31 agosto 2022

541 anos da morte de D. Afonso V, o Africano

 


Filho do Rei D. Duarte e de sua esposa D. Leonor de Aragão, D. Afonso V nasceu em Sintra, a 15 de janeiro de 1432.

D. Afonso ascendeu ao trono com apenas seis anos de idade, em 1438, tendo sido estabelecida uma regência, inicialmente liderada por sua mãe e posteriormente por seu tio Pedro, Duque de Coimbra, irmão de D. Duarte.

D. Afonso viria a assumir o governo do Reino em 1446, ainda com o auxílio do seu tio, mantendo, no entanto, uma relação conturbada com este, que afastaria definitivamente em 1448.

Em 1449, acabaria mesmo por enfrentar D. Pedro na Batalha de Alfarrobeira, da qual sairia vitorioso. Pouco depois do término do conflito, D. Afonso V começaria a conceder cartas de perdão aos partidários do seu tio, sendo que em julho de 1455, após o nascimento do seu herdeiro, o futuro Rei D. João II, é publicado o perdão geral para todos aqueles que ainda não tinham sido absolvidos e que tinham apoiado o ex-regente.

Com a pacificação da política interna, D. Afonso V iniciaria uma fase de expansão caracterizada pelas campanhas no Norte de África, das quais adviria o cognome do Monarca, “o Africano”.
Sob as ordens de D. Afonso V, o exército português conquistou Alcácer Ceguer, em 1458, Anafé, em 1464 e finalmente, após o fracasso inicial, Tânger, em 1471, juntamente com Arzila e Larache.

Além da campanha no Norte de África, o Rei apoiou ainda a ação dos Descobrimentos, inicialmente ainda sob a coordenação do infante D. Henrique, seu tio. Assim, seria no seu reinado que os portugueses atingiriam a Serra Leoa e a Guiné. Quando desta regressavam, Diogo Gomes e Antonio da Noli terão avistado o arquipélago de Cabo Verde.

Em 1469, D. Afonso V concederia o comércio da Guiné a Fernão Gomes, com a condição deste descobrir todos os anos 100 léguas de costa, o que acabaria por fazer com que este alcançasse a costa da Mina. Em 1470, seriam descobertos S. Tomé e Príncipe por João de Santarém e Pedro Escobar. Em 1472, Álvaro Esteves passaria o equador. Em 1473, João Vaz Corte Real terá alcançado a Terra Nova, no Canadá.

Em 1475, D. Afonso V envolver-se-ia na Guerra de Sucessão de Castela, um conflito que teve como causa uma disputa pelo trono deste Reino, travado pelos partidários de D. Joana, a Beltraneja, apoiada pela Coroa portuguesa e de D. Isabel de Castela. Como D. Afonso V enviuvara de sua esposa D. Isabel em 1455, planeava casar com D. Joana e, assim, unir os dois reinos sob a Coroa portuguesa. Em 1476, a Batalha de Toro terminaria com um desfecho desfavorável para os interesses portugueses (destacando-se, no entanto, o feito heróico de Duarte de Almeida que, mesmo com duas mãos decepadas, continuou a segurar o estandarte português com os dentes), pelo que D. Afonso V assinaria em 1479 o Tratado de Alcáçovas, onde acabaria por reconhecer D. Isabel e seu esposo D. Fernando, os Reis Católicos, como legítimos Monarcas de Castela.

Este tratado seria, em 1480, ratificado na cidade de Toledo e, além do reconhecimento relativo ao trono de Castela, seriam incluídas cláusulas quanto à expansão ultramarina dos dois reinos, tendo sido reconhecido o domínio português sobre a ilha da Madeira, o arquipélago dos Açores, o de cabo Verde e a costa da Guiné, ao passo que Castela receberia as ilhas Canárias, renunciando a navegar ao Sul do cabo Bojador. Foram também regulamentadas as áreas de influência e de expansão de ambas as coroas pelo Reino de Fez, no Norte de África. Este tratado seria um importante antecedente do Tratado de Tordesilhas, ratificado em 1494.

Abdicando da governação em 1477 a favor do seu filho D. João II (que já assumira a coordenação da política de expansão ultramarina desde 1474), D. Afonso V viria a falecer há 541 anos, a 28 de agosto de 1481, aos 49 anos, encontrando-se sepultado no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha.

