segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Golpe de Estado

 


Não sabemos o destino final do caos político que está hoje em marcha nos EUA, mas o que sabemos, e é bom não esquecer, é que era tão expectável, foi alvo de tantos avisos, e parece tão inevitável ao senso comum, que é muito difícil acreditar não ter sido premeditado e intencional. Este desgoverno é fruto sobretudo de dois fatores: o voto por correio, e o controlo da narrativa. 

No tradicional voto por correio, ou “absentee vote”, há muito em prática nos EUA, o eleitor, mediante justificação, requer um boletim de voto que lhe é enviado por correio. Houve sempre um consenso entre ambos os partidos de que este sistema era “a maior fonte de potencial fraude eleitoral” e, por isso mesmo, sempre se limitou a casos excecionais. Já no voto universal por correio, ou “universal mail-in vote”, defendido ad exaustum pelo partido democrata nos meses que antecederam as eleições, e que, com diferenças de estado para estado, acabou por ser posto em prática, os boletins são indiscriminadamente enviados a todos os eleitores inscritos, sem necessidade de requerimento. As recentes experiências nas eleições primárias, com alguns estados americanos a aplicar o voto universal por correio, puseram a claro as suas deficiências e perigos, pelo que ninguém pode com seriedade alegar surpresa pelo que se está a passar agora.

Para dar alguns exemplos, no Wisconsin, 1600 boletins de voto foram encontrados no dia seguinte num armazém dos correios e 23 000 foram rejeitados por falta de assinatura. Na Virgínia, mais de 500 000 boletins de voto foram enviados com informação errada, para eleitores já falecidos ou moradas erradas. Em New Jersey, quatro pessoas foram acusadas de atividade criminosa, levando a que 20% dos boletins de voto fossem rejeitados. Uma dessas pessoas confessou ter roubado boletins de caixas de correio. Outros compilaram bases de dados de assinaturas e usaram-nas para preencher boletins com o nome do seu candidato favorito.

Há ainda a tradição americana dos indivíduos e organizações que em dias eleitorais vão porta a porta incentivar ao voto e por vezes conduzir os eleitores às urnas, um costume já de si muito propenso a fraude (como aconteceu por exemplo em 2008 com o escândalo da ACORN). Com o voto universal por correio, este perigo ganhou contornos dantescos, com estes grupos a receber os boletins de voto diretamente de eleitores para supostamente os depositar em marcos de correio, sem que ninguém depois controle se o fazem ou não, se apenas enviam os do candidato da sua preferência ou se os alteram.

Tendo isto bem presente, a candidatura de Donald Trump fez tudo o que estava ao seu alcance, incluindo um recurso ao Supremo Tribunal, para impedir, ou pelo menos limitar, o voto universal por correio, na tentativa de que as eleições decorressem do modo mais transparente e seguro possível, de acordo com aquilo que é a tradição americana. 

Durante meses insistiu-se que este sistema de voto seria catastrófico e que se instalaria o caos. No final, como se sabe, a pressão do partido democrata prevaleceu, pelo que foi sem espanto que logo no dia das eleições se começaram a multiplicar fenómenos nunca vistos em presidenciais americanas e que apontam para níveis de fraude eleitoral sem precedentes. 

No Nevada, o Departamento de Justiça está a investigar 3 062 casos de fraude eleitoral, número que apenas se espera que aumente. Identificaram-se milhares de votos de indivíduos menores de idade, e de outros que já não vivem no Estado. Há relatos de pessoas que receberam em casa 18 boletins de voto, de se terem contabilizado votos de pessoas já falecidas, e inclusive histórias de eleitores que no momento em que iam votar presencialmente lhes foi dito que já tinha sido registado um voto em seu nome. 

Na Pensilvânia, os observadores republicanos das mesas de contagem foram obrigados a estar a 40 metros das mesas, ficando assim impedidos de fazer o seu trabalho. Esta irregularidade, sem precedentes, repetiu-se no Arizona, Nevada e Michigan. O advogado e antigo presidente da câmara de Nova York, Rudy Giuliani, avançou já com processos judiciais em todos estes estados.

