sábado, 31 de março de 2012

Em Belém vivem pavões…

O presidente ainda mal iniciou o 2.º mandato e já se fala, à desgarrada, de quem serão os próximos candidatos a substituí-lo. Inconsistência sistémica…é o que é!
Questionamo-nos: Que motivo levaria o cidadão comum (como eu) a querer chegar ao topo da hierarquia, à Presidência? Trabalhar para outros/Serviço público?! Isso, qualquer um pode fazer sem ambicionar chegar a esse posto, existem muitas formas de trabalhar para os outros. Mandar?! Essa é uma função estrita do Governo. O que será então…? Nunca se questionaram sobre isso…? Sei que nos jardins de Belém vivem pavões…


O cidadão incomum, pois ele é objectivamente assim, o Rei, é o moderador universal, aquele que nasce para se sujeitar a um regime preparativo para, assim, durante toda a vida, representar os seus concidadãos. Não há mais incomum e maior fardo! Ele é o símbolo vivo do País. Não nasce para ser qualquer coisa…é eleito pela História para representar o seu País. Ele é a própria coisa pública…a res pública personificada.

 

CARTEIRA DE SENHORA

A carteira hoje pôs-me satisfeita. Enfiei a mão, sorrateira, ela baralhou e saiu um estado de alma. Ainda por cima aquele que mais faz parte do nosso quotidiano: a insatisfação.
Num genuíno dicionário de português, a palavra satisfação apenas devia aparecer como mero antónimo de insatisfação. Não tem por cá definição própria. Ao latim apenas fomos buscar a raiz da palavra para depressa lhe antepormos o prefixo que a nega.
Quem é que está satisfeito em Portugal? Rigorosamente ninguém. O maior optimista português também reclama contra a fila na repartição…
A insatisfação é intrínseca à portugalidade, está inscrita no nosso ADN. Vê-se mesmo que os únicos satisfeitos que por aí andam não têm este gene. Foram importados por engano. Alguém se esqueceu de verificar se estava preenchido o campo 459 da declaração alfandegária, que exige a insatisfação como permanente estado de alma.
Começa logo de manhã. “Como está, passou bem?” Nunca passou. Nunca. Normalmente vai passando.
Segue-se o tempo. Por mais que se esforce, não há forma de o clima conseguir satisfazer um português. Jamais está a contento.
Depois a vida - ai a vida! – que é sempre madrasta. Da sogra aos filhos, da escola ao trabalho, do hospital às férias, a insatisfação é um parasita constante, sem remédio nem cura. Nunca nada é perfeito. O verdadeiro português nem o que está perto da perfeição aprecia. Se não é perfeito, não satisfaz. Não se contenta com pouco, quer toda a perfeição a que tem direito.
Ao fim do dia, a política. Não conseguem apontar uma única medida que os satisfaça, ou, se conseguem, calam-na para que só as insatisfatórias brilhem no espaço sideral. Esta qualidade do insatisfatório aplica-se especialmente aos intervenientes. Aqui podemos fazer uma ressalva, pois é o único caso em que a insatisfação total se adequa à realidade. Valha-nos uma insatisfação justificada! Desculpa todas as infundadas.
Há 2 espécies de insatisfeitos. Completamente diferentes uma da outra, embora às vezes se encontrem à esquina.
A primeira são os insatisfeitos que gritam e esbracejam em público mas na frente do funcionário são cordeirinhos mansos. Reclamam, queixam-se, murmuram continuamente palavras de ódio entre dentes rangentes, mas afinal baixam os braços, aceitando resignados, e como cruz, a raiz, caule, flor e frutos da insatisfação.
A segunda espécie - nem vão acreditar - deu origem aos Descobrimentos. Afinal sempre pode ser uma virtude, a insatisfação… Estes insatisfeitos são os que não gostam desse estado de alma e, por isso, lutam em busca da resolução do busílis da questão. Sofrem de inquietude aguda e não ficam satisfeitos enquanto não se livram do que lhes rói a alma. São os que não desistem, actuam, escrevem no livro amarelo, emigram, lutam, vão àquela manifestação por aquilo em que acreditam mesmo que sejam só vinte.
Afinal, não fora os insatisfeitos não haveria Portugal, ou não fossem D. Afonso Henriques, D. João I, o Infante D. Henrique, os conjurados, D. João IV, uns perfeitos insatisfeitos…
Na essência, somos produto das duas espécies, dependendo das circunstâncias, e neste momento Portugal precisa urgentemente da segunda. A brava.
Leonor Martins de Carvalho
 

sexta-feira, 30 de março de 2012

Paixão de Cristo recriada na Chamusca


Uma centena de actores vai sair à rua no próximo dia 31 de Março, às 21h30, e fazer da Vila da Chamusca um autêntico quadro vivo que recriará as últimas horas da vida de Jesus Cristo, numa produção da Companhia de Teatro do Ribatejo.

Este espectáculo é inspirado no filme de Mel Gibson e encenado por João Coutinho. Vão ser recriadas as cenas mais marcantes do calvário e morte de Cristo. O espectáculo tem inicio num amplo espaço do largo da Biblioteca Municipal e frontaria da Igreja Matriz, onde serão apresentadas as cenas iniciais, percorrendo posteriormente diversos espaços até terminar no Largo da Srª do Pranto, um miradouro fantástico numa colina da Chamusca donde se avista toda a Lezíria ribatejana.

Será neste espaço único de beleza que decorrerá a crucificação e todas as cenas envolventes, sob a iluminação de velas e archotes que dará ao espaço um ambiente transfigurado de mistério e sofrimento.

No percurso do espectáculo o espectador vai poder encontrar, a cada momento, apontamentos teatrais e canções que fazem assim do percurso um momento importante da história. O grupo entendeu ainda incluir algumas canções portuguesas que se adaptam aos temas da tristeza e saudade, ambiente pretendido para o espectáculo.

Fonte: O Ribatejo

Feira Medieval em Vila Viçosa




quinta-feira, 29 de março de 2012

SAR, O Senhor Dom Duarte de Bragança visitou Instituto Maria da Paz

SAR D. Duarte, duque de Bragança, visitou esta quarta-feira o Instituto Maria da Paz Varzim, numa visita “familiar” para conhecer a instituição.
Numa das primeiras iniciativas do padrinho chef Hélio Loureiro, o Duque de Bragança visitou o Instituto. D. Duarte começou por elogiar a “casa”, dizendo que é “muito bonita”, sublinhando depois o modelo de intervenção na sociedade: “ é um excelente modelo trabalho o que está aqui a ser feito e devia ser copiado noutras regiões. Esta é uma obra feita com muito amor e por isso tem estes resultados É feita com muito amor e por isso tem estes resultados”.
Quanto à Póvoa, D. Duarte lembrou que esta cidade é também “um exemplo de inter-ajuda porque sempre teve instituições deste carácter. É uma terra que sempre admirei pela sua cultura, desde a piscatória à de solidariedade”.
Odete Costa revelou que receber esta figura pública é mais um motivo de orgulho para a instituição e confessou que já ansiavam por esta visita há algum tempo. No mesmo sentido, lembrou que o Duque veio à Póvoa “como visita, para nos conhecer de perto, porque já ouviu falar da causa e quis conhecer minimamente quem somos. É uma pessoa que sempre lutou por causas sociais e que sempre nos incentivou a defender os valores da família, e vai encontrar aqui uma instituição que procura dar a crianças com uma retaguarda mais frágil, uma segunda família, se não muitas vezes a primeira”.

