseguiram padres e religiosos.

Entre 22 de Julho e 18 de Setembro de 1936, os criminosos comunistas perseguiram 108 padres (11 maristas, 1 franciscano, 14 carmelitas descalços, 3 jesuítas e 79 padres diocesanos). Foram presos e mortos.

Sem uma palavra. Sem um julgamento sequer. Nem sequer uma pantomima para o simular. Eram padres, e isso bastou para os condenar à morte. Terroristas republicanos posaram para uma fotografia com o corpo mumificado de uma freira, depois de terem atacado o convento das Concepcionistas em Toledo.

O padre Jorge López Teulón descreve este facto no seu último livro, Mártires a la sombra del alcázar de Toledo (Mártires à sombra do Alcázar de Toledo, editado pela San Román).

Entre os casos descritos no livro encontra-se o de Don Ricardo Pla Espí, capelão moçárabe da Catedral Primaz, professor de seminário e conselheiro da Associação Católica de Propagandistas. Foi detido em casa dos seus pais. A mãe, que estava doente na cama, disse ao filho: “E tu, estás pronto para morrer?” O filho respondeu-lhe: “Sim, mãe, estou pronto agora”.

Quando os criminosos de guerra entraram, não permitiram que o padre se despedisse dos seus pais. Cinco minutos depois, no Paseo del Tránsito, numa grande escadaria, foi atingido por dois tiros, um na testa e outro no lado. Quando viu que estavam a apontar para ele, gritou: “Viva o Cristo Rei!

Tudo isto aconteceu enquanto várias centenas de pessoas, na sua maioria católicos, estavam barricadas no Alcázar de Toledo durante 70 dias. O cerco durou até 27 de Setembro de 1936, quando as tropas do general Francisco Franco libertaram os defensores do Alcázar.

Em quatro anos, 4000 mártires foram assassinados pelos comunistas em Espanha.

in gloria.tv


sábado, 18 de janeiro de 2025

Perseguição maçónica a Dona Carlota e Dom Miguel

Já aqui tinha referido a perseguição criminosa feita à Rainha D. Carlota e ao Infante D. Miguel, assunto que é da maior importância, e que agora aprofundo mais um pouco:

Não são destituídos de interesse, para a questão, alguns artigos das Instruções Maçónicas do Grande Oriente Espanhol-Egípcio.
Art.º 3. Os franco-mações, nossos irmãos de Portugal, devem trabalhar para a separação de Dom João VI de sua Esposa. Devem com o maior cuidado vigiar o comportamento e a vida íntima da Rainha, assim como trabalhar por conhecer todas as conversações entre Dom Miguel e sua Mãe. Contudo é necessário que isto se faça com precauções extremas e com muita perspicácia, pois é indispensável que sejamos informados de tudo o que se passa.
Art.º 4. Deve-se procurar o meio de abrir todas as cartas da Rainha, a fim de conhecer as suas relações e de copiar delas tudo o que possa ter algum interesse para a Ordem. Todas estas informações, cópias, etc. devem ser transmitidas ao Conselho Soberano e ao Grão-Mestre da Ordem.
Art.º 6. Os irmãos devem empregar todos os meios para ganhar o diplomata C. P. (Palmela), que é partidário das Câmaras inglesas. Todos os outros os temos já tornado inimigos da Rainha e de seu Filho. Não temos nada a temer, e, no momento dado, tudo será preparado por nós para o restabelecimento da Constituição.
Art.º 18. Como é um princípio elementar de política, que é necessário dividir para mais facilmente vencer, é necessário trabalhar para semear a discórdia no seio da Família Real e introduzir de uma maneira hábil o espírito de desconfiança no Palácio, de sorte que aí se desconfie de todos, e que aqueles que dirigem o Estado estejam cheios de desassossego e medo, resultando daqui que as suas resoluções terão uma hesitação, o que acontecerá ainda aos homens perspicazes e dotados da melhor vontade a favor da Monarquia.
Lê-se ainda nestas Instruções, em relação ao Infante e à Rainha:
«Se como se deve esperar, a Rainha e seu Filho se opõem à Revolução, aproveitando-se da sua influência, e trabalham contra nós, fazendo demitir o Ministério, será então necessário que todos os diplomatas e todos aqueles que pertencem à Ordem, se reúnam para protestar contra semelhantes medidas e para declarar em face da Europa que a Rainha e o Infante lesam os direitos da legitimidade. Deve-se trabalhar para decidir os representantes estrangeiros a tomarem parte neste acto, em nome dos seus Soberanos. Desta arte os ministros serão conservados ou reintegrados no poder, e, sem o conhecer, Dom João VI preparará tudo para chegar à última vergonha a que o queremos arrastar.
«Se a Rainha e Dom Miguel, que conhecem o perigo que ameaça Portugal, e de que o Rei, enganado, nada sabe, persistem em contraminar o nosso desígnio de destronar o déspota e de restabelecer a Constituição, é de absoluta necessidade decidir o Rei a banir sua Esposa e seu Filho de terra portuguesa, para o que se procurarão pretextos aparentes que justifiquem a proscrição, o que nos será de uma extrema utilidade.»

