terça-feira, 15 de outubro de 2024

PORTUGAL DEVE ABANDONAR A ONU…

“A Política é a única profissão que não tem filtro”
Autor desconhecido

A ONU (Organização das Nações Unidas) foi fundada em S. Francisco, em 24 de Outubro de 1945, tem por isso 78 anos. Assinaram a “Carta” 51 países.

A ideia de criar a ONU partiu de Roosevelt e Churchill, numa reunião secreta (algures no Atlântico), em Agosto de 1941, onde se intentou criar a “Carta do Atlântico”.

É, portanto, uma organização inspirada em termos anglo-saxónicos.

A localização da reunião mantém-se – inexplicavelmente – secreta até hoje.

Um grupo de trabalho com representantes de alguns países (os EUA, URSS, China, Grã-Bretanha – a que se juntou depois a França – ou seja os futuros vencedores da II Guerra Mundial preparou a “Carta” e organização, em Dumbarton Oaks (EUA) entre Agosto e Outubro de 1944. Aparentemente arrogaram-se esse direito, mais ou menos acordado na Conferência de Yalta.

Na altura a preocupação maior foi manter a Alemanha fora da organização e dominá-la. Surgiu assim um novo órgão de Direito Internacional que se propunha resolver os conflitos entre os países de forma pacífica, sucedendo à defunta Liga das Nações, ou Sociedade das Nações (SDN), fundada em 28 de Abril de 1919, nos escombros da Conferência de Versalhes, após o termo da I Guerra Mundial.

Teve sede em Genebra e dela fizeram parte 44 Estados, Portugal incluído. Os objectivos eram cândidos: evitar uma nova guerra como a anterior.

A sua actuação foi um desastre extenso, que não só não evitou nova guerra como lhe multiplicou a magnitude.

Por 1942 a organização, estava extinta, ressuscitando, em Abril de 1946, para num rasgo de dignidade que nunca foi seu apanágio, entregar as suas responsabilidades na novel ONU.

A ONU tem um nome infeliz, desajustado e erróneo, já que “Nações Unidas”, é coisa que não existe, nem parece nada que vá existir.

A “organização” tem reflectido isso mesmo; o resultado idem, e tem sido outro desastre extenso. Hoje fazem parte da ONU 193 estados membros e dois observadores (a Santa Sé e a Palestina).

A ONU é uma organização intergovernamental, com sede em Nova York (desde 1952), num espaço da ilha de Manhattan, a que foi dado o estatuto de “extraterritorialidade”, que tem a utopia de querer conseguir manter a paz e segurança internacionais; promover as relações internacionais em diferentes âmbitos; servir de centro que harmonize os esforços das nações para atingir esses objectivos (comuns).

Adoptou, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, da autoria da viúva do Presidente Roosevelt, Eleanore, e do advogado francês René Cassin.

Possui cinco grandes órgãos: a Assembleia – Geral; o Secretariado – Geral; o Conselho de Segurança (cinco membros permanentes e dez rotativos, por períodos de dois anos); Conselho Económico e Social e o Tribunal Internacional, situado em Haia. Possui ainda 17 grandes agências (tipo OMS, Unesco, Banco Mundial, etc.) e vários escritórios e agências espalhadas pelo mundo.

A ONU é financiada por contribuições voluntárias dos Estados membros. A maior vem dos EUA, com cerca de 22% do total…

*****

Portugal não participou nos trabalhos preparatórios, nem foi membro fundador. Em Agosto de 1946, acolitado pela Grã-Bretanha, EUA e França, Portugal mediu os prós e os contras e decidiu aderir.

A URSS, porém, usou o seu veto e impediu que tal acontecesse (também vetou a entrada da Áustria, Finlândia, Irlanda e outros). A URRS votava a Portugal (e também a Espanha) especial ódio, por terem sido os países que impediram que o comunismo vencesse na guerra civil espanhola e se alastrasse e imperasse em toda a Península Ibérica.

O Governo Português não reiterou o pedido nem o retirou.

Em 1955 a situação mudou por insistência dos EUA e da Grã-Bretanha, a fim de reforçar o chamado “bloco ocidental”, tendo a NATO, o Pacto de Varsóvia e a Guerra - Fria, por pano de fundo, negociaram com a URSS (Stalin tinha morrido em 1953), a entrada em bloco de vários países de ambos os lados. Foi assim que Portugal foi admitido, em 14 de Dezembro de 1955, juntamente com a Itália, Áustria, Espanha e Finlândia, ao mesmo tempo que do “bloco oposto” entravam a Bulgária, Hungria e Roménia e alguns outros.1

Como “curiosidade” deve acrescentar-se que a República Federal Alemã e a República Democrática Alemã, só entraram para a ONU, em 18 de Setembro de 1973 e com um estatuto diferente de todos os outros estados membros.