No Michigan, multiplicam-se as mais diversas acusações de fraude. Entre elas, inúmeras fotos e vídeos mostram indivíduos a taparem com placards os vidros das salas onde os votos por correio estão a ser contabilizados, para estupefação e revolta dos eleitores presentes.

A Carolina do Norte, um estado crucial para o resultado das eleições, diz que vai aceitar votos por correio que sejam recebidos até ao dia 12 de Novembro (nove dias após as eleições). 

No Wisconsin, às 4 da manhã do dia seguinte à eleições, apareceram misteriosamente 120 mil votos e todos eles foram contabilizados sem serem escrutinados pelos observadores republicanos.

Na Geórgia, foi dito aos observadores das mesas de voto para irem para casa porque iam interromper a contagem durante a noite, e em vez disso prosseguiram a contagem em segredo. 

A lista é interminável e qualquer pessoa de bem quando confrontada com estes factos percebe que algo de muito errado se está a passar. Mas acontece que a maioria das pessoas não tem sequer acesso a estas notícias porque não aparecem nos media nem nas redes sociais. E aqui entra em ação o segundo fator que nos trouxe até aqui: o controlo da narrativa. 

A comunicação social e as redes sociais controlam e manipulam a informação que nos chega, numa extensão e perversidade jamais vistas. Deixámos de ter acesso ao relato dos factos, sobre o qual podemos aplicar os nossos valores, opiniões e julgamento. Ao invés, recebemos uma história, filtrada, coerente e direcionada ao sabor de quem a cria. Breves e recentes exemplos ilustram bem este ponto.

De há vários dias a esta parte o Twitter chegou ao cúmulo de censurar a maioria dos tweets de teor político do Presidente dos Estados Unidos. Sem qualquer pudor ou receio de consequências. Só Deus e Jack Dorsey (CEO do Twitter) saberão a extensão da filtragem de conteúdos que a plataforma aplica ao comum dos mortais.

Quando na conferencia de imprensa de 5 de Novembro, Donald Trump começou a enumerar as irregularidades das eleições e o modo como inexplicavelmente os números de votos começaram a mudar a direção da eleição, as cadeias de televisão ABC, MSNBC e CBS simplesmente cancelaram abruptamente a transmissão. A justificação foi de que o presidente dos EUA estava a espalhar notícias falsas – como se coubesse à cadeia de televisão, e não ao espectador, discernir o que é ou não falso.

Uma jornalista do Observador, em objeção às alegações do Presidente escreveu “O problema é que não há indicações ou quaisquer provas de fraude na contagem de votos”. É mentira. Mas a mentira não nos devia surpreender, vem das mesmas fontes que durante meses nos atiraram com sondagens que mostravam como Trump ia ser trucidado nas eleições. Erraram com estrondo e pela segunda vez. E é preciso muita fé para acreditar que o fizeram por gritante incompetência e não como meio de influenciar os eleitores americanos.

As justíssimas questões que Donald Trump levanta – cujos esclarecimentos deve não só ao seu eleitorado, mas à Democracia americana – não passam para o grande público. É como se não existissem. A narrativa que nos chega é simplesmente a de que Biden ganhou as eleições, e Trump, fiel ao seu espírito antidemocrático, se recusa a ceder o poder inventando histórias de fraudes imaginárias.

Para todos os efeitos, o que estamos a viver não está muito longe de um golpe de estado. Levado a cabo pelo Partido Democrata, que ao forçar o voto por correio escancarou a porta à fraude, à dúvida e ao caos. E pelos media e redes sociais, que num atropelo descarado da liberdade de expressão e do que devia ser o seu código deontológico, silenciam o Presidente americano, e não reportam as patentes ilegalidades das eleições. 

Rui Tato Lima, Licenciado em Ciência Política


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