Hermann Kuhn in «Dom Miguel de Portugal e o seu tempo», 1867


Fonte: Veritatis

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Santo Atanásio descreve a vida e tentações de Santo Antão

Antão foi egípcio de nascimento. Os seus pais eram de boa linhagem e abastados. Como eram cristãos, também o menino cresceu como cristão. Depois da morte dos seus pais ficou só com a sua única irmã, muito mais jovem. Tinha então uns dezoito a vinte anos, e tomou cuidado da casa e de sua irmã. Menos de seis meses depois da morte de seus pais, ia, como de costume, a caminho da igreja. Enquanto caminhava, ia meditando e reflectia como os apóstolos deixaram tudo, e seguiram o Salvador (Mt 4,20;19,27); como, segundo se refere nos Actos (4,35-37), os fiéis vendiam o que tinham e o punham aos pés dos Apóstolos para distribuição entre os necessitados, e quão grande é a esperança prometida nos céus para os que assim fazem (Ef 1,18; Col 1,5). 

Pensando estas coisas, entrou na igreja. Aconteceu que nesse momento se estava lendo o evangelho, e ouviu a passagem em que o Senhor disse ao jovem rico: "Se queres ser perfeito, vende o que tens e dá-o aos pobres, depois vem, segue-me e terás um tesouro no céu " (Mt 19,21). Como se Deus lhe houvera proposto a lembrança dos santos, e como se a leitura houvesse sido dirigida especialmente a ele, Antão saiu imediatamente da igreja e deu a propriedade que tinha de seus antepassados: trezentas "aruras", terra muito fértil e formosa. 

Não quis que nem ele nem sua irmã tivessem algo que ver com ela. Vendeu tudo o mais, os bens móveis que possuía, e entregou aos pobres a considerável soma recebida, deixando só um pouco para sua irmã. De novo, porém, entrando na igreja, ouviu aquela palavra do Senhor no evangelho: "Não se preocupem do amanhã" (Mt 6,34). Não pôde suportar maior espera, mas foi e distribuiu aos pobres também este pouco. Colocou sua irmã entre virgens conhecidas e de confiança, entregando-a para que a educassem.

Então dedicou todo o seu tempo à vida ascética, atento a si mesmo e vivendo de renúncia a si mesmo, perto de sua própria casa. Ainda não existiam tantas celas monásticas no Egipto, e nenhum monge conhecia sequer o longínquo deserto. Todo o que desejava enfrentar-se consigo mesmo, servindo a Cristo, praticava sozinho a vida ascética, não longe de sua aldeia. Naquele tempo havia na aldeia vizinha um ancião que desde sua juventude levava na solidão a vida ascética. Quando Antão o viu, "teve zelo pelo bem" (Gl 4,18), e se estabeleceu imediatamente na vizinhança da cidade. 

Desde então, quando ouvia que em alguma parte havia uma alma esforçada, ia, como sábia abelha, buscá-la e não voltava sem havê-la visto; só depois de haver recebido, por assim dizer, provisões para sua jornada de virtude, regressava. Aí, pois, passou o tempo de sua iniciação, se afirmou sua determinação de não voltar à casa de seus pais nem de pensar em seus parentes, mas a dedicar todas as suas inclinações e energias à prática contínua da via ascética. Fazia trabalho manual pois tinha ouvido que "o que não quer trabalhar não tem direito de comer" (2 Ts 3,10). Do que recebia guardava algo para sua manutenção e o resto dava-o aos pobres. Orava constantemente, tendo aprendido que devemos orar em privado (Mt 6,6) sem cessar (Lc 18,1; 21,36; 1 Ts 5,17). Além disso, estava tão atento à leitura da Sagrada Escritura, que nada se lhe escapava: retinha tudo, e assim a sua memória lhe servia de livro.

Mas o demónio, que odeia e inveja o bem, não podia ver tal resolução num jovem, e pôs-se a empregar suas velhas tácticas também contra ele. Primeiro tratou de fazê-lo desertar da vida ascética recordando-lhe sua propriedade, o cuidado da sua irmã, os apegos da parentela, o amor do dinheiro, o amor à glória, os inumeráveis prazeres da mesa e todas as demais coisas agradáveis da vida. Finalmente apresentou-lhe a austeridade e tudo o que se segue a essa virtude, sugerindo-lhe que o corpo é fraco e o tempo é longo. 

Em resumo, despertou em sua mente toda uma nuvem de argumentos, procurando fazê-lo abandonar seu firme propósito. O inimigo viu, no entanto, que era impotente em face da determinação de Antão, e que antes era ele que estava sendo vencido pela firmeza do homem, derrotado por sua sólida fé e sua constante oração. Pôs então toda a sua confiança nas armas que estão "nos músculos de seu ventre" (Jo 40,16). Jactando-se delas, pois são sua preferida artimanha contra os jovens, atacou o jovem molestando-o de noite e instigando-o de dia, de tal modo que até os que viam Antão podiam aperceber-se da luta que se travava entre os dois. 

