quinta-feira, 25 de abril de 2024

25 de Abril de 1828: Aclamação de SMF D Miguel I

“O povo espantava-se de se achar tão grande, tão livre, tão rico em direito teórico; porque na realidade, as coisas estavam pouco mais ou menos na mesma.”
“Sem entrarmos em maiores detalhes, é o próprio Alexandre Herculano quem instrui o processo da gente de 20. “ Mandaram a D João II e a D João III, nos seus túmulos o código do absolutismo e a bula da Inquisição, - escreve ele nos Opúsculos. Queimaram profusamente a cera e o azeite em iluminações brilhantes, vestindo-se de riche nacional, horrorosamente grosseiro e bastante caro.
Foi um tiroteio de banquetes, procissões, foguetes, discursos, arcos de triunfo, revistas, Te Deum, eleições, artigos de jornais e salvas de artilharia”. É Herculano, minudenciando com uma leveza que nem parece sua , prossegue em traços felizes de caricatura:- “ Todos os dias havia novas festas e babava-se por elas. Era um saleiro de hinos, sonetos, canções, dramas, cortes de fatos e formas de sapatos liberais…”
“ Multiplicam-se as lojas maçónicas: os tolos iam lá gastar dinheiro em honra do “supremo arquitecto do Universo”, e outros a comer-lho em honra do mesmo arquitecto. Reuniram-se as Cortes. Fez-se uma constituição republicana, mas inteiramente inadequada ao país .
Repetiram-se , palavra por palavra, traduzidos em português, os discursos mais celebres do choix des rapports , ou das páginas mais excêntricas de Rousseau e de Bentham.
O povo espantava-se de se achar tão grande, tão livre, tão rico em direito teórico; porque na realidade, as coisas estavam pouco mais ou menos na mesma.”
O texto, de António Sardinha na sua obra Ao Ritmo da Ampulheta, retrata bem o intemporal logro da revolução.
A partidocracia prepara-se agora, para celebrar os cinquenta anos da sua revolução, a quarta que a Pátria Portuguesa sofre neste turbilhão que a vai destruindo.
Gabava-se um comentador, há dias, dos enormes ganhos que esta última revolução nos trouxe:- da evolução técnica da saúde, (como se tal fosse uma conquista revolucionária), das pensões , da massificação do ensino, até dos milhares de quilómetros de autoestradas que vem sendo construídos. Falou extasiado da escravidão da Pátria às “novas uniões”.
Esqueceu, contudo, que não vivemos em democracia. A democracia obriga ao sorteio e os governos de poder ilimitado a que estamos sujeitos, não dependem de sorteios, nem de uma “soberania popular”, pois tal, na verdade, não existe.
Existe sim a vontade indiscutível e sem recurso a sufrágios, de partidos que nomeiam deputados, presidentes de câmara e juízes, para a pura e estrita satisfação dos seus interesses mais intimos.
Até porque, sendo a Soberania uma supremacia que se exerce constantemente, ela jamais esteve, ou estará, nas mãos do povo.
Esqueceu também, que as liberdades comunitárias, aquelas que foram o braseiro onde se forjou a nossa Pátria, foram totalmente destroçadas pela revolução em 1835, momento em que partidocracia Constitucional entregou o poder das Freguesias e Municípios a um governo de poder centralizado e ilimitado.
Esqueceu que todos os nossos “problemas estruturais” se devem aos sucessivos processos revolucionários e para os quais a revolução, não quer encontrar solução.
Esqueceu de nos explicar, porque passados duzentos anos de amputações revolucionárias, de democracias uni e pluripartidárias, a fome continua a existir, a sua tão prometida igualdade continua a ser uma miragem e a solidariedade um paradoxo, nestas sociedades decapitadas do seu Bem Comum e entregues ao mais torpe e destrutivo egoísmo.
A Revolução, depois de nos prostrar, no deplorável estado comatoso em que nos encontramos, encaminha-nos agora para a morte.
E nunca é demais recordar Alexandre Herculano, pois as coisas estão mais ou menos na mesma: Há uma polícia de pensamento, que persegue e cala, quem ousar pôr em causa as suas teorias pseudo -científicas, quem se atrever a combater um regime que dê democrata só lhe resta o nome; a iliteracia escorre pelas vielas do conhecimento da “geração com mais estudos de sempre”; a ignorância e um cretinismo massificado tingem visivelmente a sociedade.
Mas as Pátrias precisam do vigor refrescante de um Bem Comum.
E se por Vontade de Deus somos uma Pátria, então por amor a Deus e à Pátria ergamos a Cruz como guia e desfraldemos as bandeiras da Tradição!
Somos, portanto, profundamente reacionários, porque nos opomos à monstruosidade destrutiva de qualquer revolução.
Por isso, neste vinte cinco de Abril celebremos pois, não a negra desgraça da revolução de 74, mas a aclamação de SMF D Miguel I, o último Rei da Tradição Católica de Portugal.
Por Deus, Pátria e Rei

