domingo, 29 de setembro de 2019

Perceber os perigos da regionalização

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As eleições legislativas estão à porta, e a maioria dos partidos políticos com representação parlamentar afirmam querer a divisão do país em regiões dotadas de autonomia política. A Nova Portugalidade acredita na unidade da nação portuguesa, e por isso ouvirá o Professor Manuel Filipe Canaveira, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, sobre os perigos que a regionalização comporta - para a democracia e para a soberania, independência e capacidade de decisão do Estado.


sábado, 28 de setembro de 2019

Parabéns, Majestades!


28 de Setembro – Aniversários Natalícios dos Reis D. Carlos I e da Rainha D. Amélia
A 28 de Setembro de 1863, nascia Dom Carlos I de Portugal, no Palácio da Ajuda, em Lisboa. De Seu nome completo Carlos Fernando Luís Maria Vítor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon Saxe-Coburgo-Gotha, foi o penúltimo Rei de Portugal, mas como filho primogénito varão do Rei Dom Luís I e da Rainha Dona Maria Pia, e na qualidade de Príncipe herdeiro da coroa de Portugal, recebeu desde cedo os títulos oficiais de Príncipe Real de Portugal (o 4.º) e Duque de Bragança (19.º), possuindo o usufruto dos rendimentos dessa grande e Sereníssima Casa, último morgadio que no seu tempo era ainda, legalmente, permitido em Portugal. O Ducado de Bragança é o único título real hereditário, atribuído sempre ao herdeiro presuntivo da coroa que, ao subir ao trono, por sua vez o passa para o seu próprio herdeiro.
Dom Carlos recebeu desde muito cedo uma esmerada educação, aquela reservada aos herdeiros presuntivos. Os melhores preceptores instruíram Dom Carlos nas mais variadas ciências e artes, e, também, ministraram-lhe diversas línguas estrangeiras. Ainda jovem viajou pelas diferentes cortes europeias.
Exímio pintor, oceanógrafo, atirador, etc., recebeu inúmeros prémios internacionais pela sua pintura e ficaram para a posteridade os seus estudos oceanográficos e ornitológicos.
Em 28 de Setembro de 1865, durante o exílio da família real francesa, em Inglaterra, nascia, em Twickenhem, Dona Maria Amélia Luísa Helena de Bourbon-Orleães, princesa de França. Dona Amélia era a filha primogénita do pretendente ao trono francês Luís Filipe, Conde de Paris, neto do último Rei de França, Luís Filipe I, e de Maria Isabel de Bourbon-Orleães-Montpensier, infanta de Espanha, filha do Príncipe Antoine D’ Orleães, Duque de Montpensier e Infante de Espanha, por sua vez filho do último Rei de França.
A princesa Dona Amélia passou parte da infância em Inglaterra, até à queda do II.º Império. Então, a Casa Real de Orleães pode regressar ao país, e, embora o seu pai apenas fosse pretendente à Coroa, a princesa teve então uma esmerada educação.
Dona Amélia era uma jovem encantadora e culta, admiradora de ópera e teatro, era leitora compulsiva da melhor literatura da época, chegando a corresponder-se com os seus autores favoritos. Além disso possuía, tal-qualmente, dotes para a pintura que ultrapassavam o elementar.
Tudo parecia predestinado para que o casamento da jovem Princesa francesa ocorre-se com o herdeiro de uma coroa norte-europeia, mas uma feliz coincidência impeliu os acontecimentos. De férias em Paris, o Príncipe Real Dom Carlos de Portugal, Duque de Bragança, que procurava esposa, num encontro organizado pela Infanta de Portugal Dona Maria Antónia foi apresentado a Dona Amélia de Orleães e a seus pais. A Princesa de França Dona Amélia era a filha primogénita do pretendente ao trono francês Luís Filipe, Conde de Paris, neto do último Rei de França, Luís Filipe I, e de Maria Isabel de Bourbon-Orleães-Montpensier, infanta de Espanha, filha do Príncipe Antoine D’ Orleães, Duque de Montpensier e Infante de Espanha, por sua vez filho do último Rei de França. O encanto foi mútuo e o pedido oficial foi realizado por Dom Carlos ao Conde de Paris, a 6 de Fevereiro de 1886, sendo lavrado registo matrimonial nesse mesmo dia no Castelo d’ Eu.
A 17 de Maio de 1886, a princesa Dona Amélia, futura Duquesa de Bragança partiu de França e chegou à Pampilhosa no dia seguinte. Em 19 de Maio, pelas 17 horas, a Princesa foi apresentada à Corte em Lisboa.
O casamento real entre Dom Carlos de Bragança, Príncipe Real, Príncipe hereditário de Portugal e Duque de Bragança com Dona Maria Amélia Luísa Helena de Bourbon-Orleães, princesa de França, foi celebrado no dia 22 de Maio de 1886, na Igreja de São Domingos, e foi acompanhado pela multidão que saiu às ruas de Lisboa para acompanhar o cortejo nupcial.
Depois do casamento, e terminada a lua-de-mel, os Duques de Bragança mudaram-se para a sua nova residência, o Palácio de Belém.
Contraíram matrimónio no dia 22 de Maio de 1886, na Igreja de São Domingos.
O casamento foi abençoado pelo nascimento do Príncipe Real Dom Luís Filipe de Bragança, o primogénito do presuntivo herdeiro do trono de Portugal, e como tal Príncipe da Beira (4.º).
A 19 de Outubro de 1889 falece El-Rei Dom Luís I, e Dom Carlos é entronizado e aclamado novo Rei de Portugal, passando o muito jovem Príncipe da Beira, como presuntivo herdeiro, a ter o título de Sua Alteza Real, o Príncipe Real Dom Luís Filipe, Duque de Bragança.
Depois, em 15 de Novembro de 1889, nasceu o Príncipe Dom Manuel de Bragança, Duque de Beja.
‘Foi uma coroa de espinhos a que o moço rei teve para colocar sobre a cabeça, e nem o brio da juventude lhe permitiu um instante o gozo da vaidade, a que se chama fortuna. (…) E antes, depois e sempre, em todo o decurso deste já longo terramoto, cujo fim não vimos ainda, o moço rei, sozinho, desajudado de homens prestigiosos que lhe amparassem o trono, com partidos desconjunturados que na hora do perigo se demitem, confessando meritoriamente a sua impotência, ouvia estalar os tiros sediciosos do Porto e crescer a vozearia, confundindo os erros da sociedade com a responsabilidade da Coroa, esperando a salvação da queda da monarquia.’
O casamento de Dom Carlos I e Dona Amélia duraria até 8 de Fevereiro de 1908, data em que El-Rei, juntamente com o Príncipe Real, foram assassinados.
Curiosidade: a 28 de Setembro de 1893, no dia do aniversário d’ El-Rei D. Carlos I e da Rainha D. Amélia, como forma de homenagear Suas Majestades Fidelíssimas, foi fundado o Foot-Ball Club do Porto pelo monárquico António Nicolau d’Almeida, um comerciante do vinho do Porto e mais tarde produtor do célebre tinto “Barca Velha”, e que descobrira o futebol nas suas viagens a Inglaterra. O FC Porto inicia então os seus primeiros treinos no Campo do Prado, em Matosinhos, e no dia 8 de outubro disputa o primeiro jogo da história do clube, contra o Clube de Aveiro.
O primeiro jogo para uma prova oficial ocorre a 2 de Março do ano seguinte frente ao Club Lisbonense de Guilherme Pinto Basto, que convence o Rei D. Carlos a patrocinar o jogo, e no qual ofereceu, também, uma taça: a Taça D. Carlos I, ou ainda Cup d’El Rey. Disputado no Campo Alegre, no Porto, também chamado Campo dos Ingleses, casa do Oporto Cricket and Lawn-Tennis Club, o match contou com a presença de toda a Família Real Portuguesa.
Miguel Villas-Boas