O inimigo queria sugerir-lhe pensamentos baixos, mas ele os dissipava com orações; procurava incitá-lo ao prazer, mas Antão, envergonhado, cingia seu corpo com sua fé, orações e jejuns. Atreveu-se então o perverso demónio a disfarçar-se em mulher e fazer-se passar por ela em todas as formas possíveis durante a noite, só para enganar a Antão. Mas ele encheu seus pensamentos de Cristo, reflectiu sobre a nobreza da alma criada por Ele, e sua espiritualidade, e assim apagou o carvão ardente da tentação. E quando de novo o inimigo lhe sugeriu o encanto sedutor do prazer, Antão, enfadado com razão, e entristecido, manteve seus propósitos com a ameaça do fogo e dos vermes (cf Jd 16,21; Sir 7,19; Is 66,24; Mc 9,48) (20). Sustentando isto no alto, como escudo, passou por tudo sem se dobrar.

Toda essa experiência levou o inimigo a envergonhar-se. Em verdade, ele, que pensara ser como Deus, fez-se louco ante a resistência de um homem. Ele, que na sua presunção desdenhava carne e sangue, foi agora derrotado por um homem de carne em sua carne. Verdadeiramente o Senhor trabalhava com este homem, Ele que por nós tornou-Se carne e deu ao Seu corpo a vitória sobre o demónio. Assim, todos os que combatem seriamente podem dizer: "Não eu, mas a graça de Deus comigo" (1 Cor 15,10). 

Finalmente, quando o dragão não pôde conquistar Antão nem por estes últimos meios, mas viu-se arrojado de seu coração, rangendo os seus dentes, como diz a Escritura (Mc 9,17), mudou, por assim dizer, sua pessoa. Tal como é seu coração, assim lhe apareceu: como um moço preto; e como inclinando-se diante dele, já não o molestou com pensamentos - pois o impostor tinha sido lançado fora - mas usando voz humana disse-lhe: "A muitos enganei e venci; mas agora que te ataquei a ti e a teus esforços como o fiz com tantos outros, mostrei-me demasiadamente fraco". "Quem és tu que me falas assim?", perguntou-lhe Antão. Apressou-se o outro a replicar com a voz lastimosa: "Sou o amante da fornicação. A minha missão é espreitar a juventude e seduzi-la; chamam-me o espírito de fornicação. A quantos eu enganei, decididos que estavam a cuidar de seus sentidos! A quantas pessoas castas seduzi com minhas lisonjas! 

Eu sou aquele por cuja causa o profeta censura os decaídos: "Foram enganados pelos espírito da fornicação" (Os 4,12). Sim, fui eu que os levei à queda. Fui eu que tanto te molestei e tão a miúde fui vencido por ti". Antão deu, pois, graças ao Senhor e armando-se de coragem contra ele, disse: "És então inteiramente desprezível; és negro em tua alma e tão débil como um menino. Doravante já não me causas nenhuma preocupação, porque o Senhor está comigo e me auxilia: verei a derrota de meus adversários" (Sl 117, 7). Ouvindo isto, o negro desapareceu imediatamente, inclinando-se a tais palavras e temendo acercar-se do homem.

Assim dominou-se Antão a si mesmo. Decidiu então mudar-se para os sepulcros que se achavam a certa distância da aldeia. Pediu a um dos seus familiares que lhe levasse pão a longos intervalos. Entrou, pois, em uma das tumbas; o mencionado homem fechou a porta atrás dele, e assim ficou dentro sozinho. Isto era mais do que o inimigo podia suportar, pois em verdade temia que agora fosse encher também o deserto com a vida ascética. Assim chegou uma noite com um grande número de demónios e o açoitou tão implacavelmente que ficou lançado no chão, sem fala pela dor. 

Afirmava que a dor era tão forte que os golpes não podiam ter sido infligidos por homem algum para causar semelhante tormento. Pela Providência de Deus - porque o Senhor não abandona os que nele esperam - seu parente chegou no dia seguinte trazendo-lhe pão. Quando abriu a porta e o viu atirado no chão como morto, levantou-o e o levou até a igreja da aldeia e o depositou sobre o solo. Muitos de seus parentes e da gente da aldeia sentaram-se em volta de Antão como para velar um cadáver. Mas pela meia-noite Antão recobrou o conhecimento e despertou. Quando viu que todos estavam dormindo e só seu amigo se achava desperto, fez-lhe sinais para que se aproximasse e pediu-lhe que o levantasse e levasse de novo para os sepulcros, sem despertar ninguém. O homem levou-o de volta, a porta foi trancada como antes e de novo ficou dentro, sozinho. 

