29 dezembro 2020

A Ignorância da 2.ª figura de Estado da República Portuguesa

 


Num artigo intitulado “Implantação da República: de súbditos a cidadãos” (1), publicado esta segunda-feira (dia 5/10/2020), no site oficial do PS, o Dr. Ferro Rodrigues - Presidente da Assembleia da República e, portanto, 2.ª figura de Estado da República Portuguesa –, imbuído de um republicanismo primário e à boa maneira jacobina, escreve muitas inverdades.

 

Se é de admirar que um deputado português – principalmente um que ocupa o lugar cimeiro do Parlamento nacional – desconheça a História de Portugal e o constitucionalismo português, mais surpreendente é que ele se atreva a escrever sobre o que não sabe e, muito pior, que ignore o que está publicado no site oficial do órgão de soberania a que preside!!!.


No referido artigo o Dr. Ferro Rodrigues,

- escreve que a partir do dia 5 de Outubro de 1910, “…cada português deixou de ser um mero súbdito e se assumiu como cidadão do seu País, tomando nas suas mãos o destino da coisa pública…” que A instituição de um regime republicano é, antes de mais, o ato de emancipação de um povo. A República não se compreende sem liberdade, sem democracia e sem respeito pelos direitos humanos”,

- e conclui da seguinte forma: “Se Portugal é, hoje, um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efetivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, deve-o às sementes lançadas na Revolução de 1910”.

 

Nada mais incorrecto e falso!!!!

 

Antes de mais, convém esclarecer que Portugal teve, até hoje, 6 (seis) constituições: a Constituição de 1822, a Carta Constitucional de 1826 e a Constituição de 1838 - que são todas anteriores a 1910 - e a Constituição de 1911, a Constituição de 1933 e a Constituição de 1976.

 

Na página oficial da Assembleia da República (2) regista-se que “Na Constituição de 1822 ficaram consagrados os princípios ligados aos ideais liberais da época: princípios democrático, representativo, da separação de poderes e da igualdade jurídica e respeito pelos direitos pessoais”.

Igualmente nessa página oficial da Assembleia da República se pode ler que a CONSTITUIÇÃO DE 1822 estabelece que a soberania reside na Nação e não pode ser exercitada “senão pelos seus representantes legalmente eleitos” ou seja, pelos deputados das Cortes, a quem cabe exclusivamente fazer a Constituição, sem dependência de sanção do Rei”.

A CONSTITUIÇÃO DE 1822 determinava ainda, no art.º 27.º, que a Nação “é livre e independente e não pode ser património de ninguém” e no art.º 21.º que “Todos os Portugueses são cidadãos, e gozam desta qualidade”.

 

Também se assinala, na página oficial da Assembleia da República que, na CONSTITUIÇÃO DE 1822, “Os três poderes políticos - legislativo, executivo e judicial - são rigorosamente independentes e o poder legislativo é atribuído às Cortes em exclusivo, embora sujeito à “sanção Real”, instituto semelhante ao da promulgação das leis”, que está previsto na actual Constituição de 1976.

E o art.º 30.º da CONSTITUIÇÃO DE 1822, estatui que “Cada um destes poderes é de tal maneira independente, que um não poderá arrogar a si as atribuições do outro”.

 

Na CONSTITUIÇÃO DE 1822 consagrava-se, por exemplo,

- a liberdade, que, segundo o art.º 2º, consiste em os cidadãos “não serem obrigados a fazer o que a lei não manda, nem a deixar de fazer o que ela não proíbe”;

- o princípio da universalidade pois, nos termos do art.º 104.º, “A lei obriga os cidadãos sem dependência da sua aceitação”;

- o princípio da igualdade, determinando, no art.º 9º, que “A lei é igual para todos. Não se devem, portanto, tolerar privilégios de foro nas causas cíveis ou crimes nem comissões especiais”;

- a liberdade de expressão, estabelecendo, no art.º 7.º que “A livre comunicação dos pensamentos é um dos mais preciosos direitos do homem. Todo o Português pode conseguintemente, sem dependência de censura prévia, manifestar as suas opiniões em qualquer matéria, contanto que haja de responder pelo abuso desta liberdade nos casos, e pela forma que a lei determinar”;

- a inviolabilidade do domicílio e da correspondência prevendo, no art.º 5.º que “A casa de todo o Português é para ele um asilo. Nenhum oficial público poderá entrar nela sem ordem escrita de competente Autoridade, salvo nos casos, e pelo modo que a lei ordenar” e, no art.º 18.º, que “o segredo das Cartas é inviolável. A Administração do Correio fica rigorosamente responsável por qualquer infracção deste artigo”;

- a liberdade de acesso à função públicaestatuindo, o art.º 12.º, que “Todos os Portugueses podem ser admitidos aos cargos públicos, sem outra distinção que não seja a dos seus talentos e das suas virtudes”;

o direito de petição, preceituando, no art.º 16.º, que “Todo o Português poderá apresentar por escrito às Cortes, ou ao poder executivo reclamações, queixas ou petições, que deverão ser examinadas”.

 

E na CONSTITUIÇÃO DE 1822 o Rei não podia “Impedir as eleições dos Deputados, opor-se à reunião das Cortes; prorrogá-las, dissolvê-las ou protestar contra as suas decisões” (art.º 124.º). Na actual Constituição o Presidente da República pode dissolver a Assembleia da República (art.º 133.º).

 

Esqueceu-se o Dr. Ferro Rodrigues que o mais antigo e primeiro texto constitucional português é uma das constituições tecnicamente mais bem elaboradas e um esteio fundamental para a história da democracia em Portugal.

A concluir, cito Maria Antonieta Cruz, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que num artigo publicado, “Eleições da Regeneração à República” (3), refere que a percentagem da população eleitoral em Portugal era de 18.1%. em tempos da monarquia e em 1915 era 7.6%.

Diz assim Maria Antonieta Cruz (3):

«Os eleitores portugueses foram, a partir de então [da república], obrigados a comprovar a sua aptidão para a leitura e a escrita, e esta exigência acarretou uma considerável diminuição quantitativa do eleitorado.

Preocupados em concederem direito de voto exclusivamente aos portugueses que eles consideravam esclarecidos e independentes, os republicanos reduziram a participação política a níveis incompatíveis com o ideário da revolução e cavaram profundas arritmias entre o país urbano (...) e o mundo rural...».

