“Tempos difíceis criam homens fortes;
Homens fortes fazem tempos fáceis;
Tempos fáceis criam homens fracos
E homens fracos fazem tempos difíceis.”
Ditado Indiano
Como se sabe os vencedores impõem a sua visão dos acontecimentos que fazem a História dos povos, ignorando os argumentos dos antagonistas/inimigos e não raro fazendo desaparecer documentação que possa ilibar ou dar alguma respeitabilidade a quem foi vencido ou, por outro lado, macula a parte vencedora.
O que só raramente é corrigido e, por norma, muitos anos passados sobre os eventos a que dizem respeito.
Sempre foi assim e acreditamos que sempre assim será, pois a natureza humana não muda.
Por isso para se entender minimamente a História, é necessário muita reflexão, estudar diversas fontes e cruzar o máximo de informação.
Ora o que se passou neste âmbito a seguir ao Golpe de Estado ocorrido a 25/4/74 e que virou revolução, não fugiu à regra.
Mas antes de entrarmos a analisar o que se tem passado e nomeadamente, ao que agora corre sobre o anúncio de se estabelecer no Vimieiro, na antiga escola primária/cantina, Salazar - mandada construir em 1940, com donativos de emigrantes no Brasil e outros nacionais - de um “Centro Interpretativo do Estado Novo”, é mister dar dois exemplos que ilustram onde queremos chegar.[1]
O primeiro exemplo é o do Marquês de Pombal. Se fossemos atrás daquilo que uma procissão barulhenta de dementados, por aí tem zurrado, a estátua do Marquês de Pombal tinha que ser derrubada.
Senão vejamos: Sebastião José mandou cercar uma aldeia de pescadores na Trafaria, para onde tinham fugido alguns desertores, por um esquadrão de cavalaria. Foi tudo morto pelo fogo.
Após protesto, uma parte considerável dos lavradores do Douro, na Régua, foram reprimidos à bruta, e na execução de uma pena prescrita, à revelia das mais elementares regras do Direito – mesmo daquela altura – mandou matar com requintes de crueldade (após tortura pública) os membros de duas ilustres famílias nobres portuguesas.
Foi ainda o maior expoente do “Despotismo Esclarecido”, a ponto de ofuscar o próprio Rei.
Só para ficarmos por aqui.
Caiu em desgraça no reinado de D. Maria I, mas foi recuperado (com juros) após a implantação do Liberalismo no nosso País, em 1820.
Não acham estranho que um ser deste quilate goze da fama de estadista (e sim ele teve alguns rasgos) e tenha a maior estátua existente no país - começada no tempo da I República (o concurso foi lançado em 1915), mas inaugurada no Estado Novo, a 13 de Maio de 1934 - que encima uma avenida chamada da Liberdade? Da Liberdade? Porque será?
Segundo exemplo, D. Pedro IV, Rei, por pouco tempo, mas Rei.
Como é que um príncipe herdeiro da coroa portuguesa – note-se na altura constituído como Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (uma fórmula política única no mundo!), se pode tornar Rei de um país e de uma dinastia que traiu, após ter liderado a secessão da mais importante parcela do território nacional?
Mesmo tendo em conta, a desastrosa acção do Governo e das Cortes, na altura; a complacência de D. João VI (que desventuradamente dizia algo como isto: “Pedro se o Brasil se for, ao menos que seja para ti, que me obedeces, do que para alguns dos aventureiros que por aí abundam”) e da quebra do acordo espúrio, de casamento entre D. Miguel e sua filha menor D. Maria (com sete anos de idade).
O que veio a causar a mais sangrenta guerra civil que em Portugal já houve!
Algum livro de História coloca hoje em devida perspectiva o que se passou ou falecem os encómios a D. Pedro, suspeito ainda do que hoje se chama de “violência doméstica”?
Porquê?
Ora após o 25/4/74 o revisionismo histórico, o deitar abaixo e o alterar tudo o que estava, atingiu foros inauditos. Sobretudo relativamente ao período conhecido por Estado Novo (1933-1974).
O frenesim para derrubar estátuas, mudar nomes às ruas e erigir piras para tudo o que se relacionasse com esse período (extraordinário) da nossa História e do seu principal doutrinador e líder, que não contivessem as mais fundas condenações do inferno, foi … infernal!
A bandalheira instituída, a censura dos “média”, a cobardia institucionalizada, o cretino do politicamente correcto e a ignorância e perfídia dos governantes, fizeram o resto.
O PC (P) e, mais tarde, o Bloco de Esquerda tomaram conta do Ministério da Deseducação Nacional (e não só) e instituíram “dogmas” que nem a Inquisição, nos seus piores dias, se atreveu a formalizar, mesmo tendo a Fé como respaldo.
