quinta-feira, 28 de junho de 2018

Alegria e gratidão

D. António Marto pertence à primeira geração que nasceu, cresceu e se afirmou depois da Segunda Guerra Mundial. O seu percurso representa na Igreja em Portugal o melhor do que essa geração nos trouxe.

É com alegria e gratidão que me associo à nomeação cardinalícia do Senhor D. António Marto.
Alegria, pelo reconhecimento dos seus muitos méritos e do contributo que podem dar à Igreja universal e ao ministério do Sucessor de Pedro.
Reconhecimento oportuno, no actual contexto eclesial. D. António Marto pertence à primeira geração que nasceu, cresceu e se afirmou depois da Segunda Guerra Mundial. Chegou à juventude nos anos sessenta, que tantas novidades trouxeram à sociedade e à Igreja. À sociedade mais participativa e à Igreja-comunhão, assim mesmo reafirmada pelo Concílio Vaticano II (1962-1965).
Sociedade participativa, onde todos se possam decidir e expressar. Igreja-comunhão, lugar de encontro de Deus com os homens e «como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» (Lumen Gentium, 1).
O novo cardeal é expressão eloquente desta geração, no que diz e no modo como actua. O seu percurso pessoal, da aldeia natal ao seminário, da experiência fabril ao estudo romano, do magistério universitário aos sucessivos cargos episcopais (em Braga, Viseu e Leiria-Fátima), representa na Igreja em Portugal o melhor do que essa geração nos trouxe e continua a trazer.
No seu caso pessoal, por duas razões maiores: pela inteligência e pela sensibilidade. Inteligência significa capacidade de ler e entender o que o tempo traz e promete. Evangelicamente, significa reconhecer que em cada circunstância se pode detectar a presença do Ressuscitado e o seu apelo.
Tivemos entre nós a felicidade de contar com a grande personalidade teológica e pastoral que foi o falecido Cardeal D. José Policarpo, que se revelou sobretudo um grande leitor dos “sinais dos tempos”. Com ele privei muitos anos e posso testemunhar da grande estima que nutria por D. António Marto e como acompanhava o seu percurso. É com este conhecimento que os aproximo aos dois na idêntica atitude e competência com que leem e nos ajudam a ler evangelicamente a realidade.
Também porque os aproximou a sensibilidade. Refiro-me ao modo de ser tocado pelos outros, às suas necessidades e aspirações. Refiro-me à abertura, à bondade e à beleza, irmãs gémeas da verdade. Nisto se aproximaram também os dois – o cardeal Policarpo, criado no mesmo consistório de Bergoglio; o cardeal Marto, no presente consistório do Papa Francisco.
Naturalmente, estas circunstâncias reforçam a alegria com que que acompanhei o primeiro e acompanho agora o segundo. Num sentimento que é muito justamente compartilhado pela Igreja e a sociedade em geral.
A gratidão, dirijo-a a Deus, ao Papa Francisco e ao novo cardeal. A Deus, por reconhecer também aqui um sinal da sua providência e companhia. Ao Papa Francisco, por reforçar deste modo o seu impulso evangelizador, na Igreja e no mundo, da Igreja para o mundo.
Ao cardeal Marto por tudo quanto representa e activa entre nós, na recepção conciliar que continua.
Fonte: Observador

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Homem português debanda um elefante de guerra, sozinho

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Aquando o segundo cerco de Chaúl em 1594, um soldado luso deparou-se durante a batalha com um elefante frente a frente, a besta estava armada com espadas na tromba e em cima de si trazia os costumados castelos. Este elefante, vendo defronte um soldado português, «arremmetteu contra elle com natural fúria, para que nam pudesse fugir. Porém, o soldado não sòmente nam fugiu, mas pondo a espingarda no rosto empregou o tiro emum dos mouros que vinham em cima, & lançando a mão à espada se chegou ao elephante & lhe deu huma tão espantosa cutilada por uma perna, que com grande força de dor voltou para os seus & por meio dêles fêz caminho para o forte. (...) Tiveram os mouros para cima de quinze mil mortos no final da peleja, segundo como fonte o próprio Faratecão, general de todo o campo (exército) inimigo & mais de mil captivos, sòmente estes dissera que um homem com humas armas brancas num cavalo branco, que não havia outro antre nós, lhe matava infinidades de seus, & uma mulher muy formosa, vestida de azul, os fazia ir afastando, donde se entende quão milagrosa & desacostumada foy esta victória, & quanto Nosso Senhor a tinha tomado à sua conta, pois quis mandar do céu, quem ajudasse os seus fiéis soldados», relata o cronista.

"Há mais de cem anos que os otomanos procuram apossar-se desta parte do mundo, mas não o conseguiram. Não fossem os portugueses, os turcos há muito não só se teriam apossado da Índia e da Etiópia, como teriam chegado à China."

— Cristoval de Jaque de los Rios de Mancaned

Ricardo da Silva

terça-feira, 26 de junho de 2018

Quando os padres se confessam…

Faltava um livro que desse notícia dos padres que não são notícia, para contrapor às notícias dos padres que o são.

