quarta-feira, 30 de junho de 2021

Pandemia: volte-face à vista

 A Gazeta do Povo publicou, em 1-6-2021, um artigo de Eli Vieira, biólogo geneticista, com o título “Tratamento precoce”: o próximo tabu a cair após a origem laboratorial?”.

O artigo versa sobre o facto das recomendações da OMS nesta pandemia serem seguidas cegamente pela maior parte dos países e reguladores de medicamentos como uma forma de fugir a responsabilidades e endossá-las a uma entidade supostamente “intocável”.

Mas a OMS errou em várias situações, desde a recomendação contra o uso generalizado de máscaras de que a Direção-Geral da Saúde, representada por Graça Freitas, também fez eco, ao apoio obstinado que deu à teoria da origem natural do vírus, passando pela não recomendação de medicamentos em tratamento precoce ou urgente e a aposta numa vacina cujo tempo de produção até à sua distribuição punha em risco a vida de milhões de pessoas em todo o mundo.

Como sabemos, a origem do vírus está agora a ser reanalisada, sendo já quase certo que tenha sido uma fuga do Instituto de Virologia de Wuhan.

Nesta ordem de ideias, não será imprudente supor a possibilidade que outras teorias tidas como conspiracionistas e negacionistas, como a eficácia de medicamentos desaconselhados pela OMS para tratamento precoce da doença, venham a provar-se verdadeiras, como já parece estar em cima da mesa.

Nesta eventualidade, o mundo terá razões de sobra para colocar em causa a autoridade da OMS em futuras epidemias, e até responsabilizá-la pelos danos causados às populações, por manifesta negligência.

Não isentos de responsabilidade são também os média e os gigantes tecnológicos que, em nome do combate à “desinformação” e da imposição de uma narrativa única, atrasaram o debate científico e censuraram cientistas com o argumento da falta de “evidências” e de que eram necessários “mais estudos”.

Um exemplo dessa censura injusta foi o Nobel da Medicina, o virologista e médico francês Luc Montagnier, que em abril de 2020 já alertava para as características artificiais do vírus, o que contrariava a narrativa oficial de que a pandemia se teria originado de forma natural e por isso teve a sua entrevista à revista de referência em saúde Pourquoi Docteur, censurada no Facebook.


Fonte: Inconveniente

O efeito abortivo das vacinas

 


Tradução Deus-Pátria-Rei


Aqui está um artigo interessante do mês passado que examina o efeito abortivo das vacinas Covid em mulheres grávidas após a 1ª e 2ª injecção:


[...]  O SAE (reacção adversa grave) relatado com mais frequência é o aborto espontâneo (46 no total, 37 dos quais no primeiro trimestre). A conclusão do artigo merece ser reproduzida:

Limitações

- "Não foi possível avaliar quaisquer reacções adversas que possam estar associadas à exposição no início da gravidez, como defeitos congênitos, uma vez que nenhuma das mulheres grávidas que foram vacinadas no início da gravidez teve um nascimento registrado no v-safe (registro de gravidez) até o momento; o monitoramento está em andamento. Além disso, a proporção de mulheres grávidas que relatam um aborto espontâneo pode não refletir as proporções pós-vacinação reais, uma vez que as participantes podem ter sido vacinadas após o período de maior risco do primeiro trimestre, e perdas muito precoces de gravidez podem não ser reconhecidas.

Embora algumas gestações com vacinação no primeiro e no início do segundo trimestre tenham sido concluídas, a maioria está em andamento e uma comparação directa dos resultados com base no momento da vacinação é necessária para definir a proporção de abortos espontâneos. Devido às restrições de tamanho da amostra, os resultados da gravidez e neonatais foram calculados como uma proporção em vez de uma taxa.

Entre as condições específicas da gravidez relatadas ao VAERS [sistema de relatório de efeitos adversos da vacina - EUA] após a vacinação com Covid-19, o aborto espontâneo era o mais comum. Isso é semelhante ao que foi observado durante a pandemia de influenza A (H1N1) em 2009 após a introdução da vacina inactivada contra influenza H1N1 de 2009, onde o aborto espontâneo foi o evento adverso mais comum relatado por mulheres grávidas que receberam esta vacina. "


Fonte: Le Salon Beige

domingo, 27 de junho de 2021

SANTOS (E POLÍTICOS) QUE PERDERAM A CABEÇA

 A moda é antiga, porque já João Baptista, festejado no passado dia 24, foi decapitado. Foi o primeiro santo que, em termos literais, perdeu a cabeça. Muitos outros lhe seguiram as pegadas (ou cabeçadas?!), nomeadamente os dois mártires ingleses celebrados liturgicamente dois dias antes: São João Fischer, Bispo de Rochester, e São Tomás More, chanceler do Rei Henrique VIII.


As circunstâncias que rodearam o martírio de João Baptista são bem conhecidas. Filho de Isabel e de Zacarias era, pelas mães de ambos, primo de Jesus de Nazaré. Como nasceu quando os seus pais eram já de idade avançada, não tinha irmãos e é provável que tenha ficado órfão muito novo. Talvez por isso foi viver para o deserto, onde se vestia de peles de animais, comia gafanhotos e mel silvestre. Não era só a sua vida penitente que era dura: também as suas palavras o eram, quando o exigia a caridade.

Com efeito, não se inibia de dizer o que entendia conveniente, o que geralmente era muito inconveniente. Censurava em público a vida licenciosa de Herodes, que vivia adulteramente com a mulher de seu irmão, que era sua prima. É provável que o próprio Herodes já tivesse notado que Herodíades não era a sua mulher, e que, portanto, a situação era escandalosa. Todos o sabiam, como é óbvio, mas só João Baptista se atrevia a censurá-lo. Herodes ouvia-o com gosto, porque lhe reconhecia a coragem.

O rei tolerava o Baptista – assim denominado por administrar um baptismo de penitência, que ainda não era o homónimo sacramento cristão – mas, por razões que não são difíceis de adivinhar, prendeu-o nas masmorras do seu palácio. No dia de anos de Herodes, a filha da amante dançou tão bem que o aniversariante lhe prometeu, com juramento, o que quisesse, mesmo que fosse metade do seu reino. A jovem foi aconselhar-se com sua mãe, que exigiu a cabeça de João Baptista. Herodes ficou triste com o pedido, mas, para não faltar à palavra dada, mandou que João fosse degolado no cárcere e a sua cabeça entregue, num prato, à dançarina, que a levou, qual troféu de caça, a sua mãe.