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

SA, D. Dinis de Bragança na Final Taça Duque do Porto 2019



SA, D. Dinis, Duque do Porto marcou presença na Final Taça Duque do Porto 2019. Foi premiada ainda a vencedora do Circuito Taça Duque do Porto 2019 - Elisabete Teles - com o convite para a Final do Golf Channel Amateur Tour a realizar no Algarve em 2020.






quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Aviso à navegação: os perigos da “regionalização”

Quando se fala em regionalização, raramente se sabe do que se está a falar, pois o termo é equívoco e presta-se a mil interpretações e a uma complexidade que os seus adeptos não dominam. A regionalização nada tem a ver com descentralização; pelo contrário, enquanto a regionalização parte e confunde, a descentralização aproxima, por delegação do Estado, o poder dos cidadãos. A regionalização é convulsa, desestruturadora da unidade e diversidade do território; a descentralização, por seu turno, hierarquiza, harmoniza e confere racionalidade à comunicação entre o topo e a base da administração política do território nacional.
Para quantos estão familiarizados com temas, autores e obras da História da Administração em Portugal – de Costa Lobo, Lúcio de Azevedo, Alberto Sampaio e, mais recentemente, António Manuel Hespanha – o argumento da não existência de “regiões” em Portugal é um dado insofismável. Há “regiões geográficas” para geógrafos e demógrafos, como há “regiões” económicas e, até “regiões” culturais”, mas nenhuma dessas categorias corresponde à existência de uma tradição de “regionalismo” tomado no seu todo político, administrativo, económico, cultural, religioso e sociológico.
Como sabemos, na Idade Média, o território português estava dividido em terras e territórios de suserania feudal, ou seja, de senhorias individuais (nobreza), colectivas (concelhos) ou regalengas (pertencente ao Rei). Em cada terra ou território do Norte (Entre-Douro e Minho e, depois, entre o Minho e o Tejo) havia uma paróquia ou freguesia, mas a organização territorial senhorial (individual, colectiva e regalenga) nada tinha a ver com “regiões eclesiásticas”, unidades administrativas da Igreja cuja base era a paróquia e o topo o bispado. No fim da Idade Média, a administração local, sendo de eleição concelhia, regia-se pelo princípio do autogoverno sempre limitado por funcionários de nomeação régia (meirinhos, corregedores). Em Portugal, nunca houve feudalismo na acepção francesa, leonesa, inglesa e, sobretudo, germânica. Ali, a construção do Estado foi dificultada por séculos de pequenos poderes familiares, divergências linguísticas e dialetais, obediência religiosa ou até pela pré-existência de unidades políticas autónomas.
Desde finais da Idade Média que, para fins administrativos e judiciais, as únicas divisões do território português eram as províncias, sendo que cada província era subdividida em comarcas presididas por um corregedor e, por último, as divisões eclesiásticas. Para cada província era nomeado um governador com funções essencialmente militares, assistido pelos principais líderes da nobreza local, líderes concelhios e destacados cidadãos com capacidade para pôr em pé de guerra milícias locais.
Esta estruturação do território funcionou até finais do Antigo Regime, ou seja, até ao advento do liberalismo, quando passou a vigorar a divisão administrativa de Províncias, Concelhos e Freguesias. Não houve nunca, pois, “regiões” em Portugal. Trata-se de uma ficção que colide com a verdade histórica.
MCB