D. Afonso V permitiria que o legado do Infante D. Henrique fosse continuado, tendo consolidado o domínio do Oceano e da costa africana, estabelecido o controlo das ilhas e alcançado S. Jorge da Mina, uma próspera fonte de ouro.

Miguel Louro

30 agosto 2022

Prometer, Promessa

 


Prometer, Promessa – Correspondem exactamente a EnganarEngano. A razão é patente ainda ao entendimento mais rude. Um ateu, que promete proteger a Religião, um ladrão, que promete a segurança das propriedades, um tirano, que promete liberdade, um orgulhoso, que assegura que todos serão iguais, é necessário inquestionavelmente ser um simplório, para não conhecer que o que ele quer é enganar.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «Novo Vocabulário Filosófico-Democrático, indispensável para todos os que desejem entender a nova língua revolucionária», Nº 5, 1832


Fonte: Veritatis

29 agosto 2022

Não se preocupar e continuar a viver

 


O título deste artigo – tradução adaptada do ditado inglês stop worrying and start living – aplica-se a alguns governos eleitos por nós que conseguem fugir às suas responsabilidades, atirando as culpas de tudo para cima de causas que não controlam.

Uma das desculpas prediletas dos governantes, face a dificuldades sócio-económicas, é a de atribuir as responsabilidades da conjuntura nacional a uma alegada crise externa ou mundial que eles não controlam e cuja natureza é demasiado complexa para ser compreendida pelo cidadão comum que terá de se conformar, aceitando todas as medidas de contenção necessárias para ultrapassar a alegada crise. Subidas de juros, inflação, problemas na Saúde, Ensino, Segurança Social, etc. são justificadas com as crises a nível europeu ou mundial.

Outra desculpa que funciona às mil maravilhas é a das alterações climáticas. Incêndios, secas, inundações, quebras de produção, escassez de produtos agrícolas, da pecuária e até da produção de energia podem ser justificados com as alterações climáticas. O cidadão comum vai ter de se conformar, são causas alheias à governação – que pode ainda alegar que seria tudo muito pior se não fossem os subsídios governamentais para atenuar as calamidades.

Há ainda as guerras que afetam principalmente o preço dos combustíveis e cereais e que impulsiona a inflação, etc.. Uma guerra no extremo oriental da Europa faz aumentar os preços dos combustíveis e cereais no extremo ocidental, isto é, em Portugal que, segundo dizem, não dependia do gás russo, que continua a importar GNL da Nigéria, dos EUA e de outras origens e que poderia ter eletricidade barata do carvão da Colômbia mas decidiu, por causa das malditas alterações climáticas, fechar mais de 1 GW de potência das centrais a carvão. E o cidadão comum tem de conformar-se porque se trata de uma guerra que exige sacrifícios a todos e que o governo não controla.

Conclusão: o governo não tem responsabilidade de nada do que está a acontecer. Em relação aos incêndios, seca, inflação, Saúde, Ensino, etc., as causas são todas externas e incontroláveis. O governo não tem com que se preocupar, pode continuar a viver na maior tranquilidade… O povo aceita e conforma-se. Pelo menos enquanto acreditar nas desculpas!


Henrique Sousa

Fonte: Inconveniente

28 agosto 2022

Santo Agostinho sobre a fragilidade da vida

 

Só Deus sabe quando será o fim do mundo: seja quando for, o tempo da fé é hoje. O tempo está próximo para todos nós, porque somos mortais. Caminhamos no meio de perigos. 


Se fôssemos de vidro, não os recearíamos tanto; com efeito, não há coisa mais frágil que um recipiente de vidro, e no entanto conservamo-lo e dura séculos, porque pode cair, mas não pode envelhecer nem ser atingido por uma febre. 

Mas nós somos mais frágeis e mais fracos que o vidro, e essa fragilidade faz-nos recear em cada dia todos os acidentes que são constantes na vida dos homens. E se não houver acidentes, continua a existir o tempo que avança. O homem evita os choques; poderá evitar a sua última hora? Ele evita o que vem do exterior; poderá extirpar o que nasce no seu interior? 