Por regra, as notícias sobre padres são, 99,9% das vezes, negativas: se não é um escândalo de natureza sexual, é um sacerdote que se casou, ou que tem um filho, ou que foi apanhado em alguma falcatrua. Mas 99, 9% dos sacerdotes não cometem nenhum escândalo de natureza sexual, não casam, não têm filhos, nem fazem falcatruas. Por isso, não são notícia. E, por isso mesmo, faltava um livro que, como ‘Nós os padres, 11 padres confessam-se’ (Aletheia Editores), desse notícia dos padres que não são notícia, para contrapor às notícias dos padres que o são, pelas piores razões, nas manchetes dos jornais, nos noticiários das rádios e das televisões.
Alguém dizia que todos os espanhóis andam atrás dos padres: uns com uma vela, outros com um pau. Talvez entre nós, graças aos nossos brandos costumes, não haja tanta beatice, nem tanto ódio. Mas é verdade que, quando se trata da Igreja católica e dos seus ministros, vêm ao de cima muitos preconceitos anticlericais, que alguma da nossa imprensa, geralmente alinhada com o pensamento anticatólico, seja ele ateu ou simplesmente agnóstico, gosta de alimentar.
É conhecida a máxima daquele furioso anticlerical que se propunha enforcar o último sacerdote, com as tripas do último bispo! Não haverá muitos assim, mas abundam os que têm do padre uma imagem soturna: uma espécie de figura pré-histórica, relíquia da era das trevas e da ignorância, que as luzes da ciência e do progresso um dia irão desmascarar. Na melhor das hipóteses, o padre católico é um sujeito anacrónico, uma espécie de dinossauro em vias de extinção, um parasita social que, não só não produz qualquer riqueza, como explora a crendice dos mais incultos. Mas, será mesmo assim?!
Para responder a esta pergunta, em boa hora a Aletheia decidiu “confessar” onze presbíteros portugueses, reunindo os seus testemunhos num livro agora editado e que, no próximo dia 27, vai ser apresentado por três mulheres: Aline Gallasch Hall de Beuvink, vice-presidente do Partido Popular Monárquico; Laurinda Alves, jornalista e cronista do Observador; e Margarida Neto, médica.
Muito embora o teor das confissões sacramentais esteja severamente interdito pelo correspondente sigilo e a sua violação seja punida com a pena de excomunhão automática, cuja absolvição está reservada ao Papa, a Aletheia atreveu-se a publicar as confissões destes padres.
No prefácio, D. António Couto, bispo de Lamego, chama a atenção para o inesperado resultado desta confissão colectiva: “Será sobretudo interessante e surpreendente, de modo particular para quem tem a ideia feita de que os padres são cinzentos e monótonos, feitos de renúncias e sacrifícios vários, verificar que palpita nestes onze retratos, não apenas uma vida igual a tantas outras, mas também uma alegria nova, um amor novo, um grande abraço à vida”.
A equipa dos onze entrevistados talvez não seja, apesar da coincidência numérica, uma selecção nacional, mas é uma expressiva amostra da realidade sacerdotal portuguesa. Os ‘confessados’ não só são de várias idades, entre os 28 e os 76 anos, como também de diversas proveniências sociais e eclesiais: predominam, como é lógico, os padres diocesanos, nomeadamente do patriarcado de Lisboa e das dioceses do Algarve, Coimbra e Lamego, em representação do sul, centro e norte do país, respectivamente. Também constam os testemunhos de outros sacerdotes seculares, como um presbítero do Caminho Neocatecumenal e um padre da prelatura do Opus Dei. Os restantes, são religiosos: dois jesuítas, um frade dominicano e um missionário claretiano.
Por opção da editora, em vez de uma entrevista personalizada a cada um destes presbíteros, todos responderam, com total liberdade, ao mesmo questionário que, diga-se de passagem, não só aborda temas institucionais, como também questões do foro pessoal. Com efeito, para além de uma breve descrição do seu percurso vocacional, foi-lhes pedido que confessassem as suas crises de identidade, as suas alegrias e tristezas, as suas zangas e frustrações, os seus hobbyse amores …
Curiosamente todos, de uma forma ou outra, confessaram a sua felicidade. “Sim, estes homens que não podem casar, nem constituir família, que têm que obedecer a um superior que nem sempre os compreende e que por vezes os obriga a um trabalho que não desejam, ou os retira de uma actividade que os entusiasmava, que vivem uma habitual escassez de recursos e que, por regra, não se podem permitir nem sequer as remediadas comodidades que os seus irmãos e antigos colegas de liceu, de faculdade ou de anterior profissão se permitem, transmitem, em geral, uma estranha felicidade, que mais entranha o mistério da sua surpreendente condição” – escreve-se no posfácio.
Não se pense, contudo, que são seres do outro mundo, porque todos, sem excepção, são cientes das suas limitações e, por isso, para além de confessores, são também penitentes. À indiscreta pergunta “Confessa-se com regularidade?”, todos responderam afirmativamente, alguns confessando que o fazem todas as semanas. Talvez seja este o segredo da sua alegria, do seu ânimo sempre renovado e da sua perseverança no serviço desgastante das almas, tantas vezes não retribuído, nem reconhecido.
A um insidioso pedido – “comente: ‘o traje não faz o monge’” – os onze, de uma forma ou outra, apontam a necessidade de um testemunho externo da condição sacerdotal. São os mais novos que são mais explícitos na afirmação dessa conveniência, que a geração anterior não levava tão a peito. De facto, enquanto o clero diocesano de mais idade geralmente traja à civil, os padres novos, nomeadamente no patriarcado de Lisboa, preza mais o hábito eclesiástico, que veste sem medo, nem vã ostentação.
Talvez esta amostra seja insuficiente para traçar o perfil do padre português do século XXI, não obstante a diversidade dos testemunhos recolhidos e, em boa hora, editados. Mas o que agora se torna público é suficiente para poder concluir que os padres são como as comadres: quando se confessam, sabem-se as verdades.
Fonte: Observador