Este último partido desencadeou nos últimos anos - ultimamente com a ajuda de um mentecapto importado, cujos caninos fazem lembrar os seus antepassados canibais - um revisionismo histórico radical e ultramontano, tentando a culpabilização e demonização do homem branco; tecendo um manto de mentiras sobre a Escravatura; a extraordinária “aventura” dos Descobrimentos; o rebaixamento dos heróis nacionais, as referências da Cultura, do Bem, do Belo, do Nacionalismo (palavra que virou maldita que devia ser elevada, nas sua verdadeira expressão); na ocultação da memória histórica do povo, etc., e na exaltação de piratas, bandidos, traidores, desertores, ou simples delinquentes do foro comum.
Por isso não existe qualquer surpresa nem admiração, por um grupo dos de sempre, quando ouviu falar que a Câmara Municipal de Santa Comba Dão está em vias de concretizar um museu na terra do auto consagrado (sem direito a contraditório) “ditador” e negregado “fascista”, António de Oliveira Salazar, com o nome de “Museu de Interpretação do Estado Novo” a que já, ostensivamente, mudaram para “Museu Salazar”.
O que não é a mesma coisa.
A contestação foi assumida prioritariamente por duzentos e tantos cidadãos através de uma petição, a maioria dos quais se intitula perseguida, prisioneira e vítima de maus tratos (vulgo tortura) por parte dos “esbirros” do regime deposto em 1974.
Pelos vistos não lhes basta a ditadura política e histórica imposta após o 25/4, o domínio dos “média”, a imposição ideológica nas escolas, a mentira do discurso político onde reinam mas, mesmo assim, tremem-lhes os pêlos do cóchis sempre que ouvem falar no fantasma do “Ditador”.
Faz lembrar o episódio ocorrido aquando da vinda a Lisboa de Filipe I, em 1581, e este visitou aquela que classificou de “igreja digna desse nome” que vislumbrou em Portugal, a do Convento do Carmo, onde estava sepultado o grande D. Nuno Álvares Pereira - o qual, curiosamente, ainda não foi alvo da sanha revisionista que por aí medra.
Quando os membros da comitiva de Filipe I souberam disto, um temor instintivo os fez recuar, a que Filipe I retorquiu algo parecido com, “Podeis avançar, o homem está morto há muitos anos…”.
Mas esta gente por cobardia e perfídia tem horror à verdade e pesa-lhe a consciência, se é que lhes resta alguma.
Vou ainda ser mais cru, de um modo que talvez nunca se tenha ouvido em Portugal, após a data florida a cravos e cravanços.
Desde 1933 – data da instituição do Estado Novo e do seu criador - morreram nas prisões, ditas políticas, portuguesas, cerca de 50 presos, como de resto escreveu José António Saraiva, no “Sol” de 31/8.
Ou seja em 41 anos (1933-1974), morreu pouco mais de uma pessoa por ano. Não sei (mas alguém há-de saber) quantas pessoas foram presas.
Um “site” de um conhecido admirador da seita e com antepassados carbonários (ou seja insuspeito de simpatias pelo Estado Novo) pode ler-se que entre 1931 e 1974, morreram 88 cidadãos às mãos das polícias e nas prisões (parte delas por doença), alegadamente por razões políticas, o que inclui o assassinato de Mondlane e Amílcar Cabral – o que nem sequer é correto e não fosse lícito eliminar aqueles que combatiam a soberania portuguesa e nos emboscavam as tropas; Catarina Eufémia, que toda a gente sabe ter-se tratado de um acidente e outros casos que necessitam enquadramento devido o seria ocioso fazer aqui.
Não direi que não houve violência e que vários cidadãos foram violentados na sua integridade física.
Mas pergunta-se: só houve violência durante o Estado Novo?
Na Monarquia Constitucional e na I República não houve violência? Havia alguma razão moral, racional, jurídica ou política para se atentar contra a Família Real ou fazer cair a Monarquia à bomba?
Só houve violência por parte dos defensores do Estado Novo? Os opositores demo - republicanos que tinham desgraçado o país e sobretudo a nóvel força internacionalista dos anarcas e comunistas nunca mataram ninguém? Não fizeram atentados? Não se mataram até, entre eles?
Não chegaram a atentar contra a vida do Chefe do Governo, em 1937? Não revoltaram dois contratorpedeiros no Tejo, para se irem juntar às forças republicanas em Espanha – uma autêntica traição à Pátria – episódio que está na origem da criação da prisão do Tarrafal?
Aquando da inauguração da Ponte Salazar, em 6 de Agosto de 1966, não quiseram sabotar um dos pilares da ponte de modo a derrubá-la, episódio frustrado “in extremis” pela polícia e que se pode considerar um atentado equivalente à das Torres Gémeas, em Nova Iorque?
E em plena Guerra do Ultramar – a que aleivosamente chamam “colonial” - não causaram a destruição de 28 aeronaves na Base Aérea de Tancos, em 8 de Março de1971, o que representou o maior dano material no esforço de guerra e que não encontra paralelo nas três frentes de guerrilha? Será que um dia vão revelar o que fizeram com a tripulação do navio Angoche? Querem que continue?