quarta-feira, 24 de abril de 2024

25 de Abril: "A miséria continua, se é que não aumentou"


A miséria continua, se é que não aumentou; e sobretudo, há cinquenta anos, esperava-se uma vida melhor para as novas gerações na maioria das famílias.  Hoje, os filhos têm a expectativa de uma vida mais difícil e pior do que a dos pais.  Os salários mínimos e médios são dos mais baixos da Europa.

Eu não tive muitas expectativas em relação ao 25 de Abril.  Para mim foi essencialmente um movimento corporativo, ditado, em parte, pelo cansaço, no Corpo de Oficiais, em relação à guerra. Um movimento com o qual o governo de Marcelo Caetano não soube lidar, ora concedendo, ora reprimindo, de forma indecisa, contraditória e pouco eficaz.

Para mim e para os que, nos anos sessenta, acreditávamos num projecto de nação plurirracial e pluricontinental, pela qual tinham combatido e morrido alguns dos nossos amigos, para os que éramos e somos, antes do mais, nacionalistas, o 25 de Abril foi o fim desse ideal, desse projecto, do que agora nos aparece como uma utopia.  Por isso não tínhamos muitas expectativas.

Mas o geral dos portugueses, que acreditaram na letra das promessas de Abril, esperavam, com o fim do regime autoritário e a chegada da democracia política, uma sociedade mais justa, uma vida melhor, para eles e para os seus filhos.  Cinquenta anos passados, não creio que devam estar muito contentes.

A miséria continua, se é que não aumentou; e sobretudo, há cinquenta anos, esperava-se uma vida melhor para as novas gerações na maioria das famílias.  Hoje, os filhos têm a expectativa de uma vida mais difícil e pior do que a dos pais.  Os salários mínimos e médios são dos mais baixos da Europa e os serviços públicos entraram em crise, mesmo o Serviço Nacional de Saúde, que chegou a ser das poucas excelências do país e do regime.

Não temos censura prévia, mas poucas vezes se viu uma tão grande uniformidade de opiniões em tudo o que tem alguma importância, em política externa ou interna.  E a dissidência, que dantes era interdita, continua a sê-lo, embora por processos mais sofisticados e sob a aparência de pluralidade.

Mas como, para o mal e para o bem, acabamos sempre por sofrer a influência da Europa, a nova vaga nacionalista, mais conservadora ou mais popular, já aí está e pode vir a trazer algum equilíbrio.

Quanto às novas gerações, não tenho idade nem procuração para falar por elas.  Mas, a julgar pelas indicações da sociologia eleitoral, creio que as novas gerações são mais livres da propaganda do regime e da sua influência, que é muito televisiva.  Vejo isso também pelo contacto que vou tendo, em termos pessoais.  Apesar dos dispositivos orwellianos que, com o aproximar do meio século do golpe militar, se concentram em pintar os horrores do regime e o PREC como um período revolucionário, heroico e generoso, vejo que muitos dos mais novos – pelo menos os que têm alguma independência – não se deixam enganar e são críticos.

Isso deixa-nos a nós, mais velhos, uma certa esperança, sobretudo aos que sempre procurámos preservar um juízo objectivo da História e das realidades das coisas e nunca nos importámos muito de ser uma minoria marginalizada.