Por vezes, é subitamente dominado por uma doença. E, mesmo que tenha sido poupado toda a vida, quando a velhice por fim chega, não há adiamento possível.

in Sermão 109


26 agosto 2022

UMA ESTRUTURA COM UM PROBLEMA

 

Com uma idade milenar, a estrutura agrária portuguesa é ainda hoje perfeitamente reconhecível. Nascida das Villas romanas e cimentada nas freguesias, centros de decisão das comunidades, sempre se identificou na propriedade de pequena dimensão, alicerce de uma rede complexa, decisiva na evolução e até, um inequívoco catalisador do nascimento da nossa Pátria tendo levado, quer D Afonso Henriques, quer D Sancho I, a intitularem-se reis dos portucalenses e não de Portugal, pois era a estes quem pertencia a terra.

Sempre que houve necessidade de povoar o interior, é esta estrutura quase caótica, que se replica e continua a ganhar terreno. É ela que se afirma através das confrarias, corporações e concelhos, conquistando por direito o seu lugar nas Cortes, limitando através do seu conselho o poder do Rei.

Os Foros, sucedâneos das freguesias, mantiveram estas formas de governo e alimentaram de novo esta estrutura, clara geradora de riqueza e garante de liberdade das famílias e comunidades.

Contudo, esta estrutura é, como já referido, possuidora de uma assinalável complexidade só se afastando do caos e da anarquia pelo pensamento no absoluto e pelo acompanhamento da Igreja, que para além de mediadora de conflitos, servia de guia às comunidades no seu caminho para o Bem Comum transcendente, objectivo último da nossa Pátria terrena.

O governo das comunidades e dos municípios, com as suas infindáveis pequenas propriedades continuaram a marcar e a enriquecer, ao longo dos séculos, as freguesias e os Foros. Mas tal constituía um obstáculo à ânsia de centralização trazida pelos ventos da revolução. A centralização é o elemento vital para a sobrevivência do estado de direito e é por isso que se entende a urgência na destruição dos Foros e do Municipalismo, nas desamortizações liberal e republicana, que transformaram quem da terra vivia, em assalariados, marcados pelo ferro em brasa da miséria, de uma burguesia cosmopolita, cuja preocupação nunca ultrapassou o rápido encher dos seus bolsos, como forma iniqua de ascensão social.

Apesar da sociedade ver destruído o livre arbítrio do homem por este centralismo imposto pela revolução, mais empenhado no triunfo de um individualismo antinatural, na afirmação de um pensamento redutor e relativista e pela ascensão de um Estado manipulador e controlador, o facto é que mesmo com o abandono dos campos e floresta em favor das cidades, mesmo coberta de silvas e de mato, é essa estrutura que permanece e ecoa nos tempos.

Não é por isso surpreendente que o poder considere tudo isto como um “problema estrutural” e na impossibilidade de uma nova desamortização, opte pelo “reordenamento”, pela “descentralização” e pelo “regionalismo” como formas mais favoráveis de manter o controlo férreo do Estado, desdenhando o repovoamento das terras, as freguesias e municípios, factores que poderiam acordar a latência de liberdade da pessoa, adormecida pela febril ansiedade gerada nestes cárceres a que chamam cidades.

Assim, não nos confrontamos com o problema estrutural da fragmentação da propriedade, mas sim com uma estrutura com um enorme problema.

E esse problema tem um nome: - O Estado de Direito, uma criação do Liberalismo doutrinário.

Por Deus, Pátria, Foros e Rei

25 agosto 2022

Professores de aviário?


O tempo de férias, politicamente, costuma ser «pacífico». Contudo, nos últimos dias, tem-se revelado muito preenchido. O Governo tem-no aproveitado para «apresentar» medidas «especiais», daquelas que se querem tomar, mas que não se querem fazer notar junto dos eleitores. Foi assim com a milionária contratação de Sérgio Figueiredo, para assessorar o ministro Medina. Mas que o próprio Figueiredo, após um tsunami de indignação nacional, acabou por declinar antes de entrar. Foi assim com o anúncio das alterações que se preparam, junto do «Ministério da Educação» (que deveria chamar-se «Ministério do Ensino»), a propósito das habilitações necessárias para «dar aulas» e permitir o alargamento do leque de potenciais candidatos. Notícia anunciada pelo próprio ministro da pasta, João Costa. Segundo o titular da pasta, as alterações ao diploma estão a ser preparadas e serão «publicadas brevemente».

Mesmo sem conhecermos as alterações, há todo um conjunto de preocupações que já se fazem sentir junto de alguns sectores do ensino, nomeadamente das famílias. Estas inquietam-se com a qualidade do ensino que poderá ser assegurado pelos docentes requisitados nas novas condições.