Fonte: Póvoa Semanário

quarta-feira, 28 de março de 2012

A Grécia limpa está no exílio

É evidente que a vergonha grega tem, colados, os nomes da oligarquia cleptocrática dos Papandreus e dos Karamanlis. Nociva como um tumor venenoso que tomou conta do Estado, se apropriou da vida política do país e corrompeu a extremos o ethos da nação helénica, a dita caricatura de democracia parece estar a pagar o preço que a mentira paga à honestidade. Que eu saiba, em toda a tragédia grega, há um nome que não se pronuncia: o de Constantino, Rei dos Gregos, que sonhou com a liberdade para o seu povo e foi forçado pelos coronéis a sair do país com a roupa que tinha no corpo. Constantino seria, talvez, a única força limpa com capacidade para reintegrar a Grécia na Europa. Infelizmente, os oligarcas não o querem. A Europa dos agiotas também não.
 
Miguel Castelo-Branco
 
Fonte: Combustões

Um desperdício de latim

O bom do português quando usa uma palavra estrangeira sente-se moderno, cosmopolita e dono duma grande ciência. Para já, com o acordo com a troika, o secreto orgulho vivido pelos políticos que tão galhardamente defendiam as golden shares tem os dias contados. Certamente o conveniente preceito teria passado ao lado se lhe tivéssemos chamado simplesmente “participação decisiva” ou coisa parecida. É a mania das grandezas: Golden Share tem outro sainete, mas acabou-se. É tal e qual um test drive, que afinal se trata de uma inigualável experiência de condução exclusiva de quem se prepara para enterrar uma pipa de massa num automóvel.

A grande invasão dos anglicismos começou de mansinho no tempo dos meus pais com os filmes de cowboys e com o after shave, até chegar dominadora e despótica aos dias de hoje com o outlet, o underground e o casamento gay. Subitamente toda a gente se refere a downloads, feedback e barbecue, e gaba-se de ter um account que lhe cobra as taxas na conta bancária. E se lhe dermos conversa ouviremos termos como pricing e banking. Para mim, este delírio começou quando eu era pequeno com a baby sitter, o mais das vezes uma parente mais velha que nos fechava às escuras no quarto às dez da noite. Daí até ao check in, check out ou cheesburguer foi um saltinho. Tudo por culpa do marketing que no tempo do meu avô era simples propaganda, uma palavra tão bonita que já ninguém quer usar. E vieram os personal trainer, os deadlines e os franchisings. Claro que entretanto subiram as taxas de divórcios e o consumo de donuts, para desgraça das bolas de Berlim. De caminho, o pessoal obteve um upgrade nas fórmulas de percepção com o conceituado feeling que veio substituir o nosso tradicional dedo que adivinha: hoje qualquer tuga que se preze pode decidir baseado num bom feeling.

Nos últimos tempos, depois do car jacking, são o rating e o downgrade que trazem um toque extra de requinte ao linguajar indígena, tal como acontecera nos anos noventa com os interfaces, os shoppings e o jogging, um singular desporto que consiste em correr a arfar pelas ruas ou caminhos. Agora não sabemos viver sem a internet, os mass media, os overbookings e os pace makers. Hoje em dia até os pescadores são vítimas de phishing, e para nos livrarmos duma newsletter no email é uma carga de trabalhos; uma miúda gira é uma top model e é provável que até use um piercing.

É o mundo virado ao contrário, um triste destino de colonizados para o qual não há rating que nos safe do default. Enquanto isto se passa discutem-se as consoantes mudas e o imperialismo brasileiro como se não houvesse amanhã.

João Távora

Fonte: I

Rui Ramos - O Accordo Ortographico



Fonte: Estado Sentido

terça-feira, 27 de março de 2012

Primeiras-damas

A República é um regime no qual os Partidos Políticos convidam ou sugerem candidaturas à Presidência da República, de um candidato que terá que concorrer em campanha eleitoral com outros de outras origens partidárias e muito raramente provenientes da sociedade civil.

Os eleitores – os que votam – escolhem o seu candidato favorito. Ao fim da tarde, inicio da noite, são divulgados os resultados e toda a Nação fica a saber que o candidato “tal” foi eleito Presidente da República.

Estamos a falar, muito bem, do Candidato! Não estamos a falar da esposa do candidato nem da família do candidato. Até aqui estamos de acordo.

Chega ao fim de 2 ou 3 meses a Tomada de Posse do novo Presidente da República. Sim, leu bem – tomada de posse do novo Presidente da República. Isto significa que, só ele toma posse, não a esposa, nem a família.

Um facto que os republicanos põem sempre no debate é que a república ao contrário de uma monarquia, tem como diferença substancial, o facto de não se “sustentar uma Família” – é um dos argumentos muitas vezes levantados.

Também no debate Monarquia vs República, os republicanos falam do cargo de Presidente da República como “o mais alto cargo público” – leia-se o primeiro funcionário público!

Funcionário Público, Chefe de Estado eleito por uma parte do eleitorado, e portanto tem que exercer um mandato de 5 anos, passível de renovação para mais 5 anos e só se pode recandidatar, quando o cargo já tiver sido ocupado por outro.

Ora assim sendo, os Cidadãos elegem um individuo para Chefe de Estado. Ele, só ele, não se fala da esposa, nem da família. Tratando-se do “primeiro servidor do Estado”, presumo que tenha um horário a cumprir, mensalmente recebe um salário, tem assessores, tem motoristas, e naturalmente no final do dia, salvo raras excepções, recolhe para o seu apartamento – leia-se residência civil. Tal como qualquer trabalhador, cumpre o seu horário de trabalho e regressa a casa.

Eu posso aceitar que vivendo em república, a esposa do candidato vencedor vá o felicitar.

Mas enquanto contribuinte do Estado republicano – quer queira ou não, é um facto, até ver, claro – não posso admitir que, sendo um facto indesmentível que não existe nenhum estatuto Constitucional dado à esposa do Presidente da República, e por muito respeito que tenha pela actual e pelas anteriores – ninguém ponha tal em causa – a verdade é que, por muito que tenham tido algum papel interessante de complementaridade à Presidência, não podem auferir de um salário, nem pensão de reforma, dado que não existe um Estatuto Constitucional consagrado para “Primeiras-damas”.

Quem tem que ir para a Residência Oficial do Presidente da República é aquele que tomou posse na Assembleia da República e tem um mandato a cumprir. Não é a esposa, nem a família. Por muito respeitáveis pessoas que são, estou seguro disso.

Mas existe, contudo, a tendência republicana, de procurar ir imitar as Monarquias e isto é tão verdade como o facto de o Presidente da República em visitas pelo País e em viagens ao estrangeiro ser acompanhado da sua esposa.

Recordo-me perfeitamente que no dia da primeira tomada de posse do actual Presidente da República, quem entrou no Palácio de Belém não foi só o actual Chefe de Estado, mas foi a Esposa e a Família “Presidencial”(?)

Já para não considerar um abuso total, o uso das antigas Residências da Monarquia Portuguesa, como Sede de Poder e Orgãos de Soberania da República Portuguesa. Afinal a Monarquia até fez algumas coisas de jeito….

Em termos Monárquicos, o que se sobrepõe a isto, é o simples facto de que não há Famílias artificiais. Há uma Instituição que vem da História, que é a Instituição Real corporizada na Família Real, representada pelo Rei ou pela Rainha, e na qual todos têm um papel activo a desempenhar ao serviço da Nação. Tal é um facto nas Monarquias Europeias.

E a Família Real não tem ordenados. A Função de reinar, servir, está mais para além de um Emprego, de uma Função periódica. O Estado garante à Família Real uma Dotação Orçamental para Despesas de Estado, unica e exclusivamente, pois são essas despesas que se enquadram nas funções constitucionais e tudo o que seja à parte, despesas de família, é esta que tem que tratar das suas próprias despesas e não os contribuintes. Por outro lado, obviamente, a Família Real paga os seus impostos, porque em termos privados, faz investimentos no seu próprio país, como é evidente! E quem ganha com tudo isto é o País.

Em conclusão, se existe no meio republicano a ideia de que a Monarquia “é má” porque os cidadãos têm que sustentar uma família, que diriamos nós, contribuintes desta república, que temos que sustentar uma família que nem é eleita pela história e que só um membro é que, vivendo como vivemos em república, teria, de facto, de ser o único a auferir do seu ordenado pago pelos Contribuintes.

