sexta-feira, 11 de julho de 2025

Os instrumentos das boas obras de acordo com a Regra de São Bento

 

[1] Primeiramente, amar ao Senhor Deus de todo o coração, com toda a alma, com todas as forças. 
[2] Depois, amar ao próximo como a si mesmo. 
[3] Em seguida, não matar. 
[4] Não cometer adultério. 
[5] Não furtar. 
[6] Não cobiçar. 
[7] Não levantar falso testemunho. 
[8] Honrar todos os homens. 
[9] E não fazer a outrem o que não quer que lhe seja feito. 
[10] Abnegar-se a si mesmo para seguir o Cristo. 
[11] Castigar o corpo. 
[12] Não abraçar as delícias. 
[13] Amar o jejum. 
[14] Reconfortar os pobres. 
[15] Vestir os nus. 
[16] Visitar os enfermos. 
[17] Sepultar os mortos. 
[18] Socorrer na tribulação. 
[19] Consolar o que sofre. 
[20] Fazer-se alheio às coisas do mundo. 
[21] Nada antepor ao amor de Cristo. 
[22] Não satisfazer a ira. 
[23] Não reservar tempo para a cólera. 
[24] Não conservar a falsidade no coração. 
[25] Não conceder paz simulada. 
[26] Não se afastar da caridade. 
[27] Não jurar para não vir a perjurar. 
[28] Proferir a verdade de coração e de boca. 
[29] Não retribuir o mal com o mal. 
[30] Não fazer injustiça, mas suportar pacientemente as que lhe são feitas. 
[31] Amar os inimigos. 
[32] Não retribuir com maldição aos que o amaldiçoam, mas antes abençoá-los. 
[33] Suportar perseguição pela justiça. 
[34] Não ser soberbo. 
[35] Não ser dado ao vinho. 
[36] Não ser guloso. 
[37] Não ser apegado ao sono. 
[38] Não ser preguiçoso. 
[39] Não ser murmurador. 
[40] Não ser detrator. 
[41] Colocar toda a esperança em Deus. 
[42] O que achar de bem em si, atribuí-lo a Deus e não a si mesmo. 
[43] Mas, quanto ao mal, saber que é sempre obra sua e a si mesmo atribuí-lo. 
[44] Temer o dia do juízo. 
[45] Ter pavor do inferno. 
[46] Desejar a vida eterna com toda a cobiça espiritual. 
[47] Ter diariamente diante dos olhos a morte a surpreendê-lo. 
[48] Vigiar a toda hora os actos de sua vida. 
[49] Saber como certo que Deus o vê em todo lugar. 
[50] Quebrar imediatamente de encontro ao Cristo os maus pensamentos que lhe advêm ao coração e revelá-los a um conselheiro espiritual. 
[51] Guardar a sua boca da palavra má ou perversa. 
[52] Não gostar de falar muito. 
[53] Não falar palavras vãs ou que só sirvam para provocar riso. 
[54] Não gostar do riso excessivo ou ruidoso. 
[55] Ouvir de boa vontade as santas leituras. 
[56] Dar-se frequentemente à oração. 
[57] Confessar todos os dias a Deus na oração, com lágrimas e gemidos, as faltas passadas e 
[58] daí por diante emendar-se delas. 
[59] Não satisfazer os desejos da carne. 
[60] Odiar a própria vontade. 
[61] Obedecer em tudo às ordens do Abade, mesmo que este, o que não aconteça, proceda de outra forma, lembrando-se do preceito do Senhor: "Fazei o que dizem, mas não o que fazem". 
[62] Não querer ser tido como santo antes que o seja, mas primeiramente sê-lo para que como tal o tenham com mais fundamento. 
[63] Pôr em prática diariamente os preceitos de Deus. 
[64] Amar a castidade. 
[65] Não odiar a ninguém. 
[66] Não ter ciúmes. 
[67] Não exercer a inveja. 
[68] Não amar a rixa. 
[69] Fugir da vanglória. 
[70] Venerar os mais velhos. 
[71] Amar os mais moços. 
[72] Orar, no amor de Cristo, pelos inimigos. 
[73] Voltar à paz, antes do pôr-do-sol, com aqueles com quem teve desavença. 
[74] E nunca desesperar da misericórdia de Deus. 
[75] Eis aí os instrumentos da arte espiritual: 
[76] se forem postos em ação por nós, dia e noite, sem cessar, e devolvidos no dia do juízo, seremos recompensados pelo Senhor com aquele prêmio que Ele mesmo prometeu: 
[77] "O que olhos não viram nem ouvidos ouviram preparou Deus para aqueles que o amam". 
[78] São, porém, os claustros do mosteiro e a estabilidade na comunidade a oficina onde executaremos diligentemente tudo isso.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

A CONSTITUIÇÃO…

 

 “Acervo de teorias irrealizáveis, se teorias se podiam chamar, e instituições talvez impossíveis sempre, mas de certo modo impossíveis numa sociedade como a nossa e na época em que tais instituições se iam exumar do cemitério dos desacertos humanos”. 

Alexandre Herculano (Sobre a Constituição de 1822)

Passamos por um momento político em que todos os dias se fala na necessidade de fazer uma revisão constitucional.

Comecemos por definir o termo: O termo Constituição é um nome feminino, acto ou efeito de constituir, organizar, etc., cuja etimologia deriva do latim “constitutis, - onis”. 

Em síntese veio a designar o documento que estabelece as regras fundamentais que regem o Estado, incluindo a Organização dos Poderes, os Direitos e Deveres dos cidadãos e os princípios básicos do Estado. 

Funciona assim (ou deve funcionar) como sendo a Lei Suprema do País que serve de base para todas as outras leis e regulamentos. 

É certo que virou moda contemporânea, ter uma Constituição o que começou com o aparecimento da Constituição Americana, que entrou em vigor em 4 de Março de 1789, de cariz republicano (e de inspiração maçónica) cuja ideia maior era garantir o desaparecimento da figura real - embora nos EUA a figura do presidente seja mais a de um “Presidente - Rei” - ou seja, a Coroa era substituída por uma “Carta de Intenções reguladora”, no fundo, um papel. Felizmente para os americanos, a sua Constituição só tem sete artigos e 27 “amendments” e nunca foi mudada. 

Os ingleses, com a sua “Revolução Gloriosa” de 1688, tidos por constituírem a Democracia mais antiga - depois dos ventos soprados em Atenas, com o apogeu de Péricles, no século V, A.C., se terem rapidamente esvaído em curto espaço temporal, para emergirem muitos séculos depois, através do “Terrorismo de Estado” em que, a malfadada “Revolução Francesa” se transformou, os ingleses, dizia, resistiram a ter uma Constituição por considerarem - diria que bem - que a sua “Magna Carta” (assinada pelo Rei João Sem Terra, em 15 de Junho de 1215) e restante conjunto de leis de origem medieval, tornavam a existência de uma Constituição, estulta e inútil. 

Diria que, no fim, a Constituição é, na prática, a oficialização de uma “ditadura”, que as forças políticas dominantes talham segundo os (seus) interesses de momento. 

Portugal governou-se durante 700 anos sem necessidade de tal artifício o que só veio a ser imposto, em 1822, pelas tais forças maçónicas já referidas, o que logo deu origem a revoltas, depredações, bancarrota e três sangrentas guerras civis, por atacado. E a independência do Brasil…

Convinha, pois, ao fim de três séculos já passados (oficiosamente, dada à luz do dia, em Londres, desde 1717), que sejam expostas as origens e verdadeiros objectivos e intenções , deste “Clube de Pensadores” (chamemos-lhes assim) que entretanto se dividiram em vários “ritos” (chamemos-lhes assim) e sempre protegidos por um manto diáfano do mistério e do segredo - algo que atrai ou repele, pelo medo ou curiosidade e que, em muitos casos, deram origem a organizações semelhantes de expressão violenta (isto é, que matam) que englobamos, por facilidade de expressão, em “Carbonárias”. 

Os portugueses tiveram a desgraçada experiência (mas já ninguém se lembra…) dos 16 anos pavorosos da I República, antecedidos pelos desgraçados anos últimos da Monarquia Constitucional, que culminou com a tentativa, quase conseguida, do assassinato de toda a Família Real Portuguesa, que estas organizações (que são transversais aos partidos políticos) dominaram.

***** 

Em Portugal as leis, desde cedo, estiveram compiladas e organizadas em “Ordenações” (a primeira das quais foi feita no reinado do Rei Senhor D. Afonso V), pelo que, em boa verdade, não precisamos de Constituição alguma. Em Portugal também podemos considerar que tivemos a nossa “Magna Carta”, e que está representada na reorganização saída das Cortes de Leiria, em 1254. 

Mas se insistirem em ter uma Constituição, então tem que se mudar radicalmente aquela que temos hoje e que é, talvez, a pior que tivemos desde 1822. 

Portugal já teve seis Constituições: 1822, 1826, 1838, 1911, 1933 e 1976. As últimas quatro sofreram várias revisões. 

E deixar de fazer Constituições que sejam sempre contra a Constituição anterior, como foi o caso de todas elas. 

