quinta-feira, 25 de abril de 2024

25 de Abril de 1828: Aclamação de SMF D Miguel I

“O povo espantava-se de se achar tão grande, tão livre, tão rico em direito teórico; porque na realidade, as coisas estavam pouco mais ou menos na mesma.”
“Sem entrarmos em maiores detalhes, é o próprio Alexandre Herculano quem instrui o processo da gente de 20. “ Mandaram a D João II e a D João III, nos seus túmulos o código do absolutismo e a bula da Inquisição, - escreve ele nos Opúsculos. Queimaram profusamente a cera e o azeite em iluminações brilhantes, vestindo-se de riche nacional, horrorosamente grosseiro e bastante caro.
Foi um tiroteio de banquetes, procissões, foguetes, discursos, arcos de triunfo, revistas, Te Deum, eleições, artigos de jornais e salvas de artilharia”. É Herculano, minudenciando com uma leveza que nem parece sua , prossegue em traços felizes de caricatura:- “ Todos os dias havia novas festas e babava-se por elas. Era um saleiro de hinos, sonetos, canções, dramas, cortes de fatos e formas de sapatos liberais…”
“ Multiplicam-se as lojas maçónicas: os tolos iam lá gastar dinheiro em honra do “supremo arquitecto do Universo”, e outros a comer-lho em honra do mesmo arquitecto. Reuniram-se as Cortes. Fez-se uma constituição republicana, mas inteiramente inadequada ao país .
Repetiram-se , palavra por palavra, traduzidos em português, os discursos mais celebres do choix des rapports , ou das páginas mais excêntricas de Rousseau e de Bentham.
O povo espantava-se de se achar tão grande, tão livre, tão rico em direito teórico; porque na realidade, as coisas estavam pouco mais ou menos na mesma.”
O texto, de António Sardinha na sua obra Ao Ritmo da Ampulheta, retrata bem o intemporal logro da revolução.
A partidocracia prepara-se agora, para celebrar os cinquenta anos da sua revolução, a quarta que a Pátria Portuguesa sofre neste turbilhão que a vai destruindo.
Gabava-se um comentador, há dias, dos enormes ganhos que esta última revolução nos trouxe:- da evolução técnica da saúde, (como se tal fosse uma conquista revolucionária), das pensões , da massificação do ensino, até dos milhares de quilómetros de autoestradas que vem sendo construídos. Falou extasiado da escravidão da Pátria às “novas uniões”.
Esqueceu, contudo, que não vivemos em democracia. A democracia obriga ao sorteio e os governos de poder ilimitado a que estamos sujeitos, não dependem de sorteios, nem de uma “soberania popular”, pois tal, na verdade, não existe.
Existe sim a vontade indiscutível e sem recurso a sufrágios, de partidos que nomeiam deputados, presidentes de câmara e juízes, para a pura e estrita satisfação dos seus interesses mais intimos.
Até porque, sendo a Soberania uma supremacia que se exerce constantemente, ela jamais esteve, ou estará, nas mãos do povo.
Esqueceu também, que as liberdades comunitárias, aquelas que foram o braseiro onde se forjou a nossa Pátria, foram totalmente destroçadas pela revolução em 1835, momento em que partidocracia Constitucional entregou o poder das Freguesias e Municípios a um governo de poder centralizado e ilimitado.
Esqueceu que todos os nossos “problemas estruturais” se devem aos sucessivos processos revolucionários e para os quais a revolução, não quer encontrar solução.
Esqueceu de nos explicar, porque passados duzentos anos de amputações revolucionárias, de democracias uni e pluripartidárias, a fome continua a existir, a sua tão prometida igualdade continua a ser uma miragem e a solidariedade um paradoxo, nestas sociedades decapitadas do seu Bem Comum e entregues ao mais torpe e destrutivo egoísmo.
A Revolução, depois de nos prostrar, no deplorável estado comatoso em que nos encontramos, encaminha-nos agora para a morte.
E nunca é demais recordar Alexandre Herculano, pois as coisas estão mais ou menos na mesma: Há uma polícia de pensamento, que persegue e cala, quem ousar pôr em causa as suas teorias pseudo -científicas, quem se atrever a combater um regime que dê democrata só lhe resta o nome; a iliteracia escorre pelas vielas do conhecimento da “geração com mais estudos de sempre”; a ignorância e um cretinismo massificado tingem visivelmente a sociedade.
Mas as Pátrias precisam do vigor refrescante de um Bem Comum.
E se por Vontade de Deus somos uma Pátria, então por amor a Deus e à Pátria ergamos a Cruz como guia e desfraldemos as bandeiras da Tradição!
Somos, portanto, profundamente reacionários, porque nos opomos à monstruosidade destrutiva de qualquer revolução.
Por isso, neste vinte cinco de Abril celebremos pois, não a negra desgraça da revolução de 74, mas a aclamação de SMF D Miguel I, o último Rei da Tradição Católica de Portugal.
Por Deus, Pátria e Rei

quarta-feira, 24 de abril de 2024

25 de Abril: "A miséria continua, se é que não aumentou"


A miséria continua, se é que não aumentou; e sobretudo, há cinquenta anos, esperava-se uma vida melhor para as novas gerações na maioria das famílias.  Hoje, os filhos têm a expectativa de uma vida mais difícil e pior do que a dos pais.  Os salários mínimos e médios são dos mais baixos da Europa.

Eu não tive muitas expectativas em relação ao 25 de Abril.  Para mim foi essencialmente um movimento corporativo, ditado, em parte, pelo cansaço, no Corpo de Oficiais, em relação à guerra. Um movimento com o qual o governo de Marcelo Caetano não soube lidar, ora concedendo, ora reprimindo, de forma indecisa, contraditória e pouco eficaz.

Para mim e para os que, nos anos sessenta, acreditávamos num projecto de nação plurirracial e pluricontinental, pela qual tinham combatido e morrido alguns dos nossos amigos, para os que éramos e somos, antes do mais, nacionalistas, o 25 de Abril foi o fim desse ideal, desse projecto, do que agora nos aparece como uma utopia.  Por isso não tínhamos muitas expectativas.

Mas o geral dos portugueses, que acreditaram na letra das promessas de Abril, esperavam, com o fim do regime autoritário e a chegada da democracia política, uma sociedade mais justa, uma vida melhor, para eles e para os seus filhos.  Cinquenta anos passados, não creio que devam estar muito contentes.

A miséria continua, se é que não aumentou; e sobretudo, há cinquenta anos, esperava-se uma vida melhor para as novas gerações na maioria das famílias.  Hoje, os filhos têm a expectativa de uma vida mais difícil e pior do que a dos pais.  Os salários mínimos e médios são dos mais baixos da Europa e os serviços públicos entraram em crise, mesmo o Serviço Nacional de Saúde, que chegou a ser das poucas excelências do país e do regime.

Não temos censura prévia, mas poucas vezes se viu uma tão grande uniformidade de opiniões em tudo o que tem alguma importância, em política externa ou interna.  E a dissidência, que dantes era interdita, continua a sê-lo, embora por processos mais sofisticados e sob a aparência de pluralidade.

Mas como, para o mal e para o bem, acabamos sempre por sofrer a influência da Europa, a nova vaga nacionalista, mais conservadora ou mais popular, já aí está e pode vir a trazer algum equilíbrio.