Repito que tenho o maior respeito pelas “Primeiras-damas”, esposas dos ex e actual Presidentes da República. Simplesmente, elas não foram eleitas, nem têm estatuto Constitucional. As funções de representação da Chefia do Estado não lhes pertencem, porque não foram eleitas, mas sobretudo por não terem estatuto garantido na Constituição da República Portuguesa.

Uma grande vantagem da Monarquia sobre a República, é que a Família Real organiza-se e todos os seus membros podem representar a Coroa em diversas tarefas. Há um natural desdobramento que a República não o poderia fazer mas faz, porque não há sequer um Vice-Presidente, e ainda bem, senão teriamos também uma “Vice-Primeira-dama” e para abusos já nos basta o que vemos diariamente!

David Garcia

Religião de estado

“Portugal é uma república…” vangloriava-se ufano um dos muitos ‘sacerdotes’ da religião laicista que ontem(19 de Março) pejavam o programa (cada vez mais indigente) do ‘prós e contras’. Fervorosos, tentaram reduzir uma nação com oito séculos de história à sua caricatura, à caricatura da constituição de um regime! E não houve ninguém que o denunciasse! Recordista de feriados, um por cada república, sem esquecer o 28 de Maio, o regime republicano, os seus valores, são actualmente celebrados pelo menos em três ocasiões, a saber: - 5 de Outubro, 1º de Maio e 25 de Abril. E ainda acham pouco! E não houve ninguém que o denunciasse!
Mais cordata, menos fundamentalista, a Igreja Católica colocou a questão nos seus devidos termos, ou seja, discuta-se o assunto e faça-se o que for melhor para resolver esta emergência nacional.

Notas positivas (entre dúzias de imbecilidades):
Apesar de tudo a defesa do dia da independência, natural reacção de quem a perdeu. Apesar de tudo a explicação de que existe alguma hierarquia nos feriados, ou seja, uns não existiriam se não tivessem existido os outros. Apesar de tudo uma alusão aos feriados que unem e àqueles que dividem os portugueses. Caso do 5 de Outubro que divide monárquicos e republicanos e caso do 25 de Abril que continua a dividir a ‘irmandade’ republicana.
Quanto às imbecilidades (com muita ignorância à mistura), por exemplo: - que a separação entre a religião e o estado é uma evidência civilizacional! Onde? Em Inglaterra?! Onde o chefe de estado é ao mesmo tempo (e por inerência) o chefe da igreja anglicana! Nos Estados Unidos?! Onde as testemunhas judiciais juram sobre a Bíblia antes de depor! Onde na própria nota de dólar se inscreve a crença em Deus!
Meu Deus… tanta propaganda enganosa! E não houve ninguém que o denunciasse!

Saudações monárquicas


JSM

Fonte: Interregno

COISAS DE FERIADOS

Corre por aí alguma confusão sobre os dois feriados civis nacionais mais importantes, o 10 de Junho(de 1580) e o 1º de Dezembro (de 1640).

Esta confusão ou discussão existe, fundamentalmente, por causa de saber qual deles deve representar o dia da Independência de Portugal.
Como se sabe, apesar de Portugal ser dos países mais antigos do mundo, de constituir o Estado-Nação mais perfeito da Humanidade (o Japão é um arquipélago e só ficou unido, em 1603), e de ter as fronteiras estáveis mais antigas (Tratado de Alcanizes, de 1297 – perturbado por causa da ocupação ilegal de Olivença, por parte de Espanha), nunca foi estabelecido uma data em que se comemorasse, especificamente, a sua Independência.

Possivelmente porque tal nunca foi preciso dada a fortaleza da nossa individualidade e identidade.

Também não era fácil estabelecer essa efeméride.

De facto se quisermos destacar o acto autonómico primordial, teremos que nos reportar ao dia 24 de Junho de 1128, data do combate de S. Mamede em que o Infante Afonso se rebelou, contra os barões galegos e a suserania leonesa.

Pode, pois, considerar-se essa data como “de facto”, mas não “de jure”. Esse reconhecimento demorou 51 anos a ser conseguido.

Começou com a elevação de Afonso Henriques a Rei, alçado a essa dignidade pelos seus guerreiros após a batalha de Ourique, em 25 de Julho de 1139; mas o 1º documento existente em que Afonso I se assina como Rei, é de 1140.

De seguida devemos considerar o dia 5 de Outubro de 1143, em que foi assinado o Tratado de Zamora, no qual O Rei de Leão, Afonso VII, reconheceu a independência do Condado Portucalense.

Este tratado era, porém, um tratado regional, faltava o reconhecimento internacional e esse só poderia ser concedido pelo Papa.

Tal reconhecimento obrigou a negociações morosas e complexas e só veio a acontecer através da Bula “Manifestis Probatum”, de 14 de Maio de 1179.

Esta Independência veio a ser interrompida, em 1580, com a ocupação militar de Lisboa pelo Duque D’Alba e o Marquês de Santa Cruz. Tal ocupação militar, teve o seu epílogo político nas Cortes de Tomar, de 16 de Abril de 1581, onde Filipe foi aclamado rei de Portugal (sem embargo dos Açores só terem sido subjugados, em 1583).

É preciso dizer que, teoricamente, Portugal não perdia a sua individualidade, já que Filipe apenas cingia a coroa portuguesa à espanhola (a coroa dual), segundo os ditames sucessórios da época, ao passo que o consignado nas Cortes de Tomar estipulava a mais ampla autonomia e manutenção dos foros próprios dos portugueses. Só quase faltou a Filipe, ter mudado a capital para Lisboa…

Porém esta nova situação encerrava uma questão dramática e insolúvel e que era esta: Portugal, como tal, estava impossibilitado de ter política externa própria e herdou, automaticamente, todos os inimigos da Espanha. Daqui resultava o seguinte paradoxo: Filipe, como rei de Espanha, não podia estar em guerra, e como rei de Portugal gozar a paz…

Resultado: os portugueses passaram a ser atacados em todo o lado pelos inimigos da Espanha.

Com os sucessores de Filipe I, a nação portuguesa passou a ficar esmagada com impostos e requisições militares ao passo que se deixava de cumprir o estipulado em Tomar. A tirania atingiu o auge com o Conde – Duque Olivares e, aproveitando uma revolta na Catalunha, os três braços do reino (Clero, Nobreza e Povo), novamente unidos, revoltaram-se nessa luminosa manhã de 1 de Dezembro de 1640 e correram com os representantes de Madrid e com os traidores, voltando a colocar no trono português, um português.

A assumpção dos destinos portugueses por eles mesmos originou uma duríssima campanha política, diplomática e militar que durou 28 anos e se espalhou por quatro continentes e outros tantos mares e que envolveu não só a Espanha mas numerosas outras potências e potentados. No fim os portugueses saíram vitoriosos, apesar das imensas perdas em vidas e cabedais, e bem se pode considerar tal vitória um verdadeiro milagre!

A santa Sé só reconheceu a independência nacional dois anos após o tratado de paz que celebrámos com a Espanha…

Pois é esta gloriosa gesta – que não tem paralelo na História mundial – que um governo que se diz português, mas repleto de portugueses pequeninos – quer apagar da memória pátria, acabando com a dignidade do feriado concedido há muito (e sempre foi comemorado no país antes de o ser), ao dia primeiro da Restauração.

Este termo também se pode prestar a confusões, já que para uns quer dizer a restauração da independência e, para outros, refere-se à restauração de uma dinastia portuguesa. Aliás, a “Restauração” começou por ser chamada de “Aclamação” (de D. João IV). E cremos que é mais neste sentido que o termo é usado até porque nunca verdadeiramente perdemos a independência (pelo que atrás dissemos).

