As notícias chegaram à Europa entre finais do século XVI e a primeira década de Seiscentos e criaram grande comoção. Mercadores, aventureiros e missionários portugueses haviam descoberto nas densas florestas do Sudeste Asiático grandiosos vestígios de uma civilização cuja existência era até então praticamente desconhecida no Ocidente. Esses testemunhos mudos em pedra, de tão grandiosos - numa escala apenas emulada pelos vestígios da civilização egípcia, levantaram perplexidade e até dúvidas sobre a idoneidade dos relatos.
Com efeito, em 1586, o frade capuchinho António da Madalena, internando-se em território do Camboja, deu conta de uma imensa cidade abandonada por alturas do lago Tonlé Sap. Os grandes tempos e palácios cercados por lagos (reservatórios de água), as portas triunfais, a rede de canais, as pontes em pedra ricamente adornadas por nagas, os parietais ricamente esculpidos; tudo, deixou maravilhados os viandantes que não podiam acreditar que tais realizações pudessem ter sido erigidas pelas populações da região, fazendo crer que só poderiam ter sido obra de "egípcios" ou de "judeus", ou mesmo de Alexandre o Grande ou dos "romanos". Os portugueses haviam descoberto a civilização Khmer, cujo império dominara os actuais Camboja, Laos Tailândia, Malásia, Birmânia e sul do Vietname entre os séculos VIII e XIV.
Infelizmente, o relato de Madalena perdeu-se num naufrágio no Cabo da Boa-Esperança, cabendo a Diogo do Couto, autor da Década Quarta da Ásia e guarda-mor da Torre do Tombo de Goa fazer eco do relato do frade Capuchinho. Para sossego dos mais reticentes, seguiram-se relatos de Marcelo de Ribadeneira, do Padre dominicano António da Orta e de Padre Luís da Fonseca, então em actividade missionária junto da corte cambojana em Lovek, sede da então muito diminuída monarquia Khmer. Dominando os rudimentos da língua khmer, Luís da Fonseca inquiriu os poucos monges budistas ainda vivendo no local e deles soube que "o grande templo com cinco torres se chama Angkor [Wat]". A notícia estava dada, mas foram necessários quase trezentos anos para que em meados do século XIX, Henri Mouhot - naturalista e explorador francês ao serviço da Royal Geographical Society of London - pudesse organizar uma expedição científica que confirmasse as impressões dos missionários portugueses quinhentistas.
MCB
Fonte: Nova Portugalidade
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