Se não é novidade para ninguém perceber que há falta de professores, no último ano lectivo isso ficou provado à saciedade. Foram milhares de alunos que ficaram sem docentes nas mais variadas disciplinas. Não apenas pela quantidade de profissionais que têm pedido a reforma, mas, também, por tantos milhares que abandona(ra)m o ensino por desmotivação e desinteresse na carreira. A juntar à falta de condições para uma realização pessoal e profissional plena, com salários baixos, junta-se o desrespeito perante a classe, a falta de autoridade, a indisciplina reinante e o excesso de burocracia das escolas.

Na sexta-feira, 12 de Agosto, o Ministro revelou os números da colocação em mobilidade interna e contratação inicial de professores para o ano lectivo de 2022-23. Referiu que as escolas tinham colocado quase todos os professores necessários para o arranque. Mas tal não se verifica. Apenas quem desconhece a orgânica das escolas e do sistema pode fazer uma afirmação destas. De um modo muito simples, o ministro parte do princípio que todos os professores do quadro colocados cumprem os critérios de componente lectiva máxima: 25 horas para os da educação pré-escolar e 1.º ciclo, e 22 horas para os do 2.º, 3.º ciclo e secundário. Mas isso não acontece devido à redução da componente lectiva que advém da idade, além da quantidade de docentes que, por questões de saúde, estão de baixa com atestado médico.

Esta situação, só por si, desmente os números apresentados. Mas há mais, o primeiro-ministro Costa referiu que os «97,7% dos horários pedidos pelas escolas tinham professores atribuídos», mas não referiu que as escolas tinham essa percentagem de alunos com professor a todas as disciplinas…

De um modo geral, as escolas só dia 18 de Agosto, ou mesmo no dia 1 de Setembro, aquando da apresentação dos docentes ao serviço, terão a noção exacta de quantos mais professores necessitarão. O envelhecimento docente leva a cálculos desfasados da realidade, porque a plataforma de concursos tem essa grande falha e, provavelmente, não interessa resolvê-la. Afinal, resolver essa «falha» estragaria os brilharetes das conferências de imprensa do ministro.

Voltando ao assunto primordial, importa sublinhar que o cerne da questão é que faltam muitos professores e a situação continuará a piorar nos próximos anos. Por essa razão, foi anunciada a revisão das habilitações para a docência. Essa revisão poderá trazer às nossas escolas «professores» sem componente pedagógica no currículo das suas licenciaturas ou mestrados que, depois, poderá ou não ser realizada através da profissionalização em serviço.

O ministro João Costa apresentou o exemplo flagrante da falta de professores de Informática; mas quem é o engenheiro informático que quer ser professor?… Com a falta de profissionais na área e com os ordenados que as empresas estão a oferecer, quantos enveredarão pelo ensino? Não será pelo vencimento e pela valorização profissional, certamente. E nas áreas da Geografia, História, Português, Inglês, Matemática e tantas outras?

Segundo o ministro, basta uma licenciatura e estão prontos a ser professores. É como criar frangos no aviário, alimentados a Farinha 115, e em 21 dias ficam prontos a seguir para o matadouro…

E, agora, a questão central: o que é necessário para que não faltem professores?

A solução é sabida, mas não tem havido vontade política para a executar.

Existem professores com formação sólida que seguiram outras profissões devido às más condições da carreira. Muitos voltariam a ser professores se os salários, entre outras condições, melhorassem. A opção governativa foi outra: qualquer formação serve para «dar aulas».

Para a opinião pública, parece uma estratégia muito meritória de combater a «falta de professores». Contudo, a grande questão, é que não faltam professores. Falta é vontade de atrair para pension os professores que existem.

De acordo com a mesma lógica socialista, se há falta de médicos e engenheiros, por que não se abre a porta a outros profissionais para colmatar as falhas?!…

Porém, em boa verdade, também podemos escrever que a habilitação profissional, em si mesma, não garante profissionalismo docente. Mas o que é certo é que, até prova em contrário, «professores de aviário» não resultarão e, mais grave do que isso, apesar de mais baratos aos cofres do Estado, sairão muito mais caros ao país e, especialmente, aos nossos filhos e netos. Afinal, com formadores sem alicerces pedagógicos, o ensino não oferecerá a qualidade necessária aos novos desafios que temos pela frente. Perante esta evidência, percebemos que o Governo, após sete anos de vida, e mesmo com um novo ministro na pasta, continua sem rumo, sem estratégia e sem visão.