terça-feira, 24 de setembro de 2019

A descoberta pelos portugueses da civilização khmer

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As notícias chegaram à Europa entre finais do século XVI e a primeira década de Seiscentos e criaram grande comoção. Mercadores, aventureiros e missionários portugueses haviam descoberto nas densas florestas do Sudeste Asiático grandiosos vestígios de uma civilização cuja existência era até então praticamente desconhecida no Ocidente. Esses testemunhos mudos em pedra, de tão grandiosos - numa escala apenas emulada pelos vestígios da civilização egípcia, levantaram perplexidade e até dúvidas sobre a idoneidade dos relatos.

Com efeito, em 1586, o frade capuchinho António da Madalena, internando-se em território do Camboja, deu conta de uma imensa cidade abandonada por alturas do lago Tonlé Sap. Os grandes tempos e palácios cercados por lagos (reservatórios de água), as portas triunfais, a rede de canais, as pontes em pedra ricamente adornadas por nagas, os parietais ricamente esculpidos; tudo, deixou maravilhados os viandantes que não podiam acreditar que tais realizações pudessem ter sido erigidas pelas populações da região, fazendo crer que só poderiam ter sido obra de "egípcios" ou de "judeus", ou mesmo de Alexandre o Grande ou dos "romanos". Os portugueses haviam descoberto a civilização Khmer, cujo império dominara os actuais Camboja, Laos Tailândia, Malásia, Birmânia e sul do Vietname entre os séculos VIII e XIV.

Infelizmente, o relato de Madalena perdeu-se num naufrágio no Cabo da Boa-Esperança, cabendo a Diogo do Couto, autor da Década Quarta da Ásia e guarda-mor da Torre do Tombo de Goa fazer eco do relato do frade Capuchinho. Para sossego dos mais reticentes, seguiram-se relatos de Marcelo de Ribadeneira, do Padre dominicano António da Orta e de Padre Luís da Fonseca, então em actividade missionária junto da corte cambojana em Lovek, sede da então muito diminuída monarquia Khmer. Dominando os rudimentos da língua khmer, Luís da Fonseca inquiriu os poucos monges budistas ainda vivendo no local e deles soube que "o grande templo com cinco torres se chama Angkor [Wat]". A notícia estava dada, mas foram necessários quase trezentos anos para que em meados do século XIX, Henri Mouhot - naturalista e explorador francês ao serviço da Royal Geographical Society of London - pudesse organizar uma expedição científica que confirmasse as impressões dos missionários portugueses quinhentistas.

MCB

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Greta Thunberg e os "Apanhados do Clima" - Parte 1


“Em outros tempos, na época da conquista do Oeste, os “benfeitores da humanidade”, os charlatões filantrópicos, os vendedores de poções milagrosas, eram expulsos das povoações e cobertos de alcatrão e penas”

