quinta-feira, 30 de abril de 2020

PORTUGAL DE LUTO E O PARLAMENTO A COMEMORAR

Em plena pandemia, a Assembleia da República (AR) decidiu promover hoje, 25 de Abril, uma sessão solene, comemorativa do 46º aniversário do golpe militar que pôs fim ao Estado Novo que, por sinal, já estava bastante velho. Mais do que a queda do regime anterior, festeja-se a liberdade e a democracia.

Com certeza que o 25 de Abril é uma data importante no calendário nacional, nomeadamente para aqueles que mais sofreram o anterior regime e mais lutaram pela reconquista da liberdade. Como outras datas históricas – recorde-se que o 5 de Outubro de 1910 significou um retrocesso na liberdade religiosa e de voto – também o 25 de Abril é passível de interpretações menos positivas, se se tiver em conta o PREC e a desastrosa descolonização, que deixou várias ex-colónias portuguesas mergulhadas em sangrentas guerras civis. Não obstante, evocar o 25 de Abril é salutar, não só para celebrar a liberdade, mas também para recordar as experiências negativas do ‘fascismo’ e do ‘social-fascismo’, que o antecederam e sucederam, respectivamente.

Que a AR entenda comemorar uma data, certamente relevante na história de Portugal, é justo e necessário, mas não o deveria fazer quando o país está de luto e vive as horas mais dramáticas dos últimos quarenta anos da sua História.

Contra a comemoração oficial, na modalidade decidida pela AR, elevaram-se já várias vozes – entre outras, as de dois ex-presidentes – e surgiu uma petição pública que, em poucos dias, já foi assinada por cem mil cidadãos. É óbvio que se trata de uma questão que, por não ser religiosa, há católicos que são a favor e contra esta iniciativa, nem partidária, é obviamente opinável.

Seria disparatado supor que todos os que preferiam uma solução diferente da que foi adoptada, são ‘fascistas’ e inimigos da democracia e da liberdade, como também não se pode afirmar que todos os que são a favor da sessão parlamentar são ‘sociais-fascistas’ e antipatriotas. São discursos destes que revelam, precisamente, uma mentalidade autoritária e intolerante, ou seja, antidemocrática. Certamente, há democratas e patriotas de ambos os lados e também há quem esteja presente por exigências institucionais (representantes dos órgãos de soberania e de confissões religiosas, embaixadores, etc.).

Não é passível de crítica o normal funcionamento do parlamento, mas sim a realização, nestas circunstâncias, de uma comemoração que é, pela sua própria natureza, festiva. De facto, a evocação do 25 de Abril, em sessão solene da AR, não é, neste momento, necessária para o bem dos portugueses: não está em causa a formação de um novo governo, a aprovação do Orçamento Geral do Estado, ou qualquer decisão urgente.

Os profissionais de saúde, os capelães hospitalares e os membros das forças de segurança, entre outros, não podem deixar de exercer as suas funções em tempo de pandemia, porque assim o exige o bem comum. Mas não consta que, estando o país no estado em que está, organizem comemorações, até porque, nestes dias, muitos deles tiveram de abdicar dos mais queridos aniversários familiares. Por isso, a insistência nesta celebração parlamentar, em pleno estado de emergência, foi entendida por muitos milhares de portugueses como um acto provocatório, senão mesmo ofensivo.

Provavelmente, nem todos os nossos governantes e deputados estão conscientes dos sofrimentos que a actual situação representa para tantos portugueses. Os que, cumprindo todas as normas de prevenção em vigor, continuamos ao serviço dos mais necessitados, sabemos quanto sofrimento há numa cerimónia fúnebre sem acompanhamento familiar; quanta saudade há nos que não podem sequer ver e abraçar os seus familiares mais próximos; quanta tristeza em tantas famílias; quanta mágoa nos mais velhos, retidos em lares de que não podem sair e a que não se pode ir; quanta incerteza quanto ao futuro próximo, etc. Em pleno estado de emergência, tive de celebrar um casamento inadiável, a que nem sequer os irmãos dos noivos puderam assistir, porque a participação teve que ser limitada aos contraentes, seus pais, duas testemunhas e o oficiante, num total de apenas nove pessoas!

Ainda bem que a Igreja, por respeito pelos mortos, doentes e suas famílias, suspendeu os festejos da mais importante celebração litúrgica do ano: a Páscoa. Não cancelou a celebração religiosa do mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, mas fê-la sem comemorações festivas multitudinárias, com a sobriedade que as circunstâncias exigem, e que seria de esperar também do Estado, se porventura tivesse a mesma sensibilidade social e humana.

Não se trata de ser a favor ou contra a Páscoa – é óbvio que todos os cristãos não podem deixar de festejar a ressurreição de Jesus Cristo! – nem de ser a favor ou contra o 25 de Abril porque, para um democrata, a liberdade e a democracia não se discutem. Trata-se apenas de respeitar o sofrimento humano, que a Igreja nunca entende como alheio, e que o Estado deveria também fazer próprio, suspendendo ou adiando comemorações que, obviamente, não fazem sentido quando os mortos são já perto de novecentos e os infectados mais de 22 mil, o que significa quase mil famílias em luto e cerca de vinte mil vivendo o sofrimento de ter alguém infectado. É razoável que tantos milhares de portugueses estejam a sofrer e o parlamento a comemorar?! É sensato que os idosos estejam fechados nas suas casas e os deputados, no parlamento, a festejar o 25 de Abril?! E a quem não pôde ir ao hospital, ou ao lar, despedir-se do cônjuge, do pai ou mãe, antes de se finar, como explicar que aos deputados tenha sido dado livre-trânsito, para irem ao palácio de São Bento, festejar a liberdade?!

Não podia ter sido mais eloquente a atitude do Papa Francisco, quer na sobriedade da celebração da bênção urbi et orbi, quer na dolorosa Via Sacra rezada também na praça de São Pedro, confrangedoramente vazia. Na prece do sucessor de Pedro estavam presentes as dores de todos os cristãos e de toda a humanidade: o luto pelos mortos, o sofrimento dos doentes, o cansaço dos profissionais de saúde, a angústia dos parentes, a saudade das famílias separadas, a solidão dos confinados e a incerteza do futuro. Mas, na voz quebrada de Francisco, estavam também representadas as jubilosas expectativas de todos os crentes, a força da solidariedade humana, a certeza da vitória da esperança e a fé na vida que, em Cristo ressuscitado, venceu a morte.



P. Gonçalo Portocarrero de Almada

Fonte: Observador

terça-feira, 28 de abril de 2020

Mensagem do Chefe da Casa Real Portuguesa, S.A.R. o Senhor D. Duarte, Duque de Bragança, a propósito da crise de saúde pública emergente

Portugueses: 

Nas circunstâncias da pandemia que vivemos, reconheço os valores que constituem a alma portuguesa e que se manifestam hoje com profunda esperança no nosso futuro comum. São exemplo disso a civilidade e a prontidão com que os portugueses se mostraram convocados para o bem de todos, visível na tranquilidade e prudência com que se respeitam as instruções das autoridades, reduzindo o comércio, fechando os escritórios ou limitando ao mínimo indispensável a saída de suas casas.