Desde então, a cabeça dos mártires é um pitéu que se serve com frequência nos banquetes dos tiranos que, em geral, apreciam os aduladores, mas detestam os que têm o mau gosto de os contrariar. Foi o que aconteceu, já em pleno século XVI, com os dois mártires ingleses festejados no dia 22 de Junho: São João Fischer, Bispo de Rochester, e São Tomás More, chanceler de Henrique VIII. Ambos se opuseram ao divórcio do rei com Catarina de Aragão, e ao seu posterior ‘casamento’ com Ana Bolena. O luxurioso monarca britânico, logo que se autoproclamou chefe da Igreja anglicana, tomou o gosto de casar e descasar a seu bel-prazer, tendo tido consecutivamente seis mulheres, que lhe deram três filhos, que não deixaram geração. À medida que decapitava as ex-mulheres, mais difícil lhe era – vá-se lá saber porquê! – encontrar quem com ele quisesse casar: tendo pedido a mão de uma dama, a dita, temendo que também estivesse interessado na sua cabeça, declinou o régio pedido.

Com a mesma sem-cerimónia com que o oitavo Henrique se divorciava e decapitava algumas das suas ex-mulheres, também cortava a cabeça dos súbditos que ousassem contradizer os seus caprichos sentimentais. Foi o caso de João Fischer e de Tomás More.

Embora fosse evidente a ilegitimidade da pretensão matrimonial henriquina, a grande maioria dos nobres da corte e dos prelados ingleses acedeu ao que sabiam ser a vontade régia. Como sempre acontece nos momentos críticos, os cobardes disfarçam de prudência a sua criminosa cumplicidade, enquanto os verdadeiros heróis preferem, como disse o inspirado vate lusitano, antes quebrar do que torcer. Algo semelhante aconteceu no regime nazi, em que não faltaram casos isolados de grande heroísmo, como o do Bispo católico Clemens August von Galen, o ‘leão de Munique’, feito cardeal por Pio XII e beatificado por Bento XVI, ou o do pastor luterano Dietrich Bonhoeffer, ou ainda o do oficial católico Klaus Schenk von Stauffenberg, fuzilado depois de fracassada a operação Valquíria, que se propunha redimir a Alemanha pela morte do tirano.

Num gesto de grande ousadia pastoral, São João Paulo II nomeou São Tomás More padroeiro dos políticos. É de supor que quis conceder aos governantes, como exemplo, a cabeça que, num acto de heroica fidelidade à fé e aos princípios morais universais, preferiu renunciar ao corpo e à vida, em vez de comprometer a consciência.

Infelizmente, a julgar pelo comportamento dúbio de não poucos políticos, ditos católicos, que promovem a eutanásia e o aborto, muitos julgaram que lhes era dado, como padroeiro, um corpo sem cabeça e não uma cabeça sem corpo. Tal como sucede com alguns galináceos que, mesmo decapitados, ainda dão uns passos, assim acontece também com não poucos governantes sem cabeça. Pelos vistos, adoptaram como seu patrono o corpo sem cabeça do mártir inglês, em vez da cabeça sem corpo do seu santo intercessor.

Quando um político estorva é, quase sempre, por causa da sua consciência, ou seja, por razão da sua cabeça. Um São João Baptista degolado, como um São João Fisher ou um São Thomas More decapitados, não incomodam ninguém. Por isso, alguns tiranos, para evitarem dores de cabeça, não quiseram a do mártir para sua padroeira, preferindo o corpo, sem cabeça, do ex-chanceler. Muitos aliás, diga-se de passagem, têm sido extraordinariamente devotos do decapitado corpo do seu santo intercessor.

A festa litúrgica destes dois tão estimados mártires ingleses ocorre a 22 de Junho, aniversário da decapitação de São João Fisher. Já detido na Torre de Londres, vários bispos católicos tentaram, em vão, que aderisse ao cisma anglicano, o que o levou a comentar: “A fortaleza foi traída pelos que era suposto serem os seus defensores.”

Não obstante as duras críticas de Fisher contra os excessos da cúria romana, o Papa Paulo III fê-lo cardeal, poucos meses antes da sua execução. Henrique VIII troçou: “O Papa concedeu-lhe o chapéu (cardinalício) mas, quando o receber, já não terá cabeça para o pôr!”. Ao contrário do que o ímpio soberano supôs, esse gesto pontifício não pretendia honrar o corpo sem cabeça do confessor da fé, mas a cabeça sem corpo do mártir, porque os chapéus são para a cabeça e um homem é, sobretudo, a sua cabeça, ou seja, a sua consciência. Chapéus há muitos mas, então como agora, faltam cabeças.

P. Gonçalo Portocarrero de Almada


Fonte: Observador

sábado, 26 de junho de 2021

Dia 30, todos ao Palácio da Independência

 


Dia 30 de Junho, debatemos no Palácio da Independência (Sociedade Histórica da Independência de Portugal), o carácter verdadeiramente estruturante, mesmo omnipresente, das elites negras e mestiças no espaço imperial português. Longe de constituírem minoria oprimida, mestiços e negros portugueses fornecem desde o século XVI quadros para as chefias eclesiásticas, intelectuais, militares e políticas portuguesas. Estão e estiveram sempre no centro da vida nacional. Recordá-las é do máximo interesse histórico; em altura de revisão ideológica do passado, ganha ainda a maior importância política.

Contamos com todos. É no Palácio da Independência, Lisboa, às 17h30.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Sociedade: união de elementos desiguais

 


Do mesmo modo que a perfeita constituição do corpo humano resulta da união e da articulação dos membros, que não têm as mesmas forças nem as mesmas funções, mas cuja feliz associação e concurso harmonioso dão a todo o organismo a sua beleza plástica, a sua força e a sua aptidão para prestar os serviços necessários, assim também, no seio da sociedade humana, acha-se uma variedade quase infinita de partes dissemelhantes. Se elas fossem todas iguais entre si, e livres, cada uma por sua conta, de agir a seu talante, nada seria mais disforme do que tal sociedade. Pelo contrário, se por uma sábia hierarquia dos merecimentos, dos gostos, das aptidões, cada uma delas concorre para o bem geral, vereis erguer-se diante de vós a imagem de uma sociedade bem ordenada e conforme a natureza.