Quanto às novas gerações, não tenho idade nem procuração para falar por elas.  Mas, a julgar pelas indicações da sociologia eleitoral, creio que as novas gerações são mais livres da propaganda do regime e da sua influência, que é muito televisiva.  Vejo isso também pelo contacto que vou tendo, em termos pessoais.  Apesar dos dispositivos orwellianos que, com o aproximar do meio século do golpe militar, se concentram em pintar os horrores do regime e o PREC como um período revolucionário, heroico e generoso, vejo que muitos dos mais novos – pelo menos os que têm alguma independência – não se deixam enganar e são críticos.

Isso deixa-nos a nós, mais velhos, uma certa esperança, sobretudo aos que sempre procurámos preservar um juízo objectivo da História e das realidades das coisas e nunca nos importámos muito de ser uma minoria marginalizada.

Jaime Nogueira Pinto

Fonte: jornal I

segunda-feira, 22 de abril de 2024

22 de Abril de 1500 - Achamento Oficial do Brasil (Terra de Vera Cruz)

“SENHOR

Posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que para o bem contar e falar o saiba pior que todos fazer.
Mas tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual, bem certo, creia que por afremosentar nem apear haja aqui de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.
Da marinhagem e singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza, porque o não saberei fazer e os pilotos devem ter esse cuidado.
E, portanto, Senhor, do que hei-de falar começo e digo que a partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira, 9 de Março.
E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achámos entre as Canárias, mais perto da Grã Canária. E ali andámos todo aquele dia, em calma, à vista delas, obra de três ou quatro léguas.
E domingo, 22 do dito mês, às 10 horas, pouco mais ou menos, houvemos vista das ilhas do Cabo Verde, isto é, da ilha de S. Nicolau, segundo dito de Pêro Escobar, piloto. E a noute seguinte, à segunda-feira, quando lhe amanheceu, se perdeu da frota Vasco d'Ataíde, com a sua nau, sem aí haver tempo forte nem contrairo para poder ser. Fez o capitão suas diligências para o achar, a umas e a outras partes, e não apareceu mais.
E assim seguimos nosso caminho por este mar e longo, até terça-feira d'oitavas de Páscoa, que foram 21 dias d'Abril, que topámos alguns sinais de terra, sendo da dita ilha, segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas, os quais eram muita quantidade d'ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho e assim outras, a que também chamam rabo d'asno.
E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topámos aves, a que chamam fura-buchos. E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d'um grande monte, mui alto e redondo, e d'outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz.
Mandou lançar o prumo, acharam 25 braças, e, ao sol-posto, obra de 6 léguas de terra, surgimos âncoras em 19 braças; ancoragem limpa. Ali ficámos toda aquela noute.
E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos direitos à terra e os navios pequenos diante, indo por 17, 16, 15, 14, 13, 12, 10 e 9 braças até meia légua de terra, onde todos lançámos âncoras em direito da boca dum rio. E chegaríamos a esta ancoragem às 10 horas, pouco mais ou menos.
E dali houvemos vista d'homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por chegarem primeiro. Ali lançámos os batéis e esquifes fora e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do capitão-mor e ali falaram. E o capitão mandou no batel, em terra, Nicolau Coelho, para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens.
Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram.
Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na costa. Somente deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas como de papagaio; e outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza, e com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar.
Sendo Afonso Lopes nosso piloto, por ser homem vivo e destro, meteu-se logo no esquife a sondar o porto. E tomou uma almadia dos homens da terra, mancebos de bons corpos. Trouxe-os logo, já de noute, ao capitão, outros foram recebidos com muito prazer e festa. A feição deles é serem pardos, maneira avermelhada, de bons rostos e bons narizes. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com muita inocência. O capitão, quando eles vieram, estava assentado, com colar de ouro mui grande ao pescoço. Um deles, porém, pôs os olhos no colar do capitão e começou a acenar para o castiçal de prata. O capitão trouxe vinho, mas não beberam. E, então tornou-se o capitão aquém do rio, e logo acudiram muitos à beira dele. Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma. Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos. Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali. Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele. Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora. Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora. Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo. Era já a conversação deles connosco, tanta que quase nos tornavam ao que havíamos de fazer. E assim não foi esse dia mais que escrever. Até agora não podemos saber que haja ouro de metal, nem de ferro vimos. A Terra por si é de muitos bons ares e temperado como os de Entre-Douro e Minho. E de entre todos estes que hoje vieram, não veio mais que uma mulher moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse, e puseram-lhe em derredor de si. Mas ao assentar não fazia memória de o muito entender para se cobrir. E nessa maneira, Senhor, vou daqui, a V. Alteza contar do que nesta terra vi. E, se, algum ponto alonguem, Ele me perdôe. Que o desejo que tinha de vos tudo dizer, assim pôr pelo miúdo. Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera-Cruz."

Pêro Vaz de Caminha | Carta a El-Rei Dom Manuel I de Portugal sobre a Descoberta do Brasil

Imagem: Pormenor do 'Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500', Óleo sobre tela de Óscar Pereira da Silva (1865–1939)

sexta-feira, 19 de abril de 2024

O Papa Bento distribuía normalmente a comunhão de joelhos e na boca

Em 2009, sendo Bento XVI o Papa reinante, o Ofício das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice emitiu um documento no qual defende a comunhão de joelhos e na boca. Publicamos aqui a tradução das partes mais relevantes desse texto:

Desde o tempo dos Padres da Igreja, existiu uma tendência que foi sendo consolidada: a preferência de distribuir a Sagrada Comunhão na língua ao invés de distribui-la na mão. São duas as motivações para esta prática: 1) para evitar, tanto quanto possível, que partículas Eucarísticas possam perder-se (por ex: ficarem na mão depois de comungar, e até mesmo caírem no chão); 2) aumentar a devoção entre os fiéis na Presença Real de Nosso Senhor no Sacramento da Eucaristia.

São Tomás de Aquino também se refere à prática de receber a Sagrada Comunhão apenas na língua. Ele afirma que tocar no Corpo do Senhor é próprio, apenas, para o sacerdote ordenado.

Portanto, por vários motivos, entre os quais o Doutor Angélico cita o respeito pelo sacramento, escreve: "...como forma de reverência para com este Sacramento, nada o toque, apenas o que é consagrado (o sacerdote), uma vez que o corpo e o cálice são consagrados, também as mãos do sacerdote (o foram) para que tocasse nesse Sacramento. Por isso, não é lícito a ninguém tocá-lo, excepto por necessidade, por exemplo, se fosse cair sobre o chão, ou então em algum outro caso de urgência."(Summa Theologiae, III, 82, 3).

Ao longo dos séculos, o momento da Santa Comunhão sempre foi marcado com sacralidade e respeito, esforçando-se constantemente para desenvolver os melhores sinais externos que poderiam promover a compreensão deste grande mistério sacramental. Na sua solicitude amorosa e pastoral, a Igreja tem a certeza que os fiéis recebem a Santa Comunhão tendo no seu interior correctas disposições, entre as quais se destacam a disposição e a necessidade dos fiéis compreenderem a Presença Real d'Aquele que estão para receber. (ver: Catecismo do Papa Pio X, nn. 628 e 636). 

A Igreja ocidental estabeleceu o sinal de ajoelhar-se como um dos sinais de devoção adequado para os que vão comungar. Um ditado célebre de Santo Agostinho, citado pelo Papa Bento XVI no n. 66 da sua Encíclica Sacramentum Caritatis, ("O Sacramento do Amor"), ensina: "Ninguém come desta Carne sem primeiro adorá-la, podemos até pecar se não a adoramos" (Enarrationes in Psalmos 98, 9). Ajoelhar-se mostra e promove a adoração necessárias antes de receber Cristo Eucarístico.