Vou dar alguns exemplos: 

Em primeiro lugar a Constituição não tem de chamar-se “da República”, mas sim de “Portugal” ou da “Nação Portuguesa”. Creio ser auto explicativo.

Depois tem que deixar de ter artigos anti-democráticos - já que lhe querem chamar Democrática - como é o artigo 288 (limites matérias à revisão), que obriga a que a revisão da mesma, seja feita sob a forma republicana, por exemplo!

Depois um regime semi-presidencialista não é “carne nem é peixe”, o que conjugado com uma mal regulada independência dos “três poderes” (o que jamais se verificará), faz com que a resultante da acção política se assemelhe a um “helicóptero em estacionário”; ou seja, dificilmente tem uma resultante. 

O próprio PR, não pode ser afastado do cargo – por qualquer razão que o torne inimputável – a não ser que o próprio resigne (pensem bem o que poderia ter acontecido já, se tal estivesse consignado na lei…). 

O número de actores políticos não se deve confinar aos Partidos Políticos (aliás, tudo indica que enquanto existirem partidos políticos, jamais teremos país…) que transformaram o Regime numa “partidocracia” infame. Além disso a lei eleitoral necessita ser mudada para os eleitores votarem em deputados e não apenas nos chefes de partido. 

A Lei da Greve – que inferniza a sociedade desde 1976 - tem que ser revista urgentemente, bem como a Lei da Imprensa; outrossim têm de ser repostos os Tribunais Militares e o Serviço Militar Obrigatório. 

Outro aspecto importante é a parte relacionada com os “Direitos, Liberdades e Garantias”. Os Direitos devem ter em contraponto os Deveres. Os Direitos devem decorrer dos Deveres cumpridos. Ninguém tem que ter Direitos à partida; os Direitos decorrem do trabalho desenvolvido em sociedade. 

Consignar uma Constituição que toda a gente tem direito a saúde gratuita e habitação, por exemplo, é uma idiotice e uma inutilidade, pois enunciar “desejos” não é garantia da sua realização... 

Enfim, a Demagogia (que é a doença infantil da “Democracia”) campeia. 

O único Direito a consignar é o Direito à vida , por decorrer do Direito Natural e ser transcendente.  

E, claro, não é admissível colocar numa Constituição Portuguesa que as leis de “Bruxelas” preferem sobre as portuguesas.  

Enfim, quase tudo deve ser reformulado por profundamente errado nesta CR (a começar pela cor da capa). 

***** 

Atrevemo-nos a fazer uma proposta de CR em seis artigos apenas ( A Constituição, a existir, deve servir fundamentalmente para afirmar a existência de Portugal, como País soberano e assegurar a sua sobrevivência como tal).

 I  

1.º A Nação dos Portugueses teve início e desenvolveu-se a partir do dia 24 de Junho do ano de 1128, com as gentes que então habitavam o território conhecido por “Condado Portucalense”. Individualizaram-se por vontade própria - que é a “lei fundamental” que os determina - e tiveram o reconhecimento internacional à época, da sua independência soberana, através da Bula “Manifestus Probatum”, de 24 de Maio de 1179, do Papa Alexandre III (que apenas reconheceu o que já existia “de facto”). 

2.º O seu território e gentes foram regulados por Tratados e vicissitudes históricas diversas, defendidas e conquistadas, pela Espada, pelo Direito e pela Fé e desde o ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2025, é constituído pelo espaço situado na faixa ocidental da Península Ibérica, definido pelo Tratado de Alcanizes, de 1279, e os Arquipélagos dos Açores e da Madeira, colonizados e integrados na Coroa Portuguesa, no século XV. 

Apêndice: O território português de “Olivença e seu Termo”, encontra-se ilegalmente ocupado pela Monarquia Espanhola, por violação de Tratado. É dever inalienável do Estado Português reaver o território, pelos meios tidos como adequados.  

3.º São considerados portugueses, todos os nativos, nascidos no território português, filhos de pais portugueses (“jus solis e jus sanguinis”) ou aqueles a quem por razões excepcionais de mérito, for outorgada a nacionalidade portuguesa (o que será regulado por lei própria).                                                     

II  

1.º Deste modo se estabelece, em nome de Deus, o princípio basilar e orientador, em que deve assentar a existência dos Portugueses, o seu objectivo nacional fundamental, permanente e histórico:

“A defesa e preservação da sua individualidade e identidade própria (que representa a sua Liberdade), caldeada por 900 anos de História comum, o que deve ser prosseguido segundo os ditames da Virtude e da Honra, que a Moral e a Ética devem balizar - isto é, o “Bom Combate”. 

E pode exigir o sacrifício da própria vida.  

2.º A Organização do Estado que permita melhor definir a obtenção dos Estados de Segurança, Justiça e Bem-Estar (por esta ordem), para a Nação dos Portugueses será organizada e posta em lei própria, sem nunca pôr em causa que a Soberania “reside em a Nação” - que agrega e representa o conjunto das Famílias tradicionais Portuguesas – elemento nuclear da Sociedade.

III  

Nenhum pedaço de território português poderá ser vendido ou alienado a qualquer Estado, empresa, ou particular estrangeiro, mas apenas arrendado, nos termos em que a lei para o efeito dispuser. Excepção feita para o espaço circunscrito, cedido para efeitos de representação diplomática.

IV  

O que orientará a vida da Nação dos Portugueses será a prática do Bem e a Aristocracia dos Valores e não a vulgaridade “democrática” das opiniões.

V   

Nenhum Tratado Internacional que o Estado Português venha a subscrever, poderá sobrepor-se ou pôr em causa, a independência soberana da Nação Portuguesa. E o estatuto de Portugal na ONU, enquanto esta organização – tida como fonte do Direito Internacional e sede de um eventual “governo mundial” – existir, será o de “Observador”.

VI  

Esta Constituição será objecto de um referendo nacional, e depois de aprovada, jurada em cerimónia pública por cada cidadão português individualmente e por todos os seus descendentes quando atingirem a maioridade, o que ocorrerá em cada dia 10 de Junho, Dia de Portugal.

***** 

Boa sorte para os partidos que querem mudar a “C.R.”. 

E não, a minha Pátria não é apenas a língua portuguesa.

O País continua ingovernável e sem qualquer perspectiva ou projecto de futuro,  tirando o facto de nos termos metido num processo gigante de “eutanásia” colectiva acelerada.        

O que representa a falência do Regime saído da Constituição de 1976, que os “agentes” do sistema blindaram. 

Haverá Esperança?    

João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador (Ref.) 


Fonte: O Adamastor

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Convite

Convite – Quanto mais cruel foi a Democracia em obras, outro tanto cuidou em ser cortês e suave em palavras. Ela é a verdadeira Esfinge, que tendo bela cara e belos lábios, as unhas são de tigre. Para tudo convida, até para ser roubado e morto. Convida de palavra e manda na realidade. Sendo propriedade sua não dizer nunca o que faz, nem fazer nunca o que diz, teve justamente a desgraça de se lhe transtornarem todos os seus convites. Porém, ela acudiu logo com o remédio das baionetas e dos arcabuzes, para que lhos aceitassem.
Tanto há convidado a Democracia, que assim se acha com um contra-convite, que a convida a acabar com todos eles.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «Novo Vocabulário Filosófico-Democrático, indispensável para todos os que desejem entender a nova língua revolucionária», Nº 12, 1832


Fonte: Veritatis

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Começa hoje a Novena a Nossa Senhora do Carmo

ORAÇÃO PARA TODOS OS DIAS

† Pelo sinal da Santa Cruz, † livrai-nos, Deus, Nosso Senhor, † dos nossos inimigos.

† Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Ó Deus eterno, Pai, Filho e Espírito Santo! Prostrado em vossa adorável presença, imploro misericórdia pelos méritos de Vossa Filha predilecta, Mãe soberana e Esposa Santíssima, a excelsa Virgem Maria do Monte Carmelo, maternal protectora de todos os necessitados na vida, na morte e no purgatório. Ouvi-me, Senhor, nesta novena que a Ela consagro, e concedei-me o viver e morrer em vossa graça, para vos contemplar e bendizer eternamente na sua gloriosa companhia. Amém.

Ó Maria, Rainha e Formosura do Carmelo, Mãe admirável e bondosa; olhai com carinho para nós vossos filhos, aqui reunidos na vossa presença. Infundi em nossas almas uma fé sempre mais profunda e um amor mais perfeito a Verdade e ao Bem. Revesti o nosso coração com o Santo Escapulário; que ele seja um sinal de salvação e garantia de vossa bênção e protecção. Dai-nos a graça de alcançar a salvação eterna. Amém.

1º dia - 7 de Julho

Maria, Rainha e Formosura do Carmelo, muito antes do vosso nascimento, o grande profeta Elias, previu na misteriosa nuvem, que subiu do mar e cobriu o Monte Carmelo, a vossa grandeza de Mãe do Senhor.

