quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Trinta milhões para a parede mais cara do mundo, zero para o Museu dos Descobrimentos: o descaramento nu da Câmara de Lisboa


A Câmara Municipal de Lisboa anuncia que as obras de remate do Palácio da Ajuda custarão, afinal, o dobro da verba prevista - ou seja, 29.7 milhões de euros, valor certamente espantoso (ou mesmo misterioso) para obras que se resumem, na prática, à construção de uma parede na fachada ocidental do palácio. Ao mesmo tempo, anuncia a mesma instituição que nem um euro da taxa turística por ela colectada será destinada a "projectos relacionados com os Descobrimentos". A fórmula usada é desonesta; os "projectos relacionados com os Descobrimentos" são, concretamente, o Museu dos Descobrimentos por que a Nova Portugalidade se bateu, que defendeu com uma petição assinada por milhares de portugueses e cidadãos da Portugalidade, levou à Assembleia Municipal de Lisboa e viu por ela aprovada. E o argumento orçamental para que se não faça o dito museu - estrutura pedida por nós e, connosco, por tantas figuras notáveis da cultura portuguesa - padece de visível oportunismo, para além de denunciar completo e escandaloso desgoverno numa obra, a de conclusão do Palácio da Ajuda, cuja simplicidade, até mau gosto, não permitem compreender como ali se gastarão trinta milhões de euros.

Lisboetas, portugueses e lusíadas de todos os países, continentes, cores e religiões (pois a todos eles interessa que a Câmara erga o prometido Museu) podem bem reagir com incredulidade e indignação ao recente anúncio. Para lá das desculpas esquivas e das explicações improváveis, resulta muito claro que o que impossibilita a abertura do Museu dos Descobrimentos não é a falta de dinheiro, mas a falta de vontade por parte dos detentores do poder autárquico na capital portuguesa. Digamo-lo de modo limpo e seco: eles negam-nos o Museu que nos prometeram, por cuja criação milhares deram a sua assinatura, que a Nova Portugalidade defendeu com sucesso na RTP e cuja abertura conseguimos ver aprovada em Assembleia Municipal por não quererem dar o braço a torcer, não poderem aceitar que a campanha dos agitadores falhou e não poderem tolerar que em Lisboa se faça um espaço sério focado na expansão imperial e sem rendição a histerias anti-científicas, anti-históricas e anti-portuguesas. Protestamos: o Museu é desejado, foi prometido e faz toda a falta do mundo a uma cidade, Lisboa, cuja identidade é indissociável do papel cimeiro que ocupou durante a era dos Descobrimentos. Intolerável é, pois, que o grande projecto por que os lisboetas votaram e que viram aprovado lhes seja negado, agora, através de manobras de bastidor. Não, não pode ser. E o truque não passará.

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