Lamento que tenha havido violência e mortes, sobretudo entre portugueses, e por razões políticas, mas tudo isto faz parte das opções de vida e da História.
A perda de uma simples vida, por motivos injustos, será sempre de lamentar, em termos absolutos.
Mas na vida real não há o “Absoluto” (apenas “Deus” é o Absoluto), mas sim o relativo.
Quer isto dizer que, no caso vertente, os mortos que houve por cá, na repressão às forças comunistas representam todas elas se comparadas com o que aconteceu na União Soviética, apenas um episódio decidido num pequeno – almoço em que o “kamarada” Estaline palitava os dentes, estando bem - disposto.
Sabe-se que o Marxismo e o Comunismo, para além de serem ideologias erradas, mentirosas, anti naturais, incompetentes, irrealistas, visando até um utopismo inconsequente por estúpido e onde os fins justificavam todos os meios, nos países em que se impuseram, o fizeram por meios violentos, sem respeito por nada nem ninguém, massacraram e violentaram populações inteiras à moda de Tamerlão, com a justificação da criação do “homem novo”. Malditos sejam.
E fizeram isto, não só na pobre e infeliz Rússia, mas em dezenas de países em todo o mundo, numa orgia de sangue e violência que causou cem milhões de mortos e culpa-se o Estado Novo por os reprimir?
Chama-se a isso antecipar problemas, higienização política e social ou simplesmente legítima defesa. Diria até, simples bom senso.
E digo mais, face ao que se passou e à experiência que tivemos aqui ao lado aquando da guerra civil espanhola (1936-1939), que possivelmente correspondeu à repressão mais dura por parte do governo português, toda a repressão foi branda, ou não sejamos conhecidos pelos nossos “brandos costumes”.
Mas nunca fiando, imaginem só por um momento, o que teria acontecido se o PCP e as forças que o apoiavam, não tivessem sido derrotadas no 25 de Novembro de 1975. Aí tivemos uma pequena amostra do que iria acontecer no após…
Por último, que Nação – digna desse nome - representada pelo seu Estado pode admitir uma força política no seu seio, que obedeça a uma potência estrangeira (a URSS) e que se manteve inimiga de Portugal entre 1917 e 1989, como foi objectivamente o caso do PC – o que o excluiu moralmente de ostentar o “P” de português? Mas que insanidade é esta?
Por tudo isto as razões aventadas pelos “dinossauros” que assinaram a petição (e agora estão caladinhos depois de uma intervenção do senhor PM…) contra a existência do Centro Interpretativo do Estado Novo (que volto a dizer, não é um museu sobre Salazar – e que fosse), não cabem na cabeça de um fósforo; revelam uma mentalidade cobarde, censória, medrosa da verdade, totalitária (que é o que sempre foram) enfim, a todos os títulos errada.
O despautério e o despeito é tanto que têm a lata de terem estas iniciativas depois de já terem assegurado a existência de museus (Peniche, da Resistência, etc.), fundações, estátuas, nomes de ruas, etc., onde pretendem perpetuar os seus erros, as suas falsidades, as suas ignomínias, os seus crimes e parte daqueles que foram os protagonistas.
E devo lembrar que o Estado Novo, ao contrário dos próceres da I República e do Regime saído da Constituição de 1976, nunca mudaram nomes a ruas ou apearam estátuas, de quem esteve antes…
Dou-lhes, por isso, um alvitre: proponham a existência de um museu (chamem-lhe o que quiserem) onde fique exposta a papelada roubada da sede da PIDE e enviada para Moscovo, n os idos de 1974/5, fora aquela que foi destruída ou posta a recato, parte da qual foi utilizada para todo o tipo de torpezas e chantagens para podermos ter um cabal entendimento de tudo o que se passou…
Até lá, ganhem vergonha e deixem de atacar o extraordinário estadista a quem com propriedade, o historiador José Hermano Saraiva chamou de “ditador santo”.
Vocês não valem o pó que ele tinha nos sapatos.
E que ao contrário do que escreveu, equivocado, António Barreto, nós não vamos tratar Salazar como ele nos tratou a nós!” A razão é simples: nós não merecemos o que fez por nós e pelo País.[2]
Viva a Verdade; abaixo a mentira! (que é aquilo que qualquer Estado, seja democrático ou não, e qualquer pessoa singular, deve defender).
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)
[1] Salazar, na altura com 51 anos, não esteve presente na inauguração. Imaginem se fosse hoje…
A cantina destinava-se a apoiar as crianças carecidas da freguesia do Vimieiro.
A escola primária que Salazar frequentou, foi construída no final do século XIX, sendo nela que, mais tarde, a sua irmã Maria do Resgate Salazar, foi professora.
[2] Artigo publicado no “Público”, a 1 de Setembro, intitulado “Três Museus”. E, tirando a parte referida, um bom e equilibrado artigo.
Fonte: O Adamastor
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