Quando se governa para quatro anos, não se trabalha na prevenção de problemas para os quais já havia alertas há muito. Afinal, é mais fácil «empurrar com a barriga» e, após algum tempo, diz-se que se trata de «problemas estruturais».

E agora?

Agora, é desenrascar!… Ou seja, mandar jovens com défice de preparação científica, pedagógica e deontológica, «dar aulas».

Estatisticamente, que é o que importa ao Governo, o problema ficará, mais ou menos, resolvido. Afinal, vivemos tempos em que os números são evidências para discursos, debates, cartazes e reportagens. Para estes «brilharetes», a quantidade impera face à qualidade. E não se liga coisa nenhuma à qualidade: qualidade das aprendizagens; qualidade das experiências de iniciação à profissão; e qualidade da relação professor-aluno.

Pagaremos todos, e a curto prazo, a falta de responsabilidade da classe política e a falta de investimento na qualidade da Escola.

Os avisos têm sido constantes, mas a navegação à vista impera, até o barco começar a afundar. E, se não houver cautela, afundará mesmo.

Finalmente, importa perceber que «dar aulas» é uma coisa. Ensinar é outra, e bem distinta! E as nossas escolas precisam de Professores que ensinem, não de «alguém» que «dê aulas». A não ser que o objectivo seja formar «futuros socialistas» na arte do «desenrascar» e pensar apenas no presente. Neste caso, percebemos que qualquer pessoa servirá para «dar aulas».

O combate pela qualidade no ensino é – e será – duro. Não é por ninguém em particular que deve ser travado, mas por Portugal e pelos Portugueses! Um combate pelo futuro dos nossos filhos e netos, que têm direito a um Portugal decente!

Arregacemos as mangas por Portugal!

Os Portugueses bem o merecem!


José de CarvalhoProfessor e Investigador de História

Fonte: Inconveniente

24 agosto 2022

El-Rei Dom João I conquista a Praça de Ceuta

 