Jaime Nogueira Pinto

Fonte: jornal I

segunda-feira, 22 de abril de 2024

22 de Abril de 1500 - Achamento Oficial do Brasil (Terra de Vera Cruz)

“SENHOR

Posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que para o bem contar e falar o saiba pior que todos fazer.
Mas tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual, bem certo, creia que por afremosentar nem apear haja aqui de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.
Da marinhagem e singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza, porque o não saberei fazer e os pilotos devem ter esse cuidado.
E, portanto, Senhor, do que hei-de falar começo e digo que a partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira, 9 de Março.
E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achámos entre as Canárias, mais perto da Grã Canária. E ali andámos todo aquele dia, em calma, à vista delas, obra de três ou quatro léguas.
E domingo, 22 do dito mês, às 10 horas, pouco mais ou menos, houvemos vista das ilhas do Cabo Verde, isto é, da ilha de S. Nicolau, segundo dito de Pêro Escobar, piloto. E a noute seguinte, à segunda-feira, quando lhe amanheceu, se perdeu da frota Vasco d'Ataíde, com a sua nau, sem aí haver tempo forte nem contrairo para poder ser. Fez o capitão suas diligências para o achar, a umas e a outras partes, e não apareceu mais.
E assim seguimos nosso caminho por este mar e longo, até terça-feira d'oitavas de Páscoa, que foram 21 dias d'Abril, que topámos alguns sinais de terra, sendo da dita ilha, segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas, os quais eram muita quantidade d'ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho e assim outras, a que também chamam rabo d'asno.
E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topámos aves, a que chamam fura-buchos. E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d'um grande monte, mui alto e redondo, e d'outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz.
Mandou lançar o prumo, acharam 25 braças, e, ao sol-posto, obra de 6 léguas de terra, surgimos âncoras em 19 braças; ancoragem limpa. Ali ficámos toda aquela noute.
E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos direitos à terra e os navios pequenos diante, indo por 17, 16, 15, 14, 13, 12, 10 e 9 braças até meia légua de terra, onde todos lançámos âncoras em direito da boca dum rio. E chegaríamos a esta ancoragem às 10 horas, pouco mais ou menos.
E dali houvemos vista d'homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por chegarem primeiro. Ali lançámos os batéis e esquifes fora e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do capitão-mor e ali falaram. E o capitão mandou no batel, em terra, Nicolau Coelho, para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens.
Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram.
Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na costa. Somente deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas como de papagaio; e outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza, e com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.
Sendo Afonso Lopes nosso piloto, por ser homem vivo e destro, meteu-se logo no esquife a sondar o porto. E tomou uma almadia dos homens da terra, mancebos de bons corpos. Trouxe-os logo, já de noute, ao capitão, outros foram recebidos com muito prazer e festa. A feição deles é serem pardos, maneira avermelhada, de bons rostos e bons narizes. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com muita inocência. O capitão, quando eles vieram, estava assentado, com colar de ouro mui grande ao pescoço. Um deles, porém, pôs os olhos no colar do capitão e começou a acenar para o castiçal de prata. O capitão trouxe vinho, mas não beberam. E, então tornou-se o capitão aquém do rio, e logo acudiram muitos à beira dele. Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma. Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos. Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali. Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora. Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo. Era já a conversação deles connosco, tanta que quase nos tornavam ao que havíamos de fazer. E assim não foi esse dia mais que escrever. Até agora não podemos saber que haja ouro de metal, nem de ferro vimos. A Terra por si é de muitos bons ares e temperado como os de Entre-Douro e Minho. E de entre todos estes que hoje vieram, não veio mais que uma mulher moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse, e puseram-lhe em derredor de si. Mas ao assentar não fazia memória de o muito entender para se cobrir. E nessa maneira, Senhor, vou daqui, a V. Alteza contar do que nesta terra vi. E, se, algum ponto alonguem, Ele me perdôe. Que o desejo que tinha de vos tudo dizer, assim pôr pelo miúdo. Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera-Cruz."

