sexta-feira, 19 de agosto de 2022

O CULTO DO FOGO

 “Não é segredo que o símbolo preferido da barbárie é o fogo, do mesmo modo que o símbolo preferido da civilização é a água. os povos meridionais reuniam-se no pátio ou na praça, à volta de uma fonte; enquanto os povos Nórdicos o faziam à volta do lume.

Quando o homem anseia deixar para trás a barbárie, escava um poço, constrói um aqueduto, baptiza os seus filhos; quando um homem deseja abraçar a barbárie, dança em torno do fogo, queima pólvora, incendeia um monte. No incêndio dos Montes há sempre uma perda de civilização, um retrocesso até a barbárie.”
(JUAN MANUEL DE PRADA, ABC, 18 de Julho de 2022)

Depois de mais uma tenebrosa série de incêndios que destruíram a face da nossa Pátria e reduziram a lágrimas e desespero a vida de muita gente encurralada entre as cinzas e a miséria, o poder renova-se em mais ou menos prevenção, em promessas de meios de combate, em estudos e especialistas que dissertam sobre tudo e o seu oposto.

Há uma frase de António Sardinha que assume particular importância: - Civilizar é espiritualizar.

É exactamente isso que nos falta, civilização. Na verdade, vivemos em tempos de “humanização”, onde uma ciência alheada da metafísica e abraçada ao modernismo que a impele num sentido meramente vectorial, logo sem qualquer objectivo final, tornando-se numa religião, com o seu séquito de cientistas e especialistas que no terror das suas predições, lá vão levando um rebanho de gente cretinizada à base de Televisão e de “noticias verdadeiras” das redes sociais, nos recônditos caminhos de um grotesco caleidoscópio, onde uma propaganda nos vai anunciando uma Internet mais rápida, capaz de nos “humanizar” com a hipnose total que só um ecrã de telemóvel nos consegue proporcionar.

Ora, sem espiritualizar, sem o pensamento no Absoluto, o “humanizar” em vez de nos elevar à civilização, aproxima-nos da barbárie numa espiral onde o fogo é elemento fundamental, uma calamidade tão inevitável, que só pode merecer um governamental estudo científico com verdadeiros e horrorosos traços de culto.

Entretanto as massas cretinizadas vão-se admirando, chorando e irritando, com anunciados incendiários, negócios obscuros que o poder vai fugazmente alimentando, ou tão somente com alguns animais salvos por um mediático desconhecido das garras das labaredas, sem sequer se aperceberem que o fogo passou a ser o motivo e a motivação, o centro e a circunferência de todos os interesses e decisões, numa propositada adoração que nos destruirá, que nos “humanizará”.

Por Deus, Pátria, Foros e Rei

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