quarta-feira, 30 de maio de 2018

Vou votar contra a despenalização da eutanásia

Rui Rio criticou as “pressões de fora para dentro”. Parece-me que a livre expressão dos cidadãos sobre um tema para o qual não foram consultados não pode ser considerada uma pressão sobre o Parlamento

Na terça-feira, dia 29 de Maio, os deputados à Assembleia da República serão chamados a votar quatro projectos de lei de despenalização da eutanásia, da autoria de toda a esquerda parlamentar, com “excepção” do PCP, que ainda assim usa a sua barriga de aluguer, o PEV, para alinhar com os parceiros de Governo. Tenho lido muito sobre a matéria e avaliado os argumentos apresentados por quem está a favor e por quem está contra, mas a minha decisão está tomada e com profunda convicção.
A minha consciência dita-me o voto contra. Acredito que a vida humana é um valor supremo em quaisquer circunstâncias e que o sofrimento não nos torna menos dignos. Acho da maior importância ter em consideração que a ordem dos médicos e a ordem dos enfermeiros, aqueles que lidam mais de perto com as situações de fim de vida e os profundos dramas humanos associados, são contra a eutanásia. Tenho muito orgulho em que Portugal tenha sido um dos primeiros países a abolir a pena de morte, porque vale mais deixar viver criminosos que matar um inocente, e não consigo conciliar esse orgulho e esse respeito pela vida humana com uma lei que sabemos, porque tem sido assim em todos os países que legalizaram a eutanásia, acabará a tirar a vida de quem não o decidiu. E porque a vida humana é inviolável.
Respeito os que defendem honestamente a despenalização da eutanásia, entre os quais o actual líder do meu partido. E não considero de modo algum que a livre expressão da sua posição e dos seus argumentos seja uma pressão no sentido de mudar o meu voto.
Por isso, fiquei chocada e preocupada com as declarações do Dr. Rui Rio à comunicação social, dizendo que “aquilo que tenho notado um pouco na sociedade portuguesa, em particular por parte de quem defende ‘não’, é que há uma excessiva pressão sobre outros que possam estar no ‘sim’ ou que possam estar com dúvidas no sentido de tentar trazê-los para a sua posição”. Tanto mais que no seu testemunho sobre a eutanásia no livro “Morrer com dignidade – a decisão de cada um”, coordenado por João Semedo, ex-dirigente do Bloco de Esquerda, divulgado na revista Sábado de 20 de maio de 2018, o mesmo Dr. Rui Rio dizia que “esta é, pela sua natureza, uma questão de consciência individual. E se não é tolerável impor orientações de voto neste caso, também não é tolerável impor o silêncio ou o veto à discussão de uma temática que atravessa todas as sociedades civilizadas, de oriente a ocidente.”
Desta última frase, eu deduziria que o Dr. Rui Rio defende que todos têm o direito de se pronunciar sobre o tema e que seria favorável a uma discussão alargada, pelo que achei incompreensível a afirmação de que os projetos de lei “não são muito difíceis de perceber” pelos portugueses, e que nem é preciso “ter muitos estudos”.
O Dr. Rui Rio disse ainda à comunicação social que “também há pressões de fora para dentro”, por parte de quem quer “condicionar a Assembleia da República”. Parece-me que a livre expressão de vontade de cidadãos a respeito de um assunto sobre o qual nunca foram sequer consultados dificilmente pode ser considerada uma forma de condicionamento do parlamento. Pelo menos na minha concepção de democracia.
O Dr. Rui Rio é o actual líder do PSD e decidiu dar liberdade de voto ao grupo parlamentar. Expressou a sua posição pessoal. Precisamente porque é líder do PSD e porque deu liberdade de voto devia ter-se ficado por aí.
Uma nota final para elogiar o Prof. Cavaco Silva por ter vindo a terreiro apresentar a sua posição e lembrar que todos os cidadãos têm voz e poder através do voto.
Fonte: Observador

terça-feira, 29 de maio de 2018

Memórias da História em Torres Novas

Foto de Memórias da História.


Torres Novas no século XV 

Em redor do núcleo urbano primitivo, a muralha da cerca da vila havia sido reconstruída no século imediatamente anterior. A feira já se fazia na “Praça Nova” (que ocupava metade da área da atual “praça Cinco de Outubro”): assim se chamava já em 1502, exatamente porque era um elemento urbanístico recente, em oposição à “Praça Velha” (atual Largo da Botica, que era um pouco maior que o atual largo), fruto da modernização urbanística levada a cabo, presume-se, pelo alcaide D. Diogo Fernandes de Almeida, influenciado certamente pelas modernas transformações das vilas e cidades mais nobres do país, iniciadas ainda durante o reinado de D. João II. 
Havia, ainda no território da vila e seu termo mais próximo, várias igrejas: a de Santa Maria, a do Salvador, a de Santiago e a de São Pedro. Existiam também a capela dos Anjos — que pertencia à rainha Dona Leonor de Lencastre, mulher do rei D. João II— e a capela do Espírito Santo, na rua Direita, depois rua das Freiras (atual Rua Cândido dos Reis). 
No Rossio do Carrascal, atual largo das Forças Armadas, existia já uma igreja de invocação de São Gregório Magno e que, sensivelmente meio século depois, seria o núcleo da edificação do Convento do Carmo. Já fora de portas, a antiga capela do Vale. 
Da vila, era alcaide o ilustre fidalgo Dom Diogo Fernandes de Almeida, aio do filho bastardo do Rei D. João II, D. Jorge de Lencastre. Seu pai, D. Lopo de Almeida, também havia sido alcaide da vila e a família era proprietária das casas no largo do Paço e dos moinhos do Caldeirão, por doação de Dom João II, em 1482, entre outras propriedades em Torres Novas. 
Anos antes, em 1438, tinham sido realizadas na vila as Cortes do Reino, no adro da igreja de Santiago, para resolver a questão da regência após a morte de D. Duarte e a menoridade de D. Afonso V. 

Mestre António 

Mestre António é o nome por que ficou na história este médico a quem os cronistas chamam fisiquo e solorgiam. De origem judaica, nasceu em Torres Novas no bairro da judiaria, onde hoje se situam a rua Atriz Virgínia, largo da rua Nova e rua Nova de Dentro (Santiago). Físico-mor de D. João II, dele foi também afilhado. Além de físico, tinha bons conhecimentos de filosofia, matemática e história, e foi autor de diversos textos. 
Casou duas vezes: a primeira, com Catarina Lopes, de quem teve dois filhos, Francisco Lopes, físico do Rei Filipe I e Nicolau Lopes, também físico, e a segunda com Constança Fernandes. Os seus filhos e mulheres foram sepultados na extinta capela dos Anjos. Morreu em Torres Novas, em data não conhecida. 
É nome de rua, no bairro do Babalhau, por deliberação da Câmara Municipal, de 23 de Fevereiro de 1988. 


segunda-feira, 28 de maio de 2018

Eutanásia: porque não

Em todos os países em que se pratica a eutanásia, é origem e causa de irremediáveis abusos contra a vida e a dignidade humana.