Pêro Vaz de Caminha | Carta a El-Rei Dom Manuel I de Portugal sobre a Descoberta do Brasil

Imagem: Pormenor do 'Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500', Óleo sobre tela de Óscar Pereira da Silva (1865–1939)

sexta-feira, 19 de abril de 2024

O Papa Bento distribuía normalmente a comunhão de joelhos e na boca

Em 2009, sendo Bento XVI o Papa reinante, o Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice emitiu um documento no qual defende a comunhão de joelhos e na boca. Publicamos aqui a tradução das partes mais relevantes desse texto:

Desde o tempo dos Padres da Igreja, existiu uma tendência que foi sendo consolidada: a preferência de distribuir a Sagrada Comunhão na língua ao invés de distribui-la na mão. São duas as motivações para esta prática: 1) para evitar, tanto quanto possível, que partículas Eucarísticas possam perder-se (por ex: ficarem na mão depois de comungar, e até mesmo caírem no chão); 2) aumentar a devoção entre os fiéis na Presença Real de Nosso Senhor no Sacramento da Eucaristia.

São Tomás de Aquino também se refere à prática de receber a Sagrada Comunhão apenas na língua. Ele afirma que tocar no Corpo do Senhor é próprio, apenas, para o sacerdote ordenado.

Portanto, por vários motivos, entre os quais o Doutor Angélico cita o respeito pelo sacramento, escreve: "...como forma de reverência para com este Sacramento, nada o toque, apenas o que é consagrado (o sacerdote), uma vez que o corpo e o cálice são consagrados, também as mãos do sacerdote (o foram) para que tocasse nesse Sacramento. Por isso, não é lícito a ninguém tocá-lo, excepto por necessidade, por exemplo, se fosse cair sobre o chão, ou então em algum outro caso de urgência."(Summa Theologiae, III, 82, 3).

Ao longo dos séculos, o momento da Santa Comunhão sempre foi marcado com sacralidade e respeito, esforçando-se constantemente para desenvolver os melhores sinais externos que poderiam promover a compreensão deste grande mistério sacramental. Na sua solicitude amorosa e pastoral, a Igreja tem a certeza que os fiéis recebem a Santa Comunhão tendo no seu interior correctas disposições, entre as quais se destacam a disposição e a necessidade dos fiéis compreenderem a Presença Real d'Aquele que estão para receber. (ver: Catecismo do Papa Pio X, nn. 628 e 636). 

A Igreja ocidental estabeleceu o sinal de ajoelhar-se como um dos sinais de devoção adequado para os que vão comungar. Um ditado célebre de Santo Agostinho, citado pelo Papa Bento XVI no n. 66 da sua Encíclica Sacramentum Caritatis, ("O Sacramento do Amor"), ensina: "Ninguém come desta Carne sem primeiro adorá-la, podemos até pecar se não a adoramos" (Enarrationes in Psalmos 98, 9). Ajoelhar-se mostra e promove a adoração necessárias antes de receber Cristo Eucarístico.

A partir desta perspectiva, o então Cardeal Ratzinger assegurou que: "A comunhão só atinge a sua verdadeira profundidade quando é apoiada e rodeada por adoração" [The Spirit of the Liturgy (Ignatius Press, 2000), p. 90]. 

Por esta razão, o Cardeal Ratzinger afirmou que "a prática de se ajoelhar para a Santa Comunhão tem em seu favor uma tradição já antiga, e é um sinal particularmente expressivo de adoração, completamente apropriado, à luz da presença verdadeira, real e substancial de Nosso Senhor Jesus Cristo sob as espécies consagradas "[citado na carta "This Congregation" of the Congregation for Divine Worship and the Discipline of the Sacraments, July 1, 2002].

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Uma democracia de «Aiatolas» de esquerda

Ontem, um Presidente de Câmara Municipal mandou cancelar e impedir que continuasse a decorrer uma conferência em que participavam reputados intelectuais e académicos, destacados políticos incluindo um primeiro-ministro europeu em funções, um candidato presidencial, diversos ex-ministros, deputados e até um cardeal da Igreja Católica.

Este Presidente de Câmara ordenou que as forças policiais cercassem o edifício onde o evento estava a decorrer, impedindo a entrada do público e dos conferencistas, proibindo a distribuição de comida e bebidas a quem já estava dentro da sala há horas e preparando-se para cortar a electricidade ao espaço, fazendo dos participantes reféns.

O local onde decorre esta conferência é privado, e o seu dono foi ameaçado de lhe ser retirada a licença de exploração da sua sala de eventos caso não cumprisse a ordem do autarca, que estava a ser posta em prática através da força pela polícia.