O Império do Bem, Philippe Muray


Sobre os temas e as preocupações do mundo Ocidental, sobre o modo como surgem, como são apresentados e abordados, importa colocar algumas perguntas. Podemos hoje em dia pensar de modo crítico e independente das narrativas oficiais que os média nos ministram? Os média são mais que instrumentos ideológicos e activismo? O que produzem é mais que press release? Há diferenças entre os médias e as agências de comunicação? Qual a diferença entre os média do sistema e os que existiam e ainda existem em sistema políticos de pensamento único e detentores de uma única narrativa legítima?
Podemos e devemos pensar de modo crítico, embora saibamos que pensar fora dos termos estipulados pelas narrativas oficiais não é permitido e incorre em ser diabolizado e rotulado de todas as fobias e crimes.
No romance “Os Demónios” de Dostoievsky, também sobre benfeitores da humanidade, uma das personagens questiona-se: «A quem devemos dar graças por ter trabalhado as inteligências tão habilmente para que ninguém tenha já nem uma só ideia própria?». Nunca a indistinção entre realidade e ficção, verdade e falsidade foi tão poderosa. Há a realidade e as teorias sobre a realidade. Pouco sabemos ao certo sobre o que é ou não real. Fala-se muito de fake news, os maus utilizam notícias falsas para enganarem os bons. Mas fake news existem desde o tempo das cavernas, para se obter vantagem sobre o outro. Nos anos sessenta os arautos da desconstrução declararam que não há verdade, não há factos, tudo é linguagem, tudo é perspectiva e construção, tudo é relativo. Então se não há verdade como pode haver falsificações da verdade? Os tempos mais informados de sempre, são de factos tempos de grande confusão mental deliberada.
Se houve uma idade média, (que uma historiografia ignorante caracteriza como a idade das trevas), a atual bem poderá ficar conhecida como a idade mérdia. O conhecimento é regra geral obtido através dos média e este é, regra geral, superficial, inexato e falacioso.
Todos os tempos têm as suas exigências, causas e reivindicações, muitas são sensatas, correspondem a necessidades comuns, a alterações efectivas na vida das comunidades e das pessoas, mas essas causas por vezes enlouquecem, as ideias tornam-se loucas. As preocupações ecológicas e as alterações climáticas estão nesse leque, tal como a igualdade de direitos. As agendas progressistas deformaram causas sensatas em disparates e esse trabalho tem objectivos concretos. Alguém tira dividendos desse enorme trabalho de desfiguração. Há uma ortodoxia climática, ninguém como em relação à ideologia do género pode expressar dúvidas ou criticas. Estas questões são principalmente ideológicas e estão desligadas da sua relação com factos ou com ciência. Pensar e ser critico é hoje em dia ser criminoso para os aiatolas do género, do clima, dos veganismos e dos racismos.
As alterações ambientais são inseparáveis do funcionamento do capitalismo ultraliberal que é amoral e totalmente predatório e que vive em indestrutível união de facto com as agendas progressistas e libertárias. Essa união permite que não se questione o fundamental e que nos entretenhamos com a demenciação de causas que respondiam a desafios da vida em comunidade e do reconhecimento do outro como humano.
Sem a obsolescência programada dos objectos e o consumo dissociado da necessidade e reescalonada a escala dos prazeres mais importantes, seria possível o tipo de economia que existe no Ocidente? O ambiente e o clima seriam inalteráveis com o sistema politica e económico e social em que vivemos? A resposta é um duplo não.
Quem redige as narrativas dos movimentos contra as alterações do clima são os principais responsáveis pelas eventuais alterações. Esses movimentos são um modo de nada mudar e intencionalmente desviar as atenções em relação ao essencial. O modo de funcionar do ultraliberalismo e o infantilismo perigoso, e ele sim patológico, das agendas progressistas com o seu carácter fundamentalista e totalitário são a caução da deliquescência da cultura Ocidental e dos seus fundamentos.
Greta Thunberg (GT) é o nome de uma peça dessa narrativa oficial do pensamento único da mundividência Ocidental, mais um produto de consumo fácil e um paradigma de tudo o que está errado no nosso tempo. GT já não é uma criança, mas uma espécie de boneco dos ventrículos, para efeitos de adestramento das consciências que já pouco têm para pensar e apenas reproduzem slogans e ideias feitas que julgam suas e muito evoluídas, mas não passam de chavões ignorantes num mundo transformado num supermercado (a economia) e num circo (os valores).
A mente do Ocidental está reduzida a processos primários, constatados nos maniqueísmos mais básicos e nas diabolizações mas inscientes. Desse modo é fácil proceder a associações do tipo: “GT é boa, defende um mundo melhor, com menos poluição”. Quem questionar o produto é fascista, quer destruir o ambiente, é poluidor, não quer um mundo melhor, etc. Este é o grau de profundidade e o resultado do trabalho de uniformização exercido sobre o consumidor médio esclarecido.
Um trabalho colectivo de imbecilização transformou na mente do jovem a ideia que o sentido da vida é ser cool. A virtude, o sacrifício, o bem comum, a nobreza de carácter são machistas e retrógrados. Ser cool é que é. A coolização do mundo divide-se entre os fixes e os outros. O sentido da vida pouco mais é que um slogan semelhante aos anúncios publicitários de ténis ou marcas desportivas tipo Nike ou Adidas.
O essencial e o irrelevante estão misturados e ressurgem como paródias no quotidiano transformado em feira de atracções. Alcançamos finalmente a utopia igualitária, mas a da impotência mental. Há de facto uma igualdade mental acrítica.
João M. Brás, Professor de Filosofia e Escritor