Extraordinárias sementes lançadas na Revolução de 1910!!!!

 

José Aníbal Marinho Gomes
Comissão Executiva da Causa Real
Presidente da Direcção da Real Associação de Viana do Castelo

 

1) https://ps.pt/index.php/2020/10/05/implantacao-da-republica-de-subditos-a-cidadaos-mensagem-de-ferro-rodrigues/

2) https://www.parlamento.pt/Parlamento/Paginas/monarquia.aspx, consultado a 6 de Outubro de 2020.

3) CRUZ, Maria Antonieta, org. - "Eleições e sistemas eleitorais: perspectivas históricas e políticas". Porto: Universidade do Porto, 2009. P. 92-93.


Fonte: Causa Real

28 dezembro 2020

Rir para não chorar...

 



O Presidente candidato a Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, na sua curta intervenção na pastelaria, esclareceu que era  "assumidamente republicano e, por isso, avesso a nepotismos, clientelismos e corrupções".

Infelizmente para o Presidente presente , candidato a Presidente futuro, a República Portuguesa está longe de dar garantias do que quer que seja nesse domínio.

Grave é, precisamente, o avesso do que o Presidente, presente candidato a Presidente, disse. A insinuação de que os não-republicanos são especialmente atreitos a nepotismos, clientelismos e corrupções é ofensiva e, inevitavelmente, mentirosa como todas as insinuações de teor semelhante.

Que o Presidente da República seja republicano não é de estranhar. Que pretenda sublinhar o seu republicanismo quando se candidata a novo mandato, também não. Mas que, do fundo da pastelaria, queira comer os portugueses por tolos custa um nadinha a engolir.

Ao longo da sua história o "bolo-rei republicano" (salvo seja) revelou a característica peculiar de ser composto quase integralmente por favas. Os monárquicos dispensam semelhante iguaria.

Fonte: Real Associação de Lisboa

27 dezembro 2020

Quando a ideologia é justificação para o mal

 


As justificações de Macbeth eram débeis e os remorsos roíam-lhe a consciência. Mas Iago era um cordeiro. Se a fantasia e as forças interiores dos malfeitores shakespearianos se limitavam a uma dezena de cadáveres, era porque eles não tinham ideologia.

A ideologia! Ela fornece a desejada justificação para a maldade, para a firmeza necessária e constante do malfeitor. Ela constitui a teoria social que o ajuda, perante si mesmo e perante os outros, a desculpar os seus actos e a não escutar censuras nem maldições, mas sim elogios e testemunhos de respeito.

Alexandre Soljenitsin in «Arquipélago Gulag», 1973


Fonte: Veritatis

26 dezembro 2020

Bento XVI, um Doutor da Igreja para o nosso tempo




 Benoît XVI a été une figure d’une importance absolue dans l’histoire de l’Église et au-delà. D’où l’espoir que dans le futur, il sera proclamé docteur de l’Église.

« J’estime sa théologie et je suis dans sa ligne doctrinale. Je crois et j’espère que dans le futur, il sera proclamé docteur de l’Eglise », a affirmé le cardinal George Pell, qui est rentré à Rome il y a quelques semaines après une période de captivité dans les prisons australiennes. Parmi les premiers gestes posés à son arrivée en Italie, le cardinal australien est en effet allé rendre visite au pape émérite Benoît XVI.

Que signifie être un docteur de l’Eglise

Le titre de Docteur de l’Eglise, accordé par un Pape ou un Concile, est une reconnaissance très importante qui est donnée, de manière exceptionnelle, à ceux qui, à toute époque, ont affirmé et défendu l’orthodoxie chrétienne par leurs écrits.

Actuellement, seules trente-six figures de l’Église peuvent se vanter de ce titre spécial, tout au long des deux mille ans d’histoire du christianisme. Ce titre n’est donné qu’à titre posthume, après un processus de canonisation approprié et préventif.

Conditions pour être proclamé Docteur de l’Eglise

Les conditions nécessaires à la proclamation d’un Docteur de l’Eglise, selon la définition donnée par Benoît XIV, sont au nombre de trois. Une doctrine éminente, une sainteté de vie exceptionnelle, et enfin la déclaration du Souverain Pontife ou d’un Concile général légitimement réuni.

À l’origine, seuls les saints et les théologiens de l’Église occidentale en faisaient partie, comme par exemple saint Ambroise, saint Augustin d’Hippone, saint Jérôme et le pape Grégoire Ier, proclamé Docteur de l’Église en 1298 par le pape Boniface VIII. Mais plus tard, en 1568, des personnages appartenant à la tradition et à l’Église d’Orient, tels que saint Athanase, saint Basile le Grand, saint Jean Chrysostome ou saint Grégoire Nazianze, ont également été proclamés Docteurs de l’Église.

Qui sont les grands Docteurs de l’Eglise et pourquoi sont-ils devenus tels ?

Cependant, chaque docteur de l’Église a une histoire qui lui est propre, qui l’unit à la tradition et qui le rend en même temps unique et distinct des autres. Souvent, pour le style ou à la valeur littéraire de son œuvre, qu’il s’agisse de textes écrits, de transcriptions de discours publics ou même de lettres privées. Beaucoup d’entre eux ont composé des ouvrages apologétiques d’importance théologique, écrits pour déposer la foi chrétienne dans le cœur des fidèles et du peuple, ou pour combattre les terribles hérésies qui se sont succédées au cours des siècles.

Il y a eu cependant des docteurs de l’Eglise qui mirent l’accent sur l’aspect doctrinal, comme saint Grégoire ou saint Ambroise. D’autres, comme saint Augustin d’Hippone, sur l’aspect autobiographique. D’autres encore, comme saint Jean de la Croix ou sainte Catherine de Sienne, sur l’aspect mystique.

La figure révolutionnaire et consolidatrice de Benoît XVI

Benoît XVI a lui aussi été, dans le sillage des autres figures reconnues comme Docteurs de l’Eglise, l’une des personnalités certainement les plus hors de tout schéma et de toute catégorie. Par sa contribution au « Concile Vatican II, à la redécouverte des anciens Pères de l’Église, à la redynamisation de la doctrine, à la purification et à la consolidation de l’Église », il a été à la fois un défenseur d’un profond renouveau pour l’Église et de la préservation de la vraie doctrine et de la foi.