Mãe Santa do Carmo, com toda a confiança nos aproximamos de vós. Olhai-nos com ternura e derramai a graça divina em nosso corações. Enriquecei-nos com os dons do Espírito Santo e as virtudes cristãs, Alcançai-nos a graça de nunca vivermos afastados de Deus. 

E agora, Mãe de Jesus, alcançai-nos a graça especial que nesta Novena vos pedimos: (pedir a graça). Rezar 3 Ave-Marias e Glória ao Pai...

Seja por todos bendita a Mãe de Deus, Santa Virgem do Carmelo. Sejamos por ela abençoados na Terra e no Céu. Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós.

2º dia - 8 de Julho

Rainha excelsa e Mãe terna do Carmelo! Os sucessores do profeta Elias, moradores perpétuos do Monte Carmelo, conservaram ao longo da história, o amor à vossa maternidade divina, tomando como exemplo, as virtudes que brilharam em vossa vida.

Fazei, Mãe amável e querida, que reine também nas nossas famílias, uma arraigada devoção para convosco. Seja esta devoção fonte perene de amor e união, de felicidade, alegria e paz. 

E agora, Mãe de Jesus, alcançai-nos a graça especial que nesta Novena vos pedimos: (pedir a graça). Rezar 3 Ave-Marias e Glória ao Pai...

Seja por todos bendita a Mãe de Deus, Santa Virgem do Carmelo. Sejamos por ela abençoados na Terra e no Céu. Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós.

3º dia - 9 de Julho

Virgem do Carmo, Maria Santíssima! Os religiosos carmelitas fizeram que fosses honrada e venerada em todas as partes do mundo. Vós retribuístes esta prova de amor, outorgando-lhes o singularíssimo dom do Santo Escapulário. Quisestes Mãe querida, que ele fosse vínculo de amizade, sinal da vossa perpétua protecção, para todos que devotamente o trazem consigo.

Virgem do Carmo, Mãe admirável! Aqui estamos para agradecer este favor tão insigne. Queremos trazer sobre o coração esta aliança de paz. Fazei com que ele nos preserve dos perigos, nos afaste dos males, e seja fonte permanente de graça e protecção. 

E agora, Mãe de Jesus, alcançai-nos a graça especial que nesta Novena vos pedimos: (pedir a graça). Rezar 3 Ave-Marias e Glória ao Pai...

Seja por todos bendita a Mãe de Deus, Santa Virgem do Carmelo. Sejamos por ela abençoados na Terra e no Céu. Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós.

4º dia - 10 de Julho

Mãe soberana e excelsa Virgem Maria! Ao entregar o vosso Escapulário a São Simão Stock, pedistes que o levássemos como veste, e o trouxéssemos sempre conosco como sinal de nossa devoção. O Escapulário nos compromete a seguir os vossos passos e acreditar no vosso poder junto de Deus.

Virgem Mãe de Deus e nossa! Obrigado por me teres envolvido com o vosso manto e me acolheres como vosso filho. Conduzi-me a viver, tanto na alegria, como no sofrimento, com o olhar sempre voltado para Deus. 

E agora, Mãe de Jesus, alcançai-nos a graça especial que nesta Novena vos pedimos: (pedir a graça). Rezar 3 Ave-Marias e Glória ao Pai...

Seja por todos bendita a Mãe de Deus, Santa Virgem do Carmelo. Sejamos por ela abençoados na Terra e no Céu. Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós.

5º dia - 11 de Julho

Virgem Maria, Mãe querida do Carmelo! No alto da Cruz, Jesus vos confiou o título de Mãe. Mandou que cuidasses de nós, com desvelo, que nos abrisses os olhos da fé, que fizesses bater nosso coração de amor ao próximo, e nos ensinasses a pronunciar o doce nome de Deus Pai.

Mãe amável e bondosa! Na caminhada dolorosa e difícil desta vida é gratificante poder chamar-vos de Mãe. Como é bom ter a certeza que nos acompanhais com ternura e amor. Muitas vezes a minha fraqueza me leva a ser a ovelha desgarrada. Mas o pensamento de que sois minha Mãe dá-me forças para voltar ao caminho do bem. 

E agora, Mãe de Jesus, alcançai-nos a graça especial que nesta Novena vos pedimos: (pedir a graça). Rezar 3 Ave-Marias e Glória ao Pai...

Seja por todos bendita a Mãe de Deus, Santa Virgem do Carmelo. Sejamos por ela abençoados na Terra e no Céu. Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós.

6º dia - 12 de Julho

Mãe excelsa e Rainha do Carmelo! Durante a vossa vida, sempre tivesses o coração aberto para Deus. Dissestes: “Faça-se em mim conforme a Vossa Vontade". O vosso coração também estava aberto ao próximo; ajudastes a prima Isabel, colaborastes nas bodas de Caná, e durante toda a vida servistes o vosso Filho Jesus.

Senhora e Mãe querida do Carmo! Devo aprender com a vossa vida, esta grandiosa lição de amor a Deus e ao próximo. Como humilde serva do Senhor, tivestes o coração aberto para ajudar a quem precisasse. Conduzi-me, ó Mãe, a não fugir dos necessitados, dos mais pequeninos, dos que me procuram e me pedem um gesto fraterno.

E agora, Mãe de Jesus, alcançai-nos a graça especial que nesta Novena vos pedimos: (pedir a graça). Rezar 3 Ave-Marias e Glória ao Pai...

Seja por todos bendita a Mãe de Deus, Santa Virgem do Carmelo. Sejamos por ela abençoados na Terra e no Céu. Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós.

7º dia - 13 de Julho

Virgem Maria, Mãe de Jesus! A lembrança do profeta Elias, que vivia na presença de Deus, assim como a atitude de Maria (irmã de Marta) em estar à escuta da Palavra de Deus, transmitiu aos Carmelitas e a todos os que usam o Santo Escapulário, um profundo amor à oração. Jesus procurou lugares solitários, mandou que fôssemos inoportunos na súplica, para ensinar-nos, quanto a nossa atitude de oração é do agrado de DEUS.

Virgem Mãe de Deus! Fazei com que a vosso exemplo, eu me torne pessoa de oração, meditando sempre e constantemente todas as palavras vindas da boca de Deus. Mãe amável, ajudai-me a vencer as dificuldades da vida, orando. Cheio de vigor divino, saiba dominar as preocupações materiais, e abrir o meu espírito a um relacionamento profundo com Deus.

E agora, Mãe de Jesus, alcançai-nos a graça especial que nesta Novena vos pedimos: (pedir a graça). Rezar 3 Ave-Marias e Glória ao Pai...

Seja por todos bendita a Mãe de Deus, Santa Virgem do Carmelo. Sejamos por ela abençoados na Terra e no Céu. Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós.

8º dia - 14 de Julho

Mãe soberana e grandiosa Rainha do Carmelo! O vosso Filhos Jesus fez-nos ver a grandeza de Deus, na simplicidade de um lírio do campo, na inocência de uma criança, ou na oferta de um copo de água. Acrescentou ainda, que o Seu Reino, pertencia aos pobres, aos fracos, aos que são simples como crianças.

Mãe e Senhora do Carmo! Na vossa humildade fostes escolhida para Mãe de Deus. Vivestes uma vida de silêncio e trabalho. No momento da morte de Jesus, em silêncio, unistes a vossa dor aos sofrimentos do vosso Filho. Ensinai-me a valorizar os acontecimentos do meu dia a dia como vindos das mãos de Deus para o meu bem.

E agora, Mãe de Jesus, alcançai-nos a graça especial que nesta Novena vos pedimos: (pedir a graça). Rezar 3 Ave-Marias e Glória ao Pai...

Seja por todos bendita a Mãe de Deus, Santa Virgem do Carmelo. Sejamos por ela abençoados na Terra e no Céu. Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós.

9º dia - 15 de Julho

Virgem Maria, Santa Mãe de Deus! O vosso Filho Jesus mandou que fôssemos santos como o Pai do Céu é Santo! Por isso, devemos colocar-nos no caminho da santidade, pois a santidade não é para um grupo de heróis, mas para todos. Quando não orientamos a nossa vida para Deus, deixamos de ser santos.

Senhora e Mãe do Carmo! Aqui reunidos, diante da vossa presença, vos chamamos mais de uma vez de Santíssima Virgem Maria. Recebestes este título, porque deixastes que Deus vivesse em vós, se manifestasse em vós, e vos envolvesse no seu Ministério. Conduzi-nos pelo caminho do bem e da santidade. 

E agora, Mãe de Jesus, alcançai-nos a graça especial que nesta Novena vos pedimos: (pedir a graça). Rezar 3 Ave-Marias e Glória ao Pai...