1. Introdução. Para um debate esclarecido sobre a eventual legalização da eutanásia e do suicídio assistido, é imprescindível que os argumentos a favor da vida até à morte natural sejam conhecidos. Este texto é um resumo das principais razões éticas, jurídicas, religiosas, políticas, médicas e sociais contrárias à eutanásia e ao suicídio assistido, nas vésperas da votação, pela Assembleia da República, de quatro projectos-lei que propõem a sua introdução em Portugal.
2. Noção. Etimologicamente, eutanásia significa ‘boa morte’, mas conceptualmente é sinónimo de acção, ou omissão, em virtude da qual se provoca a morte de um doente em situação terminal, ou que padece de dores insuportáveis, a seu pedido ou com o seu consentimento, por razão da qualidade da sua vida. Pressupõe um grande sofrimento, não susceptível de cura, bem como a vontade do próprio em pôr termo à sua existência e, por parte de quem realiza essa acção, ou ajuda, uma atitude de compaixão pelo paciente que pede a eutanásia, ou o auxílio de que carece para pôr fim à vida e, consequentemente, à sua dolorosa situação.
3. A questão ética. Não obstante a vontade do próprio, que distingue a eutanásia do mero assassinato, e a boa intenção de quem lhe causa a morte, a eutanásia, ou suicídio assistido é, eticamente, um homicídio, na medida em que é matar intencionalmente uma pessoa sem culpa. Portanto, em termos éticos, a eutanásia significa uma licença para matar pessoas inocentes, a seu pedido e por uma razão alegadamente humanitária.
Não obstante o primado da liberdade, a vontade própria não é relevante em relação a certos crimes: um assassinato, consentido pela vítima, não é menos grave do que o executado contra a sua vontade. Ou seja, a autonomia da vontade individual não prevalece contra a dignidade humana, nem pode ser justificativa de uma acção eticamente condenável, como é sempre matar um ser humano sem culpa. A intenção altruísta do sujeito que pratica a eutanásia, ou é cúmplice do suicídio assistido, também não legitima, em termos éticos, a acção de matar um ser humano inocente.
4. A questão religiosa. As principais religiões, como a judaica, a cristã e a muçulmana, são contra a eutanásia e o suicídio assistido, porque o quarto mandamento da lei de Deus proíbe matar. “Nós, comunidades religiosas presentes em Portugal, acreditamos que a vida humana é inviolável até à morte natural e perfilhamos um modelo compassivo de sociedade e, por estas razões, em nome da humanidade e do futuro da comunidade humana, causa da religião, nos sentimos chamados a intervir no presente debate sobre a morte assistida, manifestando a nossa oposição à sua legalização em qualquer das suas formas, seja o suicídio assistido, seja a eutanásia” (Declaração conjunta das comunidades Islâmica, Israelita, Budista, Hindu e Bahá’í, das Igrejas Adventista, Ortodoxa e Católica, a Aliança Evangélica e o Conselho Português de Igrejas Cristãs, Maio de 2018).
Mesmo não sendo uma questão essencialmente religiosa, mas ética, o parlamento não pode ignorar que a grande maioria dos cidadãos portugueses se revê numa destas religiões e, por isso, sentir-se-ia ofendida na sua liberdade religiosa se porventura o Estado permitisse uma prática que a sua respectiva crença considera gravemente criminosa e contrária às mais elementares regras de uma sã convivência social. O Estado português é laico mas a sociedade portuguesa é, na sua grande maioria, religiosa: compete aos órgãos de soberania respeitar as crenças maioritárias do povo português.
5. A questão jurídica. A Constituição da República Portuguesa declara que a vida humana é inviolável e, portanto, a eutanásia e o suicídio assistido são inconstitucionais. Por sua vez, nenhuma lei ordinária pode prescrever, ou tolerar, comportamentos que directamente violam uma norma constitucional.
A eutanásia e o suicídio assistido não podem ser equiparados à interrupção voluntária da gravidez, ou aborto provocado, porque o ordenamento jurídico português não reconhece ao nascituro a inviolabilidade que, pelo contrário, consagra em relação a todos os seres humanos nascidos com vida. Portanto, a eutanásia e o suicídio assistido só poderão ser legalizados depois de efectuada uma revisão constitucional que revogue o princípio da inviolabilidade da vida humana.
A eutanásia, com esta designação, não está criminalizada em Portugal, mas sim o “homicídio a pedido da vítima”: “quem matar outra pessoa determinado por pedido sério, instante e expresso que ela lhe tenha feito, é punido com pena de prisão até três anos” (art. 134º, 1). Atente-se à terminologia empregue pelo Código Penal: trata-se de um “homicídio”, porque é “matar outra pessoa”. Portanto, em termos jurídicos, despenalizar a eutanásia mais não é do que legalizar um homicídio específico. Por sua vez, a despenalização do suicídio assistido contraria o dever moral e jurídico de socorrer quem se encontra em perigo de vida.
6. A questão política. A Assembleia da República não goza de legitimidade para decidir uma questão que respeita à consciência de todos e cada um dos cidadãos. Os partidos políticos nela representados também não estão facultados para exprimirem a vontade dos respectivos eleitorados sobre este particular, na medida em que a legalização da eutanásia e do suicídio assistido não constam dos seus programas eleitorais.
Quanto muito, o parlamento poderia suscitar um referendo nacional sobre esta matéria, muito embora os direitos humanos, bem como as liberdades e garantias fundamentais, não devam ser sujeitos a consultas plebiscitárias.
7. A questão clínica. A acção de tirar a vida a alguém, mesmo que a seu pedido e em grande sofrimento, não pode ser equiparada a um acto médico e viola gravemente o estatuto deontológico a que estão obrigados todos os médicos, bem como os demais profissionais da saúde. Segundo o juramento de Hipócrates, nenhum clínico pode intencionalmente pôr termo à vida de um paciente. Por outro lado, quem se encontra num estado muito doloroso ou terminal, pode já não estar em condições de prestar um consentimento válido. Esta situação é tanto mais grave quanto é certo que, pelo seu grande sofrimento, o paciente pode erradamente supor que só a morte o pode libertar da dor, ignorando a existência das práticas clínicas que, nomeadamente através dos cuidados paliativos, lhe podem facultar um fim de vida sem excessivo sofrimento.
Não é por acaso que o actual bastonário da Ordem dos Médicos em Portugal, eleito democraticamente por todos os médicos portugueses, bem como todos os seus antecessores ainda vivos, se manifestaram publicamente contra a eutanásia e o suicídio assistido, em carta dirigida ao Presidente da República. Os médicos não podem ser, ao mesmo tempo, os curadores da vida dos pacientes e os causadores da sua morte intencional. Nos países em que alguns médicos aceitaram praticar a eutanásia, quebrou-se a confiança institucional que é essencial à prática da profissão.
8. A questão social. Muito embora a prática da eutanásia e do suicídio assistido seja, inicialmente, permitida apenas em situações muito extraordinárias, está comprovado, nos escassos países que legalizaram a eutanásia, que a introdução desta medida, em princípio excepcional, tende a generalizar-se em relação a doentes que a não pediram, ou outras pessoas tidas por indignas de viver, como as crianças com graves deficiências. Da mesma forma como o aborto foi também, ao início, legalizado apenas para casos de violação ou malformação do feto, e actualmente já é praticado livremente, dentro do prazo previsto na lei, sem necessidade de nenhuma causa justificativa, uma eventual lei que legalizasse a eutanásia e o suicídio assistido teria, previsivelmente, esse efeito, vulgarizando a morte provocada de doentes terminais, pessoas de idade, crianças e jovens deficientes, etc., sem o seu consentimento e até mesmo contra a sua vontade.
9. Eutanásia e bem comum. A prática da eutanásia corresponde a um entendimento totalitário do Estado, que desvaloriza o ser humano e, por isso, instiga a sua morte. A eutanásia foi muito praticada pelo nazismo, não apenas como expediente para a eliminação dos doentes terminais e deficientes, mas também de muitos inimigos do regime, como judeus, católicos, homossexuais, ciganos, etc. Na realidade, trata-se de uma medida legislativa que ‘coisifica’  a pessoa: uma vez destituída da sua originária e inviolável dignidade, passa a ser, para o Estado, um sujeito descartável. Num país em que a eutanásia estiver institucionalizada e for prática corrente do serviço nacional de saúde, só os indivíduos mais capazes, em termos económicos e financeiros, a podem evitar, quer recorrendo a clínicas privadas, quer emigrando para países onde uma tal prática não seja permitida.
É verdade que, mesmo quando os cuidados paliativos logram proporcionar a um doente terminal uma vida aceitável, porque digna sê-lo-á sempre, não é possível excluir, da existência humana, todos os sofrimentos. Mas também é certo que a solução para a dor não é nunca a eliminação do paciente, mas a sua cura, ou aqueles cuidados médicos que permitam atenuar esses sofrimentos físicos ou psíquicos. A eutanásia, se legalizada, será um expediente fácil para os familiares e profissionais da saúde se verem livres de parentes e pacientes que, de outra forma, exigiriam os seus cuidados. Seria ingénuo pensar que, uma lei que autoriza matar seres inocentes, não será usada com intuitos criminosos.
10. Conclusão. Para a sociedade em geral é preferível que não se permita a morte provocada do doente terminal, ou incurável, nem se conceda uma discricionária licença para matar. Mesmo que, em alguns casos, essa lei pudesse ser aplicada segundo critérios humanitários que, contudo, nunca legitimariam uma tal acção, pior seria o dano social provocado por uma tal legislação. Em todos os países e regimes em que a eutanásia se praticou, como na Alemanha nazi, ou pratica, como na Bélgica e na Holanda, sempre foi e é origem e causa de irremediáveis abusos contra a vida e a dignidade humana, sobretudo dos que, por serem mais desfavorecidos, mais carecem também da protecção da lei e do Estado.
Post scriptum. Primeiro título da primeira página do Público de 24 de Maio: “Câmaras municipais abateram quase 12 mil cães e gatos num ano” e, em subtítulo, “Abate de animais pelos municípios cresceu 25% em 2017. Em Setembro passa a ser proibida a eutanásia (sic) nos canis como medida de controlo de cães e gatos vadios, mas Governo já admite adiar prazo”. Fica explicada a razão pela qual o PAN foi o único partido que, no seu programa eleitoral, propôs a eutanásia: nada melhor do que o ‘abate’ dos seres humanos para evitar a ‘eutanásia’ dos animais. Moral da história: se não quiser ser abatido nalgum matadouro municipal – leia-se hospital do Serviço Nacional de Saúde – use uma pulseira com a seguinte inscrição: ‘Atenção: matar seres humanos inocentes é legal, mas matar animais é crime! Sou um cão que fez uma operação de mudança de espécie. Se me quiserem eutanasiar, eu mordo’.
Fonte: Observador