Não esqueço as Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo e a forma como nesses locais de residência e trabalho tão bem têm representado Portugal quando é tão importante ser exemplo.

Uma palavra de enorme respeito e gratidão por todos os médicos, enfermeiros, profissionais da saúde e de lares que, em condições de grande tensão e cansaço, e grave falta de meios, têm sido inexcedíveis a cuidar dos doentes do covid-19 e das outras enfermidades, com altruísmo e generosidade, mostrando bem de que fibra são feitos. Assim também aos cientistas e pesquisadores nacionais que afincadamente procuram remédio.

Com apreço quero agradecer a todos quantos servem a comunidade que somos, minorando as consequências das circunstâncias e permitindo um confinamento tão confortável quanto possível - militares, bombeiros voluntários, forças de segurança, profissionais dos serviços básicos de limpeza, água, etc., das mercearias e supermercados, farmácias, e tantos outros.

Não esqueçamos o fundamental serviço prestado pelos agricultores. Agora mais do que nunca percebemos a importância de Portugal poder produzir uma boa parte do que todos consumimos…

Com alegria, vejo também a criatividade e engenho com os quais tantas empresas particularmente atingidas pela queda brusca da sua actividade se reinventam para acudir a quem mais precisa, criando propostas onde parecia só haver desalento: cozinhas de hotéis que trabalham para IPSS, restaurantes e pequenos negócios que fazem entregas em casa, e tantos outros.

A todos quantos se vêem com o seu sustento familiar subitamente interrompido ou diminuído, manifesto a minha total solidariedade.

Vejo com grande preocupação as muitas famílias que emigraram para Portugal com dificuldades económicas, em particular as do Brasil, terra Natal de minha Mãe. E fico feliz pelas muitas pessoas que continuam a ajudar aqueles que, por estarem aqui há pouco tempo, não beneficiam de apoio da Segurança Social.

Saibam que não estão esquecidos e que, como noutras crises, entre todos havemos de encontrar soluções para a vossa grande aflição.

Quantos voluntários e instituições caritativas multiplicaram esforços para chegar aos mais vulneráveis e atingidos, apoiados no reforço financeiro que de outras famílias lhes vai chegando através de donativos.

A todos os que, enlutados, sofrem a dor da morte nas suas famílias, a minha compaixão.

Nunca como agora se manifestou tão claramente a importância das várias profissões e a honradez do trabalho de cada um e quanto em sociedade dependemos uns dos outros.

É também nestes momentos em que lutamos contra um inimigo invisível que vemos como os Portugueses respondem com serenidade. Vemos como um número crescente de pessoas prefere comprar produtos agrícolas ou industriais produzidos em Portugal, contribuindo para diminuir o desemprego e a crise económica que ameaça a sobrevivência da nossa economia. As escolhas inteligentes são cada vez mais importantes para garantir o nosso futuro colectivo!

Nesta altura em que nos sentimos, de certa maneira, isolados não deixamos de pensar nas pessoas que estão mais sozinhas e desamparadas.

Havemos de viver esta crise também como oportunidade, firmes na grandeza das inúmeras qualidades que são as nossas, certos na Esperança que nos foi confiada.

Espero que esta Páscoa e esta provação nos tenha recentrado no essencial da vida e nos conceda a todos, crentes e não crentes, um espírito de renovação, de Paz e de unidade.

Sua Santidade o Papa Francisco disse que esta pandemia era “uma resposta da Natureza” face ao nosso comportamento. Que este aviso nos leve a respeitar melhor o ambiente, não esquecendo o respeito pela Natureza humana que inclui o direito à vida dos mais frágeis.

Peçamos à Imaculada Conceição, Rainha de Portugal, que mais uma vez proteja a nossa Pátria!

Assim também se cumpra Portugal.

Dom Duarte de Bragança
Sintra, 23 de Abril de 2020

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Empresário Ferreira Paulo escreve Carta Aberta ao Presidente da República

Évora, 26/04/20

Exmº. Sr. Presidente,

Tenho vergonha de si! Quero começar por dizer-lhe que não é o Presidente de todos os portugueses. Meu não é! Nunca votei em si. Graças a Deus. A mim não me enganou.

Sr. Presidente quer-se dar bem com Deus e com o Diabo, mas acima de tudo com aqueles que lhe dão votos, nem que para isso tenha que dar o dito pelo não dito.

Dirijo-me a V. Exa. na qualidade de cidadão português e de aficionado do mundo tauromáquico, se não se lembra, parte integrante da cultura portuguesa, por muito que queira renegar e empurrar para o esquecimento. Como fazem outros responsáveis governativos, esquecendo, tal como o Senhor, uma vez nos cargos, que devem abdicar  de gostos ou apetites pessoais e  do medo... e não praticar bulling cultural, nem amordaçar consciências e vender a alma a troco de meia dúzia de votos como obrigou ao silêncio o primeiro-ministro Costa na AR na votação do orçamento os deputados do PS (democraticamente  não podem ter opinião....).

Recordei  recentemente  uma sua entrevista  em que dizia: "Há todo um valor cultural e histórico a apoiar na tauromaquia,…." e até disse "com o meu apoio pessoal não vão cair tradições culturais como  a tauromaquia e quem o quiser fazer não entende uma das tradições do Povo português", como também recordei a sua presença numa trincheira em plena campanha eleitoral para a presidência.... Como se pode ser tão hipócrita? Como se vende a alma tão facilmente ao diabo… São os políticos que temos!

Que tristeza quando os homens valem tão pouco e não se respeitam naquilo que dizem… ou quando se vendem ao medo de uns quantos votos.

Li que ontem, estilo farsa, quis fazer um apelo à união dos portugueses, será mais uma das suas, Sr. Presidente… Porque quem renega a nossa cultura tauromáquica e outras, esquecendo o que já defendeu e ignorando parte do mundo rural e da economia que se move ao redor dessas actividades, merece ser denunciado e pouco respeitado.

Também o vi a entregar uns saquinhos aos sem abrigo, que bem necessitam, mas em vez de dar com o dinheiro dos portugueses, pois aquilo foi comprado de certeza com dinheiro público, para que houvesse campanha eleitoral e promoção de V. Ex., seria mais bonito ser comprado por si e entregue sem alaridos. Fazer campanha utilizando a miséria dos outros... Teria V. Ex. lá ido sem televisões e selfies?…

Sendo V. Ex. um constitucionalista recomendo-lhe que se recorde do que consta na Constituição da República Portuguesa no que concerne à Cultura. Depois, que tenha vergonha de ter assinado uma descriminação no que ao IVA  diz respeito  no orçamento... 
 Quando promulgou o IVA a 23% discriminatoriamente à tauromaquia. Que vergonha Sr. Presidente, ser V. Ex. a tourear a Constituição por falta de valor.

Ontem, recebeu representantes da cultura, esqueceu-se de dizer que recebeu os que lhe apeteceu, não os recebeu a todos. Mais uma vez submisso ao PS por causa dos votos fez descriminação.