Papa Leão XIII in encíclica «Humanum Genus», 20 de Abril de 1884


Fonte: Veritatis

quarta-feira, 23 de junho de 2021

One of Us pede que o Parlamento Europeu rejeite o relatório Matić

 



relatório, amplamente criticado por numerosas organizações da sociedade civil, foi redigido pelo eurodeputado socialista croata Fred Matić e é a segunda tentativa da ala esquerda do Parlamento Europeu de impor a polémica ideologia de género a nível europeu, após o badalado fracasso do seu antecessor em 2013, o relatório Estrela, derrubado pela maioria do Parlamento pelo seu radicalismo e pela tentativa de invadir competências exclusivas dos Estados.         

Embora se desconheça a data exacta da votação deste relatório, é provável que tenha lugar na próxima sessão plenária, que se realizará nos dias 23 e 24 de Junho.          

Foi por isso que a Federação Europeia One Of Us fez público um comunicado no qual adverte que o relatório Matić «não defende os direitos humanos, porque o aborto não é um direito humano. Nunca foi e nunca será. Não foi reconhecido por nenhuma declaração ou por qualquer tribunal internacional como um direito humano».                  

One of Us assegura que o relatório «ultrapassa as competências da União Europeia (UE), abordando questões como a saúde, a educação sexual e a reprodução, bem como o aborto e a educação, que são poderes legislativos dos Estados-Membros e não da UE».    

Alerta também que «os princípios e fundamentos europeus de respeito pelos direitos humanos, o Estado de direito, as tradições dos cidadãos europeus e a soberania dos Estados-Membros são inerentes às raízes e aos princípios da União Europeia. Se estes valores forem esquecidos ou pisoteados, a União Europeia perde o sentido que teve desde a sua fundação, convertendo-se num totalitarismo face à nossa convivência». 

One of Us constata que o relatório Matić «viola a dignidade da mulher, propondo a contracepção e o aborto em vez da maternidade. Este relatório cria uma mensagem da UE que mina a dignidade e a singularidade das mulheres enquanto mães. Ao invés de oferecer verdadeiras alternativas às mulheres que estão à espera de um filho, informando-as adequadamente e como se espera em qualquer campo sanitário ou farmacológico, oferece-lhes a eliminação do filho que está no seu útero como opção única ou preferencial. Isto afecta directamente a dignidade da mulher na sua maternidade e também afecta o direito à objecção de consciência». 

«Os cidadãos europeus exigem que as instituições europeias trabalhem na resolução dos problemas que surgem na nossa sociedade sem imposições ideológicas», sublinha o comunicado.         

Por último, One of Us solicita ao Parlamento Europeu «que anule este relatório tão iníquo e surpreendente. Como cidadãos europeus comprometidos com a saúde das mulheres de diferentes idades, pedimos aos nossos representantes parlamentares europeus uma reformulação urgente deste assunto».


Fonte: Dies Irae

terça-feira, 22 de junho de 2021

Rota de São Nuno: campo de férias para rapazes dos 11 aos 21 anos

 


A Rota de São Nuno é um campo de férias itinerante para rapazes, organizado pelos seminaristas portugueses, da Fraternidade Sacerdotal de São Pedro (FSSP).
O campo consiste numa caminhada de 7 dias, em Portugal, de mochila às costas e a dormir em tendas. Durante estes dias tentamos assegurar a formação espiritual através da Missa diária segundo a liturgia tradicional, catequeses, testemunhos, oração e etc. Sem esquecer a actividade física e cultural. 
Sempre sob a protecção de Nossa Senhora e de São Nuno de Santa Maria, Cristo há de reinar nos corações da juventude portuguesa!

Inscrições: rotasaonuno@gmail.com



Legado de D. Nuno Álvares Pereira em exposição na Casa da Cultura da Sertã

 



As evidências e legado de D. Nuno Álvares Pereira no concelho da Sertã estão em exposição, até 29 de Junho, na Casa da Cultura da Sertã.

Composta por diversos painéis informativos, esta exposição reúne algumas das evidências que comprovam a influência de Nuno Álvares Pereira nas gentes e cultos da Idade Média, que perduram até aos dias de hoje no concelho da Sertã, com especial incidência na vila de Cernache do Bonjardim, sua terra natal - informa a autarquia em nota enviada à comunicação social.

A exposição poderá ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, e aos fins de semana sempre que decorram eventos naquele espaço.

Ao longo dos anos, o feriado municipal do Concelho da Sertã é pautado pela homenagem a este filho da terra e herói nacional.

D. Nuno Álvares Pereira nasceu a 24 de Junho de 1360 em Cernache do Bonjardim. Figura central no reino, foi Condestável e um dos homens mais poderosos do país. Abdicou de todos os títulos e das vastas propriedades que detinha e entrou para o Convento do Carmo, em Lisboa, onde iniciou uma vida dedicada à caridade.

Morreu no dia de todos os santos de 1431 e quase cinco séculos depois, mais precisamente em 1918, foi beatificado pelo papa Bento XV. Em 2009, o papa Bento XVI canonizou-o como São Nuno de Santa Maria.