A partir desta perspectiva, o então Cardeal Ratzinger assegurou que: "A comunhão só atinge a sua verdadeira profundidade quando é apoiada e rodeada por adoração" [The Spirit of the Liturgy (Ignatius Press, 2000), p. 90]. 

Por esta razão, o Cardeal Ratzinger afirmou que "a prática de se ajoelhar para a Santa Comunhão tem em seu favor uma tradição já antiga, e é um sinal particularmente expressivo de adoração, completamente apropriado, à luz da presença verdadeira, real e substancial de Nosso Senhor Jesus Cristo sob as espécies consagradas "[citado na carta "This Congregation" of the Congregation for Divine Worship and the Discipline of the Sacraments, July 1, 2002].

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Uma democracia de «Aiatolas» de esquerda

Ontem, um Presidente de Câmara Municipal mandou cancelar e impedir que continuasse a decorrer uma conferência em que participavam reputados intelectuais e académicos, destacados políticos incluindo um primeiro-ministro europeu em funções, um candidato presidencial, diversos ex-ministros, deputados e até um cardeal da Igreja Católica.

Este Presidente de Câmara ordenou que as forças policiais cercassem o edifício onde o evento estava a decorrer, impedindo a entrada do público e dos conferencistas, proibindo a distribuição de comida e bebidas a quem já estava dentro da sala há horas e preparando-se para cortar a electricidade ao espaço, fazendo dos participantes reféns.

O local onde decorre esta conferência é privado, e o seu dono foi ameaçado de lhe ser retirada a licença de exploração da sua sala de eventos caso não cumprisse a ordem do autarca, que estava a ser posta em prática através da força pela polícia.

Tudo isto decorreu em Bruxelas, nas barbas e quiçá com a conivência de toda a classe de dirigentes e burocratas da União Europeia. Para estes actos absolutamente antidemocráticos e totalmente contrários à defesa das liberdades humanas básicas foram apresentadas, por escrito, pelo próprio presidente da Câmara local, razões que se prendem com o facto de o evento juntar personalidades com uma visão da sociedade de pendor conservador-nacionalista, uma atitude eurocéptica e que, portanto, seria gente conotada com a extrema-direita e que isso acarretaria riscos de perturbar a ordem pública na cidade.

Entretanto, numa decisão judicial de urgência, um tribunal superior belga revogou a ordem do autarca e determinou que o congresso deveria ter lugar livremente e que o segundo dia da conferência decorresse sem qualquer restrição.

Infelizmente, esta inclinação para a censura, o silenciamento, o restringir da liberdade de expressão, o uso da força e da coação para impor um pensamento único, a segregação de quem pensa diferente, a estigmatização de gente desalinhada com a narrativa no poder e todos os tiques e ferramentas totalitárias estão na essência da nossa actual Esquerda política e até em alguma Direita dita “moderada”. Na Bélgica e em toda a Europa, incluindo Portugal.

Basta ver a reação da oligarquia e dos comentadores às recentes intervenções públicas de Pedro Passos Coelho para perceber que há demasiada gente que não veria com maus olhos a instauração no nosso país de um califado progressista ou de uma democracia de aiatolas de esquerda.

Como disse o saudoso Vasco Pulido Valente: “Quando se raspa um socialista acaba sempre por se encontrar um tiranete”.



Fonte: Blasfémias

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Evitar a epidemia de fentanyl em Portugal

 No inquérito do governo espanhol sobre álcool e drogas que estuda o consumo de 1995 a 2022, regista-se (p. 58) que 14% da população dos 15 aos 64 anos inquirida já experimentaram a droga fentanil. Esse valor alarmante contrasta com o de 1,9%, em 2018, e de 4,4%, em 2020.


É útil conhecer a evolução em Portugal do consumo desta droga, que é 50 vezes mais potente do que a heroína, e que provocou uma epidemia nos EUA que mata, de overdose, mais de 70 mil pessoas nos EUA em 2022 e é a maior causa de morte das pessoas de 18 aos 45 anos.
Importa prevenir o consumo e reprimir severamente o tráfico, para evitar que a epidemia do fentanyl alastre a Portugal.

António Balbino Caldeira

Fonte: Inconveniente

terça-feira, 16 de abril de 2024

Parem de importar guerras culturais!


Em 1997 o Partido Comunista propôs o aborto livre até às 12 semanas e foi chumbado. Ainda nesse ano, o Partido Socialista, pela mão do então presidente da JS, Sérgio Sousa Pinto, propôs a legalização do aborto até às 10 semanas. Para evitar a sua aprovação o então Primeiro-Ministro e Secretário-Geral do PS, António Guterres, acordou com o presidente do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro referendo da democracia. O referendo haveria de se realizar em Julho de 1998 e o resultado foi a vitória do “Não”.

Nos anos seguintes houve várias tentativas de legalizar o aborto livre, até quem em 2006, com o regresso do PS ao poder, foi convocado novo referendo, que se realizou em Fevereiro de 2007 e onde o “Sim” ganhou.

Desde então, foi legalizada a procriação artificial, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, foi proposta e chumbada a co-adopção por pessoas do mesmo sexo, foi aprovada a adopção por pessoas do mesmo sexo, foi aprovada, chumbada pelo Tribunal Constitucional e novamente aprovada as barrigas de aluguer, foi aprovada a Lei da Identidade de Género, foi votada seis vezes a legalização da eutanásia (chumbada no Parlamento, chumbada pelo Tribunal Constitucional, vetada pelo Presidente da República, chumbada pelo Tribunal Constitucional, vetada pelo Presidente da República e finalmente aprovada e promulgada), foi proposto o aumento dos prazos do aborto.. Nestes anos foi introduzida a educação sexual obrigatória nas escolas, criada a disciplina de Educação para a Cidadania posteriormente tornada obrigatória, foram criados os Referenciais para a disciplina, que incluem a defesa do aborto e da ideologia de género.

Ou seja, nos último 17 anos quase todos os anos foram propostas leis ditas fraturantes, quase sempre pelos mesmo deputados e defendidas pelos mesmos protagonistas. Não houve legislatura (e quase não houve ano) em que estes temas não tenham sido colocados na agenda política por essas pessoas.

Por isso é especialmente irritante ouvir comentadores, em geral idiotas úteis de direita, a explicar que são os “conservadores” que estão a importar “guerras culturais”. Eu passei boa parte da minha adolescência e vida adulta a lutar sobre estes temas e, como dizem os miúdos, nunca fui eu que comecei. Eu não tenho qualquer interesse nesta agenda, foi a esquerda progressista (agora adoptada pela IL) que decidiu importar estas causas para Portugal, nós limitamo-nos a opor-nos.

Por isso, se os senhores comentadores acham que estes temas não têm interesse, se consideram que desvia o foco dos assuntos fundamentais (e eu concordo) têm uma boa solução, a próxima vez que encontrarem a Isabel Moreira no Lux, ou se cruzarem com a Teresa Violante num estúdio, peçam-lhes que parem de importar guerras culturais. Nós agradecemos. Assim podemos começar a tratar dos assuntos realmente importantes como a pobreza, a saúde a educação e tudo aquilo que o PS prefere não tratar para se dedicar antes à causa woke.