V. Ex. nem às comemorações do 125º aniversário do Campo Pequeno se dignou assistir. Sabe porquê? Porque lhe falta aquilo que os Homens dos toiros têm...

José Manuel Ferreira Paulo

Fonte: Farpas Blogue

sábado, 25 de abril de 2020

FERRO RODRIGUES, o 25 DE ABRIL E O PAPEL HIGIÉNICO


“O Papa representa centenas de milhões de fieis e celebrou a Pascoa sozinho. Porque é que o PR não celebra sozinho o 25 de Abril?

Autor desconhecido (talvez a síntese mais conseguida da polémica).

Para variar arranjou-se um problema escusado com o modo desastroso como se entendeu, neste ano da Graça do Senhor de 2020, comemorar a data do 25/4/74.

Data que para uns representa o “alfa e o Ómega” da sua existência e para outros foi uma catástrofe medonha.

Pelo meio estão os “assim - assim” e, sobretudo, a grande fatia que tem dos eventos uma visão destituída de qualquer contextualização séria e realista. Mas isso está perfeitamente afastado do discurso político e dos “curricula” escolares.

As razões pelas quais não se deveria comemorar o dito dia, nas circunstâncias actuais, do modo como a Assembleia da República (AR) aprovou (com o lavar de mãos dos demais órgãos superiores do Estado) estão por demais divulgadas pelo que não as vou referir.

Deixo apenas as palavras da citação e a lembrança da imagem do Papa na Basílica de S. Pedro, como síntese de tudo. Uma imagem a vários títulos, dolorosa.

Foi apenas a opinião pública que fez os responsáveis recuar no modelo inicialmente gizado, mesmo depois do Presidente da República (PR) ter reduzido o 10 de Junho a um “acto simbólico”. Não resisto todavia, a deixar uma questão: se a data mais próxima a ser exaltada, fosse a do 1º de Dezembro, iriam comemora-lo? Sejam sérios e respondam, não iam pois não? Eu conheço-os de ginjeira…

E respondam também, acaso a data do 25 de Abril, é mais importante do que a que evoca a luminosa aurora de 1640? Não são capazes de dizer, pois não?

Mas o Presidente da AR – que tratarei por V. Exª, por dever de respeito ao cargo e à dignidade do Estado não dever cair na sarjeta - veio insurgir-se, admirado (!?), contra os protestos.

Na sua alarvidade habitual – por detrás da função está uma pessoa e político desqualificado – insinuou que os protestos tinham motivações ideológicas e aqueles que protestavam eram contra as comemorações e não tinham a coragem de o assumir.

É isto dito por uma espécie de esquerdopata caceteiro, que refocilou nas alfurjas dos “SUV” (soldados unidos vencerão) e do “MES” (movimento da esquerda socialista)! E tem o topete de afirmar que o assunto foi aprovado por 95% dos deputados, ou seja democraticamente – depois, note-se, de ter afirmado “urbi et orbi” que a data ia ser comemorada a modos que

“quer queiram quer não”- quando os ditos deputados (do sistema) nem a eles próprios se representam, muito menos aos eleitores, que nem votam directamente neles, mas apenas nas listas apresentadas pela estrutura partidocrática existente!

Ficámos a saber, por último, que não se usarão máscaras na cerimónia, não por razões de desnecessidade sanitária, mas porque na “casa da democracia” “não há bailes … de máscaras”.

Neste frenesim é acolitado por um outro diletante da política, que nunca trabalhou na vida, Alegre de sua graça, que destilou em tempos, o seu fel e maus instintos, pelos becos de Argel, e que em protesto solidário com os “capitães de Abril”, contra o governo de Passos Coelho, se recusou a ir ao Parlamento, em 25/4/2012!

Afinal as comemorações não são assim tão importantes e obviamente, não têm nada de ideológico…

Ora para que S. Excelência não possa dizer de mim o que verberou em outros, vou, na medida em que o seu cargo merece e a repulsa (asco) que a sua pessoa provoca, tentar explicar-lhe porque é que a data do 25/4/74, deve continuar a ser lembrada – as coisas boas e as más não se devem esquecer – mas devia deixar de ser feriado nacional.

A primeira razão é a mesma pela qual já ninguém se lembra do dia 24 de Agosto de 1820, ou seja a data que implantou o Liberalismo em Portugal. Data recuada que está, sem embargo, na origem do que se passa no presente. Do mesmo modo que não faz sentido que o 5 de Outubro de 1910 tenha o estatuto de feriado.

Como inteligente e prescientemente, os governos do “Estado Novo”, nunca fizeram da data de 28 de Maio de 1926, feriado. Muito menos nacional.

É já História.

Convém, no entanto, acrescentar o seguinte; tanto a implantação do Liberalismo como da República, são basicamente, obra da (s) Maçonaria (s). Esta (s) não estando na origem do 25 de Abril (até porque as “lojas” estavam praticamente todas de “colunas caídas”) veio a beneficiar e a ajudar, tanto do ocorrido a 25 de Abril como, sobretudo do 25 de Novembro.

O Liberalismo (também ele cheio de boas intenções) deu origem a golpes de estado, revoluções e guerras civis sucessivos, que só pararam em 1851 (a quente…). Não deve ter ficado muita vontade de o comemorar…

Além disso ainda não havia a ideia dos feriados, o que veio a ser inaugurado entre nós justamente, por causa do 1º de Dezembro, aprovado por decreto de 12 /10/1910, embora tivesse sido proposto do anterior, pela Sociedade Histórica para a Independência de Portugal.

Depois a implantação da República, que representou uma tentativa de imitação serôdia da Revolução Francesa, com a imposição do “democratismo”, as suas vanguardas carbonárias e os “Sant – culotes” jacobinos, ultrapassou pela esquerda baixa o pior do Liberalismo. O feriado do 5 de Outubro bastava assim, aos republicanos, maçons e aos (poucos) socialistas e anarquistas existentes.

Perguntar-se-á porque é que o Estado Novo – que foi basicamente construído contra o caos da I República e a ditadura do Partido Democrático – manteve a data como feriado. Pois porque o novo regime se consolidou sob a forma republicana; por causa da fraqueza das elites monárquicas e porque – ao contrário do que se diz – teve que procurar alguns equilíbrios. Muitos maçons passaram, por ex., a colaborar com o regime fundado por Salazar, apesar de a agremiação ter sido proibida, em 1935.

Não obstante, manteve-se a evocação do 5 de Outubro, em “low profile”, sem brilho nem lustre, acabando em romarias de uns poucos caquéticos.

Como caquéticos estão já os protagonistas e apoiantes do 25 de Abril.

Feito o parêntesis, acrescenta-se um argumento maior: o 25/4, e sobretudo o que se lhe seguiu, foram fruto de uma luta política, social e ideológica, entre facções, de uma parte da Nação contra outra ou outras. É uma data e um conjunto de eventos que dividiu e divide, o país transversalmente; que deixou ódios e cicatrizes por sarar. Que mudou nomes às ruas e deitou estátuas abaixo e erigiu outras…

Ora uma data destas não deve ser comemorada como feriado nacional, pois não tem nada de … nacional. É até, uma questão de bom senso e sanidade mental.