sábado, 26 de maio de 2018

O regresso de uma Rainha muito amada



Por estes dias, em 1945, Portugal revia a sua última Rainha. Entre 19 de Maio e 30 de Junho, terminara há meros dias a grande guerra, regressou a Lisboa a Rainha Dona Amélia de Orleães e Bragança, mulher e mãe de reis. Foi a primeira visita da Rainha à pátria do seu marido e filhos em 35 anos - em 1910, uma insurreição republicana conduzira à abolição da monarquia portuguesa e ao exílio da Rainha-mãe Amélia e do seu filho, o Rei Dom Manuel II. Falecido aquele em 1932, a Rainha Dona Amélia ficara como único membro vivo da desafortunada última geração da linha mariana da Casa de Bragança.

A Rainha veio a Portugal para rever um país que já fora o seu e, em especial, para reencontrar a família. No Panteão dos Braganças, em São Vicente de Fora, a Rainha prestou homenagem ao Rei Dom Carlos, ao Rei Dom Manuel e ao Príncipe Real Dom Luís Filipe, assassinado junto do pai em 1908. Foi recebida pelos mais relevantes dignitários do Estado, entre os quais o então presidente do Conselho de Ministros Oliveira Salazar, e visitou o Palácio da Pena, em Sintra, Cascais, Alcobaça, Batalha, a Foz do Arelho, o Buçaco e Fátima, a cujo santuário ofereceu um dos seus mantos reais. Em Portugal, a Rainha visitou ainda algumas das instituições sociais que fundara e que continuara, mesmo do exílio e tão destratada por Portugal, a apoiar financeiramente. Foi o caso da Assistência Nacional aos Tuberculosos e do Dispensário de Alcântara.

No final de Junho, a Rainha Dona Amélia regressou a França, onde morreria em 1951. Amada pelos portugueses e finalmente reconhecida pelo Estado, a corpo da Rainha foi trazido para Portugal a bordo de uma embarcação da Armada, a fragata NRP Bartolomeu Dias, e sepultada no Mosteiro de São Vicente de Fora. O governo português concedeu-lhe um funeral de Estado em que estiveram presentes o Chefe do Estado, General da Força Aérea Francisco Craveiro Lopes, o Chefe do Governo Doutor Oliveira Salazar, o Ministro da Marinha e futuro Presidente da República Contra-almirante Américo Thomaz e o Cardeal-Patriarca de Lisboa Dom Manuel Gonçalves Cerejeira.

