sexta-feira, 24 de abril de 2020

Não, Portugal não roubou arte africana: o Museu do Dundo


É um dos museus mais importantes de África, criado por portugueses em 1936, dedicado aos povos da Lunda e à sua História, como no pórtico se afixa com orgulho. Felizmente poupado às depredações e guerras que ensanguentaram Angola entre 1975 e 1993, constituiu uma homenagem, única no mundo, do europeu ao africano, impedindo que o curso do desenvolvimento e da mudança social privasse as culturas locais da sua consciência, da sua maneira de ser, da sua cultura material e representações. O museu é um repositório da vida, do espírito e alma dos Quiocos, das suas crenças, artes e ofícios.

Compreendendo o alcance e significado daquela instituição vocacionada para o estudo, conservação e fruição de objectos de rara qualidade, as populações circundantes, sobretudo os chefes locais, entregaram espontaneamente peças, como o fez o soba da Lunda que ofereceu a sua própria coroa de missangas, atributo do seu poder, e foi oferecê-lo ao museu. Assim foi, também, o caso do soba Bena-lulua, do vizinho Congo Belga (hoje República Democrática do Congo) que, visitando o museu e notando a ausência de peças de origem bacuba, tomou a iniciativa de adquirir o manto e mais adornos de um outro soba e os ofereceu ao Museu Português do Dundo. Até um dançarino cedeu o seu trajo e respectiva máscara para a colecçção do museu, não sem antes retirar, do cinto de dança, os amuletos que religiosamente guardou para os colocar noutro cinto.

Em 1950, a UNESCO, rendida perante a riqueza e o rigoroso critério de selecção e exposição, não deixou de assinmalar que se "há unidade da espécie humana, pode o Museu do Dundo ser considerado um Museu do Homem".

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