Pelos golpes recebidos estava demasiado fraco para manter-se de pé; orava então, estendido no solo. Terminada sua oração, gritou: "Aqui estou eu, Antão, que não me acovardei com teus golpes, e ainda que mais me dês, nada me separará do amor de Cristo (Rm 8,35). E começou a cantar: "Se um exército se acampar contra mim, meu coração não temerá" (Sl 26,3). Tais eram os pensamentos e palavras do asceta, mas o que odeia o bem, o inimigo assombrado de que depois de todos os golpes ainda tivesse valor para voltar, chamou seus cães e arrebatado de raiva disse: "Vêem vocês que não pudemos deter esse tipo nem com o espírito de fornicação nem com os golpes; ao contrário, chega até a desafiar-nos. Vamos proceder contra ele de outro modo". A função de malfeitor não é difícil para o demónio. 

Essa noite, por isso, fizeram tal estrépito que o lugar parecia sacudido por um terremoto. Era como se os demónios abrissem passagens pelas quatro paredes do recinto, invadindo impetuosamente através delas em forma de bestas ferozes e répteis. De repente todo o lugar se encheu de imagens fantasmagóricas de leões, ursos, leopardos, touros, serpentes, víboras, escorpiões e lobos; cada qual se movia segundo o exemplar que havia assumido. O leão rugia, pronto a saltar sobre ele; o touro, quase a atravessá-lo com os chifres; a serpente retorcia-se sem o alcançar completamente; o lobo acometia-o de frente. E a gritaria armada simultaneamente por todas essas aparições era espantosa, e a fúria que mostravam, feroz. 

Antão, atormentado e pungido por eles, sentia aumentar a dor em seu corpo; no entanto, permanecia sem medo e com o espírito vigilante. Gemia, é verdade, pela dor que atormentava seu corpo, mas a mente era senhora da situação e, como por debique, dizia-lhes: "Se tivessem poder sobre mim, teria bastado que viesse um só de vocês; mas o Senhor lhes tirou a força e por isso se esforçam em fazer-me perder o juízo com seu número; é sinal de fraqueza terem de imitar animais ferozes". De novo teve a valentia de dizer-lhes: "Se é que podem, se é que receberam poder sobre mim, não se demorem, venham ao ataque! E se nada podem, para que esforçar-se tanto sem nenhum fim? Porque a fé em Nosso Senhor é selo para nós e muro de salvação". Assim, depois de haver intentado muitas argúcias, rangeram os dentes contra ele, porque eram eles próprios que estavam ficando loucos e não ele.

De novo o Senhor não se esqueceu de Antão na sua luta, mas veio ajudá-lo. Quando olhou para cima, viu como se o tecto se abrisse e um raio de luz baixasse até ele. Foram-se os demónios de repente, cessou-lhe a dor do corpo, e o edifício estava restaurado como antes. Notando que a ajuda chegara, Antão respirou livremente e sentiu-se aliviado das suas dores. E perguntou à visão: "onde estavas tu? Por que não aparecestes no começo para deter minhas dores?" E uma voz lhe falou: "Antão, eu estava aqui, mas esperava ver-te enquanto agias. E agora, porque aguentaste sem te renderes, serei sempre teu auxílio e te tornarei famoso em toda parte". Ouvindo isto, levantou-se e orou: e ficou tão fortalecido que sentiu o seu corpo mais vigoroso que antes. Tinha por aquele tempo uns trinta e cinco anos de idade”.

Santo Atanásio in 'Vida de Santo Antão'