Seja por todos bendita a Mãe de Deus, Santa Virgem do Carmelo. Sejamos por ela abençoados na Terra e no Céu. Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós.


domingo, 6 de julho de 2025

Centenário da morte do poeta António Sardinha


No próximo dia 10 de Julho, pelas 18:30hs, a propósito do centenário da morte do poeta António Sardinha, o Grémio Literário irá realizar uma sessão de homenagem a este grande doutrinador da causa monárquica e figura emblemática do integralismo lusitano.
O evento, em que serão oradores os Professores José Miguel Sardica, José Manuel Quintas e Ana Isabel Devignes, contará com a presença de Sua Alteza Real Dom Duarte de Bragança.
Atendendo ao relevo cultural desta iniciativa e à importância do pensamento e da obra de António Sardinha em defesa da instituição real, são os associados e simpatizantes da Real Associação de Lisboa convidados a presenciar esta sessão.


sábado, 5 de julho de 2025

A herança do "colonialismo"

Conta-se que, depois do 25 de Abril, um diplomata do Leste europeu visitou Lourenço Marques. Acompanhou-o ali um dos dirigentes da FRELIMO e apontou indignado para as palhotas:
– Isto é uma herança do colonialismo!
O diplomata do Leste sorriu e comentou:
– Isto aqui é África. A herança do colonialismo está ali.
E apontava para os altos prédios que se erguiam imponentes a umas centenas de metros...

Barradas de Oliveira in «Quando os Cravos Murcham», Volume II – A Vergonhosa Descolonização, 1984


Fonte: Veritatis

sexta-feira, 4 de julho de 2025

História sucinta da vida, morte e exclesas virtudes da Rainha Santa Isabel

Muito se tem escrito acerca da vida da excelsa e virtuosíssima D. Isabel d'Aragão, Esposa d'el-rei D. Dinis de Portugal; mas impunha-se, há muito, a publicação d’um folheto como este, que, sendo conciso na sua descrição, não deixasse de relatar os factos que mais distinguiram Àquela que a cidade de Coimbra escolheu para sua Augusta Padroeira e Protetora.

O que o autor deste folheto teve em vista foi facultar aos fiéis, com grande economia de preço, um livrinho de leitura fácil e corrente, ao alcance de todos, onde a história sagrada da Rainha Santa possa deixar bem arraigada no espírito dos crentes a obra sublime, verdadeiramente maravilhosa, que lhe concedeu lugar na corte celestial.

As notas que colhemos foram extraídas, principalmente, do monumental trabalho de investigação histórica do Exº. Sr. Dr. António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, na sua tão apreciada obra “D. Isabel d' Aragão”.

A fama de santidade da Rainha Santa Isabel estende-se por todo Portugal e por muitas terras de Espanha. Em Coimbra, porém, é tão grande que em parte alguma do nosso País se realizam festas tão pomposas em honra d’um santo, como nesta cidade, onde concorrem para mais de 50.000 pessoas por essa ocasião.

É nos momentos de luta pela adversidade da vida que os conimbricenses, principalmente, recorrem à proteção da Rainha Santa, na sua fervorosa suplica, e se nem sempre logram alcançar a satisfação das suas preces, é já poderoso lenitivo para a sua dor a lembrança de que Ela nunca desamparou os infelizes com a sua divina graça.

Isabel d'Aragão, tendo sido um grande exemplo de virtudes, deu também uma prova bem frisante do seu amor a Coimbra, determinando em seu testamento que o seu corpo sagrado repousasse no Mosteiro de Santa Clara desta cidade, onde Ela esteve enclausurada, e donde foi trasladado o seu corpo para o novo mosteiro do mesmo nome.

É, pois, pouco quanto façam os conimbricenses em honra da memória sagrada da Sua excelsa Padroeira.

CAPITULO I - Nascimento da Rainha Santa, da corte de Aragão ao Trono de Portugal

A Rainha Santa Isabel, que Coimbra se ufana de ter como desvelada Protetora e valiosa Padroeira, nasceu na cidade de Saragoça (Espanha), no ano de 1271.

Filha do Príncipe real D. Pedro de Aragão e de sua esposa D. Constança, o seu nascimento foi desde logo iluminado pela graça divina, pois que seu avô, El-rei D. Jaime, que até aí vivia em grande discórdia com D. Pedro de Aragão, imediatamente se congraçou com este, passando ambos a viver na mais doce harmonia.

Assim demonstrou Deus aos homens que esta menina estava reservada a ser na terra a medianeira da paz, o Anjo predestinado a estabelecer a harmonia e a concórdia entre os desavindos; facto que mais tarde, quando Rainha de Portugal, se verificou nas diversas desavenças entre seu esposo, El-rei D. Dinis, e seu filho, D. Afonso IV.

A Rainha Santa Isabel foi, como já dissemos, aureolada desde o seu nascimento pela graça do Senhor. As suas preciosas virtudes bem cedo se revelaram, crescendo nela com a idade a fama que tanto a impôs à consideração de todas as cortes da Europa, facto que despertou em bastantes príncipes o desejo de possuírem como esposa tão excelsa senhora (6).

Foi à corte de Portugal, felizmente, que coube a suprema ventura de ser a preferida entre todas as outras, merecendo El-rei D. Dinis a glória de ter como consorte um tesouro de tantas virtudes e de tão preciosos encantos.

O casamento de D. Dinis com D. Isabel celebrou-se por procuração na antiga cidade de Barcelona, tendo lugar este acto no dia 11 de fevereiro de 1282, e contando a futura Rainha de Portugal apenas 11 anos de idade. Este auspicioso enlace constituiu um motivo de grande regozijo para todos os portugueses, antevendo estes os enormes benefícios deste casamento, o qual foi muito festejado e aclamado em todo o País, com demonstrações de grande alegria e verdadeira satisfação.

A saída de D. Isabel para Portugal causou a seus pais grandes tristezas, custando-lhes imenso essa separação pelas profundas saudades que D. Isabel deixava em todos os corações, que muito a estremeciam.

De Espanha até Coimbra foi a excelsa Rainha delirantemente aclamada por todo o povo que acorria à sua passagem, salientando-se mais essas carinhosas manifestações na antiga vila de Trancoso, onde, no dia 24 de junho de 1282, no templo de S. Bartolomeu, se celebraram com toda a pompa as bênçãos nupciais.

Em Coimbra, onde a esse tempo residia a Corte, juntamente com a principal nobreza do Reino, as manifestações de contentamento e alegria pela chegada dos régios nubentes atingiram o mais delirante entusiasmo, conquistando logo a Rainha D. Isabel a simpatia e o amor d’um povo que, mais tarde, havia de herdar o seu mais precioso tesouro — o sagrado corpo que todos (7) hoje veneramos — e que esta cidade conserva com a mais desvelada e respeitosa devoção.

As manifestações de regozijo com que a cidade recebeu os régios consortes foram, pois, verdadeiramente grandiosas, vestindo a cidade as suas melhores galas para bem lhes significar o contentamento de que se achava possuída por motivo daquele enlace, cujos efeitos tanto se evidenciaram na vida da Nação portuguesa, e de que Coimbra coparticipou em larga escala pelos benéficos actos de caridade que a Santa Rainha espalhou por toda a parte.

Foi nesta cidade, principalmente, que D. Isabel de Aragão manifestou mais claramente a pureza da sua alma. Os actos de caridade que praticou, os socorros por ela prestados à indigência, aos órfãos, às viúvas e às donzelas abandonadas, foram os primeiros labores que lhe teceram a sua coroa de glória; a fundação de asilos, de albergues e de hospitais, que a sua magnificência sustentou e onde se recolhia uma legião de infelizes, originou, sem dúvida, a fama de santidade que bem cedo a distinguiu e que, mais tarde, a 25 de Maio de 1625, dia da Santíssima Trindade, a Igreja confirmou, englobando-a no número dos eleitos do Senhor.

CAPITULO II - Actos de Caridade

Se durante a vida de El-rei D. Dinis a ação da Rainha Santa foi um constante manancial de actos virtuosos, a partir do momento da sua viuvez, a sua ação tornou-se verdadeiramente exemplar (8).

O número de factos que desde então assinalam tão gloriosa existência na terra, mais e mais fazem arraigar na alma do povo a convicção dos desígnios de Deus, por Ela tão santamente interpretados.

Sem todavia esquecer os deveres de Rainha, que lhe absorviam uma grande parte dos seus cuidados, e não poucas vezes foram motivo de profundos desgostos, D. Isabel de Aragão cinge livremente o hábito de freira clarissa, e, volvendo os olhos piedosos para um mais largo horizonte, consagra-se completamente a obras de caridade, fundando e auxiliando hospícios e asilos, nos quais se albergam, sob a sua proteção, muitas infelizes que se regeneraram pelos seus conselhos e alcançaram na terra a felicidade que só sabem gozar as almas puras e simples.

Querendo encaminhar-se pela estrada luminosa que da terra se eleva até Deus, um dos seus primeiros cuidados, ao ver-se cingida pela roupagem da viuvez, foi trocar os faustos das glórias terrenas pela humildade da clausura a que, como já dissemos, livremente se sujeitou.

Junto dos seus Paços reais corriam vagarosamente as obras para a fundação do Convento de Santa Clara, obras que prometiam eternizar-se por demandas entre os frades crúzios (a) e D. Maior Dias, fundadora daquele convento, e que certamente ficariam incompletas se não fosse o auxílio e proteção que a Rainha Santa dispensou para a sua rápida conclusão.