Fonte: Notícias Viriato

domingo, 22 de setembro de 2019

Nossa Senhora da Pérsia: memórias da Portugalidade iraniana


Provavelmente executada em Goa, esta Nossa Senhora foi capturada por ocasião da conquista iraniana de Ormuz. Portugal fora, entre 1507 e 1622, o primeiro Estado europeu a deter território no Irão desde Alexandre o Grande e seus sucessores selêucidas. De Ormuz, a imagem de Nossa Senhora foi levada para a capital persa de Esfahan, onde foi comprada por Frei Francisco Ribeiro, superior da missão portuguesa agostiniana que se localizava naquela cidade. Em 1644 chegou a Portugal, tendo sido colocada na Igreja da Graça, em Lisboa, e passado a ser objecto de grande veneração. Conhecida também como "Nossa Senhora a Cativa" e "Nossa Senhora do Resgate", foi patrona da Irmandade de Nossa Senhora da Pérsia. É um dos últimos testemunhos existentes em Portugal da nossa presença de cento e dez anos no Irão.


sábado, 21 de setembro de 2019

O Climategate foi há 10 anos




Passaram há pouco 42 anos sobre um dos maiores desastres de origem climática em Portugal: as inundações de 1967 em Lisboa. Centenas de mortes e centenas de milhões de prejuízos materiais. Será que este desastre se deveu às emissões de CO2eq (CO2 equivalente) ou ao aquecimento global? Claro que não!

Aliás, na altura, a imprensa internacional explorava os receios de uma nova idade do gelo devido ao arrefecimento global que se verificava.

Em 1967, a probabilidade de ocorrência da precipitação que provocou o desastre em Lisboa era conhecida. Uma precipitação com características análogas pode repetir-se amanhã e as suas consequências só serão menores se as necessárias medidas de prevenção forem entretanto tomadas (e nem todas o foram!).

Catástrofe de Nova Orleães não foi causada pelo aquecimento global
O que se passou com a destruição de Nova Orleães pelo furacão Katrina foi análogo: as consequências de um furacão com aquelas características eram bem conhecidas, e as imprescindíveis obras de reparação e reforço das protecções foram insistentemente pedidas mas sistematicamente adiadas.

A catástrofe não teve nada que ver com emissões de CO2eq ou aquecimento global. As tragédias climáticas no Bangladesh, não são provocadas por emissões de CO2eq, aquecimento global ou subida do nível do mar mas sim pelas inundações resultantes do assoreamento dos rios originado pela erosão que as extensíssimas desflorestações a montante agravaram e pelo crescente aumento do número de habitantes e construções em leito de cheia.

Segundo a ONU, mais de mil milhões de pessoas estão actualmente ameaçadas pela fome ou subnutrição, e agita-se o fantasma do seu aumento ou das suas migrações massivas se não forem combatidas as emissões de CO2eq para reduzir o aquecimento global.

A situação dramática e escandalosa destes milhões de seres humanos não tem nada a ver com as emissões de CO2eq, nem com o aumento oficial de 0,8ºC na temperatura média global nos últimos 150 anos.

Temperaturas não aumentam desde 1998
Aliás, apesar de as emissões de CO2eq terem aumentado acima do cenário mais pessimista do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) da ONU, desde 1998 que a temperatura global não aumenta.

Os exemplos anteriores poderiam continuar mas a conclusão seria sempre a mesma: as consequências catastróficas de fenómenos climáticos são evidentes e têm aumentado devido a acções humanas.

O que sucedeu em 1967 em Lisboa e se repete cada vez mais agravado por esse mundo fora não é devido a emissões de CO2eq ou alegado aquecimento global.

É devido simplesmente ao facto de fenómenos climáticos naturais, que sempre existiram, terem efeitos cada vez mais catastróficos porque as acções humanas sobre o território criaram as condições para isso ao desflorestarem as cabeceiras de rios (que agravaram o seu assoreamento e as consequentes inundações), ao aumentarem os riscos de deslizamento das encostas (porque eliminaram a vegetação que as estabilizava), ao construírem cada vez mais em leitos de cheia, e ao provocarem alterações cada vez mais extensas e profundas no uso do solo.

Os efeitos das alterações no uso do solo são cada vez mais evidentes nas alterações climáticas locais e nos seus reflexos globais.

Sendo evidente que a variabilidade natural do clima sempre existiu e que as acções humanas têm vindo a agravar os seus efeitos, a subversão conceptual que a UE liderou, reduzindo tudo, ou quase tudo, às consequências do aquecimento global provocado por emissões de CO2eq é muito grave e, em última instância, contrária aos louváveis ideais que afirma defender e que suscitam o apoio das organizações ambientalistas e de multidões de bem-intencionados.

Um dos maiores escândalos científicos da História
É neste contexto que rebenta o escândalo do chamado Climategate. Em termos da comunidade científica, o Climategate é um dos maiores escândalos científicos da História, não só pelo modo como afecta a credibilidade pública da comunidade científica mas sobretudo pelas implicações económicas e políticas de que se reveste.

