“O povo espantava-se de se achar tão grande, tão livre, tão rico em direito teórico; porque na realidade, as coisas estavam pouco mais ou menos na mesma.”
“Sem entrarmos em maiores detalhes, é o próprio Alexandre Herculano quem instrui o processo da gente de 20. “ Mandaram a D João II e a D João III, nos seus túmulos o código do absolutismo e a bula da Inquisição, - escreve ele nos Opúsculos. Queimaram profusamente a cera e o azeite em iluminações brilhantes, vestindo-se de riche nacional, horrorosamente grosseiro e bastante caro.
Foi um tiroteio de banquetes, procissões, foguetes, discursos, arcos de triunfo, revistas, Te Deum, eleições, artigos de jornais e salvas de artilharia”. É Herculano, minudenciando com uma leveza que nem parece sua , prossegue em traços felizes de caricatura:- “ Todos os dias havia novas festas e babava-se por elas. Era um saleiro de hinos, sonetos, canções, dramas, cortes de fatos e formas de sapatos liberais…”
“ Multiplicam-se as lojas maçónicas: os tolos iam lá gastar dinheiro em honra do “supremo arquitecto do Universo”, e outros a comer-lho em honra do mesmo arquitecto. Reuniram-se as Cortes. Fez-se uma constituição republicana, mas inteiramente inadequada ao país .
Repetiram-se , palavra por palavra, traduzidos em português, os discursos mais celebres do choix des rapports , ou das páginas mais excêntricas de Rousseau e de Bentham.
O povo espantava-se de se achar tão grande, tão livre, tão rico em direito teórico; porque na realidade, as coisas estavam pouco mais ou menos na mesma.”
O texto, de António Sardinha na sua obra Ao Ritmo da Ampulheta, retrata bem o intemporal logro da revolução.
A partidocracia prepara-se agora, para celebrar os cinquenta anos da sua revolução, a quarta que a Pátria Portuguesa sofre neste turbilhão que a vai destruindo.
Gabava-se um comentador, há dias, dos enormes ganhos que esta última revolução nos trouxe:- da evolução técnica da saúde, (como se tal fosse uma conquista revolucionária), das pensões , da massificação do ensino, até dos milhares de quilómetros de autoestradas que vem sendo construídos. Falou extasiado da escravidão da Pátria às “novas uniões”.
Esqueceu, contudo, que não vivemos em democracia. A democracia obriga ao sorteio e os governos de poder ilimitado a que estamos sujeitos, não dependem de sorteios, nem de uma “soberania popular”, pois tal, na verdade, não existe.
Existe sim a vontade indiscutível e sem recurso a sufrágios, de partidos que nomeiam deputados, presidentes de câmara e juízes, para a pura e estrita satisfação dos seus interesses mais intimos.
Até porque, sendo a Soberania uma supremacia que se exerce constantemente, ela jamais esteve, ou estará, nas mãos do povo.
Esqueceu também, que as liberdades comunitárias, aquelas que foram o braseiro onde se forjou a nossa Pátria, foram totalmente destroçadas pela revolução em 1835, momento em que partidocracia Constitucional entregou o poder das Freguesias e Municípios a um governo de poder centralizado e ilimitado.
Esqueceu que todos os nossos “problemas estruturais” se devem aos sucessivos processos revolucionários e para os quais a revolução, não quer encontrar solução.
Esqueceu de nos explicar, porque passados duzentos anos de amputações revolucionárias, de democracias uni e pluripartidárias, a fome continua a existir, a sua tão prometida igualdade continua a ser uma miragem e a solidariedade um paradoxo, nestas sociedades decapitadas do seu Bem Comum e entregues ao mais torpe e destrutivo egoísmo.
A Revolução, depois de nos prostrar, no deplorável estado comatoso em que nos encontramos, encaminha-nos agora para a morte.
E nunca é demais recordar Alexandre Herculano, pois as coisas estão mais ou menos na mesma: Há uma polícia de pensamento, que persegue e cala, quem ousar pôr em causa as suas teorias pseudo -científicas, quem se atrever a combater um regime que dê democrata só lhe resta o nome; a iliteracia escorre pelas vielas do conhecimento da “geração com mais estudos de sempre”; a ignorância e um cretinismo massificado tingem visivelmente a sociedade.
Mas as Pátrias precisam do vigor refrescante de um Bem Comum.
E se por Vontade de Deus somos uma Pátria, então por amor a Deus e à Pátria ergamos a Cruz como guia e desfraldemos as bandeiras da Tradição!
Somos, portanto, profundamente reacionários, porque nos opomos à monstruosidade destrutiva de qualquer revolução.
Por isso, neste vinte cinco de Abril celebremos pois, não a negra desgraça da revolução de 74, mas a aclamação de SMF D Miguel I, o último Rei da Tradição Católica de Portugal.
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