« En tant que théologien du peuple, il n’a jamais oublié qu’il venait d’une expérience de vie simple », capable de défendre « le point de vue des simples fidèles contre les froides impositions de nombreux professeurs d’université », a expliqué son biographe Peter Seewald. Qui en est certain : « Il est le type de personnage qui peut tout simplement être considéré comme le Docteur de l’Eglise pour l’ère moderne« .

La pensée de Ratzinger qui s’intéresse à la rencontre entre la foi et la raison
Ratzinger a en effet réussi à démontrer avec une grande clarté et lucidité de pensée « que la religion et la science, la foi et la raison, ne sont pas opposées ». Dans la mesure où « la raison est garante de la religion car elle lui permet de ne pas glisser dans les faux fantasmes ou le fanatisme violent ».

Pour Benoît XVI, l’Église constitue un fort pivot de « résistance contre les aberrations séduisantes du monde, contre l’abandon de Dieu, contre l’athéisme fondamentaliste et contre le néo-paganisme ». Nonobstant cela, l’éminent théologien allemand est aussi un « homme pragmatique, qui souhaite percevoir la vraie nature des choses et ne se laisse pas aveugler ou manipuler par certaines modes mais, en même temps, est ouvert à ce qui doit nécessairement être changé, trouvant le courage de faire les choses qui doivent être faites ».

La lutte contre le relativisme moral et pour l’affirmation de la foi

En témoignent les nombreux processus engagés au sein du Vatican, tant pour la lutte contre la pédophilie que pour la réforme de l’économie et des finances du Saint-Siège, la tentative de combattre la corruption et l’immoralité sous tous les angles, sans toutefois jamais céder au relativisme culturel ou moral. Mais au contraire, en le désignant comme le véritable mal de notre temps, sans céder aux faiblesses, sentimentalisme, hypocrisie de tous types.

En effet, il n’a pas hésité à trouver dans un certain relativisme moral, défini rien de moins que « dictature du relativisme », une composante de forte présence anti-christique. Il a fait de même en ce qui concerne le dialogue nécessaire avec les autres confessions, cultures et religions. Où Ratzinger s’est toujours montré aussi profondément ouvert à son voisin, à l’autre et au différent, mais il n’a jamais cédé sur le terrain du syncrétisme, de l’édulcoration religieuse, spirituelle et morale et de la soumission à un dialogue qui ne peut se fonder que sur la reconnaissance de la vérité ultime, sans demi-mesure.

Le biographe de Ratzinger : « Il est un maître pour toute l’Eglise ».

Ratzinger « est un maître pour toute l’Eglise, parce qu’il va toujours au centre, à Jésus-Christ », a expliqué Sewald. « Il nous a montré Jésus, une fois de plus, Jésus tout entier et non l’image de Jésus qui a été réduits en morceaux par certaines théologies et certaines représentations médiatiques ».

Tout cela a donné à Benoît XVI « l’autorité et les dons pour montrer que nous pouvons faire confiance à l’Evangile, tant spirituellement qu’historiquement ». « Je crois que le pape Benoît a apporté une contribution décisive contre la dilution de l’Evangile et a jeté les bases de la foi au XXIe siècle », a conclu Seewald.

L’aversion pour le pontificat de Benoît XVI ? « Elle n’est pas due au hasard »
Le biographe a en effet rappelé que la forte aversion subie par le pape allemand durant son pontificat n’est pas un accident, loin de là. D’une part, c’était le signe d’une incompréhension d’une pensée si forte et si révolutionnaire qu’elle n’était pas facile à comprendre. D’autre part, le témoignage d’un homme qui n’avait pas peur de se heurter à l’hypocrisie et aux erreurs du monde, ne pensant jamais à se mélanger, à se compromettre ou en même temps à se perdre dans la mondanité et le mensonge.

« Peut-être le fait qu’il soit toujours calomnié rend-il son témoignage d’autant plus vrai. A la fin de sa vie, en tout cas, il est en paix avec lui-même et dans le Seigneur, car il a toujours accompli ses tâches avec tous les dons, spirituels et humains, qu’il a reçus ».


Fonte: Benoit & Moi

23 dezembro 2020

Adeste Fideles - Hino Natalício de D. João IV

 


Há uma Canção de Natal, o Adeste Fideles, mundialmente conhecido pelo título de 'Hino Português' escrito e composto por El-Rei D. João IV de Portugal, a exemplo de muitas outras obras, na escola de música que fundou no Paço Ducal dos Bragança, em Vila Viçosa. Foram encontrados dois manuscritos desta obra, datados de 1640, no Palácio Ducal de Vila Viçosa, que era propriedade dos Duques de Bragança. Os ingleses atribuíram, erroneamente, a autoria desse hino a John F. Wade que não pode ter composto a partitura, uma vez que o seu manuscrito está datado ulteriormente, de 1760, pelo que Wade se limitou a traduzir o Hino Português, como de resto era designado à época, tentando usurpar os louros a El-Rei Dom João IV de Portugal.
Ao tema Adeste fideles foi dado o nome de “Portuguese Hymn” em várias publicações inglesas, uma vez que esta composição era cantada na capela da Embaixada de Portugal em Londres, que até à legalização do culto católico na Inglaterra, com a promulgação da “Acta de Ajuda Católica” de 1829, era um dos únicos locais em que podia ser celebrada uma missa católica em território britânico.
Facilmente se repõe a verdade, pois além dos dois manuscritos da obra, e que são anteriores à versão de 1760 feita por Wade, existem mais provas do talento musical d’El-Rei: uma é o ensaio 'Defesa da Música Moderna’, de 1649, ano em que El-Rei Dom João IV requereu a Roma a aprovação universal da música instrumental no culto da igreja católica; outra prova é um outro famoso trabalho musical de Dom João IV, o “Crux fideles”, uma composição ainda hoje usada nos serviços eclesiásticos, comprovando-se desta forma o virtuosismo do Rei como renomado músico.
Acresce que, o ritmo de Adeste Fideles é claramente de origem portuguesa, pela subtileza, delicadeza e leveza da melodia assemelha-se ao ritmo popular da Ciranda, além de outras modalidades populares de Portugal, hoje tradicionais, em todos os Povos Lusófonos.



Adeste Fideles (Letra e Música: El-Rei D. João IV de Portugal)

Adeste fideles læti triumphantes,
Venite, venite in Bethlehem.
Natum videte
Regem angelorum:
Venite adoremus (3x)
Dominum.

Deum de Deo, lumen de lumine
Gestant puellæ viscera.
Deum verum, genitum non factum.
Venite adoremus (3x)
Dominum.

Cantet nunc 'Io', chorus angelorum;
Cantet nunc aula cælestium,
Gloria! Soli Deo Gloria!
Venite adoremus (3x)
Dominum.

Ergo qui natus die hodierna.
Jesu, tibi sit gloria,
Patris aeterni Verbum caro factum.
Venite adoremus (3x)
Dominam
triunfante
Adeste fideles laeti triumphantes

Venha, venha para Belém
Venite, venite in Bethlehem

Nascido o Rei dos Anjos
Natum videte regem angelorum
Vinde, adoremos;
Venite, adoremus,

Vinde, adoremos;
Venite, adoremus,

Vinde, adoremos o Senhor!
Venite, adoremus, dominum!
Deus de Deus, Luz da Luz,
Deum de Deo, lumen de lumine,

Lo
Gestant puellae viscera

O único Deus verdadeiro, gerado, não criado.
Deum verum, genitum non factum.
Vinde, adoremos;
Venite, adoremus,

Vinde, adoremos;
Venite, adoremus,

Vinde, adoremos o Senhor!
Venite, adoremus, dominum!
Glória a Deus!
Gloria in excelsis Deo!
Vinde, adoremos;
Venite, adoremus,

Vinde, adoremos;
Venite, adoremus,

Vinde, adoremos o Senhor!
Venite, adoremus, dominum!

22 dezembro 2020

Cardeal Burke: "Então, as forças do Great Reset estão usando o vírus chinês para avançar com o seu programa"



À une époque où « nous avons besoin d’être proches les uns des autres dans l’amour chrétien, les forces du monde veulent nous isoler et nous faire croire que nous sommes seuls et dépendants des forces séculières, faisant de nous les esclaves de leur programme meurtrier et impie ».

Ce sont les mots adressés aux fidèles par le cardinal Raymond Burke au cours d’une puissante homélie samedi dernier au sanctuaire de Notre-Dame de Guadalupe, qu’il a voulu et fondé à La Crosse, dans le Wisconsin (son diocèse d’origine, dont il était évêque), et lieu de pèlerinage intense.

« Nous venons à Notre-Dame de Guadalupe le jour de sa fête avec le cœur lourd et troublé », a dit le cardinal. « Notre nation traverse une crise qui menace son avenir même de liberté et de démocratie. La propagation mondiale du matérialisme marxiste, qui a déjà apporté la destruction et la mort dans la vie de nombreuses personnes et qui a menacé les fondations de notre nation pendant des décennies, semble maintenant prendre le pouvoir sur la nation entière ».

« Pour obtenir des bénéfices économique, nous nous sommes permis, en tant que nation, de devenir dépendants du parti communiste chinois, porteur d’une idéologie totalement opposée aux fondements chrétiens sur lesquels les familles et notre nation restent en sécurité et prospèrent ».

Le cardinal Burke a parlé spécifiquement des États-Unis, mais « à l’évidence, de nombreuses autres nations sont aux prises avec une crise similaire et alarmante ».

« Ensuite, il y a le mystérieux virus de Wuhan, dont la nature et la prévention font quotidiennement l’objet d’informations contradictoires dans les médias. Ce qui est clair, de toute façon, c’est qu’il a été utilisé par certaines forces, ennemies des familles et de la liberté des nations, pour faire avancer leur programme maléfique. Ces forces nous disent que nous sommes maintenant les sujets de ce qu’on appelle le « Great Reset« , la « nouvelle normalité », qui nous est dictée à travers la manipulation opérée par eux des citoyens et des nations par l’ignorance et la peur ».

Compte tenu de ces conditions « graves », on demande maintenant aux Américains de trouver « des moyens de comprendre et de diriger » leur vie dans une « maladie et sa prévention », plutôt que « dans Dieu et son plan pour notre salut ».

« La réponse de nombreux évêques et prêtres, et de nombreux fidèles, a manifesté un manque douloureux d’une bonne catéchèse. Il y a tant de personnes dans l’Église qui d’semblent ne pas comprendre que le Christ continue son œuvre de salut en temps de peste et autres catastrophes ».

« De plus, notre sainte mère l’Église, l’épouse sans tache du Christ, en qui le Christ est toujours à l’œuvre pour notre rédemption éternelle, est assaillie par des rapports de corruption morale, surtout en ce qui concerne les sixième et septième commandements, qui semblent s’accroître de jour en jour. Dans notre pays, les reportages sur Theodore McCarrick ont, à juste titre, incité de nombreux catholiques fervents à interroger les pasteurs qui, conformément au plan du Christ pour l’Eglise, doivent être leurs guides sûrs, enseignant les vérités de la foi, les guidant à adorer Dieu et à le prier, dans la discipline perpétuelle de l’Eglise ».

Au lieu de cela, les fidèles ne reçoivent trop souvent « rien en réponse, ou une réponse qui n’est pas fondée sur des vérités immuables concernant la foi et la morale ».

« Ils reçoivent des réponses », a dénoncé le cardinal, « qui semblent venir non pas de pasteurs mais de gestionnaires laïques. La confusion sur ce que l’Église nous enseigne et exige réellement de nous conformément à son enseignement génère des divisions toujours plus grandes au sein du corps du Christ. Tout cela paralyse l’Eglise dans sa mission de témoignage de la vérité divine et de l’amour divin à un moment où le monde n’a jamais eu autant besoin que l’Eglise soit un phare ».

« Dans sa rencontre avec le monde, l’Église veut faussement s’y adapter au lieu de l’appeler à la conversion dans l’obéissance à la loi divine écrite dans le cœur de chaque homme et révélée dans sa plénitude dans l’incarnation rédemptrice de Dieu le Fils ».

Ces problèmes « posent un formidable défi » à la vie chrétienne et ont produit « les souffrances les plus douloureuses » chez de nombreux fidèles.

« Oui, nos cœurs sont de façon compréhensible, lourds, mais le Christ, par l’intercession de sa Vierge Mère, élève nos cœurs vers le sien, renouvelant notre confiance en Lui, qui nous a promis le salut éternel dans l’Église. Il ne sera jamais infidèle à ses promesses. Il ne nous abandonnera jamais. Ne nous laissons pas tromper par les forces du monde et par les faux prophètes. N’abandonnons pas le Christ et ne cherchons pas notre salut là où il n’est pas possible de le trouver ».



Fonte: Benoit & Moi

21 dezembro 2020

A ditadura da felicidade

 Convém recuar um pouco na História, o que nos ajuda a analisarmos melhor a evolução das várias perspectivas das sociedades ao longo do tempo.

O que mudou depois do Renascimento, foi que a estadia neste mundo, graças aos progressos materiais e técnicos, deixou de considerar-se uma penitência ou um sacrifício.

A declaração de independência norte-americana inscreveu mesmo nos seus estatutos assegurando que “a vida, a liberdade e a procura da felicidade” formam parte dos direitos humanos inalienáveis. Nada mais legítimo, concordo.

De facto, as sociedades democráticas caracterizam-se por uma alergia crescente ao sofrimento. Que este perdure ou se multiplique escandaliza-nos ainda mais, porque já não podemos recorrer a Deus para nos consolar…

Nas poucas vezes que, casualmente, vejo ou oiço reportagens noticiosas e/ou entrevistas, encontro invariavelmente da parte dos entrevistados, ou se não uma orientação quase forçada por parte do entrevistador, a resposta invariável à pergunta: o que deseja na vida? QUERO SER FELIZ!  E acabam assim as conversas ficando todos muito contentes.

Fico um pouco atordoado com esta taxativa conclusão. É como começar uma casa pelo telhado.

Pascal Bruckner afirma que não é certo que todos procuremos a felicidade, valor ocidental e historicamente caduco. Existem outros valores, como a liberdade, a justiça, o amor, a solidariedade e a amizade, que podem primar sobre aquele. Não se trata de estar contra a felicidade, mas contra a transformação deste sentimento frágil num autêntico estupefaciente colectivo, ao qual devemos entregar-nos, seja em forma química, espiritual, psicológica, informática ou religiosa. A felicidade não é um estado permanente. Cada vez que a felicidade nos roça deve produzir o efeito de um momento de graça, de um favor e não de um cálculo ou de uma conduta específica.

Deveríamos responder: Gosto demasiado da vida para querer ser somente feliz! Quimera metafísica!

O projecto de ser feliz tropeça com três paradoxos: torna-se intimativo, desemboca no aborrecimento ou na apatia quando se realiza e, finalmente, foge do sofrimento de tal maneira, ao ponto de se encontrar desarmado frente a ele quando este surge. A desdita não é somente a desdita, é algo pior: o fracasso da felicidade.

Aqui não posso deixar de referir a corrente filosófica do estoicismo, na qual Séneca foi o seu expoente máximo e que defendia que a virtude é suficiente para a felicidade, que um sábio era imune ao infortúnio e que essa crença conduzia a uma “calma estóica”; é essa calma estóica que vejo nos toureiros de hoje, aventureiros em tempos de aventuras proibidas, autênticos heróis contemporâneos que mantêm, de facto, uma calma estóica perante as adversidades (cornadas).

O estoicismo cria indivíduos que não podem ser intimidados pelos poderosos, porque não têm medo de abrir mão de tudo ou de morrer. Na verdade, são treinados por sua filosofia para abandonar a vida sem medo ou arrependimento, defender seus princípios racionais acima de qualquer ameaça ou suborno.

A moral e a felicidade, antes inimigos irredutíveis, fundiram-se; o que actualmente resulta imoral é não ser feliz, o superego instalou-se na cidadela da Felicidade e governa-a com mão de ferro.

O que nos governa, o que as publicidades sustêm com a sua alegre embriaguez, é toda uma ética baseada em parecer que se está bem consigo próprio. O mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica. (Norman Vincent)

Por um lado, o capitalismo passou do sistema de produção baseado na poupança e no trabalho, ao sistema de consumo, que supõe gastos e desperdícios. Enquanto o objectivo da vida já não é o dever, mas sim o bem-estar, tomamos o menor desgosto como uma afronta.

Os desabamentos de terras, as inundações ou as avalanchas dão lugar a acções judiciais, porque, para nós, já não há catástrofes naturais, mas sim negligências humanas. E, claro, se pudermos pedir uma indemnização tanto melhor. Sugiro trocarmos o conceito de bem-estar por bem-ser! “Todos julgam segundo a aparência, ninguém segundo a essência.” (Friedrich Schiller)

O homem de hoje, ao tentar eliminar a dor, volta a instalar as suas preocupações no coração do sistema. Tanto assim é, que o homem de hoje sofre também por não querer sofrer, da mesma forma que podemos adoecer à custa de buscar a saúde perfeita. A ideia continuou a acentuar-se, para culminar no final do século XX em que passamos da felicidade como direito, à felicidade como imperativo.

Os alimentos, por exemplo, já não se dividem em bons e maus, mas sim em sãos e prejudiciais…mastigamos de maneira conscienciosa alimentos que já não são outra coisa que medicamentos, pois o importante já não é viver plenamente o tempo que nos foi concedido, mas, sim, aguentar o mais possível; a noção de longevidade substituiu a de etapas da vida.

Da mesma maneira que a paz não é somente a interrupção da guerra, mas sim um estado positivo (Spinoza), a felicidade não é ausência de adversidade, mas outra qualidade emocional que não depende nem da vontade nem da subtileza. Podemos não estar tristes, sem estar eufóricos. E podemos ter momentos de êxtase inaudito no meio de uma terrível devastação.

Provavelmente, somos as primeiras sociedades da História que fazemos as pessoas infelizes por não serem felizes. A grande utopia da década de sessenta, como já vimos, foi decretar a satisfação perpétua, o estado de felicidade permanente.

Viver só para a felicidade é viver para uns poucos momentos e atirar fora (aos porcos) todos os outros.

Dr. Joaquim Grave

Fonte: Observador

20 dezembro 2020

Afonso de Albuquerque: Leão dos Mares

 


O Grande Afonso de Albuquerque foi filho segundo de Gonçalo de Albuquerque, Senhor de Vila Verde, e de Dona Leonor de Menezes, sua mulher, filha de Dom Álvaro Gonçalves de Ataíde, primeiro Conde de Atouguia. Foi Estribeiro-mor d'El-Rei Dom João II e fazia este excelente Príncipe merecida estimação da sua pessoa, porque descobria nele singular valor e generosidade, juízo e descrição. El-Rei Dom Manuel o mandou à Índia juntamente com Tristão da Cunha, e ambos com acções ilustres fizeram temido e respeitado naquelas partes o nome Português; Feito depois Governador daquele Estado, lhe deu novo ser e nova grandeza; Até então andavam os Portugueses por todo o Oriente dominantes, mas vagos; Não havia lugar firme, onde estivesse firme e permanente o novo Império; O grande Albuquerque lhe deu firmeza e duração na conquista de Goa, Malaca e Ormuz, empórios os mais célebres de toda a Ásia; Conquistou cada uma destas Cidades, primeira e segunda vez, para que fosse três vezes duplicada a glória do seu nome. Os Mouros e Gentios o viram sempre vencedor e o reputaram de invencível. Era de proporcionada estatura, o rosto alegre e gracioso, mas nas ocasiões de importância, se mostrava severo e grave. A barba toda branca, e tão comprida que lhe chegava à cintura, lhe conciliava excessiva veneração. Tinha ditos mui prontos e engraçados, e nas coisas mais sérias, sentenciosos. Governou a Índia seis anos, sempre com igual valor, com igual prudência, com igual fortuna. Não responderam os prémios aos seus merecimentos: Voltando de Ormuz para Goa, achou notícias de que El-Rei Dom Manuel havia mandado novo Governador e novas direcções, encontradas ao que ele entendia e aos avisos que havia feito ao Reino; daqui conjecturou o pouco que nele se estimavam os seus grandes serviços, e rompeu naquela sentença, tão discreta como verdadeira: Mal com El-Rei por amor dos homens, mal com os homens por amor d'El-Rei. Esta consideração, sobre uma grave enfermidade que já padecia, lhe acelerou a morte, e conhecendo então com vista desembaraçada o quanto são mentirosas as esperanças do mundo, repetia muitas vezes estas palavras: Tempo é de acolher à Igreja. Desejava com grandes ânsias chegar a Goa, a que chamava a sua terra da Promissão. Poucas horas antes de morrer, escreveu uma carta a El-Rei, que merece copiada, até na concisão do nosso assunto; Dizia assim: Senhor, esta é a derradeira, que com soluços de morte escrevo a Vossa Alteza, de quantas, com espírito de vida, lhe tenho escrito, pola ter livre da confusão desta hora, e muito contente na ocupação do seu serviço; Nesse Reino deixei um filho, por nome Brás de Albuquerque, peço a Vossa Alteza o faça grande como meus serviços merecem: Quanto às coisas da Índia, ela falará por si e por mim. Mal pôde assinar esta carta por estar já muito no cabo, mas tanto em seu juízo, como da mesma carta se prova; Chegando à barra de Goa, recebidos os Sacramentos, com suma devoção faleceu neste dia [16 de Dezembro], em Domingo, pela manhã, ano de 1515, com sessenta e três de idade, quatro de Capitão e seis de governo da Índia. Foi recebido seu corpo na Cidade de Goa com pomposa ostentação, acompanhada de lágrimas universais, que são a circunstância mais estimável de um enterro. Com grande repugnância da Cidade de Goa, foi trazido para Lisboa e sepultado na Igreja de Nossa Senhora da Graça dos Religiosos de Santo Agostinho, onde jaz em limitado túmulo o que apenas cabia em toda a Ásia. Não foi casado, teve um filho chamado Brás de Albuquerque, a quem El-Rei D. Manuel fez algumas mercês, e lhe mandou que se chamasse Afonso de Albuquerque, em memória de seu pai, e o fez casar ilustremente.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744

Fonte: Veritatis

17 dezembro 2020

15 de Dezembro de 1640 - Aclamação D’El-Rei D. João IV de Portugal

 


Consumado o golpe palaciano no qual os Conjurados restauraram a Independência do Reino de Portugal, El-Rei João IV, vindo de Vila Viçosa, chegou a Lisboa na noite de 6 de Dezembro. Nos dias seguintes, enquanto se preparava a cerimónia da Aclamação e o Rei se ocupava dos assuntos de Estado, houve festejos, procissões e iluminações públicas.
A Aclamação D’El-Rei Dom João IV de Portugal ocorreu a 15 de Dezembro de 1640.
Logo de manhã cedo, o novo monarca saiu dos seus aposentos no Paço da Ribeira, acompanhado dos Grandes Títulares da sua Corte, de oficiais da Casa Real e de Bispos, até ao local onde deveria decorrer a Cerimónia de Aclamação.
A abrir a comitiva real estavam os Porteiros, oficiais da Casa Real, e que eram os responsáveis por abrir e fechar as portas do palácio, função essa bastante simbólica. Os Porteiros traziam consigo duas insígnias que os distinguiam. Em primeiro viriam os Porteiros de Cana por portarem instrumentos de sopro rústicos, denominados por Cana. De seguida viriam os Porteiros da Maça, responsáveis por transportar nos ombros um bastão para assinalar a chegada dos convidados, a Maça.
Após a chegada dos Porteiros ao local da aclamação do monarca vinham os oficiais da Casa Real responsáveis pela Armaria, ou seja eram responsáveis pela distribuição e regulamentação das armas e brasões da nobreza. Estas estavam distribuídos em três níveis de forma hierárquica. Primeiro vinham os três Reis de Armas, que representavam os três domínios mais importantes do Império Português: Portugal, Algarve e Índia. De seguida vinham os três Arautos que representavam as, então, mais importantes cidades do Reino: Lisboa, Silves e Goa. Por último vinham os três Passavantes, que representavam as vilas mais importantes: Santarém, Lagos e Cochim. Todos deveriam vestir cotas de armas, uma capa sobre as vestes, que os diferenciava pela posição onde o escudo real estava bordado. Os Reis de Armas traziam bordado no peito com a coroa, os Arautos traziam ao peito no lado direito sem a coroa e os Passavantes traziam ao lado esquerdo sem a coroa.
O cortejo real prosseguia com a passagem dos Moços da Câmara e dos Moços Fidalgos. Os Moços da Câmara eram jovens que provinham das famílias mais influentes e possuíam funções na Câmara Real (aposentos do rei). O Moço Fidalgo era basicamente aquele que convive com o Rei no seu quotidiano. Após a passagem dos Moços passaria o Corregedor do Crime da Corte e Casa.
No fim da passagem destas figuras maiores da Monarquia Portuguesa deveriam passar os membros da nobreza, os Grandes Titulares da Corte (Marqueses, Condes, Viscondes e Barões) e eclesiásticos (Bispos). Todos iam a "descoberto" (sem chapéu ou barrete na cabeça) e formando duas alas, a dos seculares e a dos religiosos. No meio destas alas seguiam os oficiais da Casa Real transportando as suas insígnias. De seguida vinha o recém-nomeado Ministro Secretário de Estado, e imediatamente vinha o Meirinho Mor que trazia uma vara branca, sua insígnia privativa. Este era um oficial de justiça, responsável pela aplicação da lei aos membros da Nobreza e fidalgos – e que de acordo com a tradição era ofício pertença do Conde de Viana.
O Bispo Capelão Mor (responsável pela capela real) acompanhava o Meirinho Mor. Após estes seguia o cortejo: o Alferes Mor, que trazia a Bandeira Real enrolada. No fim deste seguia o Capitão da Guarda Real (responsável pela guarda pessoal do rei).
A Guarda Real dos Archeiros estaria no exterior do edifício onde decorreria a cerimónia de Aclamação.
A cerimónia aconteceu num grande teatro de madeira erguido e guarnecido de magníficos e ricos panejamentos, adjacente à engalanada varanda do Paço da Ribeira. Nesse décimo quinto dia do mês de Dezembro de mil seiscentos e quarenta, as mais altas e influentes figuras a nível nacional, os membros da Família Real e por último a figura central da cerimónia, El-Rei, tomaram o seu lugar no teatro de madeira. Dom João IV vinha ricamente vestido com o manto real, seguro na cauda por um Conde e pelo Gentil Homem da Câmara Real. Junto ao monarca estava o herdeiro ao trono o Príncipe D. Teodósio - ainda vivo à data - ainda acompanhado dos seus oficiais privados (os Camaristas). Muito próximo ao Rei no seu lado esquerdo estava o Mordomo-mor da Casa Real. Este desempenhava as funções mais importantes de toda a Casa Real Portuguesa e ao seu lado, mas mais afastado, estava o Ministro Secretário de Estado. No mesmo lado esquerdo estavam posicionados, em ala e mais afastados, o Meirinho-mor e os Marqueses e por último os Grandes da Corte e outros oficiais da Casa Real. Ao seu lado direito estavam os seus herdeiros e o corpo religioso.
Antes de o soberano se sentar no trono real foi-lhe dado o ceptro que segurou com a mão direita, a coroa real foi colocada ao seu lado esquerdo. Dom João IV, pela derradeira vez, cingia na cabeça a Coroa dos Reis de Portugal que haveria de oferecer a Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, em 1646, pela protecção concedida durante a Restauração, coroando-a Rainha de Portugal – nas coroações de outros monarcas que haveriam de se seguir, durante a Cerimónia de Aclamação a Coroa Real seria sempre acomodada numa almofada vermelha (cor real) ao lado do novo Rei, como símbolo real, e não na cabeça do monarca.
Após os convidados estarem todos acomodados deu-se oficialmente início à Aclamação do Monarca. Neste momento o Secretário de Estado avisa o Rei de Armas para pronunciar a prática a El-Rei. O Rei de Armas brada o seguinte:

‘Ouvide, ouvide, ouvide, estai atentos!’

Dito isto o Reposteiro-Mor colocou diante do monarca uma cadeira rasa com uma almofada e outra para o Rei se ajoelhar. Na cadeira rasa (pequena mesa) o Bispo Capelão-Mor coloca o missal aberto e o crucifixo de prata. O alto prelado ajoelha-se junto ao trono juntamente com dois Bispos que servem de testemunhas do juramento que El-Rei iria fazer. O monarca então de joelhos coloca o ceptro na mão esquerda e o missal e a cruz na mão direita e repete as palavras que o Secretário, que também estava de joelhos, lhe diz para repetir:

‘Juro e prometo com a graça de Deus vos reger, e governar bem, e direitamente, e vos administrar direitamente justiça, quanto a humana fraqueza permite; e de vos guardar vossos bons costumes, privilégios, graças, mercês, liberdade, e franquezas, que pelos Reis meus predecessores vos foram dados, outorgados e confirmados.’

Dito este jura, o Secretário de Estado lê em voz alta o Juramento, Preito e Homenagem que os convidados deveriam jurar ao monarca:

‘Juro aos Santos Evangelhos tocados corporalmente com a minha mão, que eu recebo por nosso Rei, e senhor verdadeiro, e natural, o muito alto, e muito poderoso, o fidelíssimo Rei, nosso Senhor Dom João o Quarto, e lhe faço preito, e homenagem segundo o foro destes reinos.’

Feito o juramento por parte dos convidados, o Alferes-Mor desenrola o Estoque Real e o Rei de Armas disse em voz alta para beijarem a mão do soberano. Feito isto, o Secretário-geral diz aos convidados que o Monarca aceita os juramentos feitos a Ele e assim o diz:

‘El-Rei, nosso senhor, aceita os juramentos, preitos e homenagens que os Grandes, Títulos Seculares, Eclesiásticos, e mais pessoas da nobreza que ao estarem presentes, agora lhe fizestes.’

Declarada a aceitação, o Alferes-Mor e Condestável, D. Francisco de Mello, agitando a Bandeira desenrolada declara a fórmula de Aclamação do Monarca:

‘Real, Real, Real! Pelo mui alto e muito poderoso e excelente Príncipe, Rei e Senhor Dom João IV de Portugal!’

Feito isso, dirigem-se para a multidão que os contemplava e o Rei de Armas declara:

‘Ouvide, ouvide, ouvide, e estai atentos.’

E o Alferes Mor de seguida repete:

‘Real, Real, Real! Pelo mui alto e muito poderoso e excelente Príncipe, Rei e Senhor Dom João IV de Portugal!’

Ao que se lhe seguiram todos os outros presentes fazendo um coro que fez vibrar o palanque.
Finalmente, Dom João IV foi erguido e aclamado solenemente: estava inaugurada a 4ª Dinastia Portuguesa, a Dinastia de Bragança.
Finalmente a comitiva real dirigiu-se com a população em direcção ao Palácio Real momento que marca o fim das cerimónias de Aclamação do monarca Português.
VIV’Á RESTAURAÇÃO!

Miguel Villas-Boas

16 dezembro 2020

Pelo SEF, a dignidade humana e o bom senso

 


1. A morte de Igor Homenyuk constitui um abuso que choca a consciência do povo português. Negar-lhe a importância que evidentemente tem seria um erro e uma infâmia. A morte, assim como o tratamento brutal a que foi submetido Igor Homenyuk não podiam ter acontecido, e não podem voltar a acontecer. A direcção do SEF, sem dúvida, geriu mal o gravíssimo processo. Sem dúvida, exige a honra do Estado, e o respeito devido à família do falecido, que tudo se esclareça, e que sobre os responsáveis caia todo o peso da Lei.


2. Reconhecer a gravidade do que se passou com Igor Homenyuk no Aeroporto de Lisboa não implica, nem justifica de maneira nenhuma, a defesa da extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. O crime que envergonhou Portugal envergonha certamente mais ainda os mil inspectores do SEF, homens e mulheres altamente capacitados que cumprem zelosamente a sua importantíssima função: o controlo e defesa da fronteira e, através dela, a defesa dos portugueses. Pouco ou nada permite concluir que com aquela polícia exista um problema sistémico de abusos, violências ou vexames impostos a inocentes. Quando as instituições cometem erros, o que há a fazer não é desconsiderar em bloco os profissionais que as compõem e desmantelá-las: é encontrar os erros e corrigi-los; é separar o trigo do joio. Não se aboliriam os tribunais por uma má sentença, os bombeiros por um fogo que ficou por apagar ou o exército - e lembramos a esse respeito a histeria recente com os Comandos - por de tempo a tempo ocorrerem problemas.


3. Muitas vezes, casos chocantes são habilmente utilizados por homens de segundas e terceiras intenções para anestesiar a razão alheia e fazer avançar os seus propósitos. Quando o vemos acontecer, importa que tenhamos a prudência de parar para pensar se alguém não quererá manipular-nos. No caso do SEF, o bom senso diz-nos que algo de terrível se passou com um homem inocente, e que tal não pode voltar a acontecer. O SEF, composto por portugueses como nós, tem certamente de assegurar-se de que assim será. Ao mesmo tempo, a sensatez diz-nos que a actual campanha contra o SEF é motivada por mais que o lamentável caso de que faz uso, e que o bom nome da instituição inteira, assim como das suas muitas centenas de servidores, está a ser injustamente enlameado. Há que evitar a amálgama e a facilidade de conclusões simplistas, actos irreflectidos e erros que causarão dano grave e permanente a Portugal. Exige-se maturidade e a força para resistir aos manipuladores.


Fonte: Nova Portugalidade

14 dezembro 2020

Mais do mesmo!

 



Cento e dez anos depois a lenga lenga é a mesma: - 'candidato-me porque o país precisa de presidente que não instabilize'! E assim ficamos com a certeza que Portugal não vai morrer de Covid mas vai morrer cheio de estabilidade!

Vamos lá ver o filme de trás para a frente: - a primeira república destruiu o país nomeadamente as suas raízes mais profundas. Por exemplo o dia de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugalnão podia ser publicamente celebrado, a Igreja Católica era perseguida, e os padres eram tratados como funcionários públicos. As procissões não podiam sair do adro da Igreja.

A segunda república, mais manhosa, tentou juntar os cacos mas congelou o país indefinidamente. O regime, porém, não mudou a sua natureza. A ideia não era ganhar o futuro mas perder por poucos.

Esta terceira república fugiu às suas responsabilidades, vendeu o que tinha e o que não tinha, e passou a viver de amigos. Sobrevive encostada à Europa sem plano B.

Nestas condições é triste e penoso ouvir o candidato Marcelo prometer mais do mesmo.


Saudações monárquicas



Fonte: Interregno

13 dezembro 2020

DUQUE DE BRAGANÇA HOMENAGEADO COM MAIS ALTA DISTINÇÃO UNIVERSITÁRIA



O Presidente da Fundação D. Manuel II, S.A.R. Dom Duarte de Bragança, recebeu no Palácio Fronteira, em Lisboa, os títulos de "Patrono" e "Membro de Honra da Faculdade de História" da Universidade Pedagógica Nacional Dragomanov, de Kiev, Ucrânia.


Tal como no passado, em que os Papas, Imperadores e Reis eram os Patronos, e tantas vezes protetores e mecenas das universidades, entendeu esta Universidade Ucraniana, uma das maiores da Europa, ao entregar este título de Patrono, que era o mais alto reconhecimento das Universidades, assinalar as qualidades de humanista e estadista e o insigne papel no domínio das relações internacionais, sobretudo na defesa intrínseca da amizade entre os povos e sua história, liberdade e cultura, que o Senhor Dom Duarte vem assumido.


Ao atribuir o estatuto de Patrono e Membro de Honra da sua Faculdade de História, a Universidade Pedagógica Nacional Dragomanov presta ao Chefe da Casa Real Portuguesa o reconhecimento da sua estatura no domínio das relações internacionais e ao seu inquestionável papel na história mundial como representante da Casa Real Portuguesa.


A Universidade deliberou também a concessão ao Cônsul Carlos Evaristo, Pesquisador e Autor, Presidente e Co-Fundador da Fundação Histórico Cultural Oureana, de um Doutoramento Honoris Causa em reconhecimento dos mais de 30 anos de serviço à Comunidade Cristã, nos domínios da História, do Culto dos Santos, da Iconografia Sacra, da Fenomenologia Religiosa e da Arqueologia Sacra.


A entrega destas distinções foi levada a cabo pelo Prof. Moritz Hunzinger que chefiou uma Delegação Oficial enviada pela Reitoria da Universidade para o efeito.