E já agora aproveito para falar do progresso de que falam tanto, para defender a morte de crianças como direito fundamental. Eu percebo o glamour de estar a par das modas do estrangeiro, porque se no Eça a cultura vinha de Paris em caixotes, hoje vem dos Estados Unidos (mas continua a ficar-nos curta nas mangas). Mas eu tenho um enorme problema com este progresso: cheira a mofo! Este progresso tem o cheiro dos fornos onde os cartagineses sacrificavam bebés aos deuses, lembra o extermínio dos fracos e incapazes de Esparta, um déjà vu aos eunucos da Pérsia antiga. Este progresso tem o cheiro putrefacto de um cadáver com milhares de anos, vestido com roupas modernas para ser admirado por aqueles que desejam tanto parecer modernos que não percebem que retrocederam dois mil anos. Pessoalmente, eu prefiro continuar com o humanismo cristão, aquele que garante a infinita dignidade de cada ser humano. Pode não ser progressista, mas tem a enorme vantagem de ser verdade.


Fonte: Nós os Poucos...

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Cardeal Sarah elogia Bispos africanos por resistirem à propaganda homossexual


O Cardeal Robert Sarah, um dos principais cardeais em termos de inteligência e integridade, elogiou os bispos dos Camarões pela sua declaração "corajosa e profética" de 21 de Dezembro contra as pseudo-bênçãos homossexuais.

"Fizeram uma obra de caridade pastoral ao apontar a verdade", afirmou. É "errado e ridículo" que "algumas pessoas no Ocidente" afirmem que os bispos dos Camarões agiram em nome de um "particularismo cultural", esclareceu Sarah. Afirmaram, "numa lógica de neo-colonialismo intelectual", que os africanos "ainda" não estão prontos para "abençoar" o pecado "por razões culturais", disse: "Como se o Ocidente tivesse uma vantagem sobre os africanos, mais atrasados".

Na realidade, os bispos em África estão a agir "em nome do único Senhor, da única Fé da Igreja", explicou Sarah: "Desde quando é que a verdade da Fé, o ensino do Evangelho, está sujeito a culturas particulares?"

Sarah adverte contra a ideia destrutiva de que a Fé deve ser interpretada "diferentemente" em diferentes lugares, culturas e povos. Ele identificou esta ideologia como "apenas um disfarce para a ditadura do relativismo". O seu objectivo é introduzir deficiências na doutrina e na moral em certos lugares, sob o pretexto de "adaptação cultural". Assim, "querem permitir um diaconato feminino na Alemanha, padres casados na Bélgica, a confusão entre o sacerdócio ordenado e o sacerdócio comum na Amazónia".

O Cardeal Sarah espera que os bispos africanos se tornem defensores da Fé, mas observa que as suas vozes no último Sínodo foram desprezadas por aqueles cuja única obsessão é "agradar aos lobbies ocidentais".

in gloria.tv


domingo, 14 de abril de 2024

D. Pedro V - O Rei Exemplar

‘Rei de paz, subiu os degraus do trono com a espada na bainha. Rei de amor, o ceptro em suas mãos foi sempre um símbolo da brandura e mansidão. Modesta na aparência, gloriosíssima nos resultados, a sua obra consistiu em unir a coroa e o país pelos vínculos mais estreitos, em consolidar as bases do sistema representativo pelo consórcio do poder com a liberdade.’

Luís Augusto REBELO DA SILVA (Lisboa, 2 de Abril de 1822 — Lisboa, 19 de Setembro de 1871) | Jornalista, historiador, romancista e político português, colaborador activo de múltiplos periódicos e membro das tertúlias intelectuais e políticas lisboetas da última metade do século XIX sobre El-Rei Dom Pedro V

Imagem: Representação de D. Pedro V Rei de Portugal. Óleo sobre tela da autoria de José Rodrigues, Circa 1862

sábado, 13 de abril de 2024

Família

Família. Foi fundada por Deus quando deu Eva por companheira a Adão, abençoando-os e dizendo-lhes que se multiplicassem. Sempre que uma mulher aceita unir-se a um homem, com a bênção de Deus dada à face da Igreja, com o fim de terem filhos [Matrimónio], fica constituída legitimamente uma família cristã.
Os membros de uma família, que formam o lar doméstico, devem propor-se os seguintes fins: a) o bem-estar, pelo trabalho de todos; b) a paz, suportando-se mutuamente; c) a alegria, dedicando-se ainda que com incómodo próprio; d) a vida virtuosa, sendo fiéis à lei de Deus e à lei da Igreja; e) o auxílio mútuo, sobretudo nas dificuldades e nas doenças.

Pe. José Lourenço in «Dicionário da Doutrina Católica», 1945

Fonte: Veritatis

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Ribeiro Telles de volta a S. Bento no 50º aniversário do 25 de Abril


No âmbito das celebrações do 50º aniversário do 25 de Abril, a Real Associação de Lisboa realizará no próximo dia 23 pelas 18:30, simbolicamente no Palácio de São Bento, no Auditório Almeida Santos, o lançamento duma reedição da antologia do Arq. Gonçalo Ribeiro Telles, Porque sou Monárquico (2017).

Com mais esta homenagem ao saudoso arquitecto paisagista, ecologista e político pretende-se também realçar o papel dos monárquicos na transição do Estado Novo para a Democracia.

Convidamos os nossos associados e simpatizantes a divulgar e participar neste importante evento, que contará com a honrosa presença dos Duques de Bragança e com a participação especial dos Drs. Augusto Ferreira do Amaral e João Barroso Soares, assim como o historiador José Miguel Sardica.

A nova edição, com um texto inédito, estará disponível para venda no local e brevemente na nossa loja online.


 Fonte: Real Associação de Lisboa

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Divulgue A Monarquia!


Numa Monarquia existem níveis mais exigentes de igualdade entre as pessoas e maior transparência democrática das instituições e dos políticos. Ao observar-se as diversas realidades das Monarquias, tem-se constatado isso.


Não são reformas de almanaque que evitarão o colapso do modelo teórico republicano do século passado sem um sistema de valores, sem ética, de poder pessoal e com instituições escleróticas. Este ainda novo e eruptivo século, com precisão de maior escrutínio, clama pelo regímen que durante 771 anos tão bem serviu os Portugueses: a Monarquia.


A ideia de que numa Monarquia o Povo se teria de desfazer em obséquios perante o Rei e diante de uma nobreza a pairar sobre os demais, é completamente errada e mesmo absurda, e só pode resultar de 113 anos em que os escribas do regime republicano, com camada sobre camada de ‘entulho’, reescreveram a História, formatando a opinião e orientando-a para o erro de percepção.


Os Reis de Portugal sempre tiveram uma visão voluntarista de Reinar, de dever perante o Povo; Reinar em prol do Bem Comum, até porque a Monarquia Portuguesa era uma verdadeira Monarquia Popular, em que a Coroa, o Poder Real, a Graça de Reinar era transmitida por intermédio da Comunidade, sendo a Aclamação Popular o passo jurídico que verdadeiramente fazia o novo Rei, um Rei Eleito pela Comunidade dos Portugueses reunida em Cortes e para reinar para o bem do Povo, para o bem da Comunidade, da Grei, da Res Publica. O Rei traduzia a vontade nacional, sentindo com o Seu Povo, fazendo seus os problemas deste e transmitindo as suas ânsias aos políticos. O Rei tinha de pôr em primeiríssimo lugar os interesses do próprio Povo e da Nação tendo por dever fundamental reinar ’em prol do comum e aproveitança da terra’.