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

D CARLOTA JOAQUINA - UM ESPÍRITO CONTRA-REVOLUCIONARIO

Cumpre-se a 7 de Janeiro, o 195º aniversário da morte da Rainha D Carlota Joaquina.
Defensora inquebrantável do Legitimismo, resistiu até ao final da sua vida, ao exílio e às ameaças de prisão da corja liberal, ao recusar-se a subscrever a famigerada carta constitucional, imposta a um Rei debilitado que perante a burla liberal, estava crente de que se tratava da compilação das sábias Leis do Reino.
É a António Sardinha que cabe o mérito da defesa da Rainha mais insultada, vilipendiada e vítima segura de mais uma ‘lenda negra’ da nossa história, no seu livro ‘Ao princípio era o verbo’,
D Carlota Joaquina, cuja encarnação do “espírito instintivo da Contra -Revolução “, lhe valeu o exílio ao recusar assinar a miserável Carta Constitucional de 1822, no fundo uma rendição de Portugal às ideias revolucionárias defendidas pela maçonaria e consequentemente pelos liberais.
O motivo de tão grande ódio tem a ver com algo inusitado, sobre alguém que conseguiu ser Rainha de Portugal e ao mesmo tempo, representante de D Fernando VII nos Reinos da América do Sul, quando este e seus filhos se encontravam presos à mercê dos invasores de uma França sanguinária e revolucionária.
Após a prisão de D Fernando VII e demais membros masculinos da família por Napoleão, D Carlota Joaquina tudo faz para que as Cortes espanholas a reconhecessem como regente de Espanha, o que não foi aceite, pois tal apontava para o perigo de um domínio português em toda a América do Sul.
“(…) Manifesta-se o génio político de D Carlota Joaquina, aquecido pelo fogo da sua ambição. Era um temperamento excepcional de mulher, a quem a intriga e o insucesso não deixaram nunca vencer. D Carlota Joaquina, soberana no Rio da Prata e D João VI no Rio de Janeiro, seriam de futuro, na pessoa dos seus descendentes, um formidável império Sul-americano, constituído solidamente. As dilações da corte do Rio, com muito entrave britânico à mistura, não permitiram que o instante oportuno se aproveitasse (…)”.
É impossível também esquecer o momento em que disponibiliza as suas jóias pessoais ao marquês de Casa-Irujo, embaixador de Espanha no Rio de Janeiro, para auxiliar a fidelidade de Montevideu à legitimidade da Coroa de Espanha e à Tradição Católica.
Pediam 80 a 100 mil pesos para organizar a defesa contra “los progresos de Los alborotadores de Buenos Aires” e o embaixador na impossibilidade de os arranjar, nem por empréstimo, recorre a D Carlota Joaquina que lhe apresenta todas as suas jóias dizendo, ‘esta no te la puedo dar, porque és el retrato de mi marido, pêro todas las demás que aqui vés y creo valen 7 o 8 veces más de la soma que necesitas, estan a tu disposicion, vendelas, empenalas, hace lo que queiras, com tal que se socorra inmediatamente Montevideu”.
Uma Rainha ímpar, fiel a Portugal e capaz de, nas palavras do marquês Casa-Irujo, “Un rasgo de magnanimidad y generosidad tan repentina como sublime, digna de aquella Isabel, glória de las reynas de Espana, (…) “
É ela quem contraria os “partidos e camarilhas que se agitavam em torno de D João VI dominado pelo favorito Lobato, pelo Conde de Linhares e pelo embaixador Inglês” e que marca o “começo do seu descrédito como mulher”.
Infanta de uma educação esmerada, com uma cultura acima da média e de uma profunda religiosidade, enquanto Rainha “encarnou a mais profunda das nossas aspirações nacionais”, quando recusou a ruína que uma revolução de origens maçónicas, cujo objectivo visava, secretamente, uma unificação com Espanha e perante a qual o Rei, profundamente influenciado, primeiro pela horda de Fernandes Tomás e depois, pela camarilha dos Palmelas e Pamplonas, se prostrou como um “pobre manequim coroado”, o que, a partir daí, se tornou a afirmação estatutária de todos os Reis constitucionais e, aparentemente, dos seus actuais pretendentes.
É nessa altura que sai em sua defesa, José Acurcio das Neves, sem temor às mais vis ameaças e aos apupos da aleivosia liberal.
D Miguel tenta ainda libertar D João VI da teia que o mantinha imóvel, perante a já visível destruição de Portugal, mas os ‘préstimos’ de uma maçonaria que via em D Miguel e D Carlota Joaquina um perigo para a sua revolução, passaram por espiar as suas vidas, conversas e correspondência daquele que consideramos o nosso último Rei Legitimo tenazmente perseguido, depois deste, ainda príncipe, ter mandado prender a 30 de Maio de 1824 os ministros que mantinham relações com os refugiados em Inglaterra, valendo-lhe então um apertado desterro em Viena de Áustria e à Rainha, no Convento da Estrela, a que recolhera.
“Nas hesitações da sucessão, D Miguel regressa ao reino, e, assumindo a regência, as cortes gerais de 28 acalmaram-no como Rei, em virtude das leis do país e da escolha da nação.
Doente e velha, D Carlota Joaquina teve, nos dias derradeiros, a consolação de ver no trono o seu filho mais querido”.
Que o exemplo de D Carlota Joaquina, José Acúrcio das Neves, D Miguel e de todos aqueles que recusaram silenciar-se, para preservar qualquer parco estatuto, ou bolsa de moedas, nos ilumine nestes exigentes momentos, em que nos deixamos dominar pelo medo e pela preguiça.
Por Deus, Pátria e Rei legitimo!
Valentim Rodrigues

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Se quiseres ser feliz...

Saúda Maria
Pensa em Maria
Repete o nome de Maria
Honra Maria
Glorifica sempre Maria
Dirige o teu olhar a Maria
Recolhe-te na tua casa com Maria
Trabalha com Maria
Vigia com Maria
Ora com Maria
Caminha com Maria
Descansa com Maria
Procura Jesus com Maria
Leva Jesus nos teus braços com Maria
Vive em Nazaré com Jesus e Maria
Vê Jerusalém com Maria
Permanece ao pé da cruz de Jesus com Maria
Deseja viver e morrer com Jesus e Maria.