Aliás se tudo o que se passou tivesse resultado numa boa memória ou consciência nacional, a vida decorreria normalmente em harmonia e tal seria a melhor e suficiente homenagem. Ora não foi nada disto o que se passou.

De facto fazer um golpe de estado (que degenerou em revolução desbragada, coisa que não estaria na mente da maioria dos conspiradores, ou estaria?), não é propriamente a mesma coisa que ir tomar uma bica, com uns amigalhaços, ao café da esquina. E vale – e deve ser aferido - pelas intenções e, sobretudo, pelos resultados.

Ora as intenções mais tarde assumidas (todas muito “filantrópicas”) não tiveram nada a ver com as motivações do chamado MFA (que englobava cerca de 1 a 2% da oficialidade e nenhum sargento), cujos aderentes - não estou a falar de adesivos – resultaram da revolta que o tristemente célebre decreto-lei 353/73, de 13 de Julho, lhes provocou. Decreto que estabelecia as novas normas de passagem dos oficiais milicianos ao quadro permanente e que objectivamente prejudicava os capitães e parte dos majores mais modernos.

O que mais tarde, evoluiu para o derrube do governo pela via do golpe de estado. E quero crer que foram tão inconscientes que nem pensaram no dia seguinte…

Quanto aos resultados estes foram de uma desgraça inconcebível.

Começou pelo facto de a Junta de Salvação Nacional e o MFA, terem perdido o controlo da situação no dia seguinte ao golpe e nunca conseguiram cumprir o programa a que se tinham proposto ao país.

Em poucos meses tudo degenerou numa situação caótica em todos os âmbitos da vida nacional a tal ponto de estrangeiros nos terem classificado como “um manicómio em auto gestão”. O que só não era verdade porque pecava por defeito.

Este período, que ficou conhecido como “PREC” (processo revolucionário em curso), terminou a 25 de Novembro de 1975 (data, entretanto, convenientemente apagada do calendário), altura em que o que restava das Forças Armadas (FA) conseguiu evitar “in extremis” a imposição, pela violência, de uma ditadura comunista pura e dura.

Após, é bom lembrar, a derrota política e militar mais grave e vergonhosa de toda a nossa vetusta História, que resultou na independência traumática e miserável, de todos os territórios ultramarinos portugueses para as mãos de partidos marxistas, na órbita da URSS.

Este crime não tem perdão.

Macau ficou a aguardar a sua entrega, mais por bom senso da China – que nunca reivindicou o território – do que desejo da nossa parte. E lá se foi em 1999.

Deste modo se alienou de uma penada inadjectivável, cerca de 95% do território e 60% da população, que vivia debaixo da Bandeira das Quinas, e tinham ficado como herança dos nossos antepassados. E sem ao menos terem a decência de lhes perguntar o que queriam…

Deixando em simultâneo, como “herança” futura, à artificialidade dos “novos países”, um cortejo de desgraças inominável, que os levou à autodestruição, com uma fila (estimada) de mais de dois milhões de mortos. É obra…

Será isto o que se quer comemorar a 25 de Abril?

Devemos ainda distinguir o que ocorreu em dois âmbitos: o militar e o civil.

No âmbito civil gerou-se o PREC, inicialmente e não só, provocado por militares que propositadamente, ou não, permitiram que o Poder caísse na rua, o que colocou a Nação à beira de uma guerra civil, ao fim de ano e meio. Dá um filme de terror de várias horas…

O que resultou no país ter ficado completamente esfacelado, política e socialmente; a economia de rastos, as finanças destruídas, a justiça substituída pela iniquidade. Numa palavra, ficou a saque! Parecia que todo o país estava a ser cruzado por um cano de esgoto gigante…

Só isto era razão suficiente para uma vergonha colectiva por décadas.

São estes acontecimentos que se querem comemorar?

Sabe, eu assisti a tudo muito atentamente…

Porque é que os novos próceres nunca se atreveram a julgar ninguém do anterior regime político, sobretudo tendo em conta os gravíssimos ápodos de que os acusaram?

Julgaram-se possuídos de uma superior generosidade, ou a soberba da Razão? Recearam nada ter para os incriminar, ou andavam de tal maneira obcecados em destruir tudo à sua volta, que nem se deram à maçada desse pormenor trabalhoso – e perigoso?

Sabe V. Exª, Ferro Rodrigues, que a vergonha na cara faz muita falta?

Quanto à parte militar: as FA que estavam a realizar a campanha militar mais bem conseguida, desde que o “Grande” Afonso de Albuquerque estabeleceu o poderio português na Índia, caíram a pique de um dia para o outro, no mais vergonhoso dos desempenhos.

Trata-se de se terem derrotado a elas próprias, enxovalhando-se, pois nem sequer foi o inimigo que as derrotou. Só que ao auto aniquilarem-se, levaram consigo a Nação que tinham jurado defender.

Um Exército pode aliás, ser derrotado e portar-se bem. Alcácer – Quibir representou uma das maiores derrotas militares que sofremos, mas as tropas bateram-se valentemente e estiveram a pouco de vencer. O próprio Rei D. Sebastião – tão mal apreciado e vilipendiado – comandou pessoalmente, três cargas de Cavalaria!

Pagou com a morte ou o degredo infamante – ainda não se determinou ao certo o que se passou – a sua valentia temerária e o erro de se ter posto à testa do Exército sem ter assegurado descendência, mas isso já é outra história.

A Liga dos Combatentes é, por vezes, criticada por insistir em comemorar a Batalha de La Lys, por ter sido uma enorme derrota (também durante a IGG, tirando a campanha dos Cuamatos, não há grandes vitórias a comemorar). As tropas estavam muito mal preparadas, por erros políticos precedentes, e foram literalmente esmagadas pelo poderio avassalador alemão. Foram sacrificadas, mas não desonraram a Bandeira Nacional.

O que se passou após o 25 de Abril não foi assim.

Umas magníficas Forças Armadas, que chegaram a ter cerca de 230.000 homens em pé de guerra, em três continentes e outros tantos oceanos, a combater bem e vitoriosamente, em três teatros de operações distintos, separados de milhares de quilómetros, durante 14 anos, transformaram-se rapidamente (nem dá para atinar!) em “bandos armados” desprovidos de qualquer valor militar. Tendo chegado a jurar bandeira de punho fechado…

Muitos episódios (que são espinhos cravados na minha alma de militar e de português) atestam o que estou a dizer. Mas fixemos apenas dois como ilustração: a vergonha inaudita da “rendição” da Companhia do Exército estacionada em Omar (norte de Moçambique) e a cena do Batalhão em cuecas, em Nova Lisboa.

A IM ficou manchada na sua Dignidade e na sua HONRA. Esta Honra ainda não foi resgatada.

Será isto que se quer comemorar em 25 de Abril e perpectuar em feriado nacional?