Fonte: Jornal de Proença

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Dom António, Rei de Portugal

 


No mesmo dia [19 de Junho], ano de 1580, foi aclamado Rei (por seu mal) o Senhor Dom António, Prior do Crato, filho natural do Infante Dom Luís. Saiu na manhã deste dia da Vila de Santarém, onde então estava, com o pretexto de lançar a primeira pedra numa Fortaleza que intentava levantar (segundo dizia) para defesa da mesma Vila. Concorreu a maior parte do povo e alguns nobres a esta cerimónia, e como o ponto da sucessão do Reino andava então no seu maior fervor, e era motivo de perpétuas contendas e debates, e como o Exército de Castela já havia entrado em Portugal, começou a romper uma voz entre aquela multidão de que só convinha para a liberdade do Reino que aquele Príncipe, ramo nascido da Árvore Real Portuguesa, fosse aclamado Rei: uns repugnavam, outros consentiam, muitos passaram das vozes às armas, e finalmente, prevalecendo os da sua facção, o fizeram pôr a cavalo, e sucedeu que ao subir nele, esteve em pontos de dar uma perigosa queda, triste presságio em tal ocasião: Posto a cavalo, discorreu pelas ruas da Vila, precedendo os nobres que ali se achavam, a pé e descobertos, como é estilo nas Coroações dos Reis, repetindo-se aquelas vozes, que também nas mesmas Coroações se costumam dizer: Real, Real, Etc. Pouco depois entrou em Lisboa, onde também foi aclamado, mas só pelo povo, cuja variedade e inconstância, lhe fez conhecer depois que nada vale aquele corpo, se o não anima o espírito da nobreza.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744


Fonte: Veritatis

SS. AA. RR., O Senhor D. Duarte de Bragança e O Príncipe D. Afonso de Bragança num casamento no Convento de Mafra

 





Realizou-se no Convento Mafra o casamento de Maria Joana de Spínola Moreira de Sotto-Mayor e do Príncipe Heinrich von Croÿ. SAR D.Duarte, Duque de Bragança e o seu filho, SAR D. Afonso, assistiram ao casamento.


domingo, 20 de junho de 2021

Publicações: Obra «Utopia Global do Espírito Santo» é apresentada em Alenquer

 


A obra «Utopia Global do Espírito Santo» é o resultado do congresso internacional sobre o Espírito Santo e vai ser apresentada dia 26 de Junho, às 16h00, na Igreja da Misericórdia, em Alenquer.

A apresentação das actas do congresso, em três volumes, tem como título «Utopia Global do Espírito Santo» e vai ser apresentada por Guilherme d´Oliveira Martins e SAR D. Duarte Pio de Bragança, refere uma nota enviada à Agência ECCLESIA

A iniciativa conta também com a inauguração, às 17h30, da exposição «Espírito Santo Migrante», no Convento de São Francisco naquela localidade do Patriarcado de Lisboa.


Fonte: Agência Ecclesia

sábado, 19 de junho de 2021

E nós é que éramos os atrasados... D. CATARINA DE BRAGANÇA E O NASCIMENTO DO IMPÉRIO BRITÂNICO

 


(... ) O novo rei de Portugal, que precisava de aliados, encontrou a solução no casamento de uma das suas filhas com o rei Carlos II de Inglaterra.

A negociação do casamento foi difícil!

Carlos II tinha motivos para desejar mas, também, para temer tal casamento: desejava-o, porque a princesa era bonita e o dote poderia encher os seus falidos cofres; mas, também, receava que isso pudesse reacender a guerra com Espanha.

Resistiu até o dote da princesa ser irrecusável: foi o maior dote de que há memória no Ocidente! Portugal ficou falido, o rei português ganhou um aliado para a guerra com Espanha, e a Inglaterra ganhou um capital que se transformou no mais rentável investimento da sua história: o império britânico!

Hoje, diríamos que Carlos II deu o “golpe do baú”!

A cerimónia do casamento realizou-se em Maio de 1662.
Assim, começou a parte infeliz da vida de Catarina de Bragança, uma princesa nascida e criada no seio de uma família com cultura, educação e hábitos tradicionais portugueses que, por sua infelicidade, foi desterrada para uma corte que, contrariamente ao que alguns escritores e cineastas de pacotilha nos querem fazer crer, era rude e atrasada em relação à restante Europa.

Catarina, teve um papel importantíssimo na modernização da Inglaterra e na alteração da filosofia de vida dos ingleses pelo que, embora não suficientemente, ainda hoje é admirada e homenageada.

Provocou uma autêntica revolução na corte de Inglaterra, apesar de ter sido sempre hostilizada por ser diferente, mas nunca desistiu da sua maneira de ser, nem consentiu que as damas portuguesas do seu séquito o fizessem.

Tinha uma personalidade tão forte que conseguiu que aqueles (principalmente aquelas) que a criticavam, em breve, passassem a imitá-la.

E assim, se deram grandes alterações na corte inglesa:

- O conhecimento da laranja.
Catarina adorava laranjas e nunca deixou de as comer graças aos cestos delas que a mãe lhe enviava.

- O costume do “CHÁ DAS 5”.
Costume que levou de casa e que continuou a seguir, organizando reuniões com amigas e inimigas. Este hábito generalizou-se de tal maneira que, ainda hoje, há quem pense que o costume de tomar chá a meio da tarde é de origem britânica.

- A compota de laranja.
Que os ingleses chamam de “marmalade”, usando, erradamente, o termo português marmelada, porque a marmelada portuguesa já tinha sido introduzida na Inglaterra em 1495.
Catarina guardava a compota de laranjas normais para si e suas amigas e a de laranjas amargas para as inimigas, principalmente, para as amantes do rei.

- Influenciou o modo de vestir.
Introduziu a saia curta. Naquele tempo, saia curta era acima do tornozelo e Catarina escandalizou a corte inglesa por mostrar os pés, o que era considerado de mau-gosto e que não admira devido aos pés enormes das inglesas. Como ela tinha pés pequeninos, isso arranjou-lhe mais inimigas.
Introduziu o hábito de vestir roupa masculina para montar.

- O uso do garfo para comer.
Na Inglaterra, mesmo na corte, comiam com as mãos, embora o garfo já fosse conhecido, mas só para trinchar ou servir. Catarina estava habituada a usá-lo para comer e, em breve, todos faziam o mesmo.

- Introdução da porcelana.
Estranhou comerem em pratos de ouro ou de prata e perguntou porque não comiam em pratos de porcelana como se fazia, já há muitos anos, em Portugal. A partir daí, o uso de louça de porcelana generalizou-se.

- Música.
Do séquito que levou de Portugal fazia parte uma orquestra de músicos portugueses e foi por sua mão que se ouviu a primeira ópera em Inglaterra.
(...)