sábado, 23 de junho de 2018

Do fim para que somos criados



O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isso, salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da Terra são criadas para o homem, para que o ajudem na prossecução do fim para que é criado. Donde se segue que o homem tanto há-de usar delas quanto o ajudem para o seu fim, e tanto deve afastar-se delas quanto para isso o impedem. Pelo que é necessário fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas, em tudo o que é concedido à liberdade do nosso livre-arbítrio, e não lhe está proibido; de tal maneira que não queiramos da nossa parte mais saúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que vida curta, e consequentemente em tudo o mais; mas somente desejando e elegendo o que mais nos conduz ao fim para que somos criados.

Santo Inácio de Loyola in «Exercícios Espirituais», 1548.


Fonte: Veritatis

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Bloco de Esquerda, partido racista

Foto de Nova Portugalidade.



O Bloco de Esquerda distingue-se entre os partidos políticos portugueses pela insistência retórica nos assuntos das “minorias”. Recentemente, o Bloco tem ganhado protagonismo pela denúncia de um alegado “racismo” com que as pessoas de ascendência africana são vitimadas em Portugal, para o que é um instrumento a caricatura da história, as contendas com os mortos, a ostentação de desprezo pela “República” e pela nacionalidade. Com tudo isto, pretende ser “anti-racista”.
Mas a verdade é que é o Bloco que segue a prática, já de si questionável, de dividir a população por categorias rácicas e de proceder à colagem dos respectivos estereótipos. Para o Bloco, uma sociedade de unidade na diversidade, em que a raça seja um não-assunto, não é uma opção. O Bloco não deseja a integração das minorias rácicas ou de quaisquer outras das que pretensamente defende, porque essa integração significaria a sua extinção política. Passaria rapidamente para a irrelevância.
Ao Bloco de Esquerda convém que essas minorias se mantenham separadas e em estado de guerra permanente com a sociedade que, supostamente, as oprime. Só assim o Bloco se pode encontrar acolhimento eleitoral como frente política de combate dessas minorias. Desejar a integração das mesmas equivaleria a tentar o suicídio.
O Bloco é um partido que está dependente do racismo instrumental para a sua sobrevivência. Ao contrário desta ferida purulenta aberta no seio da nossa vida política, a Nova Portugalidade é pela integração, como iguais, das gentes de todas as raças, etnias e culturas que compõem a Portugalidade.

Hugo Dantas

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Portugal: um exemplo sem igual


Em todas as regiões do mundo por onde passei, sempre que via uma ponte perguntava quem a construíra e sempre me respondiam: os portugueses. Diante de uma estrada e ao fazer semelhante pergunta, a resposta era idêntica: os portugueses. E quando se tratava de uma igreja ou de uma fortaleza, sempre a mesma resposta: os portugueses, os portugueses, os portugueses.
O meu desejo seria que, se Marrocos se tornasse algum dia esquimó ou chinês, os nossos sucessores lá encontrassem tantas reminiscências francesas como portuguesas nós temos achado.

Marechal Hubert Lyautey, General-Residente de França em Marrocos (1912-1925).


Fonte: Veritatis

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Portugalidade - Um ideal de todos

Foto de Nova Portugalidade.


A Portugalidade é transversal. Como civilização dos 300 milhões de homens e mulheres de cultura lusíada, ela é de todos: de esquerda ou de direita, conservadores, socialistas ou liberais, monárquicos ou republicanos, todos podem - e todos devem - nela reconhecer-se. A NP convida para debaterem a Portugalidade Raul Almeida, ex-deputado do CDS à Assembleia da República, e Ricardo Lima, presidente do Instituto Mises Portugal e destacado blogger n'O Insurgente. Estão todos convidados.


domingo, 17 de junho de 2018

“Quem sou eu para julgar?”