Independentemente destas semânticas, não há dúvidas de que o 1º de Dezembro é um grito de liberdade, de individualidade e de querer o retorno da soberania plena, que faz todo o sentido comemorar e, até, estabelecer como símbolo da nossa independência.

O 10 de Junho é diferente.

Nunca ninguém tinha ligado a morte de Camões à independência de Portugal, ou de algum modo a relacioná-lo com uma festa nacional, até que o Partido Republicano resolveu aproveitar o tricentenário da sua morte, em 1880, para retirar dividendos políticos.

Desse modo fizeram de Camões, o vate que tinha exaltado e cantado em verso as glórias do apogeu nacional, confrontando-as com a decadência da época – o que, obviamente, se devia ao regime ser monárquico…

Quando ocorreu a tragédia do 5 de Outubro de 1910 (de facto de uma tragédia se trata), o novo governo, por decreto de 12 do mesmo mês, estabeleceu os feriados nacionais, onde constava o 1º de Dezembro (já proposto, do anterior, pela Sociedade Histórica para a Independência Nacional – fundada em 1861) e, naturalmente, o 5 de Outubro, entre outros.

Mas não proclamou o 10 de Junho feriado nacional, ficando apenas como feriado municipal de Lisboa (na esperança que o mesmo destronasse o 13 /10, dia de Santo António…).

Foi verdadeiramente o Estado Novo que, a partir de 1933, tornou o 10 de Junho feriado nacional, promovendo comemorações em todo o País, chamando-lhe “Dia de Portugal e da Raça, ou dos portugueses”.

Desde 1963 e por via das últimas campanhas ultramarinas, passou-se a homenagear os combatentes e as Forças Armadas, nessa data.

Depois do 25 de Abril de 1974, o feriado do 10 de Junho só voltou a ser comemorado, em 1978, sendo rebaptizado como “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”. Porém, os novos poderes retiraram, inexplicavelmente, as FAs de todas as comemorações, o que só veio a ser emendado(!) no primeiro ano de Cavaco Silva como PR.

Uma humilhação funesta para com a FAs e todos os combatentes de todos os tempos, à qual a Instituição Militar não reagiu e a população – de cérebro lavado – nem deu conta…

Assim se passam as coisas no nosso País: ora quando somos Portugal, ora quando somos… portugalinho.

João José Brandão Ferreira
Ten. Cor. Piloto Aviador (ref.)

Fonte: O Adamastor

segunda-feira, 26 de março de 2012

«Não é aceitável na nossa escola». Uma campanha de bullying homossexual?


«Ela é lésbica e estamos bem com isso» – lê-se num cartaz profusamente difundido nas escolas oficiais, a par de outro análogo, a favor dos «gays». Em ambos, consta também uma séria advertência contra o «bullying homofóbico», expressão que peca, entre outros males de maior monta, pelo uso de uma palavra estrangeira que podia e devia ter sido traduzida, se a tanto chegasse o engenho e a arte dos actuais educadores oficiais da mocidade portuguesa.Os adolescentes exibidos nos dois cartazes, três em cada, mostram-se sorridentes e bem-dispostos, com a maior naturalidade. Não em vão: deste jeito, insinua-se que a lésbica ou o «gay» do trio não se diferenciam dos seus colegas. Mas, se são como os outros, porquê chamar a atenção para a diferença? E, se não são iguais, porquê aparentar que o são?

Uma coisa é um louvável projecto de inclusão de todas as minorias étnicas, religiosas, culturais, etc. Mas outra, muito diferente, é a apologia de certos comportamentos. Ou seja, é bom que todas as pessoas da escola sejam acolhidas com respeito pela sua diversidade e comum dignidade, mas legitimar as suas opções morais já não decorre da obrigação ética do respeito mútuo.

Esta campanha, de facto, visa a homossexualidade e não as pessoas que têm essa tendência ou que fizeram essa opção e que, como é óbvio, são dignas de todo o respeito. Se fosse este o caso, dir-se-ia: «ela é lésbica», ou «ele é gay», e nós «estamos bem com ela», ou «com ele». Mas os seus colegas não estão bem com ele ou com ela, mas com «isso» que os distingue e que, por esta via, se pretende legitimar.

Se se dissesse, por absurda hipótese, «ele é toxicodependente e estamos bem com isso», é evidente que a mensagem seria de aprovação do consumo de drogas, e não de consideração pelas pessoas que usam estupefacientes. É óbvio, portanto, que as entidades que promovem esta campanha publicitária perseguem um claro propósito: incentivar, entre os adolescentes, a homossexualidade, sob a aparência de uma normalidade que, aliás, a ciência não confirma.

Por isso, é inquietante a conclusão autoritária que, depois, se impõe: «o bullying homofóbico não é aceitável na nossa escola». Primeiro, pelo tom intimidatório da afirmação, sem qualquer respeito por quem pensa e age de outro modo. Depois, porque contradiz o permissivismo de que se faz gala, a não ser que se entenda que ser publicamente homossexual é virtuoso, mas ser contra, mesmo respeitando as pessoas em causa, é ser homofóbico e, portanto, punível com a irradiação escolar. Mas um tal procedimento não é, afinal, «bullying» homossexual?!

A campanha em curso pretende ser uma iniciativa da «nossa escola». Mas, se a escola é nossa, porque razão os pais, os professores e os alunos não foram ouvidos? Se a escola é nossa, porque financiada pelo erário público, porque motivo aposta em interesses ideológicos claramente minoritários?

De facto, este esbanjamento dos dinheiros do Estado, este relativismo moral, esta rejeição liminar dos princípios éticos naturais e de todas as religiões que, como a cristã, os afirmam, não são nossos, mas apenas dos responsáveis por esta campanha, a qual, por tudo isto e o que fica por dizer, «não é aceitável na nossa escola».

P. Gonçalo Portocarrero de Almada

Fonte: Voz da Verdade

A República é uma coisa terrivelmente francesa, mal contada, imposta...


Para abrir o apetite aqui vos deixo um excerto da entrevista de Pedro Mexia a Miguel Esteves Cardoso hoje publicada na Revista do Expresso.

(…) Pedro Mexia - Ao mesmo tempo que há essa dimensão quotidiana, também há um lado mais ideológico: a fundação Atlântica, o prefácio a um livro de Teixeira de Pascoaes e a monarquia. O prefácio ao livro de Pascoaes sobre Portugal é uma verdadeira carta de amor.

Miguel Esteves Cardoso – Portugal é um país especial, os portugueses são especiais. Há aqui qualquer coisa de muito bom, qualquer coisa que merecia ser acarinhada e guardada, a nossa maneira de ser, a nossa boa educação. (…) Já desisti há muito tempo de lutar pelos princípios. Fiz a minha tentativa, as pessoas têm o direito quando são novas, fazem jornais, fazem uma tentativa de editora, tentam mudar a cultura do país, mas a partir dos trinta, trinta e tal, pronto. Tinha princípios, como restaurar a monarquia, tinha sonhos políticos para Portugal, mas abandonei-os completamente.

Pedro Mexia – Parece haver uma ligação entre esse amor por Portugal e o ideário monárquico.

Miguel Esteves Cardoso – Há. A República é uma coisa terrivelmente francesa, mal contada, imposta.

Pedro Mexia – Como chegou à monarquia?

Miguel Esteves Cardoso – Eu nunca cheguei foi à República. Comecei pelo D. Afonso Henriques e fui por aí adiante. Eles é que fizeram a alteração, não fui eu.

Pedro Mexia – Mas do ponto de vista das convicções pessoais…

Miguel Esteves Cardoso – Conhece o D. Duarte? Uma coisa se nota, quando se fala com ele, é a maneira como se preocupa, mesmo, com toda a gente, com tudo o que faz parte de Portugal. Não há nenhuma noção de sectarismo. É uma pessoa obrigada a uma responsabilidade, recebeu esse legado e tem de tomar conta, saber as coisas. Isso é muito impressionante, não é para glória dele, é uma continuação.