Na volta da famosa Cidade de Ceuta navegava o invictíssimo Rei de Portugal Dom João I com poderosa Armada, e sobre vinte e sete dias de viagem, e depois de vários acidentes que a inconstância do mar costuma trazer consigo, chegou finalmente à vista da mesma Cidade, e ao sair do Sol deste ditoso dia [21 de Agosto], ano de 1415, saiu também El-Rei (bizarro Sol Português) da Galé Capitania, e metido em um bergantim, discorreu pela Armada velozmente, influindo com a sua presença tão briosos espíritos nos Capitães e soldados, que já todos esperavam o sinal das trombetas, com impaciente ardor; Feriram elas os ares e ao mesmo tempo cortaram os Portugueses as ondas na volta da terra. Foram dos primeiros, os Infantes Dom Duarte e Dom Henrique, ansiosos de conseguirem naquela facção a imortalidade da fama, que se deve, não aos altos nascimentos, senão aos feitos ilustres; Saltaram do primeiro ímpeto seis Portugueses na praia, onde competia com o número das áreas o dos bárbaros: Logo cresceram os nossos a cento e cinquenta, e estes feitos em um corpo, carregaram aos inimigos com tão vigorosa impressão, que os fizeram ceder e retroceder um bom espaço; Entretanto foi concorrendo a nossa soldadesca, e sendo já trezentos (tudo gente nobre e escolhida) renovando o conflito, foram levando os Mouros às lançadas até uma porta da Cidade, e vendo desordem e confusão com que entravam nela, resolveram os Infantes entrar com eles de volta a todo o risco, e apelidando São Jorge e vitória, se travou um batalha horrível: Pelejavam os Mouros em defesa da pátria, da lei, da liberdade, da fazenda, da vida, das mulheres e dos filhos, e não duvidavam de oferecer-se à morte por motivos tão grandes: Os Portugueses traziam diante dos olhos o nome e reputação do seu Rei, a glória da Nação, tantas vezes vencedora dos infiéis, o triunfo da Fé, o aplauso da Cristandade toda, que toda estava absorta na expectação dos efeitos que nasciam de um tão estrondoso aparato; À medida destas considerações, era obstinadíssima, de uma e outra parte a contenda: Nos Portugueses excedia o valor, nos Mouros a multidão: Pelejavam estes cobertos dos muros e do alto deles choviam pedras e outras armas de arremesso sobre os nossos: Os mais valerosos acudiam a defender a porta, como posto onde consistia a suma facção; sobre os corpos despedaçados de uns, se ofereciam outros de boamente aos mesmos perigos; O aperto da gente era infinito, os brados e os golpes enchiam o ar de horror, a terra de mortandade; Mas posto que os defensores fizeram quanto deviam ao valor e ainda à desesperação, não puderam fechar a porta, nem impedir a entrada dos Portugueses na Cidade; Entrados em número de quinhentos e postos em um teso, esperavam o grosso do Exército para darem glorioso fim a princípios tão felizes; Então foi quando o Infante Dom Henrique, acompanhado de poucos, se entranhou sobejamente pelas ruas da Cidade, e encontrado com um esquadrão inimigo, se viu em pontos de perder a liberdade ou a vida, e com efeito se divulgou que era morto, notícia que El-Rei ouviu com ânimo constante: Ou porque era menor para sentir aquela perda, quando se achava com as armas nas mãos para vingá-la: Ou porque aquela morte em serviço da Fé e do seu Rei, mais era para invejada que sentida; Por outra parte Vasco Fernandes de Ataíde, Cavaleiro nobilíssimo, não contente de seguir aos mais, investiu com poucos companheiros outra porta, e sobre duríssima resistência a rompeu e entrou na Cidade, a qual acometida já por duas partes quase ao mesmo tempo e logo inundada pelos esquadrões que seguiam a pessoa d'el-Rei, se rendeu inteiramente dentro em poucas horas, e nas mais altas torres dela, se viram tremolando as vitoriosas Quinas de Portugal, as quais batidas dos ventos, apregoavam juntamente e aplaudiam triunfo tão glorioso. Logo El-Rei mandou purificar a Mesquita e consagrada ao culto do Senhor dos Exércitos lhe deu nela as devidas graças por favor tão singular: Armou Cavaleiros aos Infantes Dom Duarte e Dom Henrique e a outros Capitães e Soldados ilustres. Entre todos tiveram maior parte na glória desta empresa os mesmos Infantes e seu irmão o Senhor Dom Afonso; Mas singularmente sobressaiu nas provas do valor e dos perigos o Infante Dom Henrique, e com o sangue (que lhe corria de muitas feridas) esmaltou e enobreceu a fama e reputação do seu nome. É também digno de imortal memória o já nomeado Vasco Fernandes de Ataíde, que morreu pelejando com extremadíssimo valor. Morreram mais seis Portugueses, e se teve por evidente maravilha, que entre tantos perigos, perigassem tão poucos. É Ceuta uma das mais antigas Cidades (outros dizem a mais antiga) de toda a África: Desde os seus princípios foi célebre pela fortaleza do sítio e opulência do comércio; Foi Cabeça da Mauritânia em tempo dos Romanos; Depois na declinação destes a dominaram os Godos; E na destruição de Espanha [Península Ibérica] em tempo d'el-Rei Dom Rodrigo, ficaram os Mouros senhores dela; Até que sobre mais de setecentos anos de posse, lha arrancaram das mãos os Portugueses, neste dia, em quarta-feira, do ano referido. Soou por todo o Orbe a fama dos Portugueses que os levantava sobre as estrelas e El-Rei foi cumprimentado de todos os Príncipes da Cristandade, e por toda ela se ouviam repetidos os aplausos e os vivas ao seu valor e fortuna.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744


Fonte: Veritatis

23 agosto 2022

O BCE e outros vão aumentar a taxa de juro…

 


“Deixe-me emitir e controlar o dinheiro de uma nação e eu não me importo quem escreve as leis”.
“Eu me importo não com quem controla os assuntos políticos de uma nação, desde que eu controle a sua moeda”.
Mayer Amschel Rothschild [1]

“Lucrar com um empréstimo de uma pessoa pobre é
explorar essa pessoa”.
Êxodo 22: 25-27.

O BCE vai aumentar as taxas de juro. Surpresa? Alarido? Frases piedosas de inevitabilidade?

O FMI também vai aumentar? E o Banco Mundial? E o FED, etc?

Quem provoca o sobe e desce dos preços, que ninguém entende, nomeadamente os da energia com o crude à cabeça? A guerra que é cíclica? E quando não há guerra, isto é, há, mas ninguém repara nelas?