No dia 29 de Julho de 2013, por ocasião de mais uma das suas viagens apostólicas, o Papa Francisco, em resposta a um jornalista, afirmou algo muito surpreendente: “Se uma pessoa é gay e busca Deus, quem sou eu para o julgar?”. A frase, que a muitos escandalizou, foi depois amplamente divulgada, não só como uma suposta alteração copernicana da doutrina moral católica, mas também como uma canonização do relativismo: se o Papa se declara incompetente numa questão doutrinal, quem se pode atrever a julgar o que quer que seja?! Todas as questões morais pareciam ficar, portanto, relegadas para o nível da consciência de cada um e ninguém, nem sequer o vigário de Cristo, teria legitimidade para formular um juízo moral sobre uma matéria doutrinal. Mas, será mesmo assim?!
Antes de mais, importa fixar exactamente os termos da afirmação, porque nem sempre o que se diz ter sido afirmado pelo Papa é o que Francisco efectivamente disse. Com efeito, não é o mesmo dizer “quem sou eu para o julgar?” do que afirmar “quem sou eu para julgar?”. No primeiro caso, manifesta-se a impossibilidade de fazer um juízo moral sobre alguém; no segundo, afirma-se a incompetência do papa em relação a um tema doutrinal de natureza moral. É verdade que a editora da Santa Sé, a Libreria Editrice Vaticana, editou em 2016 um livro que recolhe pensamentos do actual Papa e que se intitula “Chi sono io per giudicare?” (há uma edição portuguesa, com o mesmo título, “Quem sou eu para julgar?”, da Editora Nascente). Contudo, não consta que tenha sido essa a frase pronunciada pelo Papa Francisco que, na resposta ao jornalista que o interrogou a 29 de Julho de 2013, afirmou “quem sou eu para o julgar”.
O Santo Padre é o supremo juiz da Igreja universal. Esta prerrogativa papal foi expressamente conferida por Cristo, quando disse a Pedro: “dar-te-ei as chaves do reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu” (Mt 16, 19). Se Pedro e os seus sucessores podem ligar e desligar, é evidente que têm que julgar doutrinas e comportamentos morais.
Na parábola do juiz iníquo (cf. Lc 18, 1-8), o magistrado não é injusto porque decide erradamente, mas porque se abstém de julgar. Um papa que, por absurda hipótese, entendesse que não deveria julgar as questões morais, estaria a incumprir gravemente as suas obrigações e, assim sendo, seria também ele um juiz iníquo. Se um determinado comportamento, ou doutrina, não é compatível com a fé, os fiéis devem ser advertidos disso pelos seus pastores, sob pena de estes serem cúmplices dos seus pecados e, em última instância, responsáveis até pela sua condenação eterna. Seria razoável que, em relação à pedofilia, o papa ou um bispo dissesse: quem sou eu para julgar?!
A propósito deste terrível escândalo, felizmente já debelado na Igreja católica, alguns bispos foram criminalmente responsabilizados por não terem denunciado os sacerdotes que, com o seu conhecimento, abusaram de menores, pois deveriam tê-los impedido de cometer esses crimes. Portanto, a omissão do dever de julgar e de agir em consequência, por quem tem a obrigação de o fazer, não só é uma grave culpa moral como também um crime punível pela lei.
Mas nenhum leigo, religioso, padre, bispo ou mesmo papa, tem competência para julgar moralmente ninguém: só Deus o pode fazer. A Igreja afirma, por exemplo, que roubar é pecado, mas ninguém está legitimado moralmente para dizer de outrem que é ladrão, porque uma tal acusação pressupõe que o dito sabia o que estava a fazer e queria fazê-lo. Portanto, se o cliente, que está à minha frente no supermercado, tira um produto à venda e o põe no bolso, eu posso dizer que o fez, mas não posso dizer que ‘roubou’ esse objecto. Com efeito, pode ser o dono do estabelecimento, ter autorização para proceder desse modo, ou agir em estado de necessidade; pode ser um demente, ou uma criança e, portanto, irresponsável; ou até ter a intenção de pagar esse bem, quando chegar à caixa. Dizer que alguém roubou não é nunca uma mera constatação de facto, porque implica o conhecimento de que o alegado ladrão sabia o que estava a fazer e queria fazê-lo. Ora só o próprio e Deus têm esse conhecimento, pelo que mais ninguém está habilitado para formular um tal juízo.
Mesmo quando o fiel se confessa, não é a Igreja, nem sequer o confessor, que o julga, mas o próprio, pois há-de ser o penitente a acusar-se das faltas para as quais pede absolvição e penitência. A função do confessor, embora seja de certo modo judicial, como recorda São João Paulo II na Exortação Apostólica pós-sinodal ‘Reconciliação e Penitência na missão actual da Igreja’, é primordialmente pastoral, ou medicinal. De facto, o confessor deve averiguar a culpa do penitente, bem como a autenticidade do seu arrependimento e a sinceridade do seu propósito de emenda, mas em ordem à sua conversão e futura vida cristã. Ou seja, para que não peque mais (cf Jo 8, 11).
Segundo o Papa Francisco, “é possível que uma pessoa, no meio de uma situação objectiva de pecado, subjectivamente não seja culpável, ou não o seja plenamente, e possa viver na graça de Deus” (Amoris laetitia, 305), pelo que se impõe o discernimento de cada caso. Por regra, uma situação objectiva de pecado indicia a respectiva culpa, mas há excepções.
No ‘Frei Luís de Sousa’, de Almeida Garrett, D. Madalena de Vilhena comete adultério porque, pressupondo a morte do marido, D. João de Portugal, desaparecido em Alcácer-Quibir, casa com Manuel de Sousa Coutinho, que virá depois a ser frei Luís de Sousa. Tendo decorrido 35 anos desde a batalha em que D. João tinha participado, sem que mais nada dele se soubesse, declarou-se a sua suposta morte. A partir desse momento, D. Madalena podia, moral e canonicamente, celebrar um novo casamento, o que fez com Manuel de Sousa Coutinho. Mas, como o marido ainda estava vivo, incorreu em adultério, muito embora sem culpa sua, nem pecado. Claro que estes casos são muito excepcionais mas, se nem todos os que vivem maritalmente com quem não é o seu cônjuge canónico, são adúlteros, muito embora esta seja a regra, não se pode considerar como tal o fiel que vive com quem não está casado pela Igreja. Nem julgar quem é homossexual e que tem todo o direito, e talvez até mais necessidade, dos cuidados pastorais que a Igreja oferece a todos os seus fiéis.
Nos ensinamentos do Papa Francisco, é recorrente a comparação da Igreja a um hospital de campanha. Num hotel, ou clube, só se espera um bom acolhimento e serviço, mas num hospital quere-se ser curado, mesmo que com algum custo e sofrimento. Todos os fiéis cristãos somos pecadores e, por isso, esperamos que os nossos pastores, ou seja os médicos das nossas almas, sejam verdadeiros nos seus diagnósticos e não nos enganem em relação ao nosso estado espiritual. Pedimos-lhes também que sejam eficazes e, se possível, compassivos, nos tratamentos necessários à nossa salvação.
Fonte: Observador

sábado, 16 de junho de 2018

Nuno Álvares Pereira - Percursos de um Herói

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No dia 27 de Junho, pelas 18h30, a Nova Portugalidade organiza na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa a conferência "Nuno Álvares Pereira - Percursos de um Herói". 