A tropa portou-se tão mal e de um modo tão errático, que quando as coisas começaram a serenar após o 25 de Novembro – e nem esta data serve para as redimir, pois deixaram o que tinham para fazer muito aquém de meio – e sobretudo a partir de 1982, com o fim do

Conselho da Revolução, conseguiu esta coisa única em todo o mundo: toda a gente no país ficou de mal com elas; uns por umas razões, outros por outras.

Numa palavra a IM ficou de mal com o país e este com ela, e ela consigo própria. Ainda hoje estão a sofrer deste estado de coisas. Nunca vi ninguém assumir esta factualidade.

Será isto, ainda e porventura, o que querem comemorar?

Vejamos ainda o que se seguiu (por alto).

Institucionalizada a III República com a aprovação da nova CR, em 1976, começou uma anunciada era de luz, Justiça e prosperidade – em antinomia já se vê, com a “longa noite fascista”, uma ditadura retrógrada e triste, no mais suave dos epítetos.

Em primeiro lugar exalta-se o valor da “Liberdade” – que sendo um valor absoluto, tem aplicação relativa e se divide em diferentes liberdades. Ou seja vale pelo uso responsável do que se faz dela.

Ora parece - me a mim que o que se passou a aplicar mais, foi o conceito de libertinagem e a liberdade mais usada seja a de mentir…

Depois a Democracia, que como se sabe pode ter muitas definições e “nuances”. Neste âmbito gostaria que me explicassem como é que o espectro partidário existente no Parlamento (até à presença recente do “Chega”) fosse apenas do “centro” à extremíssima esquerda; e também desejaria saber como se pode incluir o PCP no âmbito dos “democráticos” – o que é desmentido pela sua ideologia, prática e referências, bastando ver os exemplos antigos e actuais onde governaram e governam - e ainda o BE que representa um coio de apaniguados dos “ismos” mais extremos (e estranhos).

Um sistema democrático que se perverte a si mesmo pois cada deputado não é livre, nem é votado directamente pelos eleitores, pois se encontra a mando do directório partidário! Um sistema eleitoral que à excepção da eleição do PR não permite candidaturas individuais.

O que se instalou, isso sim, foi uma ditadura dos Partidos e de alguns sindicatos, que por “acaso” são por norma, correias de transmissão dos Partidos; idem para o chamado Poder Local “;configurando, por outro lado, uma Plutocracia, onde o dinheiro é que manda nos votos.

A “Democracia” não é um fim em si mesmo, é apenas uma forma de organização política da sociedade. E não está acima da Pátria, da Moral, da Verdade, da Liberdade, etc..

Agitaram bem, misturaram por algum tempo e resultou uma “corruptocracia” e uma “bandalheirocracia”…. Sem Autoridade; emaranhada num dilúvio de leis, que se mudam a esmo; com uma Moral duvidosa e muito vazio de Ética!

Onde os vícios são exaltados e a Virtude é escarninho. Tudo permeável a “internacionalismos” e organizações sem rosto, que destroem a nacionalidade.

Não é necessário dar exemplos, tudo está às escâncaras na praça pública, servida por uma comunicação social sem freio, mas sempre condicionada pelos interesses financeiros ou outros, que a tutela. E que, oficialmente, nunca faz censura…

As linhas mestras do “sucesso” que temos tido estão vertidas num livrinho de capa vermelha que encerra a Constituição da República (CR).

Muito exaltada nas ditas comemorações do dia florido a cravos da cor do sangue.

CR aprovada debaixo de sequestro e nunca referendada.

Que me parece um arrazoado prolixo, com ideias mal expressas, às vezes contraditórias; eivado de ideologia malsã; com artigos anti democráticos; anti nacional; onde os deveres são esmagados pelos direitos (a não ser o de pagar impostos). Uma coisa mal - amanhada, que estabelece um sistema que não é carne nem peixe, que tenta equilíbrios instáveis, que dificultam as resultantes políticas claras, sem embargo de permitir que uma força política que perde as eleições poder passar a governar…

E que nalguns dos seus aspectos mais razoáveis, sofre de incumprimentos vários.

Que consubstancia um Regime patético e mentiroso, que exalta traidores, facínoras e pobres de espírito.

Não sei se é isto que, também, estão na disposição de comemorar.

Numa época e numa sociedade, onde o que falta em espiritualidade sobra em materialismo, convém deixar uma palavra sobre economia e finanças.

Nos fins de 1973 estavam saudáveis e recomendavam-se por sustentáveis. A vida decorria normalmente do Minho a Timor (salvo nas zonas afectadas pela guerrilha). Apesar da tal guerra… Que muitos vieram depois, dizer aleivosamente, que estava perdida e era injusta, deixando perpassar amiúde um esgar íntimo de satisfação…

A única coisa preocupante consistia num excessivo fluxo emigratório no seio da população metropolitana. E éramos livres e independentes – um valor muito superior à Democracia...

Passados 40 anos, contamos três bancarrotas, a última das quais causou uma intervenção externa humilhante; emigração e imigração em barda (agora também migração); a moeda nacional foi-se desvalorizando até acabar; as divisas foram-se, assim como dois terços do ouro acumulado em décadas; foi-se destruindo o sector primário e parte da indústria; os serviços tirando o turismo, não são concorrenciais; a banca em vez de financiar a economia é financiada pelos impostos dos contribuintes e está “proibida” de falir, e passaram-nos a apelidar de “lixo”.

Todos os índices de demografia são suicidários.

Vamos nos 130% de dívida face ao PIB, isto a acreditar nos dados divulgados.

Não há “Ronaldos” que apaguem esta realidade, embora abundem os avestruzes!

E é bom não esquecer que chegámos a este ponto vivendo maioritariamente do que não produzíamos; depois de se ter delapidado as reservas deixadas pelo Regime anterior e da catrefada de fundos estruturais europeus, que entraram no país durante 30 anos, para além do património já vendido para aliviar problemas de tesouraria. E sem já terem a desculpa de

haver guerra e terem passado a desprezar a defesa nacional ao ponto de gastarem hoje, apenas cerca de 1% do PIB!

Quanto a soberania então nem se fala, simplesmente abdicaram dela e “vendem-na” ao desbarato.

Não se pode ser mais incompetente. Só para ficar por aqui. Deve ser uma incompetência democrática…

Como pode observar, Exmº Presidente da AR, tem aqui muito para comemorar no tal dia 25/4. Pode começar a limpar as mãos à parede.

Finalmente uma última razão inclina-me, desgraçadamente, para a extinção de tal feriado, a não ser para evocar uma espécie de “Dia dos Finados”. E essa é, que um regime/sistema com origem em tal data, ter permitido a um homem com uma imagem de burgesso contumaz, possa ascender a número dois da hierarquia do Estado e eu simples cidadão, com os deveres e direitos em dia, ter de o tratar por V. Exª.

Até porque V. Exª nem ao respeito se dá – nem respeita o seu alto cargo, quando em pleno parlamento afirma coisas como se estar “a c-g-r para o segredo de justiça”. E nada disso ter consequências. V. Exª revela-se assim uma nódoa da Democracia; digo uma nódoa. Apenas.