Uma vez concluído, cuidou logo a Rainha Santa em fundar junto deste convento um asilo para órfãos e para a pobreza envergonhada, chamando para junto de si (9) algumas amas de leite com o encargo de alimentarem as crianças desvalidas!

A maior parte do seu tempo tinha-o a Rainha Santa distribuído por forma a satisfazer os seus deveres de Rainha e cristã; o restante, empregava-o no ministério da caridade, visitando os asilados, a quem não só consolava com a sua palavra, mas muitas vezes servia de carinhosa enfermeira, curando as chagas que lhes corroíam o corpo.

Nesta e em muitas outras obras de verdadeira abnegação, despendia a Rainha Santa quase toda a sua fortuna. Com o auxílio de Deus, a quem firmemente procurava engrandecer com os merecimentos das suas preciosas virtudes, nunca a Rainha Santa lutou com dificuldades para se desempenhar da sua nobre missão. Os proventos de que dispunha parece que tinham o condão de se multiplicar, e, se algumas vezes houve em que o seu socorro tinha de fazer face a maiores calamidades, então eram as rosas que, adquirindo a forma de ouro reluzente, premiavam os seus actos de caridade e satisfaziam os encargos adquiridos para garantir o pão aos famintos!

Da sua vida, tão brilhantemente documentada na preciosa obra de S. Exª. o sr. Dr. Antônio Garcia Ribeiro de Vasconcelos, erudito professor da Universidade de Coimbra [1], constam muitos e importantes factos da vida gloriosa da Rainha Santa, traduzidos todos eles nos mais altos benefícios em favor dos desprotegidos (10).

CAPITULO III - Morte da Rainha Santa

Em Junho de 1336, teve a Rainha Santa conhecimento de que seu filho D. Afonso IV e seu neto D. Afonso XI, rei de Castela, se haviam indisposto por motivo de graves acontecimentos, tendo-se declarado a guerra entre aqueles dois poderosos monarcas.

Quando a Rainha Santa soube de tal resolução, imediatamente se resolveu a partir para Estremoz, lugar onde a esse tempo estava o seu filho acompanhado de toda a Corte.

Este propósito foi prudentemente combatido pelos médicos da Rainha Santa, os quais, temendo mais o excesso do calor e a fadiga dessa longa viagem do que a idade da virtuosa Senhora, se apressaram a demovê-la dessa resolução. Inúteis rogos e infrutíferas tentativas! A Rainha Santa, desprezando esses bons conselhos e animada somente em restabelecer a paz entre os reis desavindos — filho e neto —, parte apressadamente de Coimbra, caminhando sob um sol abrasador, e chega finalmente junto das fortalezas de Estremoz, abatida e fatigada, mas cheia de ânimo para cumprir a sua carinhosa missão.

Logo que a sua chegada é conhecida no acampamento de D. Afonso IV, imediatamente se suspendem as hostilidades e todos se abeiram do leito da Rainha Santa, para lhe prodigalizarem os cuidados que a sua melindrosa saúde exigia.

Baldados esforços porque o mal agravava-se de momento para momento. Uma pústula que rapidamente (11) lhe apareceu num braço tornou mais melindroso o seu estado, e, no dia 4 de julho, manhã cedo, a Rainha Santa declarou que queria receber os últimos Sacramentos. Na tarde desse mesmo dia, as forças principiaram a faltar-lhe, a Rainha Santa vê que é chegada a sua última hora, e, erguendo o pensamento até ao Céu, encarrega a Mãe de Deus de lhe receber a alma, pronunciando com toda a suavidade estes versos do hino eclesiástico:

Mãe de graças e Misericórdia
Maria piedosa e forte:
Livra a minha alma, recebe-a
Na hora da minha morte.
A seguir, recita com visível comoção algumas orações; os olhos fecham-se lentamente, o peito deixa de arfar, e todos os presentes, estupefactos ante aquele quadro tão emocionante, compreendem que a alma pura da Rainha Santa, solta do seu venerável corpo, subia aos céus a receber o prêmio das suas virtudes, descansando para sempre na paz do Senhor, onde eternamente gozará a bem-aventurança com que Deus premeia os seus eleitos.

É, pois, no reino celestial que a nossa Santa Protetora está recebendo o prêmio das suas boas ações e dos seus constantes trabalhos. Ali, no seio de Deus, junto da Virgem Santíssima, intercede pelo seu povo, por aqueles que a ela recorrem com a alma angustiada pelas dores humanas, e que jamais esquecem o seu nome para lhe tributar as homenagens do seu reconhecimento. Essas homenagens concretizam-se no culto (12) fervoroso de todos os portugueses pela Santa Rainha, e, mui especialmente, do povo de Coimbra que por Ela nutre o maior respeito e a mais significativa devoção.

CAPITULO IV - Trasladações

Logo a Rainha Santa ter entregado a sua alma a Deus, o primeiro cuidado da Corte foi escolher local para depositar o corpo de tão excelsa Senhora, opinando uns para que fosse sepultado no Convento dos Franciscanos, em Estremoz, e outros para que fosse trasladado para a Sé de Évora, a cidade mais próxima daquela terra. Por conselho de El-rei, procurou-se o testamento de D. Isabel, e, vendo-se por ele que a Rainha Santa queria ser sepultada em Coimbra, na Igreja de Santa Clara, foi respeitada esta vontade, dando-se logo ordens para se pôr em pratica o desejo ali expresso.

Apesar das opiniões em contrário, prevaleceram as determinações de El-rei.

O préstito fúnebre saiu de Estremoz na tarde do dia 5 de julho e, em marchas apressadas, chegou a Coimbra no dia 11 do mesmo mês, tendo atravessado tão longo percurso debaixo d’um sol abrasador.

As inúmeras pessoas que constituíam o préstito fúnebre foram tomadas de verdadeiro espanto quando, ao 3º dia de viagem, notaram que o ataúde onde vinha o corpo de Santa Isabel principiava de abrir algumas fendas, escorrendo por entre elas um liquido que todos supuseram ser proveniente da decomposição do cadáver (13).

Mas, feliz engano! Esse liquido, longe de exalar qualquer cheiro desagradável, antes era ameno e consolador, espalhando no espaço um tal aroma que, aqueles que a princípio se sentiam inquietos e desconfiados, logo se aproximaram do ataúde, louvando ao Senhor por esta manifestação da Sua omnipotência.

Quando o cortejo chegou a Coimbra, deram-se então cenas comovedoras e lancinantes entre a população citadina. Todos, à porfia, queriam beijar o ataúde onde vinha a sua Protetora, a sua desvelada Benfeitora, ouvindo-se choros de verdadeiro compungimento pela morte da virtuosa Rainha, cujo passado tinha sido um manancial de graças e bondade!

Quando o ataúde deu entrada na igreja de Santa Clara, muita gente supôs que o corpo da Rainha Santa seria exposto à veneração do público. Tal se não deu; no dia seguinte, 12 de julho, é que se celebraram os ofícios divinos por alma de D. Isabel, sendo estes actos revestidos de toda a solenidade e com a assistência de alguns Prelados, Professores da Universidade, Rei, Cabido e muitos religiosos das diversas ordens.

Logo que eles terminaram, foi o ataúde transportado para uma capela que a Rainha Santa havia mandado edificar ao fundo da Igreja e na qual estava o túmulo de pedra que em sua vida também mandara construir.

Foi dentro deste precioso monumento de pedra, ricamente cinzelado, que se colocou o ataúde tal qual veio de Estremoz, envolvido numa pele de boi e com um pano de brocado repregado por cima.

Sobre o ataúde colocaram o bordão de peregrina e uma bolsa que o Arcebispo de S. Tiago de Galiza ofereceu à Rainha Santa quando ela visitou esta cidade (14), sendo em seguida fechado o túmulo com a pesada pedra que ainda hoje o cobre e na qual vemos representada a figura da Rainha Santa com habito de freira.

Assim se conservou até ao dia 26 de março de 1612, 276 anos depois da sua morte, dia em que foi aberto por consentimento do Sumo Pontífice.

Esta cerimônia, que se tornou necessária para se proceder ao processo de canonização de D. Isabel, foi presidida pelo Bispo de Coimbra, D. Afonso de Castelo Branco, e, tendo como assistentes, D. Martim Afonso, Bispo de Leiria, Dr. Francisco Vaz Pinto, dois médicos, um cirurgião e algumas testemunhas, a quem foi confiado o encargo de examinarem os restos mortais da Rainha Santa.

Pedimos licença para trasladar para aqui o relato que sobre esta cerimónia encontramos no autorizado (15) livrinho — "Historia Popular da Rainha Santa Isabel" — Protetora de Coimbra.

“Subindo à capela superior, onde estava o túmulo, e analisando-o com todo o cuidado por fora, acharam-no exatamente como havia ficado 276 anos antes, quando sobre ele se colocara a tampa, depois de introduzido o ataúde que encerrava o corpo. Apenas a piedade dos fieis o havia rodeado de demonstrações da fé e amor que os prendia Àquela cujos restos ali estavam encerrados.

“Ninguém sabia se o túmulo continha somente os ossos da santa Esposa de D. Dinis, se mais alguma coisa que ainda restasse do corpo e mortalhas; por isso, todos estavam ansiosos por que o túmulo se abrisse.