De facto, nunca existiram tantas declarações, tantos tratados, tantos protocolos e tão gigantescos fluxos financeiros tendo como único fundamento a credibilidade e o suposto consenso da comunidade científica expresso nos Summary for Policy Makers (SPM) do IPCC.

Esse fundamento desapareceu, mas os interesses envolvidos (políticos, económicos, financeiros e industriais) são de tal monta e a percepção pública da fraude científica é tão lenta que a ficção criada pela UE ainda se irá manter durante muito tempo.

O Climagate consistiu na divulgação, através da Internet, de um conjunto de ficheiros, que incluem programas de computador e emails trocados entre alguns dos principais autores dos relatórios do IPCC, de entre os quais assumem particular relevo os de Phill Jones, director do Climate Research Unit (CRU) da Universidade de East Anglia e Hadley Centre (Reino Unido), de autores do notório hockeystick e instituições responsáveis pelas bases de dados climáticos, como o National Climate Data Center (NCDC) e o Goddard Institute for Space Studies (GISS) dos EUA, consideradas de referência pelo IPCC.

O hockeystick é o termo usado entre os cientistas para designar o gráfico em forma de stick de hóquei que representa a evolução das temperaturas do hemisfério norte nos últimos mil anos, e que foi criado por um grupo de cientistas norte-americanos em 1998.

Manipulação de dados
Os referidos ficheiros encontravam-se num servidor do CRU e a sua autenticidade não foi até agora contestada. Aliás, muitos deles apenas confirmam o que há muito se suspeitava acerca da manipulação/fabricação de dados pelo grupo.

Todavia, muito do que era suspeito e atribuível a erro humano surge agora como intencional e destinado a manter a "verdade" (do IPCC) de que houve um aquecimento anormal e acelerado desde o início da revolução industrial devido às emissões de CO2eq.

Esta "verdade" é incompatível com o Período Quente Medieval (em que as temperaturas foram iguais ou superiores às actuais apesar de não existirem emissões de CO2eq) e a Pequena Idade do Gelo que se seguiu. É também incompatível com o não aquecimento que se verifica desde 1998. Esconder ou suprimir estas constatações foram objectivos centrais da fraude científica agora conhecida.

Silenciar os cientistas críticos
Em termos científicos, o que os emails revelam são os esforços concertados dos seus autores, junto de editores de revistas prestigiadas, para não acolher publicações que pusessem em causa as suas teses ou os dados utilizados pelo grupo, recorrendo mesmo a ameaças de substituição de editores ou de boicote à revista que não se submetesse aos seus desígnios.

Propuseram-se mesmo alterar as regras de aceitação das publicações para consideração nos Relatórios do IPCC de modo a suprimir as críticas fundamentadas às suas conclusões. Em resumo, procuraram subverter, em seu benefício, toda a ética científica da prova, da contraprova e de replicação de resultados que está no cerne do método científico, controlando o próprio processo da revisão por pares.

Em conjunto, conseguiram impedir que fossem publicados a maioria dos dados e conclusões que pusessem em causa e com fundamento o seu dogma do aquecimento global devido às emissões de CO2eq.

O Climategate provocou já uma invulgar reacção internacional, como uma simples pesquisa no Google imediatamente revela (mais de 10.600.000 referências menos de uma semana depois da sua revelação).

No intenso debate internacional em curso e que irá certamente continuar por muitos meses/anos, surgiram já todos os habituais argumentos de ilegalidade no acesso aos documentos; de idiossincrasias próprias de cientistas-estrelas que se sentiram incomodados; citações fora de contexto, etc.

Em meu entender, o mais revelador e incontestável nos ficheiros divulgados nem são os emails, apesar do que mostram quanto ao carácter e a honestidade intelectual dos cientistas intervenientes, mas sim os programas de computador para tratar os registos climáticos que utilizaram para justificar as conclusões que defendem.

Diga-se o que se disser, os programas executaram o que está nas suas instruções e não o que os seus autores agora vêem dizer que fizeram ou queriam fazer.

Dados climáticos até 1960 destruídos
Antecipando porventura o que agora sucedeu, os responsáveis pelos dados climáticos de referência arquivados no CRU, vieram publicamente confirmar que destruíram os dados das observações instrumentais até 1960 e que apenas retiveram o resultado dos tratamentos correctivos e estatísticos a que os submeteram.

Ou seja, tornaram impossível verificar se tais dados foram ou não intencionalmente manipulados para fabricar conclusões. Neste momento há provas documentais indirectas de que o fizeram pelo menos nalguns casos.

Existe ainda um efeito perverso na referida manipulação que resulta de os modelos climáticos utilizados para a previsão do futuro terem parâmetros baseados nas observações climáticas passadas, que agora estão sob suspeita.

Afecta também todas as calibrações de observações indirectas relativas a situações passadas em que não existiam registos termométricos.

Independentemente de tudo isto, o mais perturbador para os alarmistas é o facto de, contrariamente ao que os modelos utilizados pelo IPCC previam, não existir aquecimento global desde 1998, apesar do crescimento das emissões de CO2eq.