Expresso Revista 24 de Março 2012


Fonte: Real Associação de Lisboa

domingo, 25 de março de 2012

16º Aniversário de SAR , O Príncipe da Beira


Dom Afonso de Santa Maria Miguel Gabriel Rafael de Herédia de Bragança, filho primogénito de SS.AA.RR., Dom Duarte Pio de Bragança, Duque de Bragança e Chefe da Casa Real Portuguesa e de S.A.R., Dona Isabel de Herédia de Bragança, Duquesa de Bragança, nasceu numa segunda feira, 25 de Março de 1996, às 7h38 da manhã, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa. Detém os títulos de 9º Príncipe da Beira e de 20º Duque de Barcelos.

Desejamos ao nosso Príncipe Real  as maiores felicidades, muita saúde, alegria e paz na companhia da nossa Bem-Amada Família Real. Que Deus o guie e ilumine naquela que desejamos seja uma longa vida cheia de sucesso.


VIVA O PRÍNCIPE DE PORTUGAL!

sábado, 24 de março de 2012

Reis-escravos

Aos Reis não se aplica, decididamente, o "sistema social europeu". Começam a trabalhar aos quatro ou cinco anos de idade (trabalho infantil), não têm horário laboral (a Rainha de Inglaterra dedica 16 horas diárias a actividades oficiais) nem fim-de-semana, não auferem de reforma (trabalham vitaliciamente até ao passamento), as horas de lazer confundem-se com obrigações, as deslocações ao estrangeiro são cerrada e infindável sucessão de actos protocolares.
 
Acresce que os Reis não têm privilégios e se os têm resumem-se apenas a privilégios onerosos, aqueles que exigem um sorriso permanente, apertos de mão a multidões, participação em actividades filantrópicas, galas, inaugurações, banquetes, paradas militares, actos religiosos, discursos. Os Reis são o que resta de uma ordem antiga onde a cultura do dever se sobrepunha à cultura dos direitos. Mais, os Reis são escrutinados do nascer do sol ao momento em que recolhem, extenuados, ao leito, não podem ir a uma praia, sentar-se num restaurante, ir a um cinema. Vivem em permanente prisão e dela só se libertam quando dormem.
 
Há quem os inveje. São os pobres desmiolados, comummente gente riquíssima servida por legiões de criados, com vida privada roçando o hedonismo.

Ontem, ao assistir ao triunfo do Sistema Westminster sobre essas outras "democracias" plutocráticas que fazem as delícias de tanto pateta, tanto demagogo e tanto carreirista, confirmei a superioridade moral, funcional e estética da monarquia.
 
Miguel Castelo-Branco
 

Pensem Nisto (XIII)


O primeiro (e mais importante) passo para gerir bem Portugal é compreender e respeitar o País e a sua identidade. Assim nos ensina a história nacional.

Ao longo dos séculos a Monarquia mostrou que conhecia, compreendia e respeitava Portugal. E por esse motivo foi capaz de dar a Portugal tantos e tão grandes motivos de orgulho. Essas capacidades da Monarquia ainda hoje isso são visíveis em D.Duarte, Duque de Bragança e Chefe da Casa Real Portuguesa, que, nas suas intervenções, mostra ser um profundo conhecedor da Portugalidade.

Perante a clara incapacidade da República em gerir Portugal, não seria melhor chamar a Monarquia?




sexta-feira, 23 de março de 2012

Fotoreportagem: ENTRONIZAÇÃO DE SAR, A SENHORA DONA ISABEL NA CONFRARIA DO PÃO DE LÓ TRADICIONAL

























Fonte: PPM Braga

Carta aos meus irmãos Timorenses, por SAR Dom Duarte, Duque de Bragança


É sempre com preocupação que escrevo sobre qualquer assunto, pois sinto que sobre meus ombros pesa uma enorme responsabilidade histórica. Quis, com efeito, por uma misteriosa decisão, a Providência que sobre mim recaísse a representação da família que durante cerca de 800 anos presidiu aos destinos de Portugal. Embora os manuais de História tenham o hábito de dividir a história da monarquia portuguesa em quatro “dinastias”, estas não constituem na realidade verdadeiras dinastias, mas apenas sucessivos ramos da mesma Família Real, já que todos os monarcas portugueses foram descendentes de D. Afonso Henriques.O mesmo se passa com a casa de Bragança, de que sou o representante, que além de descendente de D. João I o é ainda do Santo Condestável, Nuno Álvares Pereira, herói da independência portuguesa em 1385, e hoje santo canonizado, venerado nos altares. Este peso histórico que herdei faz com que, sem discutir se tenho o direito ao trono, sinta que me obriga o dever do trono.


Esse dever encaro-o como o de representar misticamente o povo português na sua continuidade histórica, como a corrente profunda de um rio caudaloso que flui através das eras, sem embargo da agitação superficial das suas águas, causada pelos ventos da história que ora sopram daqui ora dali, ou dos pequenos obstáculos que empecilham ou fazem inflectir o seu percurso.

Ao povo português esteve, nos últimos quinhentos anos da sua história, associado o povo timorense, de que meus antepassados foram igualmente reis . Foi também por isso que, durante as horas sombrias da ocupação estrangeira de Timor, senti como uma obrigação a que me não podia eximir o dever de lutar para que ao povo timorense, que era também o meu povo, fosse reconhecido o direito a autodeterminar-se e escolher livremente o seu destino político. Empenhei por isso o prestígio que me advinha da minha ascendência, e até a herança dos laços de amizade fraterna estabelecidos outrora entre os meus avós e os soberanos que então reinavam na Indonésia, como os de Mataram, de que descendem os actuais sultões de Solo e Jogjakarta, para persuadir as autoridades indonésias a aceitar o diálogo, o que, com a ajuda de Deus, veio a produzir seus frutos.

Durante esses anos tive muitas oportunidades de colaborar com amigos timorenses, especialmente com o actual Presidente da República Dr. José Ramos Horta, que acaba de me distinguir com a Ordem de Timor, gesto que muito me sensibilizou!

Na concessão da nacionalidade timorense que me foi recentemente feita pelo Parlamento Nacional e de que tão orgulhoso me sinto, vejo, porém, mais do que uma retribuição por uma intervenção que me irmanou aos outros que lutavam pela liberdade do povo timorense, mas de qualquer forma me incumbia como dever histórico: leio aí também um desejo de perpetuar as relações profundas de Timor com o povo português de que, para além dos regimes e dos governos que constantemente se sucedem, creio representar de forma mais perene.

Faz este ano precisamente meio milénio que os primeiros portugueses chegaram a Timor e que, pelo punho de Francisco Rodrigues, a ilha apareceu pela primeira vez representada na cartografia. Esses primeiros portugueses eram na sua maioria comerciantes livres, que nos mares do Arquipélago procuravam agenciar a sua vida. Como muito bem notou António José Saraiva, um autor cuja formação inicial, de cariz marxista, torna insuspeito, ... estava-se na época do artesanato e do capitalismo mercantil. O objectivo das expedições era, acima de tudo, encontrar produtos de troca, o que até certo ponto, implica a ideia da igualdade dos permutantes. Só mais tarde se tornará dominante o propósito de ocupação territorial com vista à produção, de matéria primas para a transformação industrial no país dominante. As primeiras relações entre portugueses e timorenses foram assim relações de igual para igual.
Estimulados pelo exemplo de S. Francisco Xavier, que a partir de 1542 lançara em todo o Oriente a missionação em larga escala, os Missionários portugueses dinamizaram a sua obra em Timor. Os meus antepassados patrocinaram activamente a evangelização, chagando a dedicar aos subsídios aos missionários 8% do orçamento do Estado Português da Índia. Portugal nascera no quadro da Reconquista Cristã da Península Ibérica, gerando-se portanto como reino independente à sombra da fé cristã; e essa união perduraria pelos tempos fora, a ponto de ainda hoje se usar na Malásia a expressão papiar cristão, para significar “falar português”. É por isso impossível separar o cristianismo, hoje religião maioritária em Timor, da presença dos missionários portugueses. É bem significativo que todos os liurais que em 1702 aceitaram submeterse ao primeiro governador português e na sua pessoa prestar vassalagem a El-Rei de Portugal tivessem já nomes e apelidos portugueses, a demonstrar por um lado que antes de haver em Timor uma presença política efectiva de Portugal existia já uma forte influência religiosa, indissociável da acção desinteressada dos nossos missionários; e por outro a entre mostrar que ao tempo converter-se ao catolicismo significava integrar-se na sociedade portuguesa partilhando o sobrenome com uma família de Portugal, quase sempre da nobreza.