“Retirada a pedra, encontrou-se a bolsa e o bordão de peregrina, que foram pelo bispo-conde entregues à guarda das religiosas.

“O ataúde ainda se achava envolvido em restos da pele de boi e da tela vermelha que havia sido repregada por cima.

“Com dificuldade se despregou a tábua superior do ataúde, cortaram-se à tesoura os numerosos envoltórios em que a santa Rainha fora amortalhada em Extremoz, antes de ser metida no caixão, os quais, se encontraram com admiração de todos, em perfeito estado de conservação, como se ali tivessem sido colocados pouco antes.

“Por fim descobriu-se o rosto, peito e braço direito da nossa excelsa Protetora. Todos caíram de joelhos, estupefactos pelo grande milagre que viam!

“O corpo achava-se inteiro e incorrupto, branco como se fosse de cera, a cabeça coberta de louros cabelos, (16) perfeitamente seguros na pele, a boca e olhos fechados e bem compostos, tendo impresso na fisionomia o cunho da bondade e majestade que haviam sido apanágio da Rainha Santa. Vestia o habito de estamenha (b) das freiras de Santa Clara, e um pano branco de linho envolvia-lhe a cabeça. Do ataúde saia aroma suave.

“À vista de tal milagre, as religiosas cantaram o hino do velho Simeão, dizendo: ‘Agora, Senhor, já podeis deixar-nos morrer em paz, porque os nossos olhos viram as grandes maravilhas do vosso poder’.

“Feito pelos médicos e cirurgião o exame minucioso que se lhes pedia, consertaram-se de novo as mortalhas, o túmulo fechou-se, e de tudo se lavrou o auto competente”.

Com o decorrer do tempo e as sucessivas enchentes do Rio Mondego, muito grave se tornou a vida monástica no convento fundado pela Rainha Santa. Como as invernias (c) ameaçassem sepultar nas areias daquele rio as paredes do convento, as religiosas receavam, e com razão, ficar sepultadas sob os seus escombros, perdendo-se neles todas as preciosidades que enriqueciam a igreja e entre as quais devemos destacar o precioso corpo da Rainha Santa.

Em vista, pois, dos graves e constantes perigos a que estava sujeita a comunidade do velho mosteiro, dignou-se El-rei D. João IV ouvir os rogos das religiosas clarissas e mandou erigir no Monte da Senhora da Esperança um novo convento para sua habitação.

As obras deste grandioso edifício, que se prolongaram durante muito tempo, foram iniciadas no dia 5 de julho de 1649, e só no dia 29 de outubro de 1677 (17), 28 anos depois, ele estava apto a receber as referidas religiosas.

Por ordem do Príncipe regente D. Pedro, 2º filho de D. João IV, procedeu-se no dia 27 de outubro daquele ano à abertura do túmulo da Rainha Santa, assistindo a este acto alguns representantes da Corte, 8 Bispos, Professores da Universidade e muitos religiosos das diversas ordens de Coimbra. Como se verificasse que o caixão que guardava o corpo da Rainha Santa estava um tanto deteriorado, logo se procedeu à construção d’um outro que o substituísse e para o qual foi mudado o corpo da veneranda Padroeira de Coimbra. Durante esta operação, quis o acaso que se soltassem algumas pregas das roupagens que envolviam os despojos de Santa Isabel, podendo assim todos os presentes ver a mão direita desta virtuosa Rainha, alva como a neve, e em tão perfeito estado de conservação que logo provocou o natural e piedoso desejo de ser osculada, como o foi com efeito, por todos aqueles que tiveram a suprema felicidade de ali estar reunidos.

Duraram os preparativos da trasladação para o novo convento ainda 2 dias, e, em 29 de outubro, foi a Rainha Santa para ali conduzida em procissão, acompanhada de muitos milhares de pessoas, e tendo de atravessar por entre duas alas compactas de povo que se estendiam até ao novo convento.

Como a essa data não estivesse ainda concluída a igreja que hoje admiramos, foi o corpo da Rainha Santa conduzido para uma pequena sala existente ao fundo do Coro, colocando-se então no precioso e riquíssimo túmulo de prata (fig. 2) que D. Afonso de Castelo Branco, um dos mais notáveis Prelados desta diocese, mandara fabricar, e no qual ainda hoje se guarda o (18) precioso tesouro que Coimbra venera com o maior respeito e o mais devotado amor!

Concluída que foi a Igreja de Santa Clara, procedeu-se no dia 3 de julho de 1696 a nova trasladação da Rainha Santa para a tribuna da Capela-Mor, lugar em que esteve durante muitos anos e donde teve de mudar-se por causa da invasão dos franceses.

No dia 1 de outubro de 1810, tiveram as freiras conhecimento de que os soldados de Massena, enfurecidos com a derrota que tiveram no Bussaco dias antes, vinham a caminho de Coimbra. Sabedoras do pouco respeito que aos soldados franceses mereciam as preciosidades do nosso País, apressaram-se elas em esconder as melhores alfaias do Convento e, apressadamente, retiraram também do seu lugar o túmulo da Rainha Santa, o objeto da sua mais estremecida estima, indo ocultá-lo numa cela do dormitório, a última do lado esquerdo, onde dois pedreiros de absoluta confiança o (19) entaiparam, sob um arco que engenhosamente foi disfarçado com uma cortina de alvenaria.

Aí se conservou o túmulo da Rainha Santa até ao ano de 1814, data em que se restabeleceu a paz geral, sendo então novamente mudado para o seu lugar com grande regozijo das freiras clarissas e ainda mais do povo de Coimbra, que ansiosamente desejava acercar-se do túmulo da sua desvelada Protetora, da sua excelsa Padroeira.

Infelizmente, não pararam aqui as mudanças a que esteve sujeito o túmulo da Rainha Santa.

Quando em 1852 D. Miguel visitou esta cidade, resolveram as freiras, certamente no propósito de ver também a Rainha Santa, mudar o seu tumulo para o Coro Superior da igreja. Com efeito, no dia 21 de outubro daquele ano, foi D. Miguel a Santa Clara e aí, na presença das pessoas do seu séquito, foi aberto o caixão onde está o corpo da excelsa Rainha, esposa de D. Dinis.

Para o mesmo efeito foi, ainda, o túmulo da Rainha Santa mudado no ano de 1852, por ocasião da visita de D. Maria II a Coimbra, e em 1860, quando aqui esteve El-rei D. Pedro V. De então até 1912, conservou-se sempre o túmulo da Rainha Santa no referido Coro.

Como a esta data o Convento de Santa Clara não tivesse já quem zelosamente pudesse cuidar do túmulo da Rainha Santa, e porque o local onde ele estava não oferecia as necessárias condições de segurança, podendo facilmente ser violado por aqueles que vieram estabelecer residência neste convento, praticando talvez um desacato que ferisse profundamente as crenças dos devotos da Rainha Santa, conseguiu a Mesa desta Confraria que o (20) túmulo fosse mudado para o lugar que lhe era mais próprio, a tribuna da Capela-Mor da igreja, lugar onde agora se conserva e, segundo cremos, se conservará definitivamente. Porque esta mudança se deu em nossos dias, podemos aqui reproduzir com toda a fidelidade a forma como ela decorreu, louvando nós o Senhor por nos dar ocasião de presenciar tão emocionante como piedoso ato, cuja descrição respigamos d’um jornal desta terra [2].

“Do coro superior da Igreja de Santa Clara, foi no Domingo trasladado para a tribuna da Capela-Mor da mesma igreja, o riquíssimo túmulo de prata e a respectiva urna que encerram o venerando corpo da Rainha Santa.

“Esta trasladação, sem dúvida motivada pelos rumores que corriam nesta cidade, rumores estes em que se salientavam até actos menos respeitosos, fez-se com a possível reserva afim de evitar aglomerações nada convenientes ao bom êxito da trasladação.

“Ainda assim, o número de pessoas que se reuniu no templo de Santa Clara, na ânsia de assistir a tão piedoso acto, foi elevado, vendo-se ali representadas muitas das principais famílias de Coimbra.

“Perto das 5 horas da tarde, quando estavam concluídos os preparativos para a deslocação do túmulo, a entrada no coro foi rigorosamente interceptada, ficando ali apenas, além do pessoal necessário para a trasladação, os srs. Francisco José da Costa e Antônio Augusto Lourenço, da Mesa da Rainha Santa; Francisco Nazaré, (21) Joaquim Rasteiro Fontes, Custódio José da Costa, Adriano Ferreira Rocha e João Ribeiro Arrobas, os quais foram convidados a examinar as fitas lacradas que ligavam a tampa do túmulo.

“Verificada a sua inviolabilidade, foram quebradas as fitas e retirada de dentro do túmulo a urna em que repousa Santa Isabel. Esta operação, é bom frisá-la, foi feita com o maior respeito, e o seu bom êxito deve-se, sem dúvida, aos srs. Antônio Augusto Gonçalves e Antônio Viana, que, mui sensatamente, dirigiram os trabalhos da trasladação.