E se alguma coisa os ficheiros do Climagate revelam, são os esforços feitos para que este facto não fosse do conhecimento público.

Comportamento escandaloso e intolerável
O comportamento escandaloso e intolerável de um grupo restrito de cientistas que atraiçoaram o que de melhor a Ciência tem só foi possível porque um grupo de políticos, sobretudo europeus, criou as condições para o tornar possível.

Isso ficou claro desde a criação do IPCC e torna-se evidente para quem estuda os relatórios-base do IPCC (WG1-Physical Science Basis) e os confronta com os SPM.

Todavia, seria profundamente injusto meter todos os cientistas no mesmo saco, pelo que é oportuno lembrar que se deve a inúmeros cientistas sérios e intelectualmente rigorosos uma luta persistente e perigosa contra os poderes estabelecidos, para que a ciência do IPCC fosse verificável e responsável.

Foram vilipendiados e acusados de estar ao serviço dos mais torpes interesses. Os documentos agora revelados mostram que estavam apenas ao serviço da Ciência e do rigor e honestidade dos métodos que fizeram a sua invejável reputação.

Seria também irresponsável agir como se as consequências da variabilidade climática e da utilização desbragada de combustíveis fósseis tivesse desaparecido com a revelação do escândalo. Muito pelo contrário.

Problemas ambientais de fundo devem ser atacados
Chame-se variabilidade climática ou alteração climática, os problemas de fundo da sustentabilidade ambiental permanecem e agravam-se pelo que devem ser atacados com determinação e realismo.

Se os esforços internacionais mobilizados para a Cimeira de Copenhaga conseguirem ultrapassar a obsessão do aquecimento/emissões (liderado pela UE) para se concentrarem na eficiência energética, nas energias renováveis, na minimização dos efeitos das alterações nos usos do solo, no combate à desflorestação, à fome e aos efeitos da variabilidade climática, teremos uma grande vitória para o planeta se a equidade e a justiça social não forem esquecidas.

Ao que parece, as propostas da China e dos EUA vão neste sentido tendo a delicadeza suficiente para não humilhar a União Europeia. Esperemos que sim.


Fonte: Veritatis

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Nasceu há 254 anos

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Bocage está para o século XVIII como Antero está para o século XIX e Pessoa para o século XX. A obra é a súmula do tempo que soube encarnar, o perfeito espírito daquele "galante século XVIII". Um mundo de salões literários, da cultura de Corte, da paixão subtil, a época pós-Pombal, onde efervescem as grandes questões jurídicas e onde despontam as grandes discussões filosóficas.

Como um mito permanece indecifrável. Um boémio, um libertino, também o ateu e, mais tarde, o reconvertido, o arrependido ferido de angústias. A sua morte encerra uma era, da cultura clássica, erudita, aristocrática, já no pronúncio do fim dos doces anos do "reinado mariano". Não se conformando com o conforto sofreu as vicissitudes de uma vida desregrada e livre. Também a rivalidade com José Agostinho de Macedo não deixa de ser sintomática dos caracteres: são duas mundividências que se conflituam.

Dele sobra o anedotário, o complexo mistério que ensombra as figuras mais carismáticas. Cultivou a lírica erudita com o gosto popular, a cultura aristocrática com a grosseria do vulgo. Há que dizê-lo: Bocage revolucionou as letras lusas antes da revolução política assolar as estruturas do Antigo Regime, fazendo a lírica descer dos olimpos grandiloquentes do classicismo para as realidades quotidianas, arrancando a poesia do conforto dos salões para o mundo burguês. Ególatra eruptivo e angustiado, procurando engrandecer a palavra pelo universalismo das ideias, quase ascende ao épico. Polarizado entre a Razão e o Sentimento, antecipa a estética romântica, contudo ainda moldado e estruturado pelo neoclassicismo.

Talvez nenhum outro poeta tenha surtido tanta influência nele como Camões. Aliás, os poetas da Arcádia e os cultores do neoclassicismo conferiam a Camões uma nova vitalidade e reivindicavam ali uma nova inspiração. Mas Bocage foi mais longe, reivindicando uma identificação plena. A vida errante do vate quinhentista encontrava na mesma errância bocagiana um entendimento: "Camões, grande Camões, quão semelhante/ Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!"

No leito de morte suspira o arrependimento, um último Soneto: "Já Bocage não sou". É o Bocage anti-Bocage, a negação da vida errante, a descoberta de uma nova luz, um Bocage que grita: "Oh! Se me creste, gente ímpia,/ Rasga meus versos, crê na eternidade!". É o último fôlego de um homem sofrido. Morreu no alvorar de um tempo novo, quando os ventos da revolução sopravam e Portugal se preparava para, em breve, enfrentar um novo ciclo histórico.

Daniel Sousa

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

A rampa cada vez mais deslizante

Vão-se sucedendo os casos de prática da eutanásia que demonstram a sua progressiva e imparável extensão (a chamada rampa deslizante) e como é ilusório pensar que é possível a sua legalização apenas em situações contidas e excecionais.