E no dia em que haja em Portugal um sistema de Justiça que não se limite ao exercício deletério do Direito; mantenha “de facto” uma independência de outros Poderes e seja capaz de se livrar das ervas daninhas que o invadem, então porventura, se saberá em todo o seu esplendor e extensão, o que se passou no escabroso “caso da Casa Pia”.

Estimo que comemore bem o dia, na companhia dos que lhe são queridos. Tome três colheres de mel para cantar o “Grândola”, às três da tarde como pediu o compincha Vasco (de melena e pá) e não se esqueça de levar papel higiénico; as suas tripas podem traí-lo.


João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)


Fonte: O Adamastor

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Não, Portugal não roubou arte africana: o Museu do Dundo


É um dos museus mais importantes de África, criado por portugueses em 1936, dedicado aos povos da Lunda e à sua História, como no pórtico se afixa com orgulho. Felizmente poupado às depredações e guerras que ensanguentaram Angola entre 1975 e 1993, constituiu uma homenagem, única no mundo, do europeu ao africano, impedindo que o curso do desenvolvimento e da mudança social privasse as culturas locais da sua consciência, da sua maneira de ser, da sua cultura material e representações. O museu é um repositório da vida, do espírito e alma dos Quiocos, das suas crenças, artes e ofícios.

Compreendendo o alcance e significado daquela instituição vocacionada para o estudo, conservação e fruição de objectos de rara qualidade, as populações circundantes, sobretudo os chefes locais, entregaram espontaneamente peças, como o fez o soba da Lunda que ofereceu a sua própria coroa de missangas, atributo do seu poder, e foi oferecê-lo ao museu. Assim foi, também, o caso do soba Bena-lulua, do vizinho Congo Belga (hoje República Democrática do Congo) que, visitando o museu e notando a ausência de peças de origem bacuba, tomou a iniciativa de adquirir o manto e mais adornos de um outro soba e os ofereceu ao Museu Português do Dundo. Até um dançarino cedeu o seu trajo e respectiva máscara para a colecçção do museu, não sem antes retirar, do cinto de dança, os amuletos que religiosamente guardou para os colocar noutro cinto.

Em 1950, a UNESCO, rendida perante a riqueza e o rigoroso critério de selecção e exposição, não deixou de assinmalar que se "há unidade da espécie humana, pode o Museu do Dundo ser considerado um Museu do Homem".

quinta-feira, 23 de abril de 2020

520º aniversário da descoberta oficial do Brasil


Esta terra, Senhor, me parece que da ponta mais contra o sul vimos, até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa.
Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa.
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá.
Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.
Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.
E que aí não houvesse mais que ter aqui esta pousada para esta navegação de Calecute, isso bastaria. Quanto mais disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa santa fé.
E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi. E se algum pouco me alonguei, Ela me perdoe, pois o desejo que tinha de tudo vos dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo.
E pois que, Senhor, é certo que, assim neste cargo que levo, como em outra qualquer coisa que de vosso serviço for, Vossa Alteza há-de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer graça especial, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge Osório, meu genro – o que d'Ela receberei em muita mercê.

Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Deste porto seguro, da vossa ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de Maio de 1500.
Pêro Vaz de Caminha


Fonte: Veritatis

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Família Real Portuguesa distribui bens a instituições de solidariedade social

A imagem pode conter: 3 pessoas, árvore, ar livre e comida

SAR D. Duarte de Bragança em conjunto com a Fundação D. Manuel II têm distribuído bens a várias instituições de solidariedade social. Acreditamos que todos juntos podemos minimizar os impactes desta crise.

A imagem pode conter: comida

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A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e pessoas sentadas

Fonte: Causa Real

domingo, 19 de abril de 2020

A quarentena da Família Real Portuguesa


A quarentena monárquica não cede ao tédio, nem à inércia. SAR D. Duarte de Bragança e a família tanto fazem horticultura, como seguem as aulas online de aguarela, dadas pelo arquitecto José Ornélio da Silva. Mas é ao teletrabalho que o Chefe da Casa Real Portuguesa – assim como 40% dos portugueses – mais dedica o seu tempo. O objectivo é adquirir equipamentos e máscaras para a pandemia, através da fundação que preside, a D. Manuel II. Quer fazê-los chegar ao hospital de Setúbal e à Real Irmandade da Senhora da Cruz de Barcelos, onde é irmão honorário. "Nesta última instituição, o apoio foi um aparelho portátil de raio-X, que detecta potenciais manchas pulmonares, permitindo um rastreio inicial", revela o próprio à SÁBADO.

Do quartel-general do Duque de Bragança – o palacete em Sintra, as indicações às várias associações monárquicas são para ajudar os bombeiros. Cada uma deve escolher uma área de influência para apoiar a respectiva corporação. Já ao nível pessoal, SAR D. Duarte Pio, 74 anos, não falha as caminhadas diárias de cinco quilómetros, dentro da propriedade, e a leitura de jornais. 

Fonte: Sábado

sábado, 18 de abril de 2020

Casa Real Portuguesa entrega máscaras aos Bombeiros Voluntários de Lisboa

A imagem pode conter: 3 pessoas, pessoas em pé

O Chefe da Casa Real, Dom Duarte Pio de Bragança e o seu filho Dom Afonso de Bragança entregaram máscaras de protecção aos bombeiros da Real Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Lisboa.

Nenhuma descrição de foto disponível.

Fonte: Causa Real

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Respostas audazes para tempos desafiantes


A Real Associação de Lisboa, por sugestão do Senhor Dom Duarte de Bragança, está a organizar uma campanha de recolha de fundos a favor da Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, localizada a pouco mais de cem metros da nossa sede e onde o Príncipe da Beira é voluntário. Acontece que esta antiga instituição, a poucos meses da época de incêndios, atravessa uma dramática diminuição das suas receitas, normalmente oriundas do transporte de doentes não urgentes, suspenso devido ao estado de emergência.

Nesse sentido, apelamos à generosidade dos nossos associados para contribuírem com um donativo, que pode ser efectuado facilmente através da aplicação do nosso sítio da internet, e cujo valor mínimo é de 10,00€ AQUI, ou através de transferência bancária para a nossa conta PT50 0018 000330133441020 09

Esta campanha decorrerá até ao próximo dia 30 de Abril, e o valor acumulado será entregue pelo Senhor Dom Afonso de Bragança através dum cheque na Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lisboa numa cerimónia de que daremos publica nota.

Caso seja solicitado, a Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lisboa emitirá o recibo do donativo mediante apresentação de comprovativo. Nesse caso, ou para mais esclarecimentos, agradecemos um contacto através do endereço secretariado@reallisboa.pt, ou pelo telefone 21 342 81 15 de segunda a sexta-feira das 11:00 às 14:00.

Estes tempos desafiantes exigem a todos nós respostas audazes. 

Ajude os nossos bombeiros a socorrerem-nos. Faça aqui a sua contribuição

quarta-feira, 15 de abril de 2020

1º Aniversário do incêndio da Catedral de Notre-Dame de Paris


Mgr Michel Aupetit, archevêque de Paris, vénèrera la Sainte Couronne d'épines au coeur de la cathédrale Notre-Dame de Paris, à quelques jours du 1er anniversaire de l'incendie qui a ravagé l'édifice en 2019.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Esperança


Tudo morre neste mundo. Morrem pessoas e árvores, ideologias e línguas, morrem projectos, sonhos e civilizações. Tudo morre, mas o nosso povo sabe quem é a última a morrer: a esperança. "Toda a acção séria e recta do homem é esperança em acto." [Bento XVI, encíclica Spes Salvi (SS 35)].