Tomás de Kempis

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

EFEMÉRIDE: MORTE DE MOUZINHO DE ALBUQUERQUE

“A fortuna do Mundo é serem eles tão poucos,

Porque a Natureza, como aos leões,

Felizmente os fez raros.”

Gaspar Correia, Lendas da Índia 

(Referindo palavras do inimigo, sobre os portugueses durante o cerco de Diu, em 1538).


Fez no dia 8 de Janeiro de 2025, 123 anos que Mouzinho de Albuquerque faleceu aos 46 anos de idade.

Não tendo ele sido futebolista, baladeiro ou estrela rock “progressista”, tão pouco um politiqueiro vira casacas e intriguista, dos que por aí abundam ou abundaram, não custa acreditar que a grande maioria dos portugueses não o conhece, nem sequer ouviu dele falar (seguramente aqueles com idades inferiores a 70 anos).

Como ainda por cima se suicidou metendo uma bala na cabeça (“teve a coragem de se meter na sepultura quando começou a derrocada que conheceu, não poder sustar…”, no dizer do General Gomes da Costa), em vez de ser por “overdose”, a sua morte não sugere encómios ou nem palavrosas lembranças dos opinadores de serviço, o principal dos quais passa umas horas semanais num modesto palácio, em Belém.1

Nem a propaganda pela “Eutanásia”, salva o nosso Mouzinho!

*****

Por isso é mister começar por dizer umas palavras breves, sobre a figura do Tenente-coronel, da Arma de Cavalaria, do Exército Português, Joaquim Augusto

Mouzinho de Albuquerque (Batalha, 12/11/1855 - Lisboa, 8/1/1902), descendente de uma das famílias portuguesas mais ilustres.2

Quando nasceu, reinava em Portugal o muito prometedor Rei, o Senhor D. Pedro V, que a doença ceifou prematuramente. Durante toda a vida de Mouzinho a situação em Portugal foi de grande perturbação política, social, económica e financeira e por todo o mundo havia ameaças potenciais e reais, à soberania portuguesa dos seus territórios.

Mouzinho alistou-se no Exército, em 1871, sendo promovido a Alferes em 1876, após concluir o Curso de Cavalaria na então Escola do Exército.

Em 1884 é promovido a tenente e nomeado Regente de Estudos no Real Colégio Militar; em 1886, embarca para Goa, onde exerceu várias funções, acabando como Secretário-geral do Governo da Índia; em 1890 é promovido a Capitão e nomeado Governador do distrito de Lourenço Marques, cargo que exerceu durante dois anos, após o que regressa à Metrópole, sendo colocado no Regimento de Cavalaria 8 e 4, onde fica até 1895. Em Janeiro de 1895 forma esquadrão em Lanceiros 1 e embarca para Moçambique, a 15 de Abril.

A 10 de Dezembro é nomeado Governador Militar do Distrito de Gaza e a 13 de Março de 1896 é nomeado Governador - Geral, ascendendo, em 27 de Novembro, a Comissário Régio.

Chega a Portugal, em 15 de Dezembro de 1897, onde é alvo de grandes homenagens e viaja de seguida pelo estrangeiro onde é recebido por altas entidades na Grã-Bretanha e Irlanda; França e Alemanha.

Regressa a Moçambique em 22 de Abril e entra em conflito com o Governo, que lhe cerceia as competências e pede a demissão do cargo, em Julho de 1898, regressando a Lisboa onde desembarca a 14 de Dezembro.

O Rei nomeia-o Ajudante de Campo e é convidado para o Conselho de Sua Majestade; Aio do Príncipe Real D. Luís Filipe e Oficial-Mor da Casa Real. É alvo de várias homenagens.

É promovido a Tenente-coronel do Estado-Maior, em 1901.

Possuía 22 condecorações nacionais e estrangeiras, entre as quais duas Ordens da Torre e Espada.

Põe termo à vida, em Lisboa (Benfica), em 8 de Janeiro de 1902. Tinha 46 anos e deixa viúva D. Maria José Gaivão Mouzinho de Albuquerque, esposa amantíssima e dedicada, que chegou a chefiar um hospital de campanha, no Chibuto (Moçambique).

Sem descendência.3

*****

A vida de Mouzinho foi uma bíblia de pundonor, competência e audácia. E valor.

Mouzinho como homem inspirou-se em Robert Clive, Lyautey, Caldas Xavier e Joaquim Durant (Comandante da Cavalaria de Napoleão). Era um homem de carácter e um homem de bem. Era rijo e possuía uma resistência fora do comum à fadiga, ao frio, à fome e era um trabalhador incansável. Não era simpático para o comum das pessoas, que assim não poderiam apreciar a lhaneza do seu trato íntimo. Era autocrata, orgulhoso e capaz de decisões rápidas.

Era leal e possuía grande capacidade de liderança. “Audácia e Método” seria um lema que se lhe aplicaria bem. Não confiava nos políticos de então, que o temiam e não poucas vezes o tentaram derrubar.