Teremos como oradora Ana Isabel Líbano Monteiro, historiadora e biógrafa desse português que foi soldado, soldado que foi santo e santo que salvou Portugal na sua hora de maior fraqueza. A sala da conferência será muito brevemente anunciada. Estão todos convocados.


quinta-feira, 14 de junho de 2018

Visita ao Palácio da Mitra - Santo Antão do Tojal



No próximo dia 16 de Junho, pelas 10:00, a Real Associação de Lisboa realiza mais um Roteiro Real desta vez para uma visita ao Palácio da Mitra - Santo Antão do Tojal (Loures).

O Palácio da Mitra foi mandado construir pelo primeiro Patriarca de Lisboa, D. Tomás de Almeida, entre 1728 e 1732, no lugar do antigo Palácio dos Arcebispos que já existia desde o séc. XIII. O seu conjunto arquitectónico, que inclui o Paço do Patriarca, o Palácio-Fonte e a Igreja/Capela do Patriarca, é único no contexto do urbanismo rural português. Nesta visita, vamos ter o privilégio de entrar num espaço privado e descobrir este exemplar único da arquitectura barroca, onde se destacam uma série de azulejos emblemáticos do séc. XVIII, as figuras de convite, escultura com mármores de Carrara ao gosto italiano e um jardim/horta onde ainda se conservam os pombais.

Esta visita, guiada pelo nosso associado Joel Moedas Miguel, tem lugares limitados e um custo de € 15,00 por pessoa. O ponto de encontro será no terreiro fronteiro ao Palácio.

Para mais esclarecimentos e inscrições, contacte-nos através do endereço secretariado@reallisboa.pt, pelo telefone 21 342 81 15 ou presencialmente na nossa Sede nos horários habituais.*
* No caso de ser atingida a lotação da visita, é dada prioridade aos associados da Real Associação de Lisboa.

terça-feira, 12 de junho de 2018

SAR, O Senhor D. Duarte Pio: "Os carteiristas respeitam-me"



O duque de Bragança garante andar muito de transportes públicos e gostar de poupar. Acredita ainda que o Estado português desperdiça recursos com obras de luxo e que a monarquia ganhava em Portugal se houvesse um referendo.



D. Duarte Pio acredita que a monarquia ganhava em Portugal se houvesse um referendo e defende que o Estado português desperdiçou os seus recursos com obras de luxo. Em entrevista ao Sol, o duque de Bragança afirmou ainda andar sempre de transportes públicos e garantiu: "Os carteiristas do 28 já me cumprimentam".
"Viajo sempre em classe turística nos aviões. No comboio vou em primeira classe por causa do sossego, mas uso muito os transportes públicos. Às vezes apanho o 28, mas tenho de ter cuidado. Felizmente, os carteiristas respeitam-me", contou D. Duarte. "Uma vez estava na estação de Metro dos Restauradores e no meio da multidão senti uma mão enfiada na minha gabardine e dei um grito ao homem. Ele disse-me: 'Ai, desculpe, não vi quem era'. Os carteiristas do 28 já me cumprimentam".

Questionado sobre a sua educação, o duque de Bragança afirmou que o seu pai acreditava que gastar mal algum recurso era pecado. "Fico muito chocado quando vejo o Estado a desperdiçar os seus recursos com obras de luxo", disse. A Expo'98, "que foi paga por todos nós com os nossos impostos", é um dos exemplos dados pelo duque de Bragança. "O país não ganhou nada com aquilo. O Centro Cultural de Belém é um monstro construído em frente aos Jerónimos com o nosso dinheiro. O país está cheio de rotundas e de obras monstruosas com o Palácio da Justiça", continuou.

Apesar de garantir ter "toda a consideração pelo professor Cavaco Silva", a governar quando algumas dessas grandes obras foram construídas, D. Duarte acredita que "ele não percebeu isso. Não percebeu que esse investimento não era reprodutivo".

Convencido que Marcelo Rebelo de Sousa actua "como um rei", o duque de Bragança acredita ainda que Portugal beneficiava com uma monarquia.

"Ele actua como se fosse um rei. É uma pessoa inteligente, culta, com uma boa formação ética e percebe aquilo que o povo português gosta de ter num chefe de Estado", disse sobre o Presidente da República. No entanto, acredita que Portugal beneficiaria em ter um rei. "Os primeiros anos da República foram revoluções, golpes... A II República foi paz e tranquilidade e um certo progresso económico, mas em regime não democrático. A III República voltou à democracia e regressou a instabilidade económica e política. Entrámos em falência várias vezes, tivemos crises e problemas muito complicados", defendeu D. Duarte. 