RPB

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Procissão do Corpo de Deus - Lisboa

A imagem pode conter: texto


A Solene Procissão do Corpo de Deus tem início às 17h00, percorrendo as seguintes ruas da cidade de Lisboa: 

Largo da Sé, Rua das Pedras Negras, Rua da Madalena, Poço do Borratem, Praça Martim Moniz, Rua da Palma, Rua Dom Duarte, Praça da Figueira, Rua da Prata, Rua da Conceição, Largo da Madalena, Rua de Santo António da Sé e Largo da Sé.


quinta-feira, 24 de maio de 2018

Processo Manuel Alegre VS Brandão Ferreira

Caríssimos Compatriotas
Patrocinei o Ten. Cor. PILAV Brandão Ferreira no processo crime que lhe foi movido pelo Vate de Argel porque o BF entendeu, e bem, que uma criatura que se aliara, objectivamente, aos movimentos que nos emboscavam em África não podia ser Comandante Supremo das Forças Armadas (cargo que é inerente ao Presidente da República em conformidade com o artº 120º da CRP).
O artigo tinha por título “Manuel Alegre Combatente por Quem?” e é uma peça de antologia que merece ser lida e com a qual também comungo, in totu! – Cfr. anexo -.
Na primeira instância a Meritíssima Juiz absolveu o BF sustentando, e bem, que o candidato devia ser escrutinado pelos cidadãos do Portugal que restou, sendo legitimo questionar a bondade da candidatura de Manuel Alegre a Presidente da República. O acto do BF merecia o conforto do artº 10º da C.E.D.H.
A douta sentença foi confirmada por douto acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, onde, a certo passo, se escreveu:
ouvida toda a prova produzida em audiência de julgamento…” o Tribunal concluiu que o BF não cometeu qualquer crime!
Note-se que na audiência de julgamento sufragaram o artigo supra citado as seguintes testemunhas, por nós arroladas:
- General José Lemos Ferreira;
- Almirante Nuno Vieira Matias;
- Maj. General Heitor Almendra;
- Coronel Alberto Ribeiro Soares;
- Coronel Raúl Folques;
- Eng.º João Corte Real (Oficial Miliciano Veterano da Guerra de África);
- D. Miguel de Lencastre (ibidem);
- Major da FAP António Lobato (o mais bravo Português que o signatário conhece);
- Coronel de Cavalaria e Advogado Carlos Anselmo de Oliveira Soares;
- Maj. PILAV Carlos Baptista Acabado;
- Eliseu Ferreira Dias (bravo combatente civil no Norte de Angola).
Também na fase de instrução o saudoso Comandante Alpoim Calvão, no depoimento de 29.7.2011, disse que subscreveria o artigo do BF.
Nas testemunhas arroladas pelo triste Poeta a maioria é filiada no Grande Oriente Lusitano (v.g dois ex-Grão-Mestres) organização que é tipificada, por muito boa gente, como uma associação de malfeitores destinada à prática de crimes de tráfico de influências… Enfim, opiniões…
Uma luminária, um tal ex- padre Doutorado em Ética, Luís Moita, “bateu-se com bravura” pelos ideias da sargeta: afirmou que se dedicava a recortar a segunda página do velho Diário de Notícias (onde constava o nome dos nossos Camaradas que tombaram no Campo da Verdade e da Honra) que, depois, era difundida, repetidamente, na “Rádio Voz da Liberdade” (a das amplas do tio José Staline), imprimindo-lhe um efeito multiplicador de baixas que não correspondiam à verdade.
Aliás, na 1ª instância, a Distinta Juiz, assinalou, com desagrado, a “ousadia” do “combatente” do sofá de veludo vermelho, quando a criatura confessou ser irrelevante que a mentira afectasse psicologicamente os nossos camaradas que combatiam em África. Um primor de ética republicana… Norton de Matos, que era republicano, não desejaria, certamente, ter como “companheiro de caminho” aquele troglodita.
Estávamos, por isso, “postos em sossego”, após a notificação do magistral acórdão da Relação de Lisboa, relatado pelo hoje Desembargador Jubilado Carlos Benido, quando fomos confrontados com a declaração de nulidade do mesmo porquanto o novo advogado do Vate (seu filho) que recebera substabelecimento do Nuno Godinho de Matos (que patrocinava o seu companheiro de partido até ao recurso para o Tribunal da Relação), não foi notificado de um Parecer do M.P, junto deste Tribunal, parecer concordante com a posição do MP da 1ª Instância mas que fora notificado ao Godinho de Matos (este deveria enviar o dito para o Colega).
Todavia, e em conformidade com o artº 417º do CPP, limitando-se o MP a apor o seu visto (ou a sufragar o que o inferior hierárquico disse e de acordo com a melhor doutrina) o parecer não necessita ser notificado porque “não tira nem põe seja o que for no trânsito processual”.   
Enfim…há sempre, nos Tribunais, algumas “perplexidades” difíceis de engolir.
Como o Código de Processo Penal, aprovado pelo Dec. Lei 78/87, foi fabricado no Olimpo por sábios que estavam a ser servidos por Baco, revogando o de 1929 (que era velho e bom, como o melhor Vinho do Porto), o Direito ficou mais torto!
De tal sorte que, inopinadamente, e em claríssima violação do princípio do juiz natural ou juiz legal, se constitui uma nova formação de juízes – cujo relator – Antero Luís – é um conterrâneo de Armando Vara – passando Vinhais a ser a terra dos robalos, perdendo o nobre estatuto de capital dos enchidos – que tira um novo acórdão contradizendo o anterior – que havia sido lavrado por pessoa mais avisada e sabedora -.
Onde se considera “inconstitucional” o artº 10º da CEDH (isto é, o princípio da Liberdade de expressão ou de opinião) e condena o nosso Camarada Brandão Ferreira a pesada multa (1.800,00€) e desmesurada indemnização (25.000,00€, acrescida de juros) que permitirá ao Vate prolongar os seus fins de semana protegendo a natureza com a sua caçadeira Purdey…
Desconheciam a razão que levou o triste Vate a liquidar o jornal “O Século” quando foi Governante?
A Liberdade socialista não se compagina com a de expressão quando esta não é servil aos camaradas socráticos e quejandos.
Recorde-se, aliás, que o condecoradíssimo poeta amava “o sol da terra” e só se desligou da foice e do martelo uns largos tempos após a Primavera de Praga, mas apoiou, sem margem para contradita, o carrasco dos então satélites da URSS durante largos e maduros anos.
Há, por vezes, “esquecimentos muito bem alembrados” como nos ensinou Fernão Lopes (in casu, por bons motivos).
E não é despicienda a leitura da obra do prematuramente falecido historiador José Freire Antunes – Cfr. pág. 685 a 692; 910;911 e 916 do II Volume da obra “A Guerra de África 1961-1974”, Ed. Do Círculo de Leitores de 1995 – e o que constava do “cadastro” on-line do aliado dos “Libertadores” marxistas, designadamente, o “carinho” com que os tratava com o fiel amigo (M.A dixit). Daquela obra se plasma a pesporrente entrevista do triste Poeta!
A confissão é sublime.
Considerando a violação do princípio do juiz natural – artº 32º, nº9 da Constituição – que o Código de Processo Penal não comina com a nulidade (os vapores do néctar servidos por Baco dão estes efeitos), foi interposto recurso para o Tribunal Constitucional.
De forma capciosa e deveras arrevesada, a “sinistra” que domina o Palácio Raton, entendeu não conhecer a questão de fundo – a violação do referido princípio – sustentando, contra a Verdade, que essa questão não foi suscitada a tempo. Só foi possível suscitá-la quando se tomou conhecimento do acórdão surpresa e, nesse momento, é que se soube que eram outros os juízes que o lavraram!!!
Viva, pois, a “democracia totalitária” que capturou, também, os tribunais.
Só apelando à Ramalhal figura é que este sítio, muito mal frequentado, poderá atinar.
Sem mocas de Rio Maior ou porrinhos africanos não sairemos desta “apagada e vil tristeza”.
Mui “democraticamente” o Tribunal Constitucional cuidou adequado que o nosso inconformado guerreiro fosse condenado a pagar, de custas, a módica quantia de €1530,00 pela grande trabalheira que tiveram para não conhecer da bondade dos nossos argumentos.
Ai topamos o “Buraco do Esgoto”, vulgo Bloco de Esquerda, que além de marcar o ritmo da “geringonça” pontifica, outrossim, no Palácio Raton….
Feito este excurso, para enquadrar o propósito da missiva, cuido não ser atrevimento solicitar-vos ajuda para o nosso combatente Brandão Ferreira.
Um Ten. Coronel reformado, que nunca teve assento nos conselhos de Administração dos vários BES que pululam, quais cogumelos, no rectângulo a que, por cobardia dos abrilistas, ficámos reduzidos, não tem possibilidade de pagar o que injustamente está obrigado a pagar.
Indemnização cível, juros; custas processuais; multa criminal; rondará os € 30.000,00 (trinta mil euros).
Porque o Ten. Cor. Brandão Ferreira usa, como canhões, as palavras para afirmar Portugal, o seu combate é o nosso combate.
Devemos-lhe o seu desassombro e o seu amor pela Verdade.
 A omissão de auxílio, in casu, constitui, a meu ver, uma corrupção dos bons costumes a que nos habituaram os nossos maiores.
O NIB que receberá a nossa contribuição – em nome de seu filho – é o seguinte: 0010 0000 3321 0480 00 25 9
Ajudem a ajudar ….
Grato pela vossa paciência.
Queiram aceitar os meus melhores e mais respeitosos cumprimentos.