E como afirmou Júlio Dantas, Mouzinho era grande demais para caber na sociedade portuguesa de então.4

Mouzinho foi ainda um excelente Administrador, como é revelado pela sua acção na Índia e Moçambique e estava bastante à frente do seu tempo, sendo adepto da descentralização administrativa e do combate à corrupção.

Mas onde Mouzinho mostrou o seu real valor foi como militar e nos combates e campanhas em que participou ou comandou, tendo sempre saído vitorioso. Em todas.

Lembramos, o combate de Coolela; a ocupação do Manjacaze; a pacificação do Maputo; a campanha dos Namarrais, onde se travaram os combates de Mujenga, Naguema, Ibrahimo e Mucuto-Muno; a campanha de Gaza (considerada a melhor realizada no sul de África), onde se registaram os combates de Macontene (que deu origem a ser considerado o Dia da Cavalaria – 21 de Julho), Mapulanguene e Calapati; as campanhas da Zambézia, em 1897/8.5

Mas foi o “golpe de mão” sobre Chaimite, onde 46 militares caíram sobre o “Kraal” do Gungunhana protegido por 3,000 guerreiros, aprisionando aquele que durante anos, tinha sido um chefe rebelde à soberania portuguesa (uma rebelião fomentada e armada, pelos ingleses). Uma façanha que espantou o mundo de então e que imortalizou Mouzinho para todo o sempre.6

Chaimite representa assim uma glória exaltante dos nossos brios patrióticos.7

E bem pode dizer-se que Mouzinho não era dotado de espírito militar, ele era o espírito militar!

Repete-se, a vida de Mouzinho, à parte a forma como se retirou dela – pode considerar-se o que Eça disse sobre Guerra Junqueiro: “concluindo que a vida não lhe convinha, retirou-se dela voluntariamente” – é uma Bíblia de vida. Uma bíblia de pundonor, de nobreza, de altos valores políticos, morais e sociais e de bem - fazer. Por isso os seus escritos ficam e o seu exemplo arrasta.

Mouzinho escrevia bem (e apreciava Eça de Queiroz a quem chamava o “ilustre José Maria”) e deixou-nos, além do livro “Moçambique”, que relata a sua acção como Comissário Régio, três cartas onde revela o seu superior carácter. São elas a carta que escreveu ao Presidente do Conselho, Luciano de Castro, em 1898, aquando da sua demissão de Comissário Régio;8 a carta que dirigiu ao seu substituto no cargo, Conselheiro Álvaro da Costa Ferreira, em que coloca o novo governador ao corrente da situação da então colónia, e a carta que dirigiu, em 1901, ao Príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, enquanto seu Aio. Esta carta devia fazer parte do programa escolar, nos primeiros anos do ensino secundário e lida a todos os alunos.

Resta a sua morte, que nos ficou a pesar.

No dia aprazado para essa infausta decisão, almoçou no “Turf Club” (ainda existente) ao Chiado. Nele escreveu três cartas, uma para sua mulher, outra para o Conde de Tarouca e a terceira para a Rainha D. Amélia.

Saiu, foi a um armeiro na Rua do Ouro (a Casa Reynold’s) e comprou um revolver “bulldog”; meteu-se em seguida numa caleche e mandou bater para a Estrada das Laranjeiras. O cocheiro parou quando ouviu um tiro. Mouzinho estava morto.

As cartas poderiam revelar certamente muito sobre as causas da sua morte. Mas aquela dirigida à mulher não foi lida por ninguém e foi com ela para o túmulo; a escrita ao Conde de Tarouca foi queimada e nunca lida depois da morte deste, por desígnio testamentário; a terceira desapareceu e foi encontrada mais tarde na Torre do Tombo, dizia: “Minha Senhora / Perdoe-me Vossa Majestade e não me ache cobarde pelo que fiz. Mas ser tido em mau conceito, ser desprezado é mais do que posso. Não creio que o suicídio nestas circunstâncias não seja um direito. Minha Senhora! Vossa Majestade nada perde senão um homem que no seu serviço fazia tudo e de tudo era capaz. Mas não poude ser. Paciência. Perdoe-me Vossa Majestade e reze por mim, se acredita que existe alma. Eu não acredito. Beijo as mãos de Vossa Majestade cheio como sempre de reconhecimento e dedicação. Seu maior criado. Mouzinho de Albuquerque”.

Foi, no entanto, a Rainha D. Amélia, que nutria especial afeição por Mouzinho, que melhor levantou o véu do mistério, no livro que escreveu antes da sua morte: “Eu, Amélia, Rainha de Portugal”. Por ele ficámos a saber que era convicção da soberana que Mouzinho pretendeu com o seu sacrifício, pôr fim definitivo às atoardas postas a correr e que atentavam contra a honra de ambos.

Este audacioso, mas reflectido, militar português – que seguramente faz parte dos poucos a que se refere a citação inicial de Gaspar Correia – jaz em campa rasa (simples e bonita) no Cemitério dos Prazeres.