“No momento em que ia conduzir-se para a tribuna da Igreja o caixão em que se encerra o corpo da Rainha Santa, uma comissão de senhoras obteve do sr. Antônio Augusto Gonçalves permissão para conduzir a urna, sendo pois esta transportada pelas seguintes: D. Maria do Carmo Joice Dinis, D. Maria de Gusmão Galvão, D. Elvira Refoios de Matos, D. Maria José Joice Dinis, D. Maria Amelia Carneiro de Sousa Pires, D. Isabel de Sousa Coutinho (Linhares), D. Tafones Roxanes de Carvalho, D. Maria do Carmo Forjaz, D. Maria do Céu Pinto e D. Matilde de Matos Mancelos Aragão.

“Logo que a urna deu entrada na Capela-Mor, as inúmeras pessoas que ali a aguardavam prostraram-se respeitosamente na mais viva e sincera contemplação, vendo-se em muitos olhos o deslizar de lágrimas constantes. É que dentro daquele ataúde está em repouso, não só o corpo d’uma Mulher nobre por excelência e virtuosa e santa pelos rasgos generosos da sua cândida alma, mas, o que é mais, por estar ali concentrada a fé ardente e sincera de milhares de crentes que nos transes dolorosos da sua atribulada existência envolvem nas suas fervorosas preces o nome da Rainha Santa (22) como um balsamo consolador para as suas misérias e para as suas desditas.

“Por isso as pessoas que ali se reuniram para assistir à passagem da Rainha Santa viveram bem felizes aquele rápido momento da existência. A noite, porém, ia avançando e era forçoso pôr termo aos trabalhos da trasladação, colocando-se no local designado o ataúde da Rainha Santa.

“Feito este serviço o povo começou a retirar-se, louvando a nobre ideia de trasladar para a Igreja a santa querida que passou a vida na senda do bem, espalhando por toda a parte o perfume das suas rosas, que são aquelas que lhe engrinaldam o nome querido e ainda hoje digno de todo o respeito”.

CAPITULO V - Aberturas do túmulo e caixão da Rainha Santa

Por ser muito curiosa, damos neste lugar a notícia das vezes que tem sido aberto o túmulo e caixão da Rainha Santa.

A notícia descritiva desses actos tão solenes extraímo-la da notável obra do Exmo. Sr. Dr. Antônio Ribeiro de Vasconcelos — “D. Isabel de Aragão” —, primoroso trabalho que S. Exª. publicou em 1894, e que é bem um autêntico testemunho das suas altas qualidades de escritor erudito e consciencioso.

I. — Segunda feira, 26 de Março de 1612.

II. — Quarta feira, 27 de Outubro de 1677.

III. — Domingo, 11 de Janeiro de 1695, na capela que provisoriamente serviu de Igreja em o novo Mosteiro. (23)

IV. — Segunda-feira, 2 de Julho de 1696, às 8 horas da manhã.

V. — No mesmo dia, horas depois, nova abertura pelas freiras do convento, por estas não terem assistido como desejavam à primeira cerimónia.

VI. — No dia 4 do mesmo mês e ano foi novamente aberto o tumulo por se desconfiar que as freiras, num excesso do seu amor para com a Rainha Santa, se tivessem apropriado de algumas relíquias ou mesmo furtado o seu corpo, ocultando-o em sítio só por elas conhecido.

VII. — Segunda feira, 9 de Agosto, foi o tumulo aberto na presença de D. Pedro II.

VIII. — Domingo, 29 do mesmo mês e ano, na presença de D. Carlos, Arquiduque da Áustria.

IX. — Domingo, 21 de Outubro de 1832, na presença de D. Miguel e das Infantas, D. Isabel Maria e D. Maria de Assunção.

X. — Domingo, 25 de Abril de 1852, na presença de D. Maria II, de El-rei D. Fernando, seu esposo, do Príncipe real D. Pedro e do Infante D. Luís.

XI. — Quinta feira, 17 de Junho de 1852, para serem substituídas as vestes que amortalhavam a Rainha Santa por outras oferecidas por D. Maria II.

XII. — Quinta feira, 29 de Novembro de 1860, na presença de D. Pedro V e de seus irmãos D. Luís e D. João.

XIII. — Quarta feira, 22 de Outubro de 1862, na presença do Príncipe Humberto, depois Rei de Itália, que foi hóspede da nossa Universidade.

XIV. — Quarta feira, 9 de Dezembro de 1863, na presença de El-rei D. Luís e de sua esposa D. Maria Pia.

XV. — Quarta feira, 21 de Junho de 1865, na presença de D. Isabel Cristina, Princesa Imperial do Brasil e de seu esposo, o Conde de Eu. (24)

XVI. — Sábado, 4 de Julho de 1868, na presença do Infante D. Augusto.

XVII. — Segunda feira, 4 de Março de 1872, na presença de D. Pedro II, Imperador do Brasil.

XVIII. — Quarta feira, 14 de Maio de 1875, na presença de El-rei D. Fernando, do Infante D. Augusto e da Condessa de Edla.

XIX. — Terça feira, 24 de Dezembro de 1889, na presença dos Imperadores do Brasil.

XX. — Sábado, 25 de Julho de 1892, na presença de El-rei D. Carlos, D. Amelia e do Príncipe D. Luís Filipe.

Finalmente, no dia 28 de Março de 1912 procedeu-se a nova e última abertura do ataúde da Rainha Santa.

Como decorreu este acto di-lo uma das testemunhas que a ele assistiram e que fielmente fez reproduzir na “Gazeta de Coimbra”, de 30 de Março de 1912.

Como o número do jornal que publicou esta notícia foi rapidamente esgotado, embora a tiragem fosse muito aumentada, entendemos por bem reproduzir aqui o texto desse artigo:

“Noticiámos, há dias, a trasladação do túmulo com o corpo da Rainha Santa Isabel, do coro de cima do extinto Convento de Santa Clara, onde estava indevidamente desde novembro de 1860. Foi na quarta feira, 28 deste mês e ano, que as freiras clarissas, a pretexto de irem no dia seguinte o rei D. Pedro V com seus irmãos D. Luís e D. João àquele mosteiro beijar a mão da Santa Rainha, e mais comodamente o poderem fazer no Coro do convento de que na tribuna do Altar-Mor, (25) trasladaram o caixão com o corpo, e não mais o deixaram voltar para o seu sítio.

“Entretanto é indiscutível que muito melhor se acha na bela tribuna, revestida de talha dourada, propositadamente feita para ele sobre o Altar-Mor, onde esteve exposto à veneração dos fieis durante 146 anos, desde a tarde de 5 de Julho de 1696, em que foi para ali transportado em soleníssima procissão pelos Bispos da Guarda, Lamego, Portalegre, Vizeu, Leiria e Miranda, sob a presidência do Bispo-conde D. Fr. Alvaro de S. Boaventura, que oito dias antes, a 26 de Junho, havia sagrado a nova Igreja de Santa Clara.

“Hoje damos aos nossos prezados leitores uma outra notícia, ainda respeitante ao mesmo assunto.

“Espalhou-se, há tempos em Coimbra, com bastante insistência, o boato de que o túmulo da Rainha Santa havia sido violado; e, embora se verificasse, quando há dias se fez a trasladação, que os selos que o fechavam permaneciam intactos, é certo que recrudesceu depois disto o rumor de que o caixão transportado do Coro para a Capela-Mor se encontrava vazio. Em face de tal boato, tornava-se necessária a verificação, abrindo-se o túmulo com devidas formalidades, antes da aposição de novos selos.

“Foi este acto que se realizou anteontem, quinta-feira, 28 do corrente, pelas 9 horas da manhã.

“Achavam-se presentes apenas os srs.: cônego José Dias d'Andrade, representando o sr. Bispo Conde; Antônio Augusto Gonçalves, presidente da Câmara Municipal e diretor do museu Machado de Castro; dr. Joaquim Mendes dos Remédios, reitor da Universidade; dr. Antônio José Gonçalves Guimarães, professor da faculdade de ciências: dr. António Garcia Ribeiro de Vasconcelos,(26) presidente da Confraria da Rainha Santa Isabel; Francisco José da Costa, tesoureiro da mesma; António Viana, fiel do museu Machado de Castro.

“Principiou por ser presente um invólucro, devidamente lacrado e selado, no qual externamente se lia a declaração de que continha as chaves do caixão da Rainha Santa, que ali foram encerradas e seladas a 23 de julho de 1892, em seguida ao acto de ser fechado o túmulo, depois da visita que a ele fizeram naquele dia o rei, rainha e príncipe. Verificado que os selos estavam intactos, foi aberto o invólucro, e apareceram duas chaves, uma de prata e outra de ferro, ligadas por uma cadeia de prata.