P.S (Salvo seja) : Sairá, antes do Natal, uma prenda para o Vate.
Um livrinho sobre o processo com a transcrição dos depoimentos das testemunhas e outras pérolas.
Alguém irá morrer como os grilos…

ALEXANDRE LAFAYETTE
Advogado

Fonte: O Adamastor

quarta-feira, 23 de maio de 2018

SAR, O Senhor D. Duarte presente na apresentação do livro Portugal no Golfo Pérsico: 500 anos


Lançamento da obra Portugal no Golfo Pérsico: 500 anos, livro em que colaboram com textos de autoria três membros da nossa organização, a Nova Portugalidade não deixou de apresentar cumprimentos a SAR, Dom Duarte de Bragança, também presente no evento.


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terça-feira, 22 de maio de 2018

Fundação de Versalhes paga na totalidade o restauro do manto da rainha D. Amélia



A Fundação de Versalhes vai pagar a totalidade do restauro do manto da rainha D. Amélia, exposto no antigo edifício do Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, revelou fonte desta entidade à agência Lusa.

O donativo no valor de seis mil euros desta fundação com sede em Nova Iorque foi feito no âmbito de uma campanha pública de angariação de fundos para o restauro do manto, lançada no início deste ano.

Isabel Raposo de Magalhães, membro da direcção do Grupo de Amigos do Museu Nacional dos Coches (GAMNAC), explicou à Lusa que o afilhado da rainha D. Amélia, D. Duarte Pio de Bragança, "empenhou-se pessoalmente na campanha de mecenato promovida em prol do restauro do manto da rainha", tendo conseguido o apoio da Fundação de Versalhes, presidida por Barbara de Portago.

De acordo com a directora do Museu Nacional dos Coches, Silvana Bessone, existe a intenção de requalificar uma sala do Picadeiro Real para expor o manto, depois de restaurado, bem como outras peças. O objectivo é criar um núcleo dedicado à rainha D. Amélia, a quem se deve a preservação da colecção e a criação do actual Museu Nacional dos Coches.

Por outro lado, a direção do GAMNAC pretende destinar a totalidade do dinheiro entretanto angariado na campanha, de muitos doadores anónimos, para o restauro do quadro a óleo da rainha, pintado por Vittorio Matteo Corcos, em 1905, que se encontra na escadaria do museu.

A campanha tinha sido lançada porque o manto - classificado como bem de interesse nacional - se encontra "muito degradado", segundo fonte da entidade. Esta peça de vestuário foi oferecido pela cidade de Paris à rainha D. Amélia, por ocasião do seu casamento com o príncipe D. Carlos, futuro rei, em 1886.

O GAMNAC existe desde 2015 mas nunca teve actividade nem associados. Isabel Raposo de Magalhães, que é funcionária do museu e esteve muitos anos ligada à área da conservação e restauro, decidiu reactivá-lo, contando agora com 150 associados. Esta campanha é a primeira iniciativa do Grupo de Amigos.

O manto será restaurado na oficina de conservação do Museu dos Coches, com supervisão do Instituto José de Figueiredo, por se tratar de uma peça classificada.
Sobre o valor necessário, Isabel Raposo de Magalhães explicou que "os materiais envolvidos são caros, e qualquer intervenção em têxteis é muito demorada, além de que o manto é de grandes dimensões".

De corte em veludo rosa prateado, o manto é forrado de cetim da mesma cor e constituído por nove tiras de veludo unidas entre si longitudinalmente, de modo a formarem pequenas abas na extremidade superior e um leve estrangulamento a meia altura. Um delicado bordado contorna a peça, desenhando uma cercadura onde pontuam rosas, folhagem diversa e fino reticulado a ponto de fundo, segundo a descrição da peça no inventário do museu.


Fonte: Público

segunda-feira, 21 de maio de 2018

O Brasil como prolongamento americano de Portugal

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A vida parece ter sido aqui incomparavelmente mais suave, mais acolhedora das dissonâncias sociais, raciais, e morais. Nossos colonizadores eram, antes de tudo, homens que sabiam repetir o que estava feito ou o que lhes ensinara a rotina. Bem assentes no solo, não tinham exigências mentais muito grandes e o Céu parecia-lhes uma realidade excessivamente espiritual, remota,
póstuma, para interferir em seus negócios de cada dia.