Durante século e meio a presença portuguesa em Timor limitou-se aos comerciantes e aos missionários, sem revestir um cariz político. Se o veio a tomar foi em consequência de uma conjuntura externa que levou alguns liurais de Timor a colocarem-se voluntariamente sob o protectorado português. Nos inícios do século XVI dois povos da ilha dos Celebes, os buguizes e os macaçares, começaram a lançar expedições corsárias contra as ilhas circunvizinhas, aprisionando homens e mulheres para os venderem como escravos. É certamente de um desembarque seu em Timor que guarda a memória a capital do Oé-Cússi, Pante Macaçar, ou seja, em malaio, Pantai Makasar, “a praia dos macaçares”. Em 1641 os corsários do sultão macaçar de Teló lançaram uma grande expedição contra as duas costas de Timor, arrebanhando cerca de 4.000 pessoas, que levaram como escravos para o seu país. Foi nessa aflição que as rainhas de Mena e de Lifau decidiram declarar-se vassalas do Rei de Portugal, em troca de protecção contra os macaçares; e nos anos imediatos outros chefes locais lhes seguiram o exemplo.
O protectorado só veio a tornar-se permanente e efectivo em 1702, quando desembarcou em Timor o primeiro governador português. Para sustentar a administração do território que se começou a organizar então, os liurais foram obrigados a contribuir com uma finta ou tributo, acordada entre cada reino e o governador. Mas mesmo o pagamento desse tributo foi encarado como a expressão de um parentesco estabelecido com el-Rei de Portugal, e por isso a cerimónia do pagamento era designada por siripinão, ou seja, o acto de mascar em comum bétele e areca , o que, como é bem sabido, constitui em Timor um sinal de fraternidade e comunhão espiritual.
Seja como for o povo e os liurais de Timor conservaram viva a noção do carácter contratual da sua relação com a Coroa portuguesa, recordando sempre que necessário aos seus representantes em Timor, “que esta terra não foi conquistada pela espada, mas pela água e pelo sal”, numa clara alusão ao ritual do baptismo.


Sem negar que a presença portuguesa em Timor tenha bastas vezes apresentado fases críticas, episódios de violência e de injustiça, prefiro fixar-me nestes aspectos positivos. Portugal foi, afinal, chamado a Timor para garantir a liberdade das suas gentes num momento em que buguizes e macaçares constituíam para ela uma perigosa ameaça. Não admira que, quando por um conjunto de circunstâncias infelizes ficou aberta a porta para uma invasão de Timor e a sua liberdade votou a periclitar o povo deTimor se tenha mais uma vez virado para os portugueses pedindo-lhe ajuda para a manter. Portugal foi num passado próximo que todos temos bem presente como num passado longínquo, que nem todos conhecem, mas que, como representante de uma instituição muitas vezes secular me apraz recordar aqui, o principal garante da liberdade do povo timorense.

Vejo a concessão da cidadania timorense de que hoje me honro e que a todos agradeço, não tanto como uma recompensa por serviços já passados, ou como um gesto meramente honorário, mas como um acto de renovação do pacto de fraternidade que há três séculos e meio os liurais de Timor celebraram com a Coroa portuguesa. Encaro-a, sobretudo, como uma nova responsabilidade que doravante recai sobre os meus ombros, talvez humanamente demasiado fracos para suportarem o peso das que historicamente sobre eles repousam, mas que mesmo assim procurarei aceitar e honrar com todas as minhas forças: a de que, como timorense, serei obrigado a servir Timor, quanto como representante da Família Real portuguesa deverei, como os meus maiores, continuar a ser garante da sua liberdade.


Dom Duarte, Duque de Bragança

quinta-feira, 22 de março de 2012

Revista Point de Vue dedica um artigo à infanta D. Adelaide de Bragança

Fonte: VIP

Fundação Casa de Bragança recusa acesso a relatório e contas

Fundação Casa de Bragança tem um vasto património,
mas esconde as contas de 2010. Os monárquicos acham “muito estranho”.
S.A.R. D. Duarte não comenta as voltas da Fundação

A Fundação da Casa de Bragan­ça não permite o acesso às suas contas, alegando ser necessária autorização prévia da Presidên­cia do Conselho de Ministros, O Governo estranha a atitude e re­mete para a instituição a presta­ção de contas sobre o seu vasto património imobiliário que in­clui os bens pessoais do último rei de Portugal, D. Manuel II. Entre este pingue-pongue, o Ex­presso aguarda há duas sema­nas pelo acesso ao documento. “É inacreditável”, diz. Augusto Ferreira do Amaral, monárqui­co e consultor jurídico de D. Duarte, o último duque de Bra­gança. “A Fundação, como enti­dade pública, devia ter a mes­ma obrigação de transparência exigida de qualquer outra pes­soa colectiva”, afirma ao Expres­so. A verdade, porém, é que “não existe qualquer inventário de bens ou balanço publicado pela Fundação”, prossegue Fer­reira do Amara, que condena o facto de a gestão da instituição ser feita “em circuito fechado, sem qualquer transparência”. Natália Correia Guedes, presi­dente da Junta da Fundação Ca­sa de Bragança, disse ao Expres­so que o “último Relatório e Con­tas da Fundação, referente ao exercício de 2010, foi aprovado em 31.3.2011″, mas condicionou a divulgação do documento a prévia e “competente autoriza­ção da Presidência do Conselho de Ministreis”, O Governo autori­zou. Mesmo assim, a Fundação não cedeu ao Expresso o relató­rio e contas.
O clima de crispação entre a fa­mília Bragança e os administra­dores da Fundação ê indisfarçá­vel. Por diversas vezes e nos últi­mos anos, garante Ferreira do Amaral “esteve para ser accionado um contencioso” contra os dirigentes da Fundação.
Os monárquicos apoiantes do duque de Bragança, D. Duarte, não escondem que “há matéria jurídica” para contestar a deci­são de “confisco dos bens da fa­mília” em favor do Estado, de­cretada por Oliveira Salazar em 1933 e que deu origem à actual fundação. “D. Duarte esteve, vá­rias vezes, para fazer sair esse contencioso”, garantiu.
A tensão aumentou, nos últi­mos anos, quando foi abandona­do o princípio – consagrado por Salazar — de que metade dos di­rigentes da Fundação da Casa de Bragança fosse indicada pela família. “Essa cláusula desapare­ceu, nenhum membro da actual Junta da FCB tem qualquer liga­ção à família”, diz Ferreira do Amaral. A verdade, porém, é que com a morte do último administrador, João Amaral Cabral, e a sua substituição por Marcelo Rebe­lo de Sousa, fica vago um lugar na direcção da Fundação da Casa de Bragança, composta por sete membros, nomeados de forma vitalícia. A necessidade de preencher o lugar, aliada à mu­dança da direcção para uma per­sonalidade “inteligente e com sensibilidade” pode ajudar a “en­contrar uma solução”, diz o mo­nárquico. Para já, afastou-se a possibilidade de processar a fundação e confia-se na capacidade de Marcelo Rebelo de Sousa para “estabelecer conversações com a família”.
Para Augusto Ferreira do Ama­ral, “pode ser negociado um pla­no que leve a família Bragança a ter uma presença mínima na Fundação”. O fundador do PPM, Gonçalo Ribeiro Telles, es­pera “um gesto” de Marcelo pa­ra pacificar as relações entre os Braganças e a Fundação. Mas o gesto ainda não chegou.