“Depois, abriu-se o túmulo de prata, e tirou-se dele o caixão de madeira, forrado de rico brocado de seda e ouro, e com quatro belas fechaduras. Todos verificaram cuidadosamente que não acusava sinal algum de arrombamento; e em seguida, abertas as fechaduras e retirada a tampa, apareceu uma ostentosa colcha de brocado, igual ao que veste por dentro e por fora o caixão, sendo guarnecida de galão de ouro, e forrada de seda carmesim. Levantada esta cobertura, apareceu outra perfeitamente igual à primeira, e por baixo dela um véu transparente, através do qual se via nitidamente a mão da Santa Padroeira, e o habito de seda cinzenta que vestia o corpo. Cobrindo-lhe a cabeça havia um véu espesso de seda branca, sobre outro de fino linho, que lhe desciam até ao peito.

“Levantaram-se sucessivamente todos estes véus, e observou-se minuciosamente a mão direita, o rosto e os dois pés, que estão descalços e em perfeito estado de conservação. Não se levou mais longe o exame, por ser desnecessário. (27)

“A mão da santa e virtuosíssima Esposa de D. Dinis foi beijada com piedoso fervor por aqueles dos presentes que tiveram essa devoção.

“Terminado o acto de verificação, foi fechado o caixão e encerrado no túmulo de prata, com aposição de seis selos. Depois selaram-se novamente as chaves, e lavrou-se o respectivo auto.

“E assim ficou perfeitamente demonstrada a absoluta falsidade dos boatos que correram, e a que muita gente parecia dar crédito”.

CAPITULO VI - A Igreja de Santa Clara

Esta igreja fica situada numa vistosa colina fronteira à cidade, estando precedida d’um espaçoso pátio quadrilongo, do qual se desfruta um dos mais belos e ricos panoramas de Coimbra. À entrada deste pátio, encontra-se ainda hoje uma forte corrente de ferro que servia para dar o direito de defesa aos criminosos perseguidos.

O templo, que é de magnifica construção e de uma só nave, é fabricado no estilo romano; os retábulos dos seus altares são dignos de ser admirados, revelando-se neles a perfeição e gosto artístico que presidiu à sua execução.

Ao fundo da igreja, e aos lados da grade do Coro, estão dois túmulos de pedra artisticamente ornados, tendo nos tampos figuras de mulheres jacentes. O do lado do Evangelho, encerra os ossos da Infanta D. Isabel, filha de D. Afonso IV, falecida com pouco mais de 2 anos (28), e o do lado da Epistola supõe-se conter os restos de D. Maria, filha de D. Pedro I e de D. Constança.

Estes dois túmulos vieram também do velho Convento de Santa Clara, logo após a mudança da comunidade.

Dentro do Coro da igreja, em lugar menos próprio por falta de luz, conserva-se ainda hoje o túmulo de pedra onde primitivamente esteve depositado o corpo da Rainha Santa, túmulo este que, segundo as melhores opiniões, ela mandara fabricar em vida. As suas faces laterais são guarnecidas de várias imagens e de onze estatuetas de freiras metidas em nichos de gracioso desenho.

Sobre este túmulo, vê-se estendida a figura da Rainha Santa envolta no hábito de freira clarissa, sobraçando o bordão de peregrina, uma bolsa e um livro de orações.

A cabeça da imagem, primorosamente esculturada, repousa num largo almofadão a coberto d’um elegante baldaquino, sendo este ladeado por dois anjos, em atitude de turificarem (d) a Rainha Santa.

Tanto este Coro como o que lhe fica superior eram adornados com riquíssimos altares de boa talha, muitos quadros de subido valor e bastantes imagens por quem as religiosas nutriam a mais piedosa devoção.

Muitos destes preciosos objetos estão depositados no Museu Machado Castro, de Coimbra.

Voltando à igreja, onde se admira a preciosa estátua da Rainha Santa, essa delicada joia que Teixeira Lopes delineou em momentos de feliz inspiração e perante a qual instintivamente se têm curvado tantos milhares de pessoas de todas as classes sociais, chamamos a atenção do leitor para os quadros que adornam a Capela-Mór da igreja, quase todos referentes à vida da Rainha Santa, e recomendamos-lhe especialmente a sua (29) visita ao Museu de alfaias religiosas, que a Confraria instituiu junto da igreja e aonde se encontram algumas preciosidades de raro valor artístico. 

Esse museu, que fica situado ao lado direito da Capela-Mor, é precedido d’um espaçoso corredor que serve de Galeria dos Irmãos Beneméritos. Ao fundo, noutra sala mais espaçosa, estão guardados os objetos de maior valor pertencentes à Confraria, figurando entre eles alguns que eram do uso da Rainha Santa. Neste precioso museu, está exposto um colar de pedras preciosas com que a Rainha Santa costumava adornar as donzelas pobres no dia do seu casamento, guardando-se também ali algumas peças do seu vestuário e a roupa com que foi amortalhada. Todos estes objetos devem merecer uma particular atenção ao visitante de Santa Clara.

A respectiva Confraria é digna dos maiores louvores pela dedicação e zelo que tem mostrado na conservação deste Museu, procurando enriquecê-lo cada vez mais com a aquisição dos objetos que digam respeito à Rainha Santa. Ultimamente, foi ali exposto o “Breve Original”, obtido por El-rei D. João III da Cúria Romana, e pelo qual é extensivo a toda a nação o culto de Santa Isabel. Este documento, muito bem conservado ainda, é digno de particular atenção pelo fino desenho dos seus ornatos e caracteres.

O claustro de Santa Clara, situado ao lado esquerdo da igreja, é também digno de ser visitado. As suas majestosas proporções, as arcadas, e as graciosas varandas que o circundam, formam um conjunto agradável ao nosso sentimento, transportando-nos à vida d’um mundo superior, em tudo mais perfeito e harmonioso.

O nosso espírito banha-se d’uma clarividente realidade que nos inebria, que nos consola e seduz. Na paz daquelas arcadas (30), contemplamos o mundo despido de lutas inglórias, de ódios e malquerenças, e a nossa imaginação, livre das contrariedades e dos sobressaltos fomentados pela vida presente, embala-se no doce arroio das avezinhas que saltitam pelas arvores floridas quase obrigando os nossos lábios a murmurar com elas:

“Bendito seja o Senhor!”.

O vasto e grandioso edifício de Santa Clara, onde durante alguns séculos se abrigaram muitas senhoras da mais pura linhagem, e onde se praticaram tantos actos de piedosa devoção, serve hoje de quartel ao Regimento de Infantaria 35.

A parte que serviu para hospedaria do Mosteiro e que está situada do lado sul, é hoje ocupada por um grupo do Regimento de Artilharia.

As festas com que Coimbra rende o seu culto à Rainha Santa são das mais importantes e fervorosas que se realizam em Portugal. Nos anos em que são levadas a efeito, a cidade veste-se das melhores galas para receber a sua excelsa Padroeira e todos os conimbricenses, num amplexo de verdadeiro regozijo e satisfação, cooperam no brilhantismo desses festejos esforçando-se para lhe dar o maior luzimento possível.

A grandiosa procissão em que é conduzida a imagem da Rainha Santa compõe-se de inúmeras Confrarias e centenas de crianças vestidas de anjo, fazendo o trajeto (31) de Santa Clara para Santa Cruz, por entre milhares e milhares de pessoas que de todos os pontos do País vem para assistir a tão emocionante como grandioso espetáculo. As festas da Rainha Santa, que se prolongam durante 5 dias, costumam atrair a Coimbra perto de 60.000 pessoas, não se registrando nunca qualquer desacato que possa ofuscar o brilho e a imponência dessas tão piedosas como emocionantes manifestações.

Com a procissão da Rainha Santa, dá-se até um facto que nos apraz registar: quando a preciosa imagem de Santa Isabel dá entrada na cidade, e ao ter de atravessar por entre a multidão que a aguarda desde a Ponte até Santa Cruz, não há joelho que deixe de se dobrar ante a majestade da sua figura! Todo aquele mar humano, que se apinha em tão longo trajeto, se curva respeitosamente perante a doce imagem da Rainha Santa, vendo-se muitos olhos marejados de lágrimas devido à comoção que todos experimentam.

É que aquela Imagem é o refúgio de todos os crentes. Nela estão concentradas as preces dos que sofrem, os rogos dos infelizes. E se o povo português nutre por Ela a mais terna devoção, o povo de Coimbra, que a elegeu sua medianeira junto de Deus, não esquece nunca a sua benéfica acção em prol dos desprotegidos, tributando-lhe um amor puríssimo e uma veneração a mais sublimada! Continue Ela a amercear-se (e) do seu povo junto de Deus, e oxalá a sua poderosa influencia consiga tornar felizes na terra aqueles que lhe solicitam a sua proteção no Céu.

Anonymus in Projeto Gutemberg: https://www.gutenberg.org/ebooks/35324

[1] D. Isabel de Aragão, Coimbra, 1894.
[2] Gazeta de Coimbra, de 20 de março de 1912.

Notas

(a) Frades crúzios. Cónegos Regulares da Ordem da Santa Cruz.
(b) Estamenha; Tecido ordinário feito de lã.
(c) Invernias. Tempo muito frio e com o aparecimento de chuvas contínuas; inverno.
(d) Turificar. Incensar
(e) Amercear-se. Ter misericórdia, compaixão.

 Fonte: Senza Pagare