Questionado sobre se faria sentido ouvir os portugueses relativamente à questão da monarquia, o duque de Bragança acredita que sim. "Claro que o resultado resultaria muito da honestidade da pergunta. Se perguntarem se 'é a favor do regresso ao regime vigente em Portugal antes de 1910' é óbvio que o resultado seria muito mau. Mas se a pergunta for honesta estou convencido de que a monarquia ganha em Portugal", garantiu.


Fonte: Sábado

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Uma profecia de São João Paulo II

A Igreja do terceiro milénio tem o dever de conter esta nova invasão muçulmana. Não com as armas, mas com a fé vivida integralmente.

Quando o jovem sacerdote Karol Wojtyla foi chamado à nunciatura, para que lhe fosse comunicada a sua nomeação episcopal, fez uma pergunta inédita ao núncio:
– Um bispo pode fazer esqui?
O representante diplomático do Papa ficou surpreendido com a questão, que nunca até então lhe tinha sido feita por nenhum outro candidato ao episcopado. Mas não lhe faltou presença de espírito quando respondeu ao futuro São João Paulo II:
– É a primeira vez que alguém me faz esta pergunta, mas uma coisa posso-lhe assegurar: um bispo não pode fazer mal esqui!
A verdade é que Karol Wojtyla veio a ser um óptimo bispo esquiador, um excelente cardeal esquiador e, até, um santo papa esquiador!
Eleito vigário de Cristo com 58 anos e uma óptima saúde, João Paulo II procurava, quando as suas obrigações lho permitiam, fazer uma escapadela para praticar esqui numa estância não muito longe de Roma, perto de Áquila. Para o efeito, costumava pernoitar na sede de verão do seminário internacional da prelatura do Opus Dei, que era posta à sua disposição para esse efeito. Aí, sem outras presenças que não fossem os membros da sua reduzida comitiva, bem como o pessoal que assegurava o serviço doméstico e cuja descrição era absoluta, João Paulo II podia descansar e esquiar à vontade, sem ser importunado pelos ‘paparazzi’, nem pelo fervor dos fiéis.
Um jovem economista italiano, Mauro Longhi, também esquiador, acompanhou São João Paulo II nessas excursões, que aconteceram quatro ou cinco vezes por ano, de 1985 até 1995. Mais tarde, foi ordenado sacerdote e nomeado membro da congregação vaticana para o clero. Actualmente exerce o ministério sacerdotal no norte de Itália.
Foi a propósito da última festa litúrgica de São João Paulo II que Monsenhor Longhi proferiu uma conferência sobre Karol Wojtyla, no ‘Eremo dei Santi Pietro e Paolo’, em Bienno, no norte de Itália. Nessa ocasião, revelou uma surpreendente profecia de São João Paulo II, que lhe foi referida pelo próprio, durante uma pausa de uma dessas excursões: “Vejo a Igreja do terceiro milénio afligida para uma praga mortal. Chama-se Islão. Invadirão a Europa”.
Esta impressionante confidência do Papa que veio do Leste teve lugar em Março de 1993, quando nada fazia ainda prever a avalanche de muçulmanos que, entretanto, entraram na Europa, tendo já uma presença dominante em muitas cidades e regiões do Ocidente. Não é por acaso que Maomé foi, entre os recém-nascidos em Bruxelas, o nome masculino mais vezes registado no ano transacto.
Ainda a propósito desta visão, Mons. Longhi disse que, nessa ocasião, o último Papa a ser canonizado, afirmou: “Invadirão a Europa, a Europa será arruinada, uma sombra do que foi outrora. Vocês, Igreja do terceiro milénio, têm o dever de conter esta invasão. Mas não com as armas, que não serão suficientes, mas com a fé vivida integralmente.”
Não é novidade para ninguém que São João Paulo II era um místico. Desde jovem sacerdote, foi protagonista de fenómenos extraordinários, que eram apenas do conhecimento de poucas pessoas. Uma delas era um seu compatriota e grande amigo, o cardeal Andrzej Maria Deskur que, em conversa com Mons. Longhi, disse que São João Paulo II falava com Jesus e via também o rosto de sua Mãe, Maria. Segundo a mesma fonte, essa graça foi-lhe concedida na sua primeira Missa, no dia 2 de Novembro de 1946, quando o recém-ordenado Padre Karol Wojtyla celebrou a Eucaristia, em sufrágio pela alma de seu pai, na cripta de São Leonardo, na catedral de Wawel, em Cracóvia, a diocese de que era arcebispo e cardeal quando foi eleito bispo de Roma.
Mons. Longhi também foi testemunha de algumas graças especiais concedidas a São João Paulo II, durante as suas breves estadias na modesta casa em que se alojava sempre que ia esquiar: às vezes ficava, “ajoelhado, horas a fio, num desconfortável banco de madeira, em frente ao sacrário” da capela. Nalguma ocasião, Longhi surpreendeu-o de noite, falando em voz alta com Jesus e com Nossa Senhora.
São João Paulo II, não obstante o seu inicial vigor físico, perdeu depois muitas das suas faculdades motoras, embora tenha mantido até ao fim uma extraordinária lucidez. Numa ocasião em que a sua mão tremia – era já um sintoma da doença de Parkinson – disse, resignado:
– Meu caro Mauro, é a velhice!
Longhi, tirando importância à tremura, quis ser simpático com João Paulo II:
– Não, Santo Padre! Vossa Santidade ainda é jovem!
Wojtyla era muito realista e não gostava de ser adulado e, por isso, retorquiu:
– Não é verdade! Se digo que estou velho é porque estou velho!
O Papa Wojtyla era um lutador e um resistente, que fez frente à ditadura comunista no seu país. Foi também o principal artífice da pacífica libertação dos países de Leste, mas não era, de modo nenhum, partidário de guerras santas, nem muito menos de uma nova cruzada contra o Islão. Foi, precisamente, São João Paulo II quem teve a iniciativa de reunir, em Assis, os representantes de todas as religiões, muçulmanos incluídos, para os comprometer com a causa da paz.
São João Paulo II é também o Papa do terceiro segredo de Fátima, que nele se cumpriu, tal como, muitos anos antes, tinha sido dito aos três videntes. Em 1917, Nossa Senhora disse também que “em Portugal, conservar-se-á sempre o dogma da fé”. Se Maria o disse como algo excepcional, que apenas acontecerá no nosso país, é porque no resto da Europa não será assim. Estaria a ‘Senhora mais brilhante do que o Sol’ a aludir à profecia de São João Paulo II, em relação aos outros países europeus?! A história, a seu tempo, o dirá.
Fonte: Observador