Tudo isto decorreu em Bruxelas, nas barbas e quiçá com a conivência de toda a classe de dirigentes e burocratas da União Europeia. Para estes actos absolutamente antidemocráticos e totalmente contrários à defesa das liberdades humanas básicas foram apresentadas, por escrito, pelo próprio presidente da Câmara local, razões que se prendem com o facto de o evento juntar personalidades com uma visão da sociedade de pendor conservador-nacionalista, uma atitude eurocéptica e que, portanto, seria gente conotada com a extrema-direita e que isso acarretaria riscos de perturbar a ordem pública na cidade.

Entretanto, numa decisão judicial de urgência, um tribunal superior belga revogou a ordem do autarca e determinou que o congresso deveria ter lugar livremente e que o segundo dia da conferência decorresse sem qualquer restrição.

Infelizmente, esta inclinação para a censura, o silenciamento, o restringir da liberdade de expressão, o uso da força e da coação para impor um pensamento único, a segregação de quem pensa diferente, a estigmatização de gente desalinhada com a narrativa no poder e todos os tiques e ferramentas totalitárias estão na essência da nossa actual Esquerda política e até em alguma Direita dita “moderada”. Na Bélgica e em toda a Europa, incluindo Portugal.

Basta ver a reação da oligarquia e dos comentadores às recentes intervenções públicas de Pedro Passos Coelho para perceber que há demasiada gente que não veria com maus olhos a instauração no nosso país de um califado progressista ou de uma democracia de aiatolas de esquerda.

Como disse o saudoso Vasco Pulido Valente: “Quando se raspa um socialista acaba sempre por se encontrar um tiranete”.



Fonte: Blasfémias

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Evitar a epidemia de fentanyl em Portugal

 No inquérito do governo espanhol sobre álcool e drogas que estuda o consumo de 1995 a 2022, regista-se (p. 58) que 14% da população dos 15 aos 64 anos inquirida já experimentaram a droga fentanil. Esse valor alarmante contrasta com o de 1,9%, em 2018, e de 4,4%, em 2020.


É útil conhecer a evolução em Portugal do consumo desta droga, que é 50 vezes mais potente do que a heroína, e que provocou uma epidemia nos EUA que mata, de overdose, mais de 70 mil pessoas nos EUA em 2022 e é a maior causa de morte das pessoas de 18 aos 45 anos.
Importa prevenir o consumo e reprimir severamente o tráfico, para evitar que a epidemia do fentanyl alastre a Portugal.

António Balbino Caldeira

Fonte: Inconveniente

terça-feira, 16 de abril de 2024

Parem de importar guerras culturais!


Em 1997 o Partido Comunista propôs o aborto livre até às 12 semanas e foi chumbado. Ainda nesse ano, o Partido Socialista, pela mão do então presidente da JS, Sérgio Sousa Pinto, propôs a legalização do aborto até às 10 semanas. Para evitar a sua aprovação o então Primeiro-Ministro e Secretário-Geral do PS, António Guterres, acordou com o presidente do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro referendo da democracia. O referendo haveria de se realizar em Julho de 1998 e o resultado foi a vitória do “Não”.

Nos anos seguintes houve várias tentativas de legalizar o aborto livre, até quem em 2006, com o regresso do PS ao poder, foi convocado novo referendo, que se realizou em Fevereiro de 2007 e onde o “Sim” ganhou.

Desde então, foi legalizada a procriação artificial, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, foi proposta e chumbada a co-adopção por pessoas do mesmo sexo, foi aprovada a adopção por pessoas do mesmo sexo, foi aprovada, chumbada pelo Tribunal Constitucional e novamente aprovada as barrigas de aluguer, foi aprovada a Lei da Identidade de Género, foi votada seis vezes a legalização da eutanásia (chumbada no Parlamento, chumbada pelo Tribunal Constitucional, vetada pelo Presidente da República, chumbada pelo Tribunal Constitucional, vetada pelo Presidente da República e finalmente aprovada e promulgada), foi proposto o aumento dos prazos do aborto.. Nestes anos foi introduzida a educação sexual obrigatória nas escolas, criada a disciplina de Educação para a Cidadania posteriormente tornada obrigatória, foram criados os Referenciais para a disciplina, que incluem a defesa do aborto e da ideologia de género.