O último desses casos foi recentemente objeto de julgamento (dos poucos até agora ocorridos neste âmbito) num tribunal holandês. Uma mulher de 74 anos, que padecia de doença de Alzheimer, havia declarado, quatro anos antes, quando a doença já tinha sido diagnosticada mas ainda não lhe tinha retirado as normais capacidades intelectuais e volitivas, que queria ser eutanasiada quando perdesse essas capacidades e devesse, por isso, ser acolhida num lar. Chegado esse momento, o médico acusado nesse julgamento (cuja identidade não foi revelada) praticou a eutanásia com recurso à força, porque a doente resistiu fisicamente, num gesto de luta pela sobrevivência. Esse médico desprezou a vontade atual da doente e deu relevo apenas à vontade que ela havia manifestado quatro anos antes, na fase inicial da doença. Veio a ser absolvido, por se considerar que não desrespeitou as normas holandesas sobre a prática legal da eutanásia.
São vários os motivos de reflexão suscitados por este caso.
Desde logo, será aqui (ainda mais do que noutros casos de eutanásia) difícil falar em morte digna, quando ela é provocada com recurso à força e contra a vontade actual do doente.
Também é difícil dizer que em situações de demência, mais ou menos avançada, seja o sofrimento do doente, intolerável ou não, a motivar a opção pela eutanásia. Mais do que esse sofrimento, será o sacrifício que o cuidado desses doentes representa para familiares e outras pessoas a motivar tal opção. Uma opção que pode ser o próprio doente a tomar precisamente porque não quer ser um peso para os outros, não quer ser causa desse sacrifício. Neste caso, a doente manifestou o desejo de ser eutanasiada quando chegasse um momento não de mais intenso sofrimento, mas de mais acentuada incapacidade, em que, por isso, maior seria o peso que representava para quem dela tivesse de cuidar.
A questão que a este respeito se coloca é: deve uma sociedade que se pretende solidária confirmar, sob o pretexto de respeito pela vontade do doente, essa ideia de que a pessoa demente é um peso difícil de suportar e deve, por isso, ser eliminada? Que sinal está a ser dado, desse modo, a quem se sacrifica, às vezes heroicamente, por esses doentes?
O respeito pela vontade do doente é quase sempre apresentado como fundamento último da licitude da eutanásia. Neste caso, foi dado relevo a uma vontade manifestada quatro anos antes, num momento de suposta lucidez, contra a vontade atual, num momento em que essa lucidez supostamente se teria perdido. Mas como é possível ter a certeza de que a pessoa em causa não teria mudado de opinião (como muitas vezes sucede) perante a aproximação da morte? Manifestar a vontade de morrer num momento ainda tão distante do momento da morte é muito diferente de o fazer nessa altura, num contexto completamente diferente, quiçá muito diferente do que se imaginava anteriormente. A menor dúvida a este respeito deveria levar a tomar, em nome do respeito pela vida e também do respeito pela vontade (real ou hipotética) do doente, a opção contrária à que foi tomada pelo médico holandês em causa.
Este caso também revela, até de uma forma mais nítida, que, em última análise, não é a vontade genuína do doente a justificar a prática da eutanásia. Em última análise, é a decisão do médico e das entidades que o possam supervisionar (neste caso, até o próprio tribunal) a ajuizar da licitude da eutanásia, a interpretar a vontade do doente e a determinar a qual de várias manifestações de vontade deve ser dado relevo. E, como também esta caso revela, pode haver muita arbitrariedade na interpretação dessa vontade e na determinação de qual dessas manifestações de vontade será relevante.
Esta arbitrariedade é mais uma das derivas suscitadas pela rampa deslizante que qualquer legalização da eutanásia origina. Arbitrariedade e derivas que só podem ser evitadas quando se respeita aquele princípio básico e secular da civilização e da ética médica que é a proibição de matar. Quando se derruba essa barreira, é inútil tentar conter possíveis abusos.
Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz
Fonte: Observador

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Escândalo


Escândalo é o que se diz, se faz, ou se omite menos rectamente, embora licitamente, dando a outrem ocasião de cair em pecado, ou causando-lhe alguma ruína espiritual. O escândalo pode ser dado directamente, se há intenção de levar outrem ao pecado; ou indirectamente, se somente se prevê que outrem cairá em pecado.
É severamente condenado por Jesus Cristo, quando diz: «Aquele que escandalizar um destes pequeninos que crêem em Mim, melhor é que se lhe pendure ao pescoço uma mó de atafona e seja lançado ao fundo do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos» (Ev. S. Mat. XVIII, 6).
Quem escandaliza fica obrigado a reparar o escândalo dado, umas vezes por caridade, outras vezes por motivo de justiça. Devemos, pois, abster-nos de toda a palavra, acção ou omissão de que possa resultar escândalo para alguém.

Pe. José Lourenço in «Dicionário da Doutrina Católica», 1945


Fonte: Veritatis