As agências de “rating” como vão reagir? A farsa do costume?

Atiram-se desculpas para cima da desgraça (que surge sempre do nada?), do momento?

É o lobby já antigo das “sete irmãs”? [2]

A culpa é da OPEP? [3]

Da Globalização?

Há especulação bolsista?

Ninguém vê, ninguém ouve, ninguém sabe…

Portugal com o “Estado Novo” fundado por Oliveira Salazar, nunca se deixou cair ou enredar, numa posição em que pudesse ficar refém destes “grupos” e organizações e, de um modo geral, do sistema financeiro internacional. Vivíamos pobres é certo, mas honrados, pois vivíamos do que produzíamos, amealhávamos e investíamos.

Não vivíamos do que nos emprestavam – a não ser pontualmente e pontualmente se pagava – nem se entrava em esquemas especulativos.

Não devíamos nada a ninguém e o orçamento estava equilibrado, ou seja, não se gastava mais do que se tinha. O Estado também pouco devia aos particulares.

A Bolsa não era um casino e as reservas de ouro e divisas, representavam um seguro de vida.

Os paraísos fiscais não eram acarinhados (apesar de todos os condenarem…).

Um verdadeiro milagre face ao descalabro dos últimos 130 anos…

A Nação vivia remediada, mas o Estado era, de certo modo, rico. E com isso protegia-nos a todos, até porque não havia necessidade de esbanjar dinheiro em promessas eleitorais frustres.

Os banqueiros não punham o pé em ramo verde e o capitalismo selvagem americano (agora apelidado de liberal) ficava sempre a uma prudente distância. Aprendeu-se bem com a crise da “Wall Street”, de 1929 e com a crise da libra, em 1931.

Não tínhamos que dobrar a cerviz a ninguém.

Durante cerca de trinta anos não se recorreu a mercados externos, e quando se recorria era o governo português que escolhia os credores e negociava, quando não impunha as condições. Nunca houve falta de crédito, mesmo tendo em vista a estafada mentira do “orgulhosamente sós”.

O Banco de Portugal não era dominado por famílias de financeiros sem rosto, tão pouco, pasto de organizações financeiras internacionais predadoras.

Acharam isto mal e passaram a fazer tudo ao contrário depois de 1974?

Pois têm (temos) o que merecem…

As coisas passam-se, em termos simples, mais ou menos da seguinte maneira (passando-se tudo debaixo dos nossos narizes, logo é menos visível…).

Numa situação “normal” (isto é, de alguma estabilidade económica) o sistema financeiro abre generosamente os cordões à bolsa e facilita e incentiva os empréstimos – chegando-se hoje em dia, ao cúmulo de existirem juros negativos. Quando o grau de endividamento (que cada vez se alarga mais) das famílias, das empresas, dos diferentes órgãos do Estado e dos próprios Estados, atinge um determinado valor, aproveita-se uma crise qualquer política, social, económica, etc. – ou cria-se uma artificialmente (as guerras são o ideal nestes casos) – e, subitamente o acesso ao crédito é drasticamente cortado e torna-se mais caro.

Isto faz com que uma grande quantidade das famílias e empresas, órgãos do Estado e o próprio Estado, fiquem impossibilitados de pagar os empréstimos e o serviço da dívida, gerando-se uma monumental venda ou captura de activos, causando falências, largando muita gente na pobreza e limitando cada vez mais a liberdade de todos.

Quando as situações de crise, provocadas ou não, passam, ou simplesmente o torniquete aplicado está prestes a causar uma explosão social ou torna a vida insuportável, facilita-se novamente o acesso ao crédito e as famílias, as empresas, os órgãos do Estado e o Estado, ele próprio, desatam novamente a endividar-se, sem nunca aprenderem nada.

Os ciclos vão-se repetindo cada vez com menos restrições (regulação) e com processos (cada vez mais refinados/loucos) de usura.

A escala é cada vez maior…

A riqueza está, deste modo, a ser sugada da base da pirâmide para o topo, gerando um poder e riqueza cada vez maior nas mãos de cada vez menos.