Rosa Pedroso Lima – Expresso 17 de Março 2012

Fonte: Real Associação de Lisboa

S.A.R., DOM DUARTE DE BRAGANÇA APRESENTA O LIVRO "A DOENÇA E A MORTE NA DINASTIA DE BRAGANÇA"

Lisboa, 19 mar (Lusa) -- O médico José Barata afirma que os grandes flagelos como a sífilis, tuberculose e até a loucura "atormentaram a última dinastia" portuguesa, tendo "apenas três Monarcas ultrapassado os 60 anos".
A obra "A doença e a morte na dinastia de Bragança" é apresentada quinta-feira, dia 22 de Março, às 18:30, numa sala da igreja de S. Vicente de Fora, em Lisboa, onde está instalado o Panteão Real.
José Barata enumera de forma exaustiva, "numa perspetiva evolutiva do conhecimento médico em Portugal", as diferentes observações clínicas dos últimos 14 Monarcas portugueses.

Alerta o autor para a ampla documentação que existe na medida em que "a medicina prestou sempre grande atenção às figuras reais".
"A doença do Rei era institucionalmente assumida como matéria de interesse", escreve José Barata, acrescentando que "a saúde da Família Real, enquanto assunto de Estado, constituía também preocupação diplomática".

 Há assim muita documentação comentando a saúde dos soberanos e familiares mais próximos, além de, "em cada época, os clínicos darem o seu melhor para mitigar o sofrimento da Família Real, com recurso às mais avançadas terapêuticas disponíveis", muitas vezes recorrendo a médicos estrangeiros.

O autor dá conta da existência documental de "curiosos e detalhados registos das observações clínicas e das terapêuticas aplicadas aos régios pacientes".

 Relativamente aos Bragança, que reinaram de 1640 a 1910, escreve o autor que "a mortalidade infanto-juvenil marcou presença dramática e constante" tendo "a morte precoce" ceifado "a vida à maioria dos varões primogénitos".

 Por outro lado, dos 19 Monarcas -- José Barata não considera Dom Pedro II, tio e marido de Dona Maria I, -, apenas três ultrapassaram os 60 anos; foram eles Dom João V, Dom José e Dom Luís. O último monarca, Dom Manuel II, morreu no exílio devido a um edema na glote, aos 42 anos.
José Barata dá notícia da suposta maldição que um frade medicante lançou a D. João IV, fundador da dinastia, por este não lhe ter dado esmola, e refere que a família sofreu todos os flagelos da época como a sífilis, a tuberculose, a febre tifoide, patologia vascular cerebral e a morte violenta, como foi o caso do Rei Dom Carlos e do Príncipe Herdeiro, assassinados em Fevereiro de 1908, em Lisboa.

O livro "A doença do Rei era institucionalmente assumida como matéria de interesse", editado pela Sociedade Portuguesa Medicina Interna que celebra o 60.º aniversário, é apresentado por Dom Duarte Pio de Bragança, Herdeiro da Dinastia.
NL.
Lusa/Fim.

Fonte: Família Real Portuguesa

quarta-feira, 21 de março de 2012

Marcelo vai ter de reconhecer a actual dinastia de Bragança


“A existência da própria Casa de Bragança é,evidentemente, um bom ponto de partida para se iniciar um processo de restauração”.Quase a fazer 90 anos, Gonçalo Ribeiro Telles mantém firme a defesa incondicional de uma monarquia democrática.

Gonçalo Ribeiro Telles, monárquico convicto e fundador do PPM, fala sobre a mudança de liderança da Fundação Casa de Bragança. Acredita que Marcelo Rebelo de Sousa vai reconhecer’ “a actual dinastia de Bragança” e assume que a devolução do património) da fundação à família “é um processo em curso”.

Expresso: Para os monárquicos é boa notícia ter um republicano à frente da Fundação da Casa Bragança?
GRT - Com certeza. Desde logo porque o novo presidente é um profundo conhecedor do assunto.

Exp. Não é estranho que seja logo um potencial candidato a PR o responsável pelo legado pessoal do último rei de Portugal?
GRT - O problema é dele. Foi nomeado, penso que é uma pessoa digna para assumir as funções e agora tem possibilidade de mostrar toda a sua autenticidade.

Exp. A fundação tem desempenhado bem o seu papel?
GRT - Da fundação foi criada na 11 República por Salazar. A continuidade da Casa Real passou de D. Manuel II para D. Duarte Nuno (pai do actual duque) e hoje para D. Duarte e família. Com certeza que o presidente da fundação tem isto em consideração e vai estabelecer uma ligação indispensável com a família, quer pela importância que tem para o país a dinastia de Bragança como pala a própria autenticidade da fundação.

Exp. Há queixas sobre o divórcio entre a família de Bragança e a fundação…
GRT - Nem é um divórcio! Não há qualquer ligação. A fundação funcionou como unia instituição do Estado e não se relacionou de forma alguma — como deveria ter feito — com a dinastia, que tem uma face humana.

Exp. Sendo uma instituição do Estado, a fundação deve aproximar-se da família Bragança?
GRT - Fundamental! Até pelo respeito que lodos nós devemos à família Bragança. Mesmo os republicanos! Desde o problema da independência nacional, até ao problema da liberalização da sociedade portuguesa, deve muito à dinastia de Bragança. O reconhecimento desta actual dinastia como património de todos nós é importante. Tenho a certeza absoluta de que o próximo presidente da fundação o vai fazer.

Exp. O que correu mal na relação entre a FCB e a família?
GRT - Da distância. Salazar tentou evitar um problema, afastando o mais possível a dinastia de Bragança dos portugueses,

Exp. Salazar pretendia que parte da direcção da fundação fosse indicada pela família…
GRT. Mas este não é um problema de ‘pane’, nem de ‘metade’ dos membros indicados pelo Estado ou pela família. O novo presidente vai ter de reconhecer na fundação toda a sua ligação com D. Duarte e com a Casa Real.

Exp. Os monárquicos querem que a fundação seja uma âncora para defesa dos seus ideais?
GRT - Não é a defesa dos ideais monárquicos, mas do património de Portugal Quando o povo português quiser defender os ideais monárquico; fá-lo-á de uma forma democrática. Não através de qualquer instituição.

Exp. Gostava que a fundação desse maior visibilidade à causa monárquica?
GRT - Não. Gostaria que desse mais visibilidade à Casa Real que encarna esses ideais.

Exp. A devolução do património da fundação é um caso aberto?
GRT – Partilho a opinião de Augusto Ferreira do Amaral, que tem muito mais conhecimento jurídico do que eu.

Exp. Ou seja, que se tratou de uma espoliação de património, que deve ser devolvido à família…
GRT - Com certeza! É um processo que está em curso.

Exp. O facto de um professor de Direito estar à frente da fundação ajuda a encontrar uma solução?
GRT - Pode ajudar. Mesmo dizendo-se um republicano.

Exp. Não precisa ser monárquico?
GRT – Não, basta ser português.

Rosa Pedroso Lima – Expresso 17 de Março 2012

segunda-feira, 19 de março de 2012

Camélias: Romance florido em Sintra

A imagem é digna de fotografia: trata-se de uma camélia reticulata. Pode ser vista em Sintra, tal como uma variedade imensa destas flores que serviram para homenagear reis e rainhas.

As camélias são tão complexas quanto as suas formas, os nomes ou as cores, que vão do branco puro ao encarnado escuro. Algumas são púrpuras – as mais raras, como a herzília, uma variedade portuguesa. Outras têm manchas, riscas ou pintas. As pétalas, que podem ser mais de cem, são mais carnudas do que as de uma rosa e iguais em beleza. Só perdem no campeonato do perfume, porque as camélias, no geral, não têm cheiro. Apenas algumas da variedade sasanqua.