Por essa razão, sempre que puder, DIVULGUE A MONARQUIA!


Miguel Villas-Boas

Fonte: Plataforma de Cidadania Monárquica

terça-feira, 9 de abril de 2024

«Na cabeça de Ventura» ou tratado sobre o aparelho repressivo do regime

Li de fio a pavio «Na cabeça de Ventura», livro de Vítor Matos, jornalista do Expresso com aparições na SIC, publicado poucas semanas antes das eleições legislativas de 10 de Março passado. Logo na capa o jornalista-autor avisa o leitor dos perigos do «discurso xenófobo», questão melhor elucidada na contracapa: André Ventura é um «fura-vidas» e «fundamentalista religioso (…) que descobriu que havia um mercado eleitoral populista e xenófobo à espera de alguém que viesse representá-lo em voz alta».

Este artigo também parte de um alerta aos leitores: Vítor Matos é um polícia mental que, por via da sua profissão de jornalista, trabalha para um regime repressivo promotor social de uma ignorância que causa dano à sanidade mental colectiva dos portugueses. Serei ainda mais transparente: não me refiro apenas ao que escreve, mas à pessoa do autor, Vítor Matos, de modo a colocá-lo no mesmíssimo plano em que coloca André Ventura no seu livro, porém sem a decência de o assumir.

Em Fevereiro de 2024, também publiquei um livro. Este o contrafogo destinado a ser o maior teste moral e intelectual ou, numa palavra, civilizacional a jornalistas e comentadores como Vítor Matos e demais casta dona do regime (académicos, políticos, artistas politizados, entre outros), missão que só não será cumprida se o regime conseguir silenciar o livro. Espoletado pelo pensamento de Jordan Peterson, fiz a transição do sujeito individual (Peterson) para o sujeito colectivo (a minha preparação académica) de modo a garantir a cada cidadão, em formato de leitura simples e objetiva, o acesso a doze regras fundamentais para que passe a proteger a sua inteligência e sanidade mental da avassaladora patologia sociomental esquerdista que, em Portugal, celebra meio século. Destaco a Regra 6: «Defenda-se da guerra psicológica da comunicação social contra si tratando-a como é, o tumor maligno da democracia.»

Vítor Matos finalmente coloca a céu aberto os métodos da casta letrada dona do regime cujo ponto de partida é a negação premeditada da construção social honesta de conhecimentos, atitude que define os inimigos da eterna busca da verdade. Como as academias ou os meios culturais e artísticos, o jornalismo deixou-se afundar na propagação massificada de infecções psíquicas, como escreveu Freud. Televisões, rádios, jornais, universidades ou agentes da cultura difundem pandemias mentais equipáveis à do Covid-19 com a particularidade de a imunidade de grupo ser alcançada quando todos atingirmos o estado de insanidade mental. É tempo de cada cidadão consciente reagir em favor da reprodução social cada vez mais intensa de anticorpos de lucidez.

1Auto-de-fé, fuzilamento ou linchamento: o processo de condenação de Ventura

Destaco três pressupostos da construção social de conhecimentos que servem de guia de leitura do livro de Vítor Matos e demais atitudes e comportamentos da mesma tipologia.

Um primeiro pressuposto: o dever de sustentar o conhecimento em evidências empíricas. Nada existe na cabeça do jornalista-autor que evidencie rigor mínimo na recolha, elaboração e tratamento de dados empíricos que validem o que escreve. Sempre que Vítor Matos cita uma frase de André Ventura em sua própria defesa, o jornalista-autor transforma-a em mero expediente para encaminhar a mente do leitor para a sua conclusão dogmática determinada à partida: desmentir André Ventura.

Tal génese de construção social de conhecimentos nunca poderá contribuir para exercícios analíticos ou diálogos de senso comum orientados pela compreensão, como determina a honestidade intelectual. Pelo contrário, o livro de Vítor Matos demonstra como se aprisiona mentalmente as sociedades no nível rasteiro dos julgamentos apriorísticos considerando que o autonomeado juiz (Vítor Matos) ensina a quem o lê a condenar o réu (André Ventura) sem direito a defesa ou advogado de defesa. O que resulta do livro é a promoção social de hábitos patologicamente selectivos na relação com o meio envolvente: o mau de André Ventura é para ser sempre mau e o bom de André Ventura também é para ser sempre mau.

Acrescentem-se dois detalhes: um, a instigação social da pulsão inquisitorial de julgar o réu por antecipação anunciando ou insinuando supostas provas futuras de um crime que ninguém sabe se irá ocorrer, e basta viver habitualmente fora da bolha mediática para saber que não existem quaisquer consequências tenebrosas resultantes do impacto da figura pública André Ventura; o outro detalhe, o jornalista-autor promove um hábito social de tradição inquisitorial ou totalitária de transformar o inevitável lado subjectivo da condição humana em evidências objectivas de sentido único que sirvam um fim último obsessivo: a condenação daqueles que nos rodeiam  dos quais não gostamos ou discordamos. A barbárie mental e social em roda-livre.

Para evitar a socialização deste tipo ameaçador de patologia mental, Freud explicou que o instinto primário da espécie (id) – que animou os autos-de-fé dos tempos da inquisição, os fuzilamentos da era dos regimes totalitários ou os linchamentos populares ainda existentes, entre outras barbaridades colectivas – nunca deixa de estar latente no ser humano e está sempre à espreita da primeira oportunidade para regressar à superfície e causar danos sociais. Logo, não se pode dissociar esse risco do poder social que os Vítores Matos & Associados conquistaram na comunicação social, universidades ou meios intelectuais e artísticos.

O enviesamento mental persecutório anti-Ventura talvez tivesse um certo grau de legitimidade se Vítor Matos se apresentasse no seu livro como é, um político de esquerda em guerra ostensiva contra um inimigo político, André Ventura, o que seria uma atitude frontal e honesta na relação entre campos políticos opostos. Todavia, Vítor Matos esconde-se noutra máscara, na pele de jornalista ou investigador para se furtar às regras do jogo político, estratégia cobarde e fraudulenta para se furtar à crítica. Essa é a essência identitária da sua casta que a torna socialmente patológica: desviarem sempre e sempre as críticas de si mesmos e concentrá-las em alvos de linchamentos públicos que eles mesmos fabricam.

Tal tipo de investida é fruto da guerra psicológica permanente criada pela tradição soviética que, confundindo identidades, foi destruindo os pressupostos morais e intelectuais que tornavam a vida social, política ou cultural mentalmente saudável, fértil, regulada no mundo civilizado. O impacto dos Vítor Matos & Associados no pensamento social tem sido equivalente à invenção da guerrilha, também pelos soviéticos, que retirou a guerra dos quartéis e campos de batalha para que a violência se disseminasse a cada esquina de modo a permitir à esquerda gritar Viva a justiça! quando um civil dos seus dispara sobre um militar (paralelo ao que fazem a André Ventura) e berrar Violência! quando um militar é forçado ao oposto para sobreviver (assim sequestraram e amordaçaram tudo e todos até ao desgosto de verem surgir no mundo ocidental Andrés Venturas).

