“Em outros tempos, na época da conquista do Oeste, os “benfeitores da humanidade”, os charlatões filantrópicos, os vendedores de poções milagrosas, eram expulsos das povoações e cobertos de alcatrão e penas”
O Império do Bem, Philippe Muray
Sobre os temas e as preocupações do mundo Ocidental, sobre o modo como surgem, como são apresentados e abordados, importa colocar algumas perguntas. Podemos hoje em dia pensar de modo crítico e independente das narrativas oficiais que os média nos ministram? Os média são mais que instrumentos ideológicos e activismo? O que produzem é mais que press release? Há diferenças entre os médias e as agências de comunicação? Qual a diferença entre os média do sistema e os que existiam e ainda existem em sistema políticos de pensamento único e detentores de uma única narrativa legítima?
Podemos e devemos pensar de modo crítico, embora saibamos que pensar fora dos termos estipulados pelas narrativas oficiais não é permitido e incorre em ser diabolizado e rotulado de todas as fobias e crimes.
No romance “Os Demónios” de Dostoievsky, também sobre benfeitores da humanidade, uma das personagens questiona-se: «A quem devemos dar graças por ter trabalhado as inteligências tão habilmente para que ninguém tenha já nem uma só ideia própria?». Nunca a indistinção entre realidade e ficção, verdade e falsidade foi tão poderosa. Há a realidade e as teorias sobre a realidade. Pouco sabemos ao certo sobre o que é ou não real. Fala-se muito de fake news, os maus utilizam notícias falsas para enganarem os bons. Mas fake news existem desde o tempo das cavernas, para se obter vantagem sobre o outro. Nos anos sessenta os arautos da desconstrução declararam que não há verdade, não há factos, tudo é linguagem, tudo é perspectiva e construção, tudo é relativo. Então se não há verdade como pode haver falsificações da verdade? Os tempos mais informados de sempre, são de factos tempos de grande confusão mental deliberada.
Se houve uma idade média, (que uma historiografia ignorante caracteriza como a idade das trevas), a atual bem poderá ficar conhecida como a idade mérdia. O conhecimento é regra geral obtido através dos média e este é, regra geral, superficial, inexato e falacioso.
Todos os tempos têm as suas exigências, causas e reivindicações, muitas são sensatas, correspondem a necessidades comuns, a alterações efectivas na vida das comunidades e das pessoas, mas essas causas por vezes enlouquecem, as ideias tornam-se loucas. As preocupações ecológicas e as alterações climáticas estão nesse leque, tal como a igualdade de direitos. As agendas progressistas deformaram causas sensatas em disparates e esse trabalho tem objectivos concretos. Alguém tira dividendos desse enorme trabalho de desfiguração. Há uma ortodoxia climática, ninguém como em relação à ideologia do género pode expressar dúvidas ou criticas. Estas questões são principalmente ideológicas e estão desligadas da sua relação com factos ou com ciência. Pensar e ser critico é hoje em dia ser criminoso para os aiatolas do género, do clima, dos veganismos e dos racismos.
As alterações ambientais são inseparáveis do funcionamento do capitalismo ultraliberal que é amoral e totalmente predatório e que vive em indestrutível união de facto com as agendas progressistas e libertárias. Essa união permite que não se questione o fundamental e que nos entretenhamos com a demenciação de causas que respondiam a desafios da vida em comunidade e do reconhecimento do outro como humano.
Sem a obsolescência programada dos objectos e o consumo dissociado da necessidade e reescalonada a escala dos prazeres mais importantes, seria possível o tipo de economia que existe no Ocidente? O ambiente e o clima seriam inalteráveis com o sistema politica e económico e social em que vivemos? A resposta é um duplo não.
Quem redige as narrativas dos movimentos contra as alterações do clima são os principais responsáveis pelas eventuais alterações. Esses movimentos são um modo de nada mudar e intencionalmente desviar as atenções em relação ao essencial. O modo de funcionar do ultraliberalismo e o infantilismo perigoso, e ele sim patológico, das agendas progressistas com o seu carácter fundamentalista e totalitário são a caução da deliquescência da cultura Ocidental e dos seus fundamentos.
Greta Thunberg (GT) é o nome de uma peça dessa narrativa oficial do pensamento único da mundividência Ocidental, mais um produto de consumo fácil e um paradigma de tudo o que está errado no nosso tempo. GT já não é uma criança, mas uma espécie de boneco dos ventrículos, para efeitos de adestramento das consciências que já pouco têm para pensar e apenas reproduzem slogans e ideias feitas que julgam suas e muito evoluídas, mas não passam de chavões ignorantes num mundo transformado num supermercado (a economia) e num circo (os valores).
A mente do Ocidental está reduzida a processos primários, constatados nos maniqueísmos mais básicos e nas diabolizações mas inscientes. Desse modo é fácil proceder a associações do tipo: “GT é boa, defende um mundo melhor, com menos poluição”. Quem questionar o produto é fascista, quer destruir o ambiente, é poluidor, não quer um mundo melhor, etc. Este é o grau de profundidade e o resultado do trabalho de uniformização exercido sobre o consumidor médio esclarecido.
Um trabalho colectivo de imbecilização transformou na mente do jovem a ideia que o sentido da vida é ser cool. A virtude, o sacrifício, o bem comum, a nobreza de carácter são machistas e retrógrados. Ser cool é que é. A coolização do mundo divide-se entre os fixes e os outros. O sentido da vida pouco mais é que um slogan semelhante aos anúncios publicitários de ténis ou marcas desportivas tipo Nike ou Adidas.
O essencial e o irrelevante estão misturados e ressurgem como paródias no quotidiano transformado em feira de atracções. Alcançamos finalmente a utopia igualitária, mas a da impotência mental. Há de facto uma igualdade mental acrítica.
João M. Brás, Professor de Filosofia e Escritor
Fonte: Notícias Viriato
Sem comentários:
Enviar um comentário