A isso cumpre acrescentar outra face bem típica de sua extraordinária plasticidade social: a ausência completa, ou praticamente completa, entre eles, de qualquer orgulho de raça. Ao menos do orgulho obstinado e inimigo de compromissos, que caracteriza os povos do Norte.

Essa modalidade de seu caráter, que os aproxima das outras nações de estirpe latina e, mais do que delas, dos muçulmanos da África, explica-se muito pelo fato de serem os portugueses, em parte, e já ao tempo do descobrimento do Brasil, um povo de mestiços.

Ainda em nossos dias, um antropólogo distingue-os racialmente dos seus próprios vizinhos e irmãos, os espanhóis, por ostentarem um contingente maior de sangue negro. A isso atribui o fato de os indígenas da África Oriental os considerarem quase como seus iguais e de os respeitarem muito menos de que aos outros civilizados.

Assim, afirma, para designar os diferentes povos da Europa, os suaíles discriminam sempre: europeus e portugueses. Neste caso o Brasil não foi teatro de nenhuma grande novidade. A mistura com gente de cor tinha começado amplamente na própria metrópole.

Já antes de 1500, graças ao trabalho de pretos trazidos das possessões ultramarinas, fora possível, no reino, estender a porção do solo cultivado, desbravar matos, dessangrar pântanos e transformar charnecas em lavouras, com o que se abriu passo à fundação de povoados novos."

Sergio Buarque de Holanda - Raízes do Brasil

sábado, 19 de maio de 2018

E D. Duarte, estaria preparado para ter uma nora de Hollywood? “Absolutamente, não”