Os Vítores Matos & Associados são o retrato das doenças sociomentais legadas ao mundo pela gloriosa URSS. Daí eu convocar outra das doze regras do meu livro, a Regra 4: «Combata sem contemplações a nova vaga de violação mental de seres humanos». A condição humana tem a obrigação de fazer bem mais pela sua protecção contra pulsões genocidas: jamais tolerar mentes totalitárias que atribuem a si mesmas a unção sagrada de decidirem aquilo que os outros são.

A patologia de Vítor Matos é tal que atribui à sua sagrada pessoa o direito de determinar autocraticamente o que é «A cabeça de Ventura», sem concessões a subjectividades ou nuances, sem tolerar que o outro ser humano (mas poderia ser um grupo, como o Chega) se possa autodefinir. Diga o que disser André Ventura sobre si mesmo, isso não conta para os Vítores Matos desta vida.

Esse é justamente o mesmo mapa mental dos comunistas genocidas soviéticos na construção social da imagem dos burgueses e dos camponeses abastados que assassinaram ou dos nazis para legitimarem o genocídio dos judeus. Espero que os portugueses finalmente percebam: proteger André Ventura de um livro destes, dos Vítores Matos & Associados, não é apenas proteger selectivamente um indivíduo, é muitíssimo mais. É o dever que cada um tem de assumir de proteger a sociedade inteira de pulsões genocidas na presente e nas gerações vindouras.

Um segundo pressuposto da construção social do conhecimento é o da neutralidade axiológica no sentido weberiano do termo. Na substância, significa modelar as sociedades para que não descartem a hipótese inversa à que cada um defende se aquela for plausível. Tudo o que Vítor Matos escreve sobre André Ventura é possível defender o contrário com a mesmíssima legitimidade e quem procede desse modo são pessoas que não podem ser descartadas na sua dignidade sem, no mínimo, antes serem aprofundadamente compreendidas e não condenadas à partida. Ao descartar essa hipótese, o jornalista-autor está a modelar o pensamento social para que descarte o mais básico do humanismo, da democracia ou da vida civilizada. Pior é impossível.

Um terceiro e último pressuposto da construção social do conhecimento (poderiam ser bem mais e mais detalhados dada a seriedade do caso) é o dever do rigor mínimo na orientação do discurso publicável num estudo ou investigação sobre uma figura pública, para mais contemporânea, o que obriga a um diálogo construtivo, equilibrado e mutuamente crítico entre o autor e o seu objecto de estudo. É sintomático que Vítor Matos escreva isto: «(…) um candidato [André Ventura] pode dizer coisas racistas ou xenófobas, mas depois, se garantir que não é racista nem xenófobo, não é racista nem xenófobo» (p.14). O clássico argumento reversível: um jornalista pode ser patologicamente totalitário [Vítor Matos], mas depois, se escrever um livro a acusar os outros de serem patologicamente totalitários, não é patologicamente totalitário.

O autor-jornalista gasta o resto do tempo a provar o erro grosseiro da asserção tolerante que envolve o líder do Chega, o que significa que só ele e os seus possuem o direito sagrado de determinarem para todo o sempre os significados de se ser racista ou xenófobo. Sendo dolorosamente ignorante em tais matérias, Vítor Matos usa a frase citada para incitar socialmente a lançar na fogueira pessoas ou instituições que tenham interpretações subjectivas ou distintas sobre os discursos e atitudes de André Ventura.

Na interacção entre o construtor do conhecimento (Vítor Matos) e o objecto humano de conhecimento (André Ventura) a honestidade intelectual impõe uma de duas lógicas. A da maiêutica socrática que significa que o autor conduz o discurso do interlocutor ao que quer, porém pressupondo uma genuína busca da verdade (não é o que move o jornalista-autor). Ou, em sentido contrário, a lógica freudiana bem mais genuína do discurso em associação livre, isto é, quem constrói o conhecimento respeita a lógica discursiva do interlocutor clarificando-a pontualmente através da atenção flutuante. Em qualquer dos casos, o critério da validade e honestidade do conhecimento é a compreensão, nunca o julgamento, a não ser que se pressuponha que se está a lidar com um criminoso para o qual existam provas materiais e não histericamente imaginadas.

Depois há a terceira via, a lógica patológica Vítor Matos & Associados: eu, autor, coloco na boca do interlocutor o que quero e no sentido que quero na minha escrita e, depois, vocês povo que apliquem a sentença. Se recuarmos meio século, esta última lógica de construção social do conhecimento formal, entretanto massificada, seria impensável. Nunca na história se publicou, como hoje, tão elevada percentagem de teses académicas e livros tão nocivos para a sanidade mental coletiva. Página atrás de página, o livro de Vítor Matos facilita a anatomia mental de um estrangulador que entra «Na cabeça de Ventura» para o decepar e ostentar a dita ensanguentada numa bandeja em cerimónia pública solene a que o jornalista-autor chama livro.

2Ventura força o aparelho repressivo a expor-se

Não estamos perante um livro de mero ódio visceral a um indivíduo, mas acima de tudo perante um tratado sobre a natureza do aparelho repressivo do regime. Caracteriza-se pelo policiamento mental dos cidadãos imposto por instituições estratégicas que os Vítores Matos & Associados pressupõem ser, ou passar a ser, propriedade exclusiva da esquerda: igrejacomunicação social e universidades. Da lista, o jornalista-autor só se esqueceu no seu livro dos meios culturais e artísticos porque aí não existe pluralismo, o pensamento único de esquerda manda e ponto!

Na ânsia de jogar André Ventura nas chamas de um auto-de-fé, Vítor Matos cometeu o erro de palmatória de deixar, a céu aberto em forma de livro para a eternidade, o mapeamento incisivo das instituições estratégicas criadas para tratar da regulação do pensamento das sociedades, mas que os Vítores Matos & Associados tomaram de assalto para as transformarem em instituições que lhes garantem o policiamento mental dos seres humanos a favor do pensamento único esquerdista. Acrescente-se o detalhe: havendo falhas nesse policiamento institucional, o jornalista-autor explica onde estão e como ultrapassá-las. Tudo tão desbragado num livro que é o rosto trágico do regime.

Este é, por isso, o momento de as sociedades compreenderem que vivem tempos de ditadura mental de esquerda, a nova tipologia repressiva solidamente implantada no interior das democracias. É por isso que às pessoas conscientes é exigível o seu envolvimento na luta civilizacional em defesa da dignidade da condição humana, da sanidade mental colectiva, liberdade e democracia com um propósito objectivo e cristalino: libertar do controlo repressivo imposto pela esquerda à igreja cristã, mas sobretudo à comunicação social, às universidades (que determinam o rumo do ensino básico e secundário, o que tem imposto o policiamento mental sem escrúpulos desde a mais tenra infância) e, ainda que não referidos no livro, aos meios culturais e artísticos. Nada mais simples e o mundo será muitíssimo melhor.

Igreja: castelo de Ventura e pior inimigo da polícia mental

A incontornável fé católica de André Ventura faz com que o ataque comece por aí. À medida que a leitura do livro avança, fica claro que está em causa o território institucional de conforto mental da espécie humana mais desesperante para os Vítores Matos desta vida. Extasiado pel’«A visão humanista do papa [Francisco]» (p.44), o que aterroriza o jornalista-autor é o silêncio da hierarquia católica portuguesa no suposto dever da condenação uníssona de André Ventura, por arrasto do seu então director espiritual, padre Mário Rui Pedras, ou do padre Hugo Santos tidos como rostos do «ultraconservadorismo» perigosíssimo.