- O nascimento do “Império Britânico”
Como já se disse, o dote de Catarina foi grandioso pela quantia em dinheiro mas, muito mais importante para o futuro, por incluir a cidade de Tânger, no Norte de África e a ilha de Bombaim, na Índia.
(...)
Em 1670, depois de receber Bombaim dos portugueses, o rei Carlos II autorizou a Companhia das Índias Orientais a adquirir territórios. Nasceu, assim, o Império Britânico!

Hoje, há pouca gente que saiba a importância que a Rainha Catarina teve para os ingleses e o carinho que eles tiveram por ela. A sua popularidade estendeu-se até à América, onde um dos cinco bairros de Nova Iorque (Queens) foi baptizado em sua homenagem.
Mais uma vez, a ignorância venceu!...

in "Heróis e Heroínas da História de Portugal", Eduardo Amarante (org. e estudo).

O país do avental!

 


É um facto que a gastronomia está na moda e não há canal de televisão onde não apareça um chefe de cozinha de barrete e competente avental. E o programa acaba normalmente com uma iguaria a ser exibida perante os olhos gulosos dos tele espectadores.

Outro assunto são os cozinheiros do regime que andam pelas televisões a espalhar a velha receita republicana. Esses têm avental mas não querem que se saiba! E claro, não cheiram a fritos nem falam de culinária.

Com o tempo fui descobrindo que costumam dar à costa em alturas complicadas para a vida da república! E já lhes conheço as caras! Por isso, quando os vejo aparecer na televisão já sei que houve bronca da grossa. Foi assim com a Casa Pia, foi assim com as broncas do Sócrates e é agora com as broncas diárias da nova geração de aventaleiros. A receita é sempre a mesma: - branquear, desvalorizar, pôr tudo em banho maria, até que o tempo se encarregue de esquecer. Ao fim de alguns dias o cozinhado está pronto e o país cada vez mais esturricado. Eles estão bem e recomendam-se.


Fonte: Interregno




sexta-feira, 18 de junho de 2021

356 Anos da Batalha de Montes Claros

 


Na tarde de, quarta-feira, 17 de Junho de 1665, ocorreu a Batalha de Montes Claros, que terminou com a avassaladora vitória do Exército do Reino de Portugal, sobre a Espanha dos Habsburgo, e que pôs fim à Guerra da Restauração (1640-1668), e assegurou a definitivamente independência do Reino de Portugal.

À revolução nacional e patriótica que Restaurou a Independência e a Soberania de Portugal e entronizou El-Rei Dom João IV, após a dominação Filipina que durou entre 1580 e 1640, seguiu-se uma contraofensiva castelhana que deu origem à Guerra da Restauração travada entre o Reino de Portugal e a Coroa de Castela, e que se estendeu por um período de 28 anos, entre 1640 e 1668, e na qual os bravos portugueses se ilustraram pelas armas.
Prova dessa bravura temerária dos portugueses, foi a missiva, que, em 1663, um dos ministros do Rei Don Filipe IV enviou ao monarca castelhano:

‘Dizem a Vossa Majestade que Portugal não tem dinheiro, não tem navios, não tem pessoas: traidores são os que dizem isso. Bem, com o que eles nos destruíram? Sem pessoas, eles nos derrotaram tantas vezes; Bom Deus, vá com as pessoas! Sem dinheiro, choramos nossas ruínas, o que choraríamos se tivessem dinheiro? Senhor: Portugal nos derrotou em 'Montijo', destruiu-nos em 'Elvas', Luis Méndez de Haro fugiu deixando cavalos, artilharia, infantaria e bagagem. Portugal em Évora destruiu a Flor da Espanha, o melhor de Flandres, o lúcido de Milão, o escolhido de Nápoles e a romã da Extremadura. Vergonhosamente, SA o príncipe D. João José da Áustria se retirou, deixando oito milhões que custaram à empreitada, oito mil mortos, seis mil prisioneiros, quatro mil cavalos, vinte e quatro peças de artilharia e a coisa mais lamentável foi que, de cento e vinte estandartes e afins, apenas cinco escaparam (...). Todos os dias Sua Majestade espera estar ganhando, e todos os dias Sua Majestade sabe que está perdendo e que a perda de todos os dias é grande.’

Pouco tempo depois dessas palavras o exército português infligiria mais uma derrota aos castelhanos em 'Castelo Rodrigo' em 1664, e alcançaria a vitória esmagadora de 'Montes Claros', em 1665, já reinando em Portugal D. Afonso VI. No sítio de Montes Claros, D. António Luís de Menezes, Marquês de Marialva, Capitão General do Alentejo, comandou as forças portuguesas, e entre as 9 horas da manhã até às 6 da tarde, matou, rompeu, desbaratou e venceu o exército castelhano, que o Marquês de Canacena, Capitão General da Estremadura, liderava, e que, batendo em retirada, deixou na campanha um grande número de prisioneiros, toda a artilharia e carnagem.
A 4ª Dinastia Portuguesa, com a Coroa cingida pela Casa de Bragança, elevará de novo Portugal e a Monarquia durará por mais 2 séculos e meio.

Miguel Villas-Boas

«Preparemo-nos para descer às catacumbas», alerta Mons. Viganò

 


No seguimento das notícias que anunciaram a intenção demonstrada pelo Papa Francisco de “repensar” o Motu Proprio Summorum Pontificum, de Bento XVI, têm-se sucedido as múltiplas e aflitas reacções a esta sinistra intenção. A pedido de Mons. Carlo Maria Viganò, o portal Dies Iræ traduziu e publica, em exclusivo para língua portuguesa, um longo comentário de Sua Excelência Reverendíssima em defesa da Santa Missa de sempre.

9 de Junho de 2021
Feria IV infra Hebdomadam II
post Octavam Pentecostes



Por ocasião do Simpósio de Filosofia dedicado à memória de Mons. Antonio Livi, que se realizou em Veneza no passado dia 30 de Maio, procurei identificar os elementos que se repetem constantemente ao longo da História na obra de engano do Maligno. Nesse meu exame minucioso tinha-me focado na fraude pandémica, mostrando como as razões dadas para justificar medidas coercivas ilegítimas, e não menos ilegítimas limitações das liberdades naturais, eram, na verdade, prophasis, isto é, motivações aparentes destinadas a esconder uma intenção maliciosa e um projecto criminoso. A publicação dos e-mails de Anthony Fauci e a impossibilidade de censurar as cada vez mais numerosas vozes dissidentes em relação à narrativa mainstream confirmaram a minha análise e deixam-nos aguardar uma derrota flagrante dos fautores do Great Reset.       