A Rua dos Duques de Bragança, em Lisboa, deve o seu nome ao palácio da família aristocrata portuguesa, a mesma de que descende D. Duarte. Sem palácio, mas com uma casa num terceiro andar na dita rua, o duque, com 73 anos, recebe as visitas com o mínimo de cerimónia. “Vou pedir pizzas”, exclama. Dito e feito: meia hora depois, estavam três em cima da mesa, bem como pratos, talheres (à vontade não é à vontadinha) e um sortido de bebidas: uma coca-cola, uma cerveja artesanal e três sidras, duas delas de frutos vermelhos.
O casamento do princípe Harry e de Meghan Markle é já no sábado — D. Duarte, herdeiro da coroa portuguesa e um dos vários monarcas europeus não reinantes, tem as suas maiores afinidades distribuídas por outros reinos que não o de sua majestade, Isabel II. É onde estão os “primos”, como diz. Holanda, Luxemburgo, Bélgica, Áustria, Baviera e por aí em diante, só para termos uma amostra de como estas árvores genealógicas são complexas e cheias de nós cegos.
Há 23 anos, foi o próprio casamento do duque que deu que falar. Três mil convidados, uma igreja monumental, a dos Jerónimos, preceitos protocolares até mais não, e uma multidão de gente à porta com direito a acepipes e ecrãs. Até convites falsos houve, uma verdadeira festa. Este fim de semana, D. Duarte e D. Isabel não vão a Windsor.
D. Duarte tem três filhos: Afonso, o mais velho, tem 22 anos, Maria Francisca já tem 21 e o mais novo, Dinis, tem 18. Não será completamente despropositado antecipar o próximo casamento real português. Por cá, a febre com a realeza pode não ser nem metade da dos ingleses, mas é preciso admitir que de um conto de fadas (ou de príncipes e princesas) todos precisamos de vez em quando.
Como é que anda a sua relação com a família real britânica?
Tenho uma relação próxima com o príncipe Eduardo e com o príncipe Carlos. Eu e o Príncipe Eduardo trabalhamos juntos num programa internacional chamado Prémio Duque de Edimburgo, que em Portugal se chama Prémio Infante D. Henrique, do qual sou o presidente honorário. Com o Príncipe Carlos tenho-me encontrado em várias ocasiões e tido conversas muito interessantes, nos aniversários dele, etc… Gostei muito da Camila, pareceu-me uma mulher interessantíssima, inteligente e muito culta. Tivemos uma conversa muito interessante.
Quando é que esteve, pela última vez, num evento oficial da família real?
Em primeiro lugar, costumo estar nas reuniões do grupo de apoio ao Prémio Duque de Edimburgo. Convidam-me duas vezes por ano para encontros muito interessantes que acontecem no Palácio de St. James, em Londres, ou em vários outros palácios históricos. São pessoas que dão uma contribuição para o prémio. Neste caso, um senhor do Porto, muito simpático, pagou a minha contribuição vitalícia. Depois, há aniversários e casamentos de outras famílias, dos meus primos. A minha bisavó materna foi a princesa Isabel, filha de D. Pedro II do Brasil, uma senhora interessantíssima, mas esse lado da família não é assim tão numeroso. O meu bisavô paterno foi o rei D. Miguel e descendem dele os reis da Bélgica, os grã-duques do Luxemburgo, os príncipes do Liechtenstein e mais uma dúzia de famílias reais europeias. É curioso porque se criou uma rede de solidariedade familiar muito forte, as pessoas gostam muito de se encontrar e de conviver.
Foi convidado para o casamento do príncipe Harry?
Não.
Mas estava à espera de ser?
Não. Pessoalmente, não conheço a lista de convidados, mas imagino que seja muito mais pessoal do que política. No casamento do príncipe herdeiro, a lista foi sobretudo política, com governantes, Commonwealth, casas reais reinantes e com os amigos pessoais. Neste, julgo que será muito mais à base de relações pessoais. Não estou a ver a família a convidar figuras políticas, provavelmente porque a rainha achou que o casamento devia ser mais familiar.
Isso por ser o casamento do número seis na linha de sucessão, certo?
Sim, não tem peso nenhum. Tem um peso mediático muito simbólico pelo facto da rapariga ser de origem africana, mista. Isso tem um impacto muito grande em todas as comunidades que não são de ascendência europeia. Imagino que estejam muito contentes com isso. Os ingleses têm tido a habilidade de aproveitar circunstâncias que, à primeira vista, saem fora do comum e de lhes dar uma mensagem política inteligente.
Nesse sentido, acha que a família real faz um balanço positivo deste casamento?
Creio que sim. Quer dizer, conversando em particular com ingleses, percebe-se que há muitos, obviamente, muito chocados. Aliás, nesse aspeto, os ingleses nunca foram conhecidos pela sua tolerância. Tudo o que não seja inglês… Mesmo que fosse uma rapariga escocesa já iam discutir, quanto mais uma americana, meio africana. Acho eu. Lembro-me de uma história de um amigo cujo filho ia casar com uma escocesa. E ele dizia: “Esta coisa de o meu filho ir casar com uma mestiça”. “Mestiça?” “Sim, com uma escocesa”. E isto só porque não era bem inglesa.
Portanto, se não fosse Meghan Markle, este casamento passaria mais despercebido.
Estes casamentos são um ótimo negócio para Inglaterra, não é? Vão imensos turistas, vendem-se imensas lembranças, fazem-se selos de correio. Mas acho que estão a fazer um esforço para não dar a impressão de que, por ser com esta, o casamento é menos solene, para não parecer que há menos entusiasmo. Ou então, foi o governo a dizer que convinha aproveitar o momento para distrair as pessoas do Brexit. Para as relações com os Estados Unidos, por exemplo, o casamento é certamente muito bom. A grande preocupação do Estados Unidos é que não haja qualquer tipo de discriminação e isto mostra uma modernidade da Inglaterra, por aceitar bem um casamento destes. Podia ser mais chocante, mas até está dentro de uns certos limites, apesar de tudo.
Mas hoje as pessoas já olham para as famílias reais de forma diferente. Acha que a casa real britânica tem contribuído para esta mudança de perspectiva?
Há uma caricatura muito engraçada de uma artista inglesa em que se vê o príncipe Philip desmaiado no chão e a rainha a dizer: “Philip, querido, ela é Markle, não é Merkel”. Acredito que deve ser bastante chocante para a rainha e para o príncipe Philip que o neto case com uma rapariga divorciada e já com uma história de vida complicada. Mas aceita-se. Porquê? Porque faz parte da cultura da nossa época. E o que acontece é que, em todas as alturas, as famílias reais se adaptaram sempre aos valores culturais da sua época, tentando moderá-los, tentando dar exemplos de outro tipo de comportamento mais clássico. Mas acabam por se adaptar e isso é uma constante histórica. Na Idade Média, os reis participavam nas batalhas, porque tinham de ser guerreiros. Na Renascença, preocupavam-se muito com a cultura, com o progresso e com a ciência, eram os valores da época. Hoje em dia, qual é o valor aparentemente mais fundamental? É a democracia. Então as famílias reais fazem casamentos muito democráticos. Também aconteceu na Suécia e na Noruega. A própria rainha de Espanha é um exemplo. Até agora, a força e o prestígio da instituição monárquica tem sabido ultrapassar problemas que surgiram, às vezes por falta de preparação das rainhas e dos príncipes que casam com elas. Já o marido da rainha da Holanda, o príncipe Bernardo, teve um problema muito complicado porque recebeu dinheiro de uma indústria americana para favorecer a compra de uns aviões. A reação dos holandeses foi: “Coitada da rainha que tem de aturar a estupidez deste marido”.
Considera então que a monarquia britânica soube lidar com essas transformações.
Há um filme chamado “A Rainha” que retrata isso muito bem. O facto de a população dos países onde há monarquias vibrar imenso e sentir-se muito próxima dos problemas das famílias reais mostra exatamente a importância da instituição. Ninguém  fica muito preocupado se a filha do Presidente da República se divorcia, por exemplo. No entanto, existe uma ligação afetiva que dá uma face humana ao Estado e que nos leva a considerar o Estado não só como aquela máquina dos políticos e dos cobradores de impostos, mas com qualquer coisa de humano. Os presidentes inteligentes e competentes, como o nosso actual ou como foi o general Ramalho Eanes, sabem interpretar isso e sabem perceber que o que o povo quer de um presidente é que ele tenha o comportamento de um rei.
Voltando à comparação com o divórcio da filha de um presidente, porque é que há menos tolerância? É porque a monarquia está intrinsecamente associada a determinados valores e a república não?
Por um lado sim, é isso. Por outro lado, porque é uma ligação familiar. Os povos conhecem os seus reis desde sempre. São muitas gerações, em geral. Qual é o inconveniente principal das monarquias? É exatamente essa ligação afetiva muito forte que, quando as coisas correrem mal, causa também perturbação e infelicidade às populações. Houve, recentemente, o caso de uma monarquia em que as coisas correram muito mal, o Nepal. Aparentemente, tinha havido ali um assassinato dentro da família real, foi um drama enorme e o país acabou por cair nas mãos dos maoistas. São casos extremamente raros. O Japão tem uma monarquia de 2000 anos, com a mesma dinastia, e nunca teve um drama com a família real. Pelo menos, que se saiba. Deve ter havido mas foram abafados. Quando as coisas correm mal, como foi o caso da princesa Diana, há um drama nacional. Nós temos dramas parecidos, mas com o futebol.
Mas, para alguém que tinha entrado em cena há relativamente pouco tempo, a princesa Diana teve um grande impacto, interferindo mesmo na relação dos britânicos com a Rainha. Na história das monarquias europeias, há um pré e um pós princesa Diana?
Depois desse drama, houve uma sondagem em que se perguntou ao povo inglês se, caso a Inglaterra se tornasse numa república, quem é que seria o candidato mais provável. O segundo foi o Richard Branson e o número um foi o príncipe Carlos. De facto, a popularidade do príncipe Carlos não teve nada a ver com aquilo que veio nos jornais. Os jornais estiveram muito hostis contra ele, mas na verdade fabricaram muito o drama. Eram dominados por grupos económicos e o que aconteceu foi que a alta finança inglesa estava muito incomodada com as posições que o príncipe Carlos estava a assumir em defesa dos mineiros, da arquitetura rural e da justiça e fizeram aquela campanha toda para desestabilizá-lo. Ele também se prestou, obviamente. Hoje, toda a imprensa quer que ele abdique e seja o filho, mas acho que isso não vai acontecer.
Esteve no casamento de William, em 2011?
Não. Casamentos de famílias reais fui ao da Holanda, Luxemburgo, Bélgica, Marrocos, Jordânia e de outras famílias reais não reinantes na Europa, da Áustria, Baviera. É onde estão os nossos primos, os familiares mais chegados. Ah, e da Dinamarca, sou muito amigo da família real dinamarquesa.
Imagina, nestes momentos, como será quando um dos seus filhos casar?
Atenção dos media vai haver, de certeza. Impõe-se também saber se o casamento é em Portugal ou no estrangeiro, porque, normalmente, os casamentos são a convite da família da noiva. O importante para eles é que seja um casamento equilibrado, com pessoas do mesmo meio cultural e, sobretudo, que haja uma identidade espiritual, fundamental para um casamento ser feliz. Os outros aspectos são menos importantes. Quando o marido ou a mulher têm vergonha de coisas que o outro faz, porque acha que é ridículo ou que é possidónio, ou que dá mau aspecto, já é um problema cultural. Pelo que tenho visto a nível internacional, quando o nível cultural é semelhante, a raça tem muito pouca importância. Vejo casamentos muito felizes de europeus com africanos ou asiáticos, porque conseguiram ter uma identidade e valores espirituais semelhantes, mesmo com religiões diferentes. Aliás, acho que hoje em dia o racismo tem muito pouco a ver com a raça propriamente dita, tem a ver com a cultura. Lembro-me, por exemplo, do tempo português em Angola. Havia casamentos mistos que funcionavam lindamente bem porque, precisamente, eram pessoas que tinham o mesmo nível cultural, fosse ele popular ou erudito.
É essa a expectativa que deposita nos seus filhos, que escolham alguém do mesmo nível cultural?
Exactamente.
Tendo em mente a possibilidade de não casarem com aristocratas.
Pois, exactamente. O importante é que os maridos e as mulheres dos meus filhos percebam que, ao entrarem na nossa família, assumem obrigações e que não podem fazer o mesmo que fariam se estivessem noutra família qualquer. Têm que ter uma certa responsabilidade para com o país. Se estivessem noutra família qualquer, a prioridade era somente ter sucesso na vida, sem se preocuparem muito com outras causas. No nosso caso, espero que mantenham esse sentido de responsabilidade para com Portugal e para com o futuro do país.
E está preparado para a possibilidade de ser uma atriz ou um ator de Hollywood?
Absolutamente, não. Deve ser muito problemático ver a mulher ou o marido na cama com outro, deve ser muito complicado. E deve ser quase como estar casado com um piloto de linha aérea, sempre fora de casa.
Quem é que acha que vai casar primeiro?Não faço ideia, só espero que não sigam o exemplo do pai.
Imagina os portugueses a acompanharem esse momento, tal como agora vemos no Reino Unido?
Bem, o nosso casamento teve mais sucesso do que alguns casamentos reais europeus. Todas as pessoas que convidei vieram, o que foi um problema. Contava que muitos não viessem, pela distância geográfica ou por opções políticas, e acabei por ter 40 presidentes de câmara e metade eram do Partido Comunista, não estava à espera que viessem assim tão entusiasticamente. Depois, também vieram convidados de países longínquos, da Nova Guiné, da Austrália, de África. Tivemos de fazer uma receção no claustro dos Jerónimos, depois da missa. Na parte de fora, havia imensa gente a ver. Com a ajuda de amigos, organizou-se uma festa de rua com comidas, bebidas e música. Tínhamos ecrãs grandes lá fora. Não digo que vá ser um casamento tão espetacular como o nosso… Não faço ideia, tudo depende da situação. Se os portugueses estiverem em crise, então a festa vai ser muito grande. Se estiverem todos muito bem, de barriga cheia, então talvez seja um pouco mais discreta.
Mas acha que a mobilização será a mesma?
Creio que sim. Também depende do orçamento, não é? Não vou convidar tanta gente. No nosso estiveram 3000 e depois houve os que não tinham sido convidados. Falsificaram convites. Houve situações muito cómicas. Pessoas que eram conhecidas dos jornais e que os seguranças, por isso, deixaram passar, mas que não tinham sido convidadas, receberam convites falsos. Houve quem tivesse falsificado convites e mandado para algumas personalidades conhecidas, entre as quais a Lili Caneças. Eu não conhecia a senhora, não tinha razão nenhuma para convidá-la. Na altura, vieram perguntar-me o que fazer e eu deixei entrar. O Mário Soares foi o último a entrar, ainda o recebi. Quando cheguei, estava com o meu irmão Miguel. Vínhamos num carro descapotável e com uma escolta voluntária dos alunos do Colégio Militar. Na altura, havia uma campanha para o uso do cinto de segurança e perguntaram se podiam usar uma imagem para essa promoção. Dissemos que sim, claro. Mal entrámos no carro, pusemos o cinto. No final, as pessoas ficaram muito ofendidas porque acharam que tínhamos vendido as imagens.