Em Sintra, a sua introdução e o gosto pelo seu cultivo, no século XIX, deve-se a D. Maria II e a D. Fernando II. Muitas das variedades, nascidas na época, foram baptizadas com nomes de membros da Família Real, em homenagem e como forma de divulgação desta flor no país.

Assim, existem as dedicadas a rainhas como D. Maria Pia – branca com riscas de carmesim – e outras a reis e imperadores. D. Pedro V foi homenageado com uma branca com marcas e riscas cor-de-rosa e D. Pedro, imperador do Brasil, com uma branca com riscas carmesim. A condessa d’Edla também teve direito à sua flor, o que nos leva à camélia enquanto símbolo de uma história de amor num dos cenários mais românticos de Portugal – Sintra.

O casamento de D. Fernando II (viúvo de Dona Maria II) com Elise Hensler, uma cantora de ópera sem pinga de sangue azul, era mal visto pela sociedade e pela imprensa portuguesa. Para escapar aos olhares de esguelha e às línguas afiadas da elite de Lisboa, os dois refugiavam-se em Sintra, onde D. Fernando tinha comprado o abandonado mosteiro da Nossa Senhora da Pena.

Eterno apaixonado pela arte e botânica, é a ele e à mulher, feita condessa d’Edla, que se deve o património florestal, camélias incluídas, da Pena. No meio do parque, a condessa iniciou a construção de um edifício, quase tão inédito como o seu casamento. O chalet tem fachadas que imitam madeira e varandins feitos com cortiça. Deixado ao abandono, ardeu em 1999, mas foi recuperado e aberto ao público. E é lá que começa a visita guiada ao mundo das camélias em Sintra, na companhia do arquitecto paisagista inglês Gerald Luckhurst e do engenheiro florestal Nuno Oliveira, dos Parques de Sintra – Monte da Lua.

A passos largos, que o parque é grande, dirigimo-nos a uma árvore grande, repleta de pontos de tons carmim. A imagem é digna de fotografia e de conversa. «São camélias reticulatas», diz Nuno Oliveira. «Não é habitual vê-las noutros jardins, devido à sua dimensão», acrescenta o arquitecto paisagista a viver há 25 anos em Portugal. E conta que este tipo de reticulatas foi trazido pelo capitão inglês Rawes, no século XIX.

«Mais antigas só no Porto», refere. «São flores que precisam de grande humidade no solo, o que acontece quando há granito ou basalto», o que explica que não haja muitas camélias no Sul, «apenas em Sintra e em Monchique».

Continuamos caminho e, pelo chão, encontram-se verdadeiros tapetes de pétalas. Apesar de resistente, «a camélia é muito sensível e depois de aberta poderá durar dois a três dias antes de cair», sublinha Joana Guedes, presidente da Associação Portuguesa de Camélias.

Para Nuno Oliveira e Gerald Luckhurst, caminhar sobre elas é uma das atracções da Pena nesta época do ano – começam a florescer em Novembro e continuam até Abril. Mas o seu momento alto é agora.

Engenheiro e arquitecto vão apontando, ora para as brancas, ora para as cor-de-rosa, sem esquecer as vermelhas. Nuno Oliveira demora-se em algumas, admirando-lhes as pétalas. Umas são arredondadas, outras em forma de seta.

«As flores das camélias são muitíssimo variadas, desde a singela, com apenas cinco pétalas à dobrada formal ou àquelas que têm uma enorme profusão de pétalas», explica ao SOL Joana Guedes. Há ainda as amarelas, originárias do Vietname, mas também «há entusiastas que tentam obter camélias azuis».

A diversidade destas flores é de tal modo «incrível» que Gerald Luckhurst, responsável por vários projectos de recuperação de jardins nos parques de Sintra, conta que «todos os anos são registadas novas flores».

Oriundas do Japão e da China, são plantas arbustivas não muito grandes, mas «com o passar dos anos as mais antigas transformam-se em árvores, com copas até 15 metros de diâmetro e altura de sete a oito metros», diz Joana Guedes.

A sua beleza era tão apreciada que não passou muito até que as cortes europeias tivessem jardins de camélias. Sendo de fácil mutação, rapidamente começaram a surgir híbridos – flores nascidas de mais do que uma variedade.

Além de ornamentais, as camélias têm outras utilizações; «o óleo dos frutos é muito usado no oriente para iluminação, lubrificação e ainda como ingrediente essencial de produtos de beleza».

No entanto, a utilização mais apreciada é enquanto flor do chá. Segundo a lenda, o imperador chinês Shen Nung, que terá reinado entre 1737 e 1705 a.C., estava sentado debaixo de uma cameleira e preparava-se para beber água, quando lhe caiu uma folha na taça, gostou tanto que a infusão dessa folha passou a ser a bebida oficial da sua corte.

A corte portuguesa do séc. XIX teria ficado contente por assistir à divulgação da flor que se faz pela segunda vez em Sintra. Em especial, D. Fernando. «Este ano, a Pena tem muitas flores para levar a concurso», diz Nuno Oliveira. Mas não é uma camélia qualquer que vence o concurso da melhor camélia, que acontece este sábado no jardins do Palácio de Sintra. Os produtores podem ter cameleiras perfeitas, mas é preciso escolher a mais perfeita camélia da mais perfeita cameleira. Todas as flores concorrentes estão em exposição até domingo, num passeio sobre pétalas que vale a pena. Se viver mais a Norte, a Oficina da Natureza organiza passeios a Guimarães, onde podem ver-se das mais bonitas e antigas cameleiras de Portugal. O próximo é a 24 e 25 de Março ( www.oficinadanatureza.pt ).

Se tiver ficado com vontade de as plantar, saiba que ainda o pode fazer este mês. Joana Guedes deixa as recomendações principais: deve escolher-se um local com luz moderada, protegido do vento frio, o solo deve ser ácido, podendo usar-se uma mistura especial para camélias e não se deve usar adubo em demasia. Por último, devem ser regadas no Verão e também durante a floração no Inverno, sobretudo as plantas jovens ou recentemente plantadas.

Fonte: Sol

SAR D. Isabel de Bragança, tornou-se confrade da Confraria Gastronómica do Pão-de-Ló Tradicional


Esposa do Duque de Bragança, D. Duarte Pio, assumiu, juntamente com mais seis novos confrades, a responsabilidade de incentivar o consumo e o fabrico do pão-de-ló tradicional.
A esposa do Duque de Bragança, D. Isabel de Herédia, tornou-se ontem um dos mais recentes confrades da Confraria Gastronómica do Pão-de-ló Tradicional (CGPLT).
Além de D. Isabel de Herédia, foram entronizados mais seis novos confrades.
A cerimónia aconteceu ontem de manhã na Igreja de São Pedro do Toural, em Guimarães.
Para Isabel de Herédia, a entronização tem muito significado porque “a confraria tem ajudado a preservar a identidade portuguesa, através da divulgação das tradições e da história. E um país tem de ter sempre referências históricas”.
 A presidente da CGPLT, Fátima Salgado, referiu durante a cerimónia, que “o Minho é lambão. Vivemos na época da globalização, mas a humanidade está ávida do que é genuíno. Hoje há uma procura incessante do património local”.
Daí a importância, diz Fátima Salgado, de “uma boa promoção do produto regional de qualidade que é o pão-de-ló tradicional”.
Depois da entronização, foi feita uma cerimónia de boas-vindas, pelo presidente da Câmara Municipal, António Magalhães, que salientou a importância do património histórico. Nas cerimónias estiveram presentes 15 confrarias vindas de várias partes do país.

Correio do Minho de 18 de Março, pág. 11

Fonte: PPM Braga