Aqui reside o paradoxo que define a natureza humana. Como podem coexistir a certeza da morte e a permanência da esperança? Como é possível que do fundo da "caixa de Pandora", de onde brotam todos os males, ainda voe a luz da esperança? Esta é "a situação essencial do homem, uma situação donde provêm todas as suas contradições e as suas esperanças. De certo modo, desejamos a própria vida, a vida verdadeira, que depois não seja tocada sequer pela morte; mas, ao mesmo tempo, não conhecemos aquilo para que nos sentimos impelidos. Não podemos deixar de tender para isto e, no entanto, sabemos que tudo quanto podemos experimentar ou realizar não é aquilo por que anelamos" (SS 12).

"Enquanto há vida, há esperança", diz a sabedoria popular. Mas pode a Esperança vencer a morte? Só pela Fé em Algo maior que o mundo se passa para lá do fim. "Fé é substância da esperança" (SS 10). Na Fé cristã "a porta tenebrosa do tempo, do futuro, foi aberta de par em par. Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova" (SS 2).

Mas esta Esperança que vai para lá da morte tem vindo a ser abandonada. A Idade Moderna é o tempo da ciência, da técnica, do progresso. Essa atitude trouxe avanços extraordinários, maravilhas inimagináveis. Mas também perdeu de vista a Esperança. "Agora, esta 'redenção', a restauração do 'paraíso' perdido, já não se espera da fé, mas da ligação recém-descoberta entre ciência e prática. Com isto, não é que se negue simplesmente a fé; mas esta acaba deslocada para outro nível - o das coisas somente privadas e ultraterrestres - e, simultaneamente, torna-se de algum modo irrelevante para o mundo. Esta visão programática determinou o caminho dos tempos modernos, e influencia inclusive a actual crise da fé que, concretamente, é sobretudo uma crise da esperança cristã" (SS 17).

A ânsia do progresso revelou-se no martírio da Igreja. Paroxismos de fúria e crueldade desabaram sobre os cristãos a partir precisamente das ideologias progressistas. Do marxismo ao nazismo, no México, Espanha, Alemanha, URSS, Vietname e tantos outros, confirmou-se a profecia de Daniel: "Vi um quarto animal, horroroso, aterrador, e de uma força excepcional. Tinha enormes dentes de ferro; devorava, fazia em pedaços e o resto calcava-o aos pés. Era diferente dos animais anteriores (Dn 7, 7) Porque razão o progresso tomou a Igreja como inimiga? A Igreja que fundara as universidades, conservara as bibliotecas, preservara a civilização? A Igreja a que pertencia a maioria dos génios, cristãos devotos, que criaram a ciência moderna (Copérnico, Kepler Galileo, Leibniz, Newton, Euler, Ampère, Gauss, Cauchy, Faraday, Mendel, Pasteur e tantos outros)? Tal raiva mostra que a questão fundamental não é progresso e bem-estar, mas algo muito mais profundo. "O progresso é a superação de todas as dependências; é avanço para a liberdade perfeita" (SS 18).

O homem de hoje quer ser senhor de si mesmo, dominar a própria vida, fazer o que lhe apetece. "Ser como Deus", como prometeu a serpente do Éden na suprema tentação (cf. Gn, 3,5). Assim, "torna-se evidente a ambiguidade do progresso. Não há dúvida que este oferece novas potencialidades para o bem, mas abre também possibilidades abissais de mal - possibilidades que antes não existiam. Todos fomos testemunhas de como o progresso em mãos erradas pode tornar-se, e tornou-se realmente, um progresso terrível no mal. Se ao progresso técnico não corresponde um progresso na formação ética do homem, no crescimento do homem interior, então aquele não é um progresso, mas uma ameaça para o homem e para o mundo" (SS 22).

Tudo morre. Apenas Um ressuscitou dos mortos. "Chegar a conhecer Deus, o verdadeiro Deus: isto significa receber esperança" (SS 3).

João César das Neves in Diário de Notícias


Fonte: Senza Pagare

domingo, 12 de abril de 2020

Páscoa da Ressurreição do Senhor



Estando já avançada a noite do Sábado, ao amanhecer o primeiro dia da semana, foi Maria Madalena e a outra Maria visitar o sepulcro.

E eis que se deu um grande terremoto. Porque um anjo do Senhor desceu do Céu, e, aproximando-se, revolveu a pedra do sepulcro, e estava sentado sobre ela; e o seu aspecto era como um relâmpago; e o seu vestido branco como a neve. E pelo temor que tiveram dele, aterraram-se os guardas e ficaram como mortos.

Mas o anjo, tomando a palavra, disse às mulheres: Vós não temais, porque sei que procurais a Jesus, que foi crucificado; Ele já aqui não está, porque ressuscitou, como tinha dito; vinde e vede o lugar, onde o Senhor estava depositado. Ide já dizer aos Seus discípulos que Ele ressuscitou; e eis que vai adiante de vós para a Galileia; lá O vereis; eis que eu vo-lo disse antes.

Saíram logo do sepulcro com medo e grande gáudio, e foram correndo dar a nova aos discípulos.

E eis que Jesus lhes saiu ao encontro, dizendo: Deus vos salve. E elas aproximaram-se d'Ele e abraçaram os Seus pés, e O adoraram. Então disse-lhes Jesus: Não temais; ide, avisai meus irmãos, para que vão à Galileia, lá me verão.

Tendo elas partido, eis que foram à cidade alguns dos guardas, e noticiaram aos príncipes dos sacerdotes tudo o que tinha sucedido. E, tendo-se congregado com os anciãos, depois de tomarem conselho, deram uma grande soma de dinheiro aos soldados, dizendo-lhes: Dizei: Os Seus discípulos vieram de noite, e, enquanto nós estávamos dormindo, O roubaram. E, se chegar isto aos ouvidos do governador, nós o aplacaremos e estareis seguros. E eles, recebido o dinheiro, fizeram como lhes tinha sido ensinado. E esta voz divulgou-se entre os Judeus e dura até ao dia de hoje.

Evangelho segundo S. Mateus, XXVIII, 1-15


Fonte: Veritatis


sexta-feira, 10 de abril de 2020

Sexta-Feira Santa - Paixão do Senhor


Se sois Riqueza, como estais despido?
Se Omnipotente, como desprezado?
Se Rei, como de espinhos coroado?
Se Forte, como estais enfraquecido?

Se Luz, como a luz tendes perdida?
Se Sol Divino, como eclipsado?
Se Verbo, como é que estais calado?
Se Vida, como estais amortecido?

Se Deus, como estais como homem nessa Cruz?
Se Homem, como dais a um ladrão,
Com tão grande poder, posse dos Céus?