Fonte: Observador

sexta-feira, 18 de maio de 2018

O Rei do Açúcar - Simão Gonçalves da Câmara, o Magnífico

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Neto do grande João Gonçalves Zarco, 3° Capitão-Donatário do Funchal, foi Simão Gonçalves da Câmara (Funchal, 1460 – Matosinhos, 1530) uma das referências do seu tempo e um nome imortal da gesta portuguesa.

Nascido na rica família que detinha a Capitania do Funchal, foi homem de riquezas incontáveis que usou no engrandecimento da sua terra e do seu país.

Fidalgo culto e cavalheiresco, participou e financiou várias expedições que garantiram o poderio lusitano no Norte de África, nomeadamente em Safim, Azamor, Arzila, Castelo Real, Cabo de Gué, Mazagão, Ceuta e Tânger demonstrando sempre lealdade e coragem moral e física, inclusive quando, indisposto com uma inquirição do Rei D. Manuel I ao seu governo da Capitania, pretendeu exilar-se em Espanha: tendo conhecimento no caminho de que Arzila se encontrava sitiada, a ela rumou para ajudar na sua defesa, atirando para trás das costas o que considerava uma ofensa à sua honra, acto valoroso e patriótico que acabou reconhecido pelo Rei.

No seu tempo o Funchal foi elevado a cidade (1508) e a Diocese (1514), remontando a essa época a o início da construção da magnífica Sé que ainda serve a Ilha da Madeira.

Dono de uma magnífica fortuna que lhe advinha dos rendimentos madeirenses, especialmente os da cana sacarina que no seu tempo transformou o arquipélago Atlântico no grande fornecedor de açúcar do mercado europeu, ficou conhecido por “o Magnífico” pela liberalidade e sumptuosidade com que viveu.

Exemplo disso é a famosa representação enviada à Corte Papal em agradecimento pela bula com que Leão X elevou o Funchal a Diocese: para além da enorme e rica delegação, das muitas riquezas da Ilha enviadas, de um belo puro sangue árabe, mandou Simão, o Magnífico que fossem construídas estátuas em alfenim de todo o Colégio Cardinalício em tamanho natural, mostrando assim a riqueza e arte dos madeirenses no trabalho da pasta de açúcar, e impressionando decisivamente a Cúria, onde seu filho D. Manuel de Noronha serviria como secretário papal, apenas dela saindo para tomar posse como Bispo de Lamego.

Em 1528, querendo descansar dos seus trabalhos, renunciou ao governo da Capitania na pessoa do seu filho mais velho, retirando-se para Matosinhos onde veio a falecer em 1530.

Esta sua representação, encomendada como era costume madeirense na época nas melhores oficinas flamengas, terá sido feita – possivelmente - já pelo seu filho, João Gonçalves da Câmara. Conhecida por “Triptíco de Santiago Menor e de São Filipe”* (1527-1531), é atribuída a Pieter Coecke van Aelst, e apresenta no painel central os dois apóstolos, enquanto que nos laterais são representados Simão Gonçalves da Câmara e seus filhos (à esquerda) e D. Isabel Silva e suas filhas (à direita), imortalizado assim a memória do poderio e riqueza daquele a quem com toda a propriedade poderemos chamar "o Rei do Açúcar".

LRP