Neto do grande João Gonçalves Zarco, 3° Capitão-Donatário do Funchal, foi Simão Gonçalves da Câmara (Funchal, 1460 – Matosinhos, 1530) uma das referências do seu tempo e um nome imortal da gesta portuguesa.
Nascido na rica família que detinha a Capitania do Funchal, foi homem de riquezas incontáveis que usou no engrandecimento da sua terra e do seu país.
Fidalgo culto e cavalheiresco, participou e financiou várias expedições que garantiram o poderio lusitano no Norte de África, nomeadamente em Safim, Azamor, Arzila, Castelo Real, Cabo de Gué, Mazagão, Ceuta e Tânger demonstrando sempre lealdade e coragem moral e física, inclusive quando, indisposto com uma inquirição do Rei D. Manuel I ao seu governo da Capitania, pretendeu exilar-se em Espanha: tendo conhecimento no caminho de que Arzila se encontrava sitiada, a ela rumou para ajudar na sua defesa, atirando para trás das costas o que considerava uma ofensa à sua honra, acto valoroso e patriótico que acabou reconhecido pelo Rei.
No seu tempo o Funchal foi elevado a cidade (1508) e a Diocese (1514), remontando a essa época a o início da construção da magnífica Sé que ainda serve a Ilha da Madeira.
Dono de uma magnífica fortuna que lhe advinha dos rendimentos madeirenses, especialmente os da cana sacarina que no seu tempo transformou o arquipélago Atlântico no grande fornecedor de açúcar do mercado europeu, ficou conhecido por “o Magnífico” pela liberalidade e sumptuosidade com que viveu.
Exemplo disso é a famosa representação enviada à Corte Papal em agradecimento pela bula com que Leão X elevou o Funchal a Diocese: para além da enorme e rica delegação, das muitas riquezas da Ilha enviadas, de um belo puro sangue árabe, mandou Simão, o Magnífico que fossem construídas estátuas em alfenim de todo o Colégio Cardinalício em tamanho natural, mostrando assim a riqueza e arte dos madeirenses no trabalho da pasta de açúcar, e impressionando decisivamente a Cúria, onde seu filho D. Manuel de Noronha serviria como secretário papal, apenas dela saindo para tomar posse como Bispo de Lamego.
Em 1528, querendo descansar dos seus trabalhos, renunciou ao governo da Capitania na pessoa do seu filho mais velho, retirando-se para Matosinhos onde veio a falecer em 1530.
Esta sua representação, encomendada como era costume madeirense na época nas melhores oficinas flamengas, terá sido feita – possivelmente - já pelo seu filho, João Gonçalves da Câmara. Conhecida por “Triptíco de Santiago Menor e de São Filipe”* (1527-1531), é atribuída a Pieter Coecke van Aelst, e apresenta no painel central os dois apóstolos, enquanto que nos laterais são representados Simão Gonçalves da Câmara e seus filhos (à esquerda) e D. Isabel Silva e suas filhas (à direita), imortalizado assim a memória do poderio e riqueza daquele a quem com toda a propriedade poderemos chamar "o Rei do Açúcar".
LRP
Fonte: Nova Portugalidade
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