Ou seja, nos último 17 anos quase todos os anos foram propostas leis ditas fraturantes, quase sempre pelos mesmo deputados e defendidas pelos mesmos protagonistas. Não houve legislatura (e quase não houve ano) em que estes temas não tenham sido colocados na agenda política por essas pessoas.

Por isso é especialmente irritante ouvir comentadores, em geral idiotas úteis de direita, a explicar que são os “conservadores” que estão a importar “guerras culturais”. Eu passei boa parte da minha adolescência e vida adulta a lutar sobre estes temas e, como dizem os miúdos, nunca fui eu que comecei. Eu não tenho qualquer interesse nesta agenda, foi a esquerda progressista (agora adoptada pela IL) que decidiu importar estas causas para Portugal, nós limitamo-nos a opor-nos.

Por isso, se os senhores comentadores acham que estes temas não têm interesse, se consideram que desvia o foco dos assuntos fundamentais (e eu concordo) têm uma boa solução, a próxima vez que encontrarem a Isabel Moreira no Lux, ou se cruzarem com a Teresa Violante num estúdio, peçam-lhes que parem de importar guerras culturais. Nós agradecemos. Assim podemos começar a tratar dos assuntos realmente importantes como a pobreza, a saúde a educação e tudo aquilo que o PS prefere não tratar para se dedicar antes à causa woke.

E já agora aproveito para falar do progresso de que falam tanto, para defender a morte de crianças como direito fundamental. Eu percebo o glamour de estar a par das modas do estrangeiro, porque se no Eça a cultura vinha de Paris em caixotes, hoje vem dos Estados Unidos (mas continua a ficar-nos curta nas mangas). Mas eu tenho um enorme problema com este progresso: cheira a mofo! Este progresso tem o cheiro dos fornos onde os cartagineses sacrificavam bebés aos deuses, lembra o extermínio dos fracos e incapazes de Esparta, um déjà vu aos eunucos da Pérsia antiga. Este progresso tem o cheiro putrefacto de um cadáver com milhares de anos, vestido com roupas modernas para ser admirado por aqueles que desejam tanto parecer modernos que não percebem que retrocederam dois mil anos. Pessoalmente, eu prefiro continuar com o humanismo cristão, aquele que garante a infinita dignidade de cada ser humano. Pode não ser progressista, mas tem a enorme vantagem de ser verdade.


Fonte: Nós os Poucos...

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Cardeal Sarah elogia Bispos africanos por resistirem à propaganda homossexual


O Cardeal Robert Sarah, um dos principais cardeais em termos de inteligência e integridade, elogiou os bispos dos Camarões pela sua declaração "corajosa e profética" de 21 de Dezembro contra as pseudo-bênçãos homossexuais.

"Fizeram uma obra de caridade pastoral ao apontar a verdade", afirmou. É "errado e ridículo" que "algumas pessoas no Ocidente" afirmem que os bispos dos Camarões agiram em nome de um "particularismo cultural", esclareceu Sarah. Afirmaram, "numa lógica de neo-colonialismo intelectual", que os africanos "ainda" não estão prontos para "abençoar" o pecado "por razões culturais", disse: "Como se o Ocidente tivesse uma vantagem sobre os africanos, mais atrasados".

Na realidade, os bispos em África estão a agir "em nome do único Senhor, da única Fé da Igreja", explicou Sarah: "Desde quando é que a verdade da Fé, o ensino do Evangelho, está sujeito a culturas particulares?"

Sarah adverte contra a ideia destrutiva de que a Fé deve ser interpretada "diferentemente" em diferentes lugares, culturas e povos. Ele identificou esta ideologia como "apenas um disfarce para a ditadura do relativismo". O seu objectivo é introduzir deficiências na doutrina e na moral em certos lugares, sob o pretexto de "adaptação cultural". Assim, "querem permitir um diaconato feminino na Alemanha, padres casados na Bélgica, a confusão entre o sacerdócio ordenado e o sacerdócio comum na Amazónia".

O Cardeal Sarah espera que os bispos africanos se tornem defensores da Fé, mas observa que as suas vozes no último Sínodo foram desprezadas por aqueles cuja única obsessão é "agradar aos lobbies ocidentais".

in gloria.tv