Naquela intervenção concentrei-me, se vos recordais, no facto de que o Concílio Vaticano II foi, de certa forma, um Great Reset para o corpo eclesial, como outros eventos históricos planificados e pensados para revolucionar o corpo social. Mesmo nesse caso, de facto, as desculpas apresentadas para legitimar a reforma litúrgica, o ecumenismo e a parlamentarização da autoridade dos Sagrados Pastores Pastores não se baseavam na boa-fé, mas em enganos e mentiras, para nos fazer crer que o bem certo a que renunciávamos – a Missa apostólica, a unicidade da Igreja para a salvação, a imutabilidade do Magistério e a Autoridade da Hierarquia – poderia ser justificado por um bem maior. O que, como sabemos, não só não aconteceu (nem poderia acontecer), mas, aliás, manifestou-se em toda a sua explosiva valência subversiva: as igrejas estão vazias, os seminários desertos, os conventos abandonados, a autoridade desacreditada e pervertida em tiranias para vantagem dos maus Pastores ou tornada ineficaz para os bons. E sabemos também que o propósito deste reset, desta revolução devastadora, era, desde o início, iníquo e malicioso, embora envolto em nobres intenções para convencer os fiéis e o Clero à obediência.       

Em 2007, Bento XVI reconheceu o pleno direito de cidadania à venerável liturgia tridentina, restituindo-lhe aquela legitimidade que, com um abuso, lhe havia sido negada durante cinquenta anos. No seu Motu Proprio Summorum Pontificum, declarou: «Por isso é lícito celebrar o Sacrifício da Missa segundo a edição típica do Missal Romano, promulgada pelo Beato João XXIII em 1962 e nunca ab-rogada, como forma extraordinária da Liturgia da Igreja. [...] Para tal celebração segundo um ou outro Missal, o sacerdote não necessita de qualquer autorização da Sé Apostólica nem do seu Ordinário».        

Na realidade, a letra do Motu Proprio e dos documentos de implementação nunca foi plenamente aplicada e os cœtus fidelium que actualmente celebram no rito apostólico continuam a pedir autorização ao seu Bispo, essencialmente aplicando os ditames do Indulto do precedente Motu Proprio Ecclesia Dei, de João Paulo II. A justa honra em que a liturgia tradicional deveria ser realizada foi moderada pela sua equiparação à liturgia da reforma pós-conciliar, tendo aquela sido definida forma extraordinária e esta forma ordinária, como se a Esposa do Cordeiro pudesse ter duas vozes – uma plenamente católica e uma equivocamente ecuménica – com as quais se dirigir ora à Divina Majestade, ora à assembleia dos fiéis. Mas também não há dúvida de que a divulgação da Missa tridentina tenha feito tão bem, alimentando a espiritualidade de milhões de pessoas e aproximando da Fé tantas almas que, na esterilidade do rito reformado, não encontravam incentivo algum nem para a conversão nem ainda menos para o crescimento interior.     

No ano passado, com o típico comportamento dos Inovadores, a Santa Sé enviou às Dioceses do Orbe um questionário no qual se pediam informações sobre a aplicação do Motu Proprio de Bento XVI: a própria formulação das questões trazia, mais uma vez, um segundo propósito; e as respostas enviadas a Roma deveriam criar a base de uma aparente legitimidade para conduzir a uma limitação do Motu Proprio, se não mesmo à sua total revogação. Certamente, se o autor do Summorum Pontificum ainda estivesse sentado no Trono, aquele questionário teria permitido ao Pontífice lembrar aos Bispos que nenhum sacerdote deve pedir permissão para celebrar a Missa em rito antigo, nem ser por isso afastado do ministério. Mas a real intenção de quem quis consultar os Ordinários não parece residir na salus animarum, mas no ódio teológico a um rito que exprime com adamantina clareza a Fé imutável da Santa Igreja e que, por isso, é alheia à eclesiologia conciliar, à sua liturgia e à doutrina que essa pressupõe e veicula. Não há nada mais oposto ao chamado magistério do Vaticano II do que a liturgia tridentina: cada oração, cada perícope – como diriam os liturgistas – constitui uma afronta aos ouvidos delicados dos Inovadores, cada cerimónia é uma ofensa aos seus olhos.              

Só o tolerar que haja católicos que queiram beber das fontes sagradas desse rito soa-lhes como uma derrota, suportável apenas se for limitada a pequenos grupos de idosos nostálgicos ou de excêntricos estetas. Mas se a forma extraordinária – que o é no sentido comum do termo – se torna a normalidade para milhares de famílias, de jovens, de pessoas comuns e conscientes da sua escolha, torna-se uma pedra de escândalo e deve ser implacavelmente combatida, limitada, abolida; visto que não deve haver oposição à liturgia reformada, nenhuma alternativa à esqualidez dos ritos conciliares, assim como não pode haver voz de dissidência ou refutação argumentada diante da narrativa mainstream do globalismo; ou diante dos efeitos colaterais de uma vacina experimental não se podem adoptar tratamentos eficazes que demonstrariam a sua inutilidade. 

Nem nos podemos surpreender: quem não vem de Deus é intolerante a tudo o que recorda, mesmo remotamente, uma época em que a Igreja Católica era governada por Pastores católicos e não por Pastores infiéis que abusam da sua autoridade; uma época em que a Fé era pregada na sua integridade aos povos e não adulterada para agradar ao mundo; uma época em que aqueles que tinham fome e sede de Verdade eram alimentados e saciados por uma liturgia terrena na forma, mas divina na substância. E se tudo o que até ontem era santo e bom, hoje é condenado e feito objecto de escárnio; permitir que permaneça qualquer vestígio dela hoje é inadmissível e constitui uma afronta intolerável. Porque a Missa tridentina toca cordas da alma que o rito montiniano não ousa sequer roçar.        