Pelas suas qualidades militares foi feito Patrono da Arma de Cavalaria e penso que, apesar do desvario dos tempos, ainda hoje é admirado e venerado por todos os parcos militares dessa Arma que ainda subsistem.9

Há anos atrás fui visitar a campa e encontrei-a num estado lastimoso; espero que, entretanto, o pouco que resta do Exército Português tenha encontrado o brio necessário para cuidar da mesma.

*****

Estamos, pois, perante uma dívida relativamente a Mouzinho: cuidar da sua memória.10

Mas resta ainda uma outra que é consubstanciada no único desejo que deixou à posteridade: ser sepultado no Mosteiro da Batalha, onde foi baptizado, desde que a sua mulher pudesse ficar a seu lado.11

E se a Mouzinho assiste todo o direito em repousar na Batalha – o que nada interfere com a cerimónia ao “soldado desconhecido”, na sala do Capítulo – o mesmo acontece a sua mulher D. Maria José Gaivão Mouzinho de Albuquerque, já que é digna de ombrear com as muitas “Filipas de Vilhena” e “Marias de Lencastre”, da nossa vetusta História.

E como epitáfio para o herói creio que ficariam bem as palavras de D. Carlos I quando soube da sua morte:

“De Mouzinho ficará sempre a memória do homem que prestou ao País e ao Seu Rei os mais relevantes serviços”.12

Assim seja.

João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador (Ref.)

1 Todas as grandes religiões condenam o suicídio. A razão é simples: sendo a vida um “sopro” de Deus, só este Ente, a pode levar.

2 A sua origem recua a Afonso Sanches, primeiro filho natural do Rei D. Dinis, que era, então, Senhor de Albuquerque (hoje terra espanhola), de onde deriva o apelido.

3 Em 1935, realizaram-se várias homenagens promovidas pela Câmara Municipal de Lisboa e Agência Geral das Colónias, em comemoração do 40º aniversário de “Chaimite”. Na altura descerrou-se uma placa na casa que foi de Mouzinho, na Rua das Trinas, onde vivia sua viúva e que dizia: “Nesta casa viveu Joaquim Mouzinho de Albuquerque, glorioso oficial de Cavalaria, Herói de Chaimite, uma das mais brilhantes figuras militares portuguesas e um dos mais notáveis Administradores Coloniais, 1855-1902”. No centenário do seu nascimento, em 1955, o Governo de então, promoveu um extenso número de comemorações presididas pelo chefe de Estado, General Craveiro Lopes, repartidas entre a Metrópole e o Ultramar, que culminou com o desfile de 5.000 militares pela Av. da Liberdade, em continência à Espada de Mouzinho.

4 O Rei D. Carlos chegou a dizer de Mouzinho, ao Presidente do Conselho, Luciano de Castro: “Não posso pôr diante dos olhos do meu filho, nem mais valentia, nem mais amor ao seu Rei, nem mais lealdade á Pátria”.

5 Em Macontene Mouzinho acabou a comandar pessoalmente, a carga de cavalaria dos 50 militares em condições de montar a cavalo, saindo do quadrado, empunhando um “stick”… 6 Quando alguém contou o episódio à Rainha Victória, ela não queria acreditar…

7 Algo que, hoje em dia, é quase considerado um anátema…

8 O Chefe do Governo sentiu-se ofendido pelas considerações feitas na missiva e quis fazer julgar Mouzinho em tribunal militar, no que foi dissuadido pelo Rei, dizendo-lhe que “não haveria no Exército português, oficiais que se prestassem a juízes de semelhante réu”.

9 Infelizmente uma boa mão cheia de oficiais da Arma (e não só) olvidou o exemplo do seu patrono e portaram-se muito mal, nos idos de 1974/5.

10 E não cuidar da memória do Vátua Gungunhana (e outros traidores à Pátria Portuguesa), como parece ser o caso relativamente a um filme por estrear.

11 Estou certo que para tão ilustre baptizado se encontraria uma “dispensa” em se realizar um enterramento em solo sagrado, ultrapassando os “pruridos” eclesiásticos da Santa Madre Igreja, relativamente ao modo como partiu desta vida.

12 Em Lourenço Marques, actual Maputo, terra que leva um historial de 50 anos de delapidação e convulsão em todos os campos da sociedade, e capital de um Estado falhado, havia uma elegante estátua equestre de Mouzinho de Albuquerque. Esta estátua foi (mal) apeada do local nobre da cidade, onde se encontrava, na sequência das loucuras ditas revolucionárias de então. Bem andariam as autoridades portuguesas em contribuir para que a mesma fosse reposta no seu lugar ou mesmo num museu (em vez de andarem a contribuir com o dinheiros dos nossos impostos para a construção de um museu em Luanda, a fim de dizerem mal dos portugueses). Mouzinho faz parte da história de Moçambique.


Fonte: O Adamastor