O esquema começou há muito tempo com a “invenção” de fazer “dinheiro a partir do nada”, que teve início com a criação do juro (que todas as religiões monoteístas condenaram no início e durante séculos – hoje é o que se vê – sendo S. Tomás de Aquino [4] aquele que melhor enquadrou a questão); aumentou com a criação das bolsas de valores, piorou com a usura e a especulação, que são transversais a tudo [5]; tentou-se moderar com a existência de um padrão-ouro (e de outros metais nobres) que originou o acordo de Bretton Woods, em 1944, e a correspondência do valor facial da moeda ao seu valor real (que acabou com a invenção do cuproníquel), mas nada deteve a sofreguidão em querer fazer e dispor de mais dinheiro.

O presidente Nixon acabou, unilateralmente, com o padrão-ouro e colocou os “petrodólares” a funcionar.

Mas agora anda tudo em roda livre (até se inventam cripto -moedas) e parece que ninguém sabe o que fazer.

Salvam-se as moedas de “referência”, a saber o dólar, a libra, o franco suíço e agora o euro.

Também ninguém sabe explicar porque é que isto se passa assim, isto é, porque é que há moedas que são de referência e as outras que valem… o que valem. Parece que é uma questão de confiança…

O escudo português nunca foi uma moeda de referência (como era a moeda nacional no tempo de D. Manuel I) mas era uma moeda respeitada e chegou a ser considerada em 1973/4 como a sexta mais forte do mundo.

Querem os nacionais continuar nesta senda? É porque gostam de ser escravos? Mordam-se!

Julgam que podiam ter sol na eira e chuva no nabal, em simultâneo? Então divirtam-se enquanto esperam sentados!

Querem estar no sempre em festa e no compre hoje e pague amanhã, saltando de cartão de crédito em empréstimo? Paz às vossas almas mas, depois, não se queixem!

Responsabilidade maior? Dos políticos, obviamente.

A maioria é ignorante e nem sabe ao que anda (a não ser dos seus negócios) – o que se pode esperar de gente oriunda de partidos políticos? Outros são “capturados” pelo “sistema” e são coniventes.

A grande maioria dos Presidentes da República depois da Constituição de 1976 ter sido aprovada, primeiros-ministros, presidentes do Parlamento e líderes dos partidos do centrão político, antes de o serem, passou, pelos menos, por uma reunião de um determinado “grupo” internacionalista, dito de “pensadores”, conhecido.

O primeiro-ministro António Costa e o anterior (dito) líder da oposição, Dr. Rui Rio, foram até juntos (em 2008), em parelha, a uma dessas reuniões. Nem sei porque é que há tanta gente admirada por não se notar ter havido qualquer tipo de… oposição…

Entretanto dispararam as taxas de juro das dívidas soberanas e o BCE (agora também às voltas com a inflação) já não sabe o que há-de fazer. É que já não tem só a Grécia e Portugal para resgatar ou salvar, já são quase todos os países da UE e o próprio euro. Por maioria de razão Portugal (que já vai com mais de 120% de dívida pública) – cujos governantes não sabem fazer mais nada do que vender o país, estender a mão e pedir emprestado – está já com as barbas a arder.

Mas a culpa, obviamente, continua a ser do Professor Salazar, esse ditador, mesquinho, provinciano e de vistas curtas, no dizer dos filhos d’algo modernos, impolutos, democratas do mais fino recorte e, naturalmente, de vistas largas, que para aí pontificam.

Isto vai de mal a pior e só não bate no fundo, pois há muito que deixou de haver fundo.

João José Brandão FerreiraOficial Piloto Aviador (Ref.)

Notas:

[1] Judeu Askenazi, nascido e enterrado em Frankfurt (23/2/1744 – 19/9/1812); Varão que deu origem à “dinastia” financeira mais rica e poderosa do mundo.
[2] As sete maiores e mais antigas multinacionais do petróleo.
[3] Organização dos Países Exportadores de Petróleo.
[4] Dizia São Tomás: “A cobrança de juros é errada porque equivale a uma cobrança dupla, cobrando tanto pela coisa como pelo uso da coisa”; e “o pagamento de juros era para pagar um preço pela passagem do tempo e, como o tempo é um bem possuído por todos não se pode cobrar por ele”.
[5] Usura, pecado de juro abusivo, excessivo ou lucro exagerado sobre um empréstimo. Ainda São Tomás na sua “Suma Theológica” “São dignos de morte não somente os que cometem pecados, senão também os que consentem aos que fazem. Ora, quem recebe dinheiro mutuado, sob a condição de pagar usura, consente no pecado do usurário e dá-lhe ocasião de pecar. Logo também peca”.

Fonte: Inconveniente