Obviamente, quem manobra atrás dos bastidores vaticanos para eliminar a Missa católica são aqueles que no Motu Proprio vêem comprometida a obra de décadas, ameaçada a posse de tantas almas que se mantêm subjugadas e enfraquecida a tirania sobre o corpo eclesial. Os mesmos sacerdotes e bispos que, como eu, redescobriram aquele tesouro inestimável de fé e espiritualidade – ou que, pela graça de Deus, nunca o abandonaram, apesar da feroz perseguição do período pós-conciliar –, não estão dispostos a abandoná-lo, tendo encontrado nele a alma do seu sacerdócio e o alimento da sua vida sobrenatural. E é inquietante, além de escandaloso, que, diante do bem que a Missa Tridentina traz à Igreja, haja quem queira proibi-la ou limitar a sua celebração por razões ilusórias.         

No entanto, se nos colocamos no lugar dos Inovadores, compreendemos como isso é perfeitamente coerente com a sua visão distorcida da Igreja, que não é uma sociedade perfeita hierarquicamente instituída por Deus para a salvação das almas, mas uma sociedade humana na qual uma autoridade corrupta e escravizada à elite favorece e, mais do que isso, orienta as necessidades de vaga espiritualidade da massa, negando o propósito para o qual Nosso Senhor a quis; e em que os bons Pastores são forçados à inércia pelas algemas burocráticas a que são os únicos a obedecer. Este empasse, este beco sem saída jurídico, significa que o abuso da autoridade possa ser imposto aos súbditos justamente em virtude do facto de reconhecerem nela a voz de Cristo, mesmo diante da evidência da maldade intrínseca das ordens dadas, dos motivos que as determinam e dos próprios sujeitos que a exercem. Por outro lado, mesmo na esfera civil, durante a pandemia, muitos obedeceram a normas absurdas e nocivas porque lhes foram impostas por médicos, virologistas e políticos que deveriam ter em mente a saúde e o bem-estar dos cidadãos; e muitos não quiseram acreditar, nem mesmo diante da evidência do projecto criminoso, que estes poderiam desejar positivamente a morte ou a doença de milhões de pessoas. É o que os especialistas em psicologia social chamam de dissonância cognitiva, que induz os indivíduos a refugiarem-se num nicho confortável de irracionalidade, em vez de se reconhecerem como vítimas de um engano colossal e, portanto, devendo reagir virilmente.     

Não nos perguntemos, por conseguinte, por que, diante da multiplicação das comunidades ligadas à antiga liturgia, do florescimento de vocações quase exclusivamente no âmbito do Motu Proprio, do aumento da frequência dos Sacramentos e à coerência da vida cristã de quantos o seguem, se queira, infelizmente, espezinhar um direito inalienável e impedir a Missa apostólica: a pergunta está errada e a resposta seria enganosa.      

Em vez disso, perguntemo-nos por que motivo hereges conhecidos e fornicadores sem moral devam tolerar que os seus erros e a sua conduta de vida deplorável sejam postos em causa por uma minoria de fiéis e clérigos desprotegidos quando têm o poder de evitá-los. A este ponto entendemos bem que esta aversão não pode deixar de ser explícita precisamente e apenas para acabar com o Motu Proprio, abusando de uma autoridade usurpada e pervertida. Mesmo nos tempos da pseudo-reforma protestante, a tolerância para com alguns usos litúrgicos arraigados no povo foi efêmera, porque aquelas devoções à Virgem Maria, aqueles hinos em latim, aqueles sons de sino na Elevação – que já não era Elevação – deviam, por força das circunstâncias, desaparecer, sendo expressão de uma Fé que os seguidores de Lutero haviam negado. E seria absurdo esperar que pudesse haver uma coexistência pacífica entre Novus e Vetus Ordo, bem como entre a Missa católica e Ceia luterana, dada a incompatibilidade ontológica existente entre si. Olhando mais de perto, a derrota do Vetus, desejada pelos partidários do Novus, é, pelo menos, coerente com os seus princípios, exactamente como deveria ser a derrota do Novus da parte do Vetus. Enganam-se, pois, aqueles que acreditam ser possível unir duas formas opostas de culto católico, em nome de uma pluralidade de expressão litúrgica que é filha da mentalidade conciliar, nem mais nem menos que a hermenêutica da continuidade.       

modus operandi dos Inovadores emerge, mais uma vez, nesta operação contra o Motu Proprio: primeiro, alguns dos mais fanáticos opositores da liturgia tradicional lançam como provocação a revogação do Summorum Pontificum, definindo a antiga Missa como “divisiva”; depois, a Congregação para a Doutrina da Fé pede aos Ordinários que respondam a um questionário, cujas respostas estão praticamente pré-confeccionadas (a carreira do Bispo depende da forma como apoiará o que reportará à Santa Sé, porque do conteúdo do questionário também terá conhecimento a Congregação dos Bispos); por isso, casualmente, durante um encontro à porta fechada com os membros do Episcopado italiano, Bergoglio disse estar preocupado com os seminaristas «que pareciam bons, mas rígidos» e com a difusão da liturgia tradicional, sempre reiterando que a reforma litúrgica conciliar é irreversível; além disso, nomeia Prefeito do Culto Divino um acérrimo inimigo do Vetus Ordo, que constitui um aliado na aplicação de eventuas restrições; finalmente, ficamos a saber que os Cardeais Parolin e Ouellet estão entre os primeiros a querer essa reestruturação do Motu Proprio: isto obviamente leva os Prelados “conservadores” a precipitarem-se em defesa do actual regime de coexistência das duas formas ordinária e extraordinária, dando a Francisco a oportunidade de se mostrar como um prudente moderador das duas correntes opostas e levando “apenas” a uma limitação do Summorum Pontificum ao invés da sua revogação total. Que – como sabemos – era exactamente o que ele almejava desde o início da operação.          