Lamenta-se Vítor Matos: «Em Portugal, as reacções da Igreja oficial a André Ventura e ao crescimento do populismo de direita têm sido raras» (p.41), pelo que só consegue encontrar entre os católicos bondosas «excepções» condenatórias (p.45). O rol vai sendo citado: Tânia Alves, designer companheira dos tempos da fé inicial adolescente de André Ventura, mas cuja simpatia política é convenientemente omitida no livro para convencer o leitor a atribuir crédito a esta declaração: «Quando comecei a vê-lo aparecer nem quis acreditar que aquele miúdo dócil e meigo se tornara ‘nisto’: rude, frio e feio» (p.37); D. António Marto; D. José Ornelas; padre António Teixeira; jornalista religioso António Marujo; Pedro Vaz Patto.

O leitor é confrontado com a instigação grosseira de controlo político totalitário da igreja católica, para mais modelada pelo recurso ao método inquisitorial de isolar o réu pré-condenado no interior da comunidade cristã, só que a cobardia do jornalista-autor não lhe permite colocar o devido rótulo aos seus desígnios: a excomunhão de André Ventura! Para infortúnio dos bons católicos progressistas-esquerdistas citados no livro, o fogo-amigo de Vítor Matos colocou-os para a eternidade na lista pública dos que confundem a fé em Cristo com a fé esquerdista inquisitorial. Espero que isso lhes pese na vida terrena cada vez mais para, depois, poderem ser perdoados na vida celeste quando assumirem os danos que causaram e causam à igreja católica e à sanidade mental colectiva.

Escassos, selectivos e manipulados testemunhos bastam, no entanto, para o jornalista-autor encontrar suporte para instigar a perseguição religiosa e social a André Ventura fabricando um suposto retrato mental da sua adolescência de modo a sugerir a comparação entre um alegado ponto inicial da sua boa fé católica (quando Deus era Deus para Ventura) com o estado presente de má fé após o réu se transformar num adulto político (quando Deus passou ao Diabo da Direita «Na cabeça de Ventura»). O que move Vítor Matos é fabricar a ilusão social de um suposto desvio mental ao longo da vida do líder do Chega. O problema é que quem elabora uma maquinação dessas sobre um convicto crente suficientemente conhecido no meio católico faz-se a si mesmo um caso público ridículo de psiquiatria.

Na substância, o que o livro comprova é a instigação social de um desprezo visceral pela religião cristã, pois só isso explica a insistência de Vítor Matos em manter sempre latente no seu livro que a Igreja Católica Portuguesa compactua com o que o jornalista-autor toma por racismo e xenofobia. Tal atitude, correspondente a uma machada valente no dever de respeito pelo universalismo cristão por parte de um alegado admirador do Papa Francisco, tem como sintoma o fortíssimo incómodo de Vítor Matos & Associados com a imperdoável falta de reacção planetária uníssona dos católicos contra André Ventura.

Assassinos como Lenine, Estaline, Mao Tsé-Tung, Kim Il-sung, Samora Machel e outros tantos de igual cepa antirreligiosa cristã ficariam comovidos até às lágrimas com a tenacidade do distinto herdeiro, o jornalista português Vítor Matos, na missão social da submissão da fé cristã à luz divina suprema do marxismo-leninismo-maoísmo-esquerdismo. Mas nem tudo é mau. O leitor sai do livro feliz por ter a certeza de que, por força da Divina Providência, a Igreja Católica Portuguesa continua bem longe de se ter transformado numa manada de asnos submissa às hierarquias de turno comprometidas com as distopias dos Vítores Matos desta vida.

Comunicação social: o nirvana dos novos ditadores

Vítor Matos sente-se peixe na água quando a instituição onde busca promover a condenação social inapelável do réu, André Ventura, é a sua comunicação social. Aí, o jornalista-autor está no nirvana por poder recorrer, sem mãos a medir, a um batalhão arregimentado de jornalistas e especialistas-comentadores em defesa da sua bravata. Para facilitar a evidência, basta o leitor consultar as «Notas» no final do livro para se confrontar com o cuidado do jornalista-autor em identificar, por suposto rigor científico, um a um os autores que o apoiam, os suportes e datas das suas excelsas sentenças em prol do linchamento público de André Ventura (pp.185-188).

Tão volumosa condenação visa, na prática, intimidar uma sociedade inteira para não ousar transformar a postura do desalinhado líder do Chega em moda social, embora pareça demasiado tarde face aos resultados eleitorais de 10 de Março último. O que sobra, na verdade, é a mais grosseira pulsão persecutória que se passeia nas páginas do Expresso ou nos estúdios da SIC, entre outros órgãos de comunicação social.

A ironia do destino é que os desejos dos Vítores Matos & Associados chocam com a eterna teimosia paradoxal da realidade. O livro não deixará para a posteridade um rol de bons cidadãos conscientes e responsáveis que condenaram inapelavelmente André Ventura, mas tão-só uma lista miserável de membros distintos da actual polícia de controlo mental dos concidadãos que tomou de assalto televisões, rádios e jornais para perseguir e condenar os desalinhados. Nada de novo. Mao Tsé-Tung instituiu dos mais tenebrosos regimes genocidas sem polícia política formal, posto que as pessoas comuns encarregavam de se martirizar umas às outras.

Se a comunicação social está a afundar-se numa crise sem-fim não é por razões financeiras, mas apenas por se ter deixado transformar em ponto agregador do mesmo tipo de pulsão persecutória maoísta, porém numa sociedade que André Ventura ajudou como ninguém a despertar para a defesa da sua sanidade mental permitindo que descobrisse, por si mesma, onde estão, quem são e como actuam os inimigos dessa mesma sociedade.

Universidades: controleiras esquerdistas eficazes que cobram os serviços

O terceiro território institucional ao qual Vítor Matos recorre como garante do policiamento mental da espécie são os meios universitários, marca de excelência da sua casta que passa a vida a exigir estudos e mais estudos académicos que sabem vir ao gosto do freguês. Descontada a dificuldade em controlar o que dizem sobre André Ventura, líder do Chega, Jorge Castela (antigo parceiro académico escolhido a dedo por ter rompido com aquele, mas da pérfida direita) ou o investigador Riccardo Marchi (exemplo raríssimo de lucidez na academia), o jornalista-autor tudo faz para omitir a douta ignorância que graça nas universidades e demais instituições do ensino superior para puxar o brilho da sua suposta sapiência politizada.

Página a página, para seduzir as massas para a sua verdade com lustro científico o livro vai arrolando iluminados estudiosos académicos anti-Ventura (anoto a ausência do excelso Professor Doutor Boaventura de Sousa Santos porque, em Fevereiro de 2024 aquando da publicação do livro, já andava a braços por certas indecências académicas): Gonçalo Almeida Ribeiro, a catedrática Teresa Pizarro Beleza, o jurista catedrático Jorge Bacelar Gouveia, o historiador catedrático António Manuel Hespanha, a investigadora universitária Cristina Nogueira da Silva ou a jurista e constitucionalista Teresa Violante para quem, note-se, o líder do Chega prejudica a sua própria credibilidade académica e política por causa das ideias que defende (p.93).