domingo, 10 de junho de 2018

10 de Junho: Anjo de Portugal



A pedido de el-rei Dom Manuel e dos bispos portugueses, o Papa Leão X instituiu em 1504 a festa do Anjo Custódio do Reino, cujo culto era já antigo em Portugal.
Oficializada a celebração, Dom Manuel enviou alvarás aos municípios a determinar que as festas em honra do nosso Anjo da Guarda fossem comemoradas com a maior solenidade. Na festa do Anjo de Portugal deveriam participar todas as autoridades e instituições das cidades e vilas, além de todo o povo.
Esta celebração teve o seu esplendor durante os séculos XVI, XVII e XVIII, quando Portugal também teve o seu apogeu, e decaiu no século XIX quando Portugal também decaiu pelo liberalismo, em 1834.
Por determinação das Ordenanças Manuelinas a festa do Anjo de Portugal era equiparada à festa do Corpo de Deus, a maior festa religiosa em Portugal, na qual toda a nação portuguesa afirma a sua Fé perante o Santíssimo Sacramento.
De acordo com o testemunho dos Pastorinhos de Fátima, em 1916 o Anjo de Portugal apareceu diversas vezes a anunciar as aparições de Nossa Senhora nesta sua Terra de Santa Maria, dando aos Pastorinhos a comunhão com "o preciosíssimo corpo, sangue, alma e divindade de Jesus Cristo" como ele próprio declarou.
O culto do Anjo de Portugal teve o seu maior brilho nas cidades de Braga, Coimbra e Évora, e manteve-se na arquidiocese de Braga, onde se celebrava a 9 de Julho.
No papado de Pio XII a festa do Anjo de Portugal foi restaurada para todo o País e transladada para o dia 10 de Junho a fim de que o Dia de Portugal fosse também o Dia do Anjo de Portugal.
Da generalizada devoção ao Anjo de Portugal dão testemunho muitas representações, sendo especialmente notáveis as imagens do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e da Charola do Convento de Cristo, em Tomar, a pintura da Misericórdia de Évora e a iluminura do Livro de Horas de Dom Manuel.
O Anjo de Portugal é, até hoje, o único Anjo da Guarda de um país com culto público oficializado e foi o único Anjo da Guarda de uma nação que apareceu aos homens.


Fonte: Veritatis

sábado, 9 de junho de 2018

SAR, O Senhor D. Duarte de Bragança em Montalegre



Dom Duarte Pio de Bragança presidiu à conferência, realizada nos Paços do Concelho, subordinada ao tema "Couto Misto - Caminho Privilegiado". Uma sessão concorrida onde o Chefe da Casa Real Portuguesa não disfarçou a satisfação pela recepção que teve ao mesmo tempo que deixou os mais rasgados elogios à postura do povo barrosão.


Orlando Alves | Presidente da Câmara de Montalegre

«Foi uma sessão simpática de boas-vindas, onde a Câmara de Montalegre cumpriu o papel de anfitriã que lhe cabe. Estivemos ao nível daquilo que nos é exigido e demos a boas-vindas a uma outra forma de representação do Estado. Alguém que tem particular carinho pela nossa terra. Já esteve cá várias vezes e deixa sempre a promessa de voltar. Abrimos o salão nobre para recebermos alguém que representa um regime que há 100 anos foi abolido em Portugal. Dom Duarte Pio de Bragança é uma pessoa com elevada cultura, um herdeiro ao troco que se interessa pela questão da estética e beleza arquitectónica de Portugal como fez questão de vincar no seu discurso».
 
Dom Duarte Pio de Bragança | Chefe da Casa Real Portuguesa

«É uma ocasião muito bonita e muito interessante numa terra que, para além das qualidades de toda a população, está muito bem representada pelo actual Presidente da Câmara que defende acerrimamente os valores, a tradição e o progresso da sua terra. É sempre uma emoção vir a esta região. É fundamental manter a beleza arquitectónica de cada região. Uma vez destruída é muito difícil recuperá-la. Perde-se o interesse turístico e a identidade cultural. Nesse aspecto temos os piores exemplos de toda a Europa. A apresentação sobre o território do Couto Misto foi muito interessante. Seria um atractivo cultural e turístico. Existem algumas semelhanças com o caso de Olivença. Nomeadamente quando Espanha coloca a questão de que Gibraltar deveria ser devolvida a Espanha. Nesse sentido, Olivença deveria ser devolvida a Portugal. São situações políticas parecidas mas cada uma com as suas especificidades. Creio que o reconhecimento da identidade do território do Couto Misto seria uma vantagem muito grande para a população local».
 