Independentemente do resultado final, o deus ex machina desta previsível peça é, e permanece, Bergoglio, pronto a assumir o mérito de um gesto de clemente indulgência para com os conservadores e também para descarregar as responsabilidades de uma aplicação restritiva sobre o novo Prefeito, Mons. Arthur Roche, e sobre os seus sequazes. Assim, no caso de um coro de protestos dos fiéis e de uma reacção descomposta do Prefeito ou de outros Prelados, mais uma vez ocorrerá o confronto entre progressistas e tradicionalistas, tendo, então, óptimos argumentos para afirmar que a coexistência das duas formas do Rito Romano comporta divisões na Igreja e que, por isso, é mais prudente voltar à pax montiniana, isto é, à proibição total da Missa de sempre.    

Exorto os meus Irmãos no Episcopado, os Sacerdotes e os leigos, a defenderem arduamente o seu direito à liturgia católica, solenemente sancionada pela Bula Quo primum, de São Pio V; e a defenderem com essa a Santa Igreja e o Papado, ambos expostos ao descrédito e ao ridículo por parte dos próprios Pastores. A questão do Motu Proprio não é minimamente negociável, porque nele é reafirmada a legitimidade de um rito nunca revogado nem revogável. Além disso, ao dano certo que essas arejadas invocações trarão às almas e à certa vantagem que dela derivará para o Diabo e para os seus servos, acrescenta-se a indecente rudeza para com Bento XVI, ainda vivo, por parte de Bergoglio, que deveria saber que a autoridade que o Romano Pontífice exerce sobre a Igreja é vicária e que o poder que tem vem de Nosso Senhor Jesus Cristo, única Cabeça do Corpo Místico: abusar da Autoridade Apostólica e do poder das Santas Chaves para um propósito oposto àquele para o qual foram instituídas pelo Senhor, representa uma inaudita ofensa à Majestade de Deus, uma desonra para a Igreja e uma culpa pela qual terá que responder Àquele de quem é Vigário. E quem rejeita o título de Vigário de Cristo, saiba que, com esse, falha também a legitimidade da sua autoridade.         

Não é aceitável que a autoridade suprema da Igreja se permita apagar, numa perturbadora operação de cancel culture em chave religiosa, a herança que recebeu dos seus Pais; nem é admissível considerar fora da Igreja aqueles que não estão dispostos a aceitar a privação da Missa e dos Sacramentos celebrados na forma que forjou quase dois mil anos de Santos. A Igreja não é uma empresa em que o departamento de marketing decide eliminar produtos antigos do catálogo e propor novos, a pedido dos clientes. Já foi doloroso impor à força a revolução litúrgica aos sacerdotes e aos fiéis, em nome da obediência ao Concílio, arrebatando-lhes a própria alma da vida cristã e substituindo-a por um rito que o maçom Bugnini copiou do Book of Common Prayer, de Cranmer. Aquele abuso, parcialmente sanado por Bento XVI com o Motu Proprio, não pode ser, de modo algum, repetido agora na presença de elementos que são todos amplamente a favor da existência da antiga liturgia. Se se realmente quisesse ajudar o povo de Deus nesta crise, deveria ter sido abolida a liturgia reformada, que em cinquenta anos causou mais danos do que os feitos pelo Calvinismo.                     

Não sabemos se as temidas restrições que a Santa Sé pretende fazer ao Motu Proprio afectarão os sacerdotes diocesanos ou se dirão respeito também aos Institutos, cujos membros celebram exclusivamente o rito antigo. No entanto, temo, como já tive oportunidade de dizer no passado, que será precisamente sobre estes últimos que se desencadeará a acção demolidora dos Inovadores; que talvez possam tolerar os aspectos cerimoniais da liturgia tridentina, mas não aceitam absolutamente a adesão à estrutura doutrinal e eclesiológica que ela implica e que contrasta fortemente com os desvios conciliares que querem impor sem derrogação. Eis por que se deve temer que seja solicitada a esses Institutos uma qualquer forma de submissão à liturgia conciliar, por exemplo, tornando obrigatória a celebração, pelo menos ocasional, do Novus Ordo, como já devem fazer os sacerdotes diocesanos. Desse modo, quem faz uso do Motu Proprio será obrigado não só a uma aceitação implícita da liturgia reformada, mas também a uma aceitação pública do novo rito e da sua mens doutrinal. E quem celebra as duas formas do rito ficará, ipso facto, desacreditado, antes de tudo, na sua coerência, fazendo passar as suas escolhas litúrgicas como um facto puramente estético, diria quase coreográfico, e privando-o de qualquer juízo crítico em relação à Missa montiniana e à mens que lhe dá forma: porque se verá forçado a celebrar aquela missa. Uma operação maliciosa e astuta, esta, em que uma autoridade que abusa do seu poder deslegitima aqueles que se opõem a ela, por um lado concedendo o rito antigo, mas por outro fazendo dele uma questão puramente estética e forçando-o a um insidioso biritualismo e a uma ainda mais insidiosa adesão a duas abordagens doutrinárias opostas e contrastantes. Mas como se pode pedir a um sacerdote que celebre ora um rito venerável e sagrado em que encontra perfeita coerência entre doutrina, cerimónia e vida, e ora um rito falsificado que pisca o olho aos hereges e cala vilmente o que o outro proclama com orgulho?

Rezemos, pois: rezemos para que a Divina Majestade, a quem prestamos culto perfeito celebrando o venerável rito apostólico, se digne a iluminar os Sagrados Pastores para que desistam do seu propósito e, pelo contrário, incrementem a Missa tridentina para o bem da Santa Igreja e para a glória da Santíssima Trindade. Invoquemos os Santos Padroeiros da Missa – São Gregório Magno, São Pio V e São Pio X in primis – e todos os Santos que, ao longo dos séculos, celebraram o Santo Sacrifício na forma que nos foi transmitida para que a protegêssemos fielmente. Possa a sua intercessão junto do trono de Deus impetrar-nos a conservação da Missa de sempre, graças à qual nos santificamos, fortalecemos nas virtudes e resistimos aos ataques do Maligno. E se alguma vez os pecados dos homens da Igreja merecerem uma punição tão severa como profetizado por Daniel, preparemo-nos para descer às catacumbas, oferecendo esta provação pela conversão dos Pastores.   

† Carlo Maria Viganò, Arcebispo

Fonte: Dies Iræ