Portugal jamais retirou qualquer vantagem até hoje da sua permanência na ONU e foi objecto desde a sua entrada, até 1975, dos mais excruciantes e injustos ataques, devido a ter tido a veleidade (quiçá o crime) de pretender possuir territórios fora do continente europeu que eram seus por direito, alguns dos quais há mais de 500 anos.

Estas actuações não se podem esquecer nem perdoar, apesar dos erros crassos cometidos por políticos portugueses anos depois.

O Primeiro-Ministro português discursou recentemente (a 26 de Setembro) na Assembleia - Geral daquela organização falida, inoperante e patética.

Foi lá perder o seu tempo e o nosso. Deveria apenas ter enviado um diplomata menor, entregar uma declaração (nos trâmites permitidos) a retirar Portugal daquela “Babilónia” moderna, que nem sequer tem os encantos da antiga. E mandar pagar as contas em dívida, se alguma.

Não estamos na ONU a fazer nada, nem aquele “Palácio de Vidro” que é apenas uma atração turística de Nova Iorque, serve para alguma coisa. Está refém do poder de veto dos cinco países permanentes do Conselho de Segurança (EUA, Rússia, China, França e Grã-Bretanha – na altura os únicos que possuíam armas nucleares) e nunca resolveu um único problema até hoje. Logo o que garante que vai resolver algo no futuro?

As Nações Unidas não têm tropas próprias para impor decisões (mesmo do seu tribunal), apesar de já ter negociado cerca de 560 tratados multilaterais.

Todas as questões são resolvidas até hoje (quando são) por relações bilaterais e ou por organismos externos à ONU. Além disso esta representa uma organização mastodôntica, que custa uma enormidade de dinheiro (ignoro qual a contribuição portuguesa) e estão cheios de agências que também de pouco servem a não ser para justificar os honorários de quem lá trabalha.

Nem o Tratado da Antárctida foi feito sob a sua alçada…

Aliás, aquela que reputamos de principal medida até hoje tomada pela ONU, ou seja a divisão da “Palestina” num estado Judeu e outro árabe pela resolução de 29 de Novembro de 1947, teve as consequências que ainda hoje se podem observar…

E quanto a tentativas de se constituir como “governo mundial” em determinados assuntos, como têm sido os presentes casos sobre vacinação, alterações climáticas, migrações e questões sociais fracturantes – conforme consta da agenda 20-30 – estamos dispensados de as seguir, pois são de vómito.

Sair da ONU é uma economia de esforço e de recursos, além de um alívio de sanidade mental e de hipocrisia política.

As alianças e os acordos que temos e precisamos são estabelecidos à margem da ONU (enfim temos hoje pendente a negociação sobre a extensão da Plataforma Continental, que é necessário salvaguardar).

O estatuto de observador (só para se saber o que lá se passava) é o que nos convém, servido por uma extensão da nossa embaixada em Washington, ocupada por um diplomata que perceba da poda, uma secretária de duas pernas e uma máquina cripto.

A ONU é também, e a vários títulos, irreformável; e, se amanhã desaparecesse ninguém, á excepção de quem lá trabalha e alguns jornalistas, ia dar por isso.

Portugal nasceu em 1128, temos que saber seguir o nosso caminho.

Lembremos D. João V: “não temos de nos fiarmos noutras potências, senão de nós próprios”; e Costa Brochado: “enquanto as coisas não tomam rumo, a melhor política é o melhor disfarce e a melhor estratégia é ter boas tropas e bons navios”.

Como estamos no século XXI, convém acrescentar “boas aeronaves”.

1 De referir que a Carta da ONU, só entrou em vigor em Portugal, em 21 de Fevereiro de 1956, data da declaração feita por Portugal, de aceitação da obrigação da mesma.

João José Brandão Ferreira

Oficial Piloto Aviador (Ref.)


Fonte: O Adamastor

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

O Plano Quinquenal de Chefia de Estado


Para quem tenha a paciência de me ler, aqui vão os meus cinco tostões para o peditório emergente das eleições presidenciais de 2026:

Não sendo tradição em Portugal o Chefe do Estado ser o responsável pelo governo do País, cabendo-lhe “apenas” um papel de mediação e de representação (sei bem das ambiguidades da constituição semipresidencialista quanto aos limites da sua actuação) é para mim um profundo enfado o ritual quinquenal da luta partidária para o lançamento das putativas candidaturas ao cargo. É como se a Nação fosse obrigada a encarar uma mudança de bandeira ou de hino a cada cinco anos.

Por alguma razão facilmente se intui a tese corrente de que os portugueses reelegeriam continuamente um presidente da república com mediana popularidade e razoável sentido de Estado até que uma doença o incapacitasse ou a morte o levasse, não fosse o limite constitucional dos dois mandatos. Para dar um exemplo ao gosto dos republicanos mais empedernidos