Ah, que sois Deus e Homem, bom Jesus!
Morrendo por Adão enquanto Adão,
E redimindo Adão enquanto Deus.

Frei António das Chagas (1631-1682)

Fonte: Veritatis

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Quinta-Feira Santa - Ceia do Senhor


Na véspera da Sua Paixão, tomou Ele o pão em Suas santas e veneráveis mãos, e, erguendo os olhos ao Céu, para Vós, Deus, Seu Pai omnipotente, dando-Vos graças, abençoou-o, partiu-o e deu-o aos Seus discípulos, dizendo: «Tomai e comei dele todos vós, pois isto é o Meu Corpo».

De igual modo, terminada a ceia, tomou este precioso Cálix em Suas santas e veneráveis mãos, novamente Vos deu graças, abençoou-o e deu-o aos Seus discípulos, dizendo: «Tomai e bebei dele todos vós, pois este é o Cálix do Meu Sangue, do Sangue da nova eterna aliança (Mistério da Fé!), o qual será derramado por amor de vós e de muitos, para remissão dos pecados.
Todas as vezes que isto fizerdes, fazei-o em memória de Mim».

«Missal Romano Quotidiano», 1963


Fonte: Veritatis


terça-feira, 7 de abril de 2020

A Igreja, no olho do furacão


Onde está a Igreja nesta guerra mundial, que é a pandemia do coronavírus? Está, como sempre esteve, na linha da frente ou, se se quiser, no “olho do furacão”.

A Igreja está, com certeza, em muitas das vítimas – sacerdotes, religiosos e leigos – em muitos dos médicos, dos enfermeiros e auxiliares, que têm sido recentemente, com toda a justiça, alvo da gratidão e homenagem pública. Também está em alguns dos funcionários públicos, dos farmacêuticos, dos empresários, dos jornalistas, dos operários, dos agricultores, dos comerciantes e de tantos outros que, com o seu trabalho, permitem que a sociedade, afectada por esta tão grave epidemia, não colapse. Mas também está na esquecida, mas não por isso menos heróica prestação de tantos capelães hospitalares, que permanecem no seu posto, servindo todos os doentes e as suas famílias, dando também apoio às equipes médicas, tantas vezes gastas até à exaustão.

A este propósito, Religión en libertad entrevistou o Padre Benito Rodríguez Regueiro. Capelão do Hospital Álvaro Cunqueiro, em Vigo, tomou uma decisão invulgar: não abandonar o hospital enquanto esta pandemia durar. Aí, no seu posto, servindo os doentes com o seu ministério pastoral, não menos necessário do que o dos médicos e enfermeiros, quer ficar até ao fim. Decidiu tomar esta atitude por duas razões: prestar, a todos os pacientes que queiram, os serviços espirituais para que está habilitado; mas também evitar que outros sacerdotes, indo a esse hospital, se possam contagiar, em cujo caso ficariam, como é óbvio, impedidos de posteriores contactos com os fiéis.    

Como confidenciou o Padre Benito Rodríguez, trata-se de ajudar o doente a viver a sua doença: “procurar que esteja calmo, ou aliviar o seu sofrimento, é (…) também uma grande oportunidade para que o paciente se consciencialize de como está a viver essa solidão. É um momento oportuno, se for o caso, para preparar a sua despedida deste mundo: os doentes terminais têm muito que agradecer, muito que perdoar e muito que confiar”.

As peculiares circunstâncias desta pandemia dificultam, como é óbvio, o exercício do ministério sacerdotal, que pressupõe e exige proximidade, nomeadamente física, porque também os capelães estão obrigados a observar as normas de segurança impostas a todos os que convivem com pessoas infectadas com este novo coronavírus. Como reconhece o capelão do Hospital Álvaro Conqueiro, um dos aspectos mais dolorosos desta pandemia é “não poder abraçar, não poder tocar, não poder chorar com os doentes”. Mas essa separação física não é razão para que o sacerdote não exerça, com a devida prudência, o seu ministério: “o que não se pode fazer, é uma pessoa enterrar-se vivo: a vida continua e temos que continuar a fazer o que temos que fazer, com serenidade, com a ajuda da oração e dos amigos”.

Ante os numerosos óbitos verificados no país vizinho, uma enfermeira comentou ao Padre Benito que, seguramente, agora tinha muitos funerais. A sua resposta foi expressiva de quem sabe que a Igreja não é de mortos, mas de vivos: “Oxalá tivesse mais trabalho, mas fosse no confessionário! Quero com isto dizer que as pessoas precisam é de pedir perdão e viver como agora se está a viver: que os vizinhos falem uns com os outros e que isto não seja apenas uma coisa para agora. Também quando rezamos, o não podemos fazer a um desconhecido, mas a alguém concreto, que tem um rosto. Há muitas pessoas que procuram no ioga uma resposta: com certeza que essa prática é muito boa como exercício físico e mental, mas essas experiências não são uma resposta, nem levam a pessoa a ter uma atitude de serviço aos outros. Só o Evangelho o pode fazer, quando uma pessoa se entrega”.

Também entre nós, há exemplos admiráveis, como muito justamente referiu o Expresso, na sua edição de 28-3-2020. O Padre Fernando Sampaio, responsável pela Pastoral da Saúde do Patriarcado de Lisboa e capelão do Hospital de Santa Maria, há mais de trinta anos que trabalha nos hospitais. “Está na primeira linha do combate” mas, inicialmente, foi condenado a ficar nos bastidores”, porque “os planos de contingência, elaborados pela Direcção Geral de Saúde (DGS)”, não contemplavam a assistência espiritual.

Também o Padre Pedro Durrer, capelão do Hospital Curry Cabral está no “olho do furacão”, apesar de dispensado de todos os serviços pela administração hospitalar. No entanto, fez questão em se apresentar, “todos os dias”, no hospital de que é capelão e estar disponível para “quem precisar”.

Em boa hora o Expresso, de 28-3, e o Observador, de 31-3, denunciaram as dificuldades referidas publicamente pelos capelães hospitalares pois, com posteridade, a 1 de Abril, a Coordenação Nacional das Capelanias Hospitalares esclareceu a situação. Com efeito, nesse comunicado reafirma-se que os capelães hospitalares “continuam a ter direito e acesso à assistência espiritual e religiosa”. Não obstante as dificuldades iniciais experimentadas pelos capelães dos Hospitais de Santa Maria e Curry Cabral, o impasse parece ter sido já ultrapassado, na medida em que já “não estão impedidos de prestar assistência espiritual ou religiosa”, não existindo, neste momento, “nenhuma norma, regra ou orientação da DGS e/ou das Administrações Hospitalares nesse sentido”.

Os capelães hospitalares, que “cumprem voluntariamente as medidas de contingência existentes nos hospitais, como todos os profissionais”, reafirmam assim o seu empenho “em colaborar com a DGS e com todos os profissionais da saúde”, fazendo a sua “parte”, que não é pouca, sobretudo em momentos de crise. Como dizia o Padre Pedro Durrer: “Estamos cá para estar na frente do combate. Não há medo (…). Talvez a minha missão seja mesmo essa: ser profeta da esperança.”

P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA