O dia 1 de Dezembro de 1640 pertence ao alinhamento dos dígitos sagrados do calendário luso. Portugal é o milagre nacional que acende a fúria das terras soberbas e lava os sonhadores com as próprias lágrimas. Quase 900 anos de unidade territorial. Nós, coroa europeia no dizer pessoano, talhada a sangue, cruzes e mar, ficámos encurralados.
D. Sebastião, o redentor messiânico desta pátria feita lodo e pus, talvez um dos reis católicos que Nossa Senhora prometeu em La Sallete, eclipsou-se num impulso de rebeldia adolescente, ébrio que estava em dar à Cruz outros pedaços de Ismael. Alcácer-Quibir guardou o cadáver da sua presença, mas não do seu corpo. Na verdade, ali começou a saudade de uma missão por cumprir, viva na alma e no papel de Bandarra. O trono estava vazio, a nação órfã. O Cardeal D. Henrique, de coroa na cabeça e cruz na mão, foi o rei dos improvisos! A sua morte esvaziou o trono. A nação estava órfã.
A dinastia Filipina foi o segundo de três sonos nacionais. Quem tenha olhos, leia. O sono está longe da sepultura, assim como o despertar está longe da verdade. Éramos sem ser, oportunidade de uma Castela vingativa outrora pó nos primeiros Avis. Esse reino condenado ao fado da partícula guerreava com a Catalunha e o povo estava atento, saudosista do próprio canto. Pela espada da nobreza, a vontade do povo e as preces do clero, amou-se a bandeira acima do título e devolvemos a Portugal a autonomia e liberdade delegada em Ourique, perante o Senhor Crucificado. D. João IV, aclamado como novo rei após 60 anos de sono, no fôlego rectangular do Paço da Ribeira, foi o D. Sebastião para as súplicas da época (mais virão) e foi além dos portões da Casa de Bragança que a pertença respirou com alívio.
Todas as traições, enganos e mentiras acompanharam Miguel Vasconcelos na sua queda fatal. Fica claro que o tempo respeita as leis da criação, marginalizando as tendências e os tornados do actual: os traidores são o alimento do chão. Hoje em dia, parece-me que seria D. João IV a ser atirado para a morte e Miguel Vasconcelos a ocupar o trono mas sei que, tarde ou cedo, gritaremos conforme os nossos antepassados de 1640: PORTUGAL É NOSSO!
Francisco Paixão
Escritor, Historiador, Apologeta
Fonte: Notícias Viriato
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