Dario Carreira | Palestrante

«O nosso objectivo é colocar a questão do Couto Misto na ordem do dia, nomeadamente na perspectiva portuguesa. Muita da informação que foi apresentada não está a ser transmitida e não há conhecimento disso. Fazemos um esforço para repormos a verdade porque a dignidade é muito preservada pelos barrosões. Aproveitamos a presença de Dom Duarte para lhe transmitirmos isso. Muita gente ouve falar deste assunto só pelo que é dito do lado espanhol».










sexta-feira, 8 de junho de 2018

Isabel: a Redentora – os escravos – as camélias

“…se a abolição é a causa disto, eu não me arrependo; eu considero valer a pena perder o trono por ela”.( Princesa Isabel, a Redentora, Princesa Imperial do Brasil )

A 13 de Maio, a humanidade, toda, deveria celebrar com grande júbilo o acto de extrema coragem da Princesa Isabel, Princesa Herdeira do Brasil, em período da sua 3.ª Regência: a assinatura da chamada Lei Aurea, que punha fim à escravatura no seu país. Esse acto de grande humanidade, exemplar, custou o fim da Monarquia neste grande país irmão, o Brasil.
Assim, o dia 13 de Maio de 1888 deverá constar como um dos grandes feitos humanistas, porque profundamente cristão, da abolição da infâmia da escravatura Obviamente que os grandes capitalistas latifundiários brasileiros se lhe opuseram ferozmente. A Princesa preferiu perder o trono do qual era a herdeira natural a vir a ser Imperatriz de um Império com escravos, seres humanos tornados coisas, objectos de troca e venda, empréstimo e herança. Um exemplo de ontem para os dias de hoje!
Já não era a primeira vez que Dona Isabel, a Princesa Redentora, como ainda é conhecida no Brasil e muito amada, tomava posições públicas e políticas contra a escravatura. Durante a sua Primeira Regência, em 28 de Setembro de 1871, sancionou a chamada “Lei do Ventre Livre”, pela qual se estipulava que qualquer criança, filha de escravos nunca mais nasceria escrava, mas pessoa livre. Foi a primeira machadada num sistema ignóbil.
E a mesma Princesa acolhia escravos foragidos no seu palácio e os tratava e tinha como homens e mulheres livres.
Foi a Princesa Isabel que adoptou a flor de japoneira, as nossas lindíssimas camélias, planta levada da Europa (trazida do Japão séculos antes), a camélia branca, como sinal público dos abolicionistas. E era muito frequente ver a Princesa Isabel, em público e como sinal provocatório do seu empenho abolicionista, trazer como adorno uma camélia branca ou um ramo destas flores. Por isso, e graças a esta bendita e louvável iniciativa, a camélia tornou-se no Brasil, sinal de luta contra a escravatura.
A Princesa Isabel honra os Orleães Bragança vivos ( o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança descende desta Princesa). Honra o povo brasileiro que serviu. Honra a humanidade.
Esta luta pelos Direitos Humanos fundamentais custou o trono a Isabel, pois o Pai, o Imperador Dom Pedro II, foi deposto no ano seguinte. Por isso, esta Princesa ainda hoje é muito admirada no Brasil, país onde só regressou em Abril de 1971, 50 anos após a sua morte em França, tendo sido recebidos os seus restos mortais, com os do seu Marido, com todas as honras devidas a Chefes de Estado.
Em Maio, dia 13 desse ano de 1971, comemorando o aniversário da Lei Aurea, Isabel e o Conde Eu, seu Marido, foram inumados na Catedral de Petrópolis, onde outros Braganças brasileiros já estavam. Justa homenagem do Governo e povo brasileiro que, ainda que tarde, reconheceu a grande dívida para com estes insígnes Príncipes na defesa e promoção dos Direitos Humanos .
A Princesa Isabel, a Redentora, merece, ao aproximar-se o 130.º aniversário da abolição da escravatura no Brasil, que a homenageemos, a recordemos e lhe agradeçamos este gesto humanitário contra uma indignidade: a escravatura.
Curvo-me diante desta Princesa. Agradeço-lhe o exemplo e a coragem. Por causa dela, ao assumir a camélia como sinal do abolicionismo, tornei-me ainda mais admirador das camélias que me lembram sempre esta grande Senhora, neta de um Rei português, Dom Pedro IV, e a luta incessante que travou contra os poderosos escravocratas pela libertação dos escravos e da respectiva abolição de uma das maiores infâmias da humanidade: a escravatura.
A Princesa Isabel, infelizmente, continua a ser um modelo a imitar na luta contra outras formas de escravatura que subsistem na nossa sociedade capitalista e amoral.
(Nota: Em Portugal continental, o dia 12 de Fevereiro de 1761, dia da abolição da escravatura, também deveria merecer divulgação e celebração e o dia 12 de Dezembro de 1836, dia da abolição do tráfico em todo o nosso território imperial, também merecem ser lembrados e celebrados).
Para que a nossa memória colectiva não se perca, aqui fica esta registo.
CARLOS AGUIAR GOMES