Destruir o mito da "boa colonização holandesa do Brasil": os massacres de Cunhaú e Uruaçu
A Igreja brasileira - e, por isso, a Portugalidade - acaba de ganhar trinta novos santos. São os mártires de Cunhaú e Uruaçu, friamente assassinados pela Holanda, que invadira o Brasil e então lá se encontrava como potência ocupante, no século XVII. A ocasião permite - obriga, até - reflexão sobre a estranha deturpação que se vem fazendo do papel da Holanda no Brasil, programa que sabemos confundir-se com a difamação de Portugal por muita historiografia lusófoba e Portugal e no Brasil.
Filha de muitos anos de propaganda anti-portuguesa nas escolas do Brasil, essa peculiar leitura da História ataca os construtores portugueses do país e exalta como bons, decentes e avançados os invasores holandeses. É outro exemplo do auto-ódio que foi elevado à dignidade de verdade por quem - e assim é com tantos governos de países portugueses, e especialmente com o do Brasil - faz da mentira a sua profissão. Mas este é especialmente extraordinário, pois o que pede do brasileiro - e o brasileiro é o português, mas sul-americano e com o seu próprio Portugal independente do Portugal europeu - é que grite de júbilo pela invasão da sua terra por povo estranho, pela violação das suas mulheres, destruição das suas aldeias e por série temível de saques, torturas, latrocínios e massacres.
Das incontáveis brutalidades cometidas pela Holanda em terra brasileira, há poucas mais repelentes que as de Cunhaú e Uruaçu. A primeira deu-se a 16 de Julho de 1645. Uma coluna holandesa, comandada por um tal Jacob Rabi, juntou-se a número indeterminado de índios potiguares e desceu sobre o Engenho Cunhaú, em Canguaretama. O povo do engenho encontrava-se a ouvir missa do seu padre, um tal André de Soveral, quando a tropa ocupante por lá entrou. Os detalhes do que se terá passado depois são de difícil, porque dura, explicação. Como os outros do aldeamento, o padre Soveral foi torturado; depois, os potiguares aliados da Holanda e às ordens de Rabi arrancaram-lhe o coração pelas costas. Os mortos foram mais de 70. Em reconhecimento do seu martírio às mãos do invasor, o Padre André de Soveral foi beatificado em 5 de Março de 2000 pelo Papa São João Paulo II.
A três de Outubro de 1645, novo acto de horror, nova manifestação de ódio irrefreado, novo motivo de vergonha a quantos ousam hoje cantar as virtudes da conquista holandesa. Cunhaú causara compreensível temor entre a população luso-católica e esta, acossada, refugiara-se na costa. Rabi e seu bando seguiram-nos e, encontrando grupo de oitenta, tentaram forçá-los à conversão ao calvinismo. Se o fanatismo religioso teve origem em J. Rabi, um judeu holandês, é impossível saber; é de crer que o acompanhariam presbíteros calvinistas, e que teria partido deles a exigência de apostasia. O que sabemos é que a população, embora cercada, humilhada e aterrorizada, recusou apostatar. O sacerdote português, Padre Ambrósio Ferro, foi supliciado e forçado a assistir à chacina de todos os outros. A um deles, um camponês chamado Mateus Moreira, foi arrancado, como ao Padre Soveral de Cunhaú, o coração pelas costas. Moreira terá deixado o mundo com brado de coragem e fé: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento!" foi o que exclamou no momento do fim. Hoje, como o Padre André de Soveral e 28 outros mártires, Moreira foi canonizado pelo Papa Francisco em Roma. São trinta novos santos portugueses, brasileiros e da Portugalidade.
A ocupação holandesa do Brasil terminou em 1654. É prova infeliz do estado da educação brasileira que tantos vejam neste período de expropriações, perseguições e massacres uma época de progresso para o Brasil. Mas dessa mentira falará a Nova Portugalidade futuramente.
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