Destacam-se ainda os testemunhos dos colegas da Universidade de Cork que conheceram André Ventura quando realizou o doutoramento, na Irlanda: Conor O’Mahony; Pablo Cortés, galego que «confessou o seu espanto» com a transformação do doutorando naquele político (p.92); ou Onder Bakircioglu, sumidade que muito e muito estudou para atingir a excelsa ciência: «Ele [André Ventura] costumava ser uma pessoa normal e progressista; parece que já não é o tipo que conhecemos. Deus perdoe por se ter tornado num idiota fascista» (pp.92-93).

A graça do livro de Vítor Matos repete-se neste caso: em vez de instigar o pior do instinto popular, em quem o saiba ler dissipará antes as dúvidas sobre um mundo académico que trocou a liberdade intelectual e o amor à eterna busca genuína da verdade pelo dever supremo de policiar os cidadãos em nome do pensamento único de esquerda.

A tal universo mental barricado nas universidades dá muito jeito convencer as pessoas comuns do alegado suporte científico do desvio da cabeça de André Ventura para reforçarem os ataques à sanidade mental da nossa espécie e, no intervalo, agravarem o vício predatório do esquerdismo: sugarem a quem trabalha avultados montantes de impostos e demais subsídios em nome das suas distopias de cátedra. A esses, é tempo de clarificar que o seu dever em defesa da nobreza e validade do conhecimento científico, académico ou técnico jamais será compatível com a mistura da razão (universidade) com a política (partidos e ideologias), prática tornada bem pior do que misturar a razão (universidades) com a  (religião cristã) que, muito justamente, as sociedades ocidentais não toleram nas universidades desde o século XVIII.

Em tudo isto, a perseguição social a André Ventura academicamente instigada acabará por servir para que as sociedades exijam que se coloquem os pontos nos is no desnorte dos meios universitários imposto pelo assalto esquerdista.

A terminar, bem mais poderia ser escrito, mas o artigo já vai muito longo. Uma sociedade que tolera as patologias dos Vítores Matos & Associados não se importa de se olhar ao espelho para se ver a si mesma como um caso colectivo de psiquiatria. Espero, por isso, transformações civilizacionais substantivas de agora em diante.

[Adenda pessoal

Ao avançar na leitura do livro descobri ser parte interessada, uma vez que Vítor Matos também aplica a sua receita persecutória à minha pessoa (pp.145 e seguintes). Deixo dois exemplos para não ser exaustivo.

Começo por um detalhe ao qual estou e sou associado. Como tantos, o jornalista-activista-progressista-esquerdista nunca compreendeu haver, no programa partidário do Chega, um Programa Político que desde que foi elaborado (Julho de 2021) nunca foi alterado e dificilmente será (explicita aquilo que somos, a identidade do Chega). Depois existem programas eleitorais sucessivos articulados com o anterior que são justamente para serem renovados a cada eleição (aquilo vamos fazer, a prática). Quem não quer compreender esta renovação substantiva que o Chega introduziu na ideia de programa partidário em Portugal são os que vivem interessados em pôr a circular no espaço público, por via da comunicação social, duas ideias: o Chega não tem coerência doutrinária e o Chega vive da instabilidade programática. Duas mentiras. Ponto.

Na parte substantiva, Vítor Matos usa-me como detrito humano para fazer André Ventura arder num auto-de-fé com muitas chamas. A fixação de Vítor Matos é despejar no seu livro umas frases soltas colhidas aqui e ali para fabricar e difundir socialmente conclusões abjectas como esta: «[Gabriel Mithá Ribeiro] foi integrado na cúpula do partido exactamente para dar uma cobertura de verniz doutrinário» às posições do Chega, em particular sobre o racismo (p.154). O jornalista-autor deveria saber que, além da tese de doutoramento, publiquei nove livros em matérias directamente relacionadas com o pensamento social sobre política – o que inclui África, questão racial ou violência social –, conjunto de questões cuja dignidade do seu tratamento está protegida no Chega como em nenhum outro partido político e, para desgosto do sujeito, com a cobertura inequívoca de André Ventura.

Como bom esquerdista, Vítor Matos limita-se a joguinhos de palavras que mal compreende para instigar a propagação social da mentira, ignorância e insanidade em matéria racial. Acusa-me de me ter queixado de «discriminação racial» a propósito de não ter sido eleito vice-presidente da Assembleia da República, em 2022. Além de mil páginas que escrevi e vídeos que fiz sobre o fenómeno racial que não permitem quaisquer interpretações dúbias sobre o que penso do assunto, basta o leitor comparar o início e o fim do segundo parágrafo da página 155 para se compreender como o dito coloca numa mesma ideia teses inconciliáveis confundindo-as como se fossem o mesmo, fraude intelectual de que se serve para esconder o que foi objectivamente transmitido na entrevista que dei no Parlamento a seguir à recusa da minha eleição. Nesse parágrafo, o jornalista-autor começa por sublinhar a «discriminação racial» que insinua que me queixei para concluir, linhas abaixo, citando uma das passagens da minha entrevista: «não acredito que devia ser eleito por ser negro».

Se não fosse um violador patológico da busca da verdade e do respeito pela dignidade alheia, Vítor Matos poderia e deveria ter escrito que, pelas mais variadas explicações que o entrevistado deu no Parlamento, esteve sempre presente a sua crítica à hipocrisia racial da esquerda que protege os seus negros (os bonzinhos obedientes à esquerda das quotas) e trata os demais como pretos (os que não lhe obedecem e são interditados dos espaços institucionais de que a esquerda é dona, como a então Assembleia da República). Mas isso o jornalista-autor omite, assim como esconde que, por alguma razão, naquela ocasião recusei liminarmente utilizar a palavra vítima ou racismo na caracterização da situação que me envolvia e expliquei detalhadamente as razões, só que isso foi cirurgicamente banido pelos jornalistas de todos os órgãos de comunicação social presentes para comporem a narrativa anti-Chega que melhor serve a promoção da insanidade mental colectiva e, neste caso, a humilhação de membros da minorias insubmissos como negros que criticam negros, ciganos que criticam ciganos ou, não sendo uma minoria, mulheres que criticam feministas paranoicas, entre outros.

Para os Vítores Matos & Associados desta vida, a sua supremacia racial impõe que só os brancos possam criticar os brancos. O racismo acabou enquanto fenómeno social, é apenas história, mas se sobra alguma coisa abjecta ou perversa está inteirinha do lado patológico da esquerda. Basta ler o livro de Vítor Matos e, já agora, o livro que publiquei no mesmo mês (Fevereiro de 2024).

Na vida e formação académica aprendi o dogma de transmitir não apenas aquilo que a fonte (interlocutor, entrevistado, fonte histórica ou outra) disse, mas também cumprir o dever de transmitir aquilo que a fonte quis dizer. A escola do jornalismo dos Vítores Matos & Associados normalizou o activismo contrário, prática que não merece a condescendência de nenhuma sociedade com respeito por si mesma.

Para terminar esta adenda, registo a cobardia do jornalista-autor que, interessado em cortar a minha cabeça, por arrasto ao corte da cabeça de André Ventura, para também exibi-la como troféu público em forma de livro e no acesso privilegiado que tem a jornais e televisões, não revelou escrúpulos mínimos em não me ter entrevistado sobre matérias que me dizem directamente respeito. Felizmente o polícia mental Vítor Matos deixou gravado o seu nome numa formidável porcaria a que chama livro.]

Gabriel Mithá Ribeiro, professor, investigador e ensaísta, doutorado em Estudos Africanos. Deputado do Chega.

Fonte: Observador