“…se a abolição é a causa disto, eu não me arrependo; eu considero valer a pena perder o trono por ela”.( Princesa Isabel, a Redentora, Princesa Imperial do Brasil )
A 13 de Maio, a humanidade, toda, deveria celebrar com grande júbilo o acto de extrema coragem da Princesa Isabel, Princesa Herdeira do Brasil, em período da sua 3.ª Regência: a assinatura da chamada Lei Aurea, que punha fim à escravatura no seu país. Esse acto de grande humanidade, exemplar, custou o fim da Monarquia neste grande país irmão, o Brasil.
Assim, o dia 13 de Maio de 1888 deverá constar como um dos grandes feitos humanistas, porque profundamente cristão, da abolição da infâmia da escravatura Obviamente que os grandes capitalistas latifundiários brasileiros se lhe opuseram ferozmente. A Princesa preferiu perder o trono do qual era a herdeira natural a vir a ser Imperatriz de um Império com escravos, seres humanos tornados coisas, objectos de troca e venda, empréstimo e herança. Um exemplo de ontem para os dias de hoje!
Já não era a primeira vez que Dona Isabel, a Princesa Redentora, como ainda é conhecida no Brasil e muito amada, tomava posições públicas e políticas contra a escravatura. Durante a sua Primeira Regência, em 28 de Setembro de 1871, sancionou a chamada “Lei do Ventre Livre”, pela qual se estipulava que qualquer criança, filha de escravos nunca mais nasceria escrava, mas pessoa livre. Foi a primeira machadada num sistema ignóbil.
E a mesma Princesa acolhia escravos foragidos no seu palácio e os tratava e tinha como homens e mulheres livres.
Foi a Princesa Isabel que adoptou a flor de japoneira, as nossas lindíssimas camélias, planta levada da Europa (trazida do Japão séculos antes), a camélia branca, como sinal público dos abolicionistas. E era muito frequente ver a Princesa Isabel, em público e como sinal provocatório do seu empenho abolicionista, trazer como adorno uma camélia branca ou um ramo destas flores. Por isso, e graças a esta bendita e louvável iniciativa, a camélia tornou-se no Brasil, sinal de luta contra a escravatura.
A Princesa Isabel honra os Orleães Bragança vivos ( o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança descende desta Princesa). Honra o povo brasileiro que serviu. Honra a humanidade.
Esta luta pelos Direitos Humanos fundamentais custou o trono a Isabel, pois o Pai, o Imperador Dom Pedro II, foi deposto no ano seguinte. Por isso, esta Princesa ainda hoje é muito admirada no Brasil, país onde só regressou em Abril de 1971, 50 anos após a sua morte em França, tendo sido recebidos os seus restos mortais, com os do seu Marido, com todas as honras devidas a Chefes de Estado.
Em Maio, dia 13 desse ano de 1971, comemorando o aniversário da Lei Aurea, Isabel e o Conde Eu, seu Marido, foram inumados na Catedral de Petrópolis, onde outros Braganças brasileiros já estavam. Justa homenagem do Governo e povo brasileiro que, ainda que tarde, reconheceu a grande dívida para com estes insígnes Príncipes na defesa e promoção dos Direitos Humanos .
A Princesa Isabel, a Redentora, merece, ao aproximar-se o 130.º aniversário da abolição da escravatura no Brasil, que a homenageemos, a recordemos e lhe agradeçamos este gesto humanitário contra uma indignidade: a escravatura.
Curvo-me diante desta Princesa. Agradeço-lhe o exemplo e a coragem. Por causa dela, ao assumir a camélia como sinal do abolicionismo, tornei-me ainda mais admirador das camélias que me lembram sempre esta grande Senhora, neta de um Rei português, Dom Pedro IV, e a luta incessante que travou contra os poderosos escravocratas pela libertação dos escravos e da respectiva abolição de uma das maiores infâmias da humanidade: a escravatura.
A Princesa Isabel, infelizmente, continua a ser um modelo a imitar na luta contra outras formas de escravatura que subsistem na nossa sociedade capitalista e amoral.
(Nota: Em Portugal continental, o dia 12 de Fevereiro de 1761, dia da abolição da escravatura, também deveria merecer divulgação e celebração e o dia 12 de Dezembro de 1836, dia da abolição do tráfico em todo o nosso território imperial, também merecem ser lembrados e celebrados).
Para que a nossa memória colectiva não se perca, aqui fica esta registo.
CARLOS AGUIAR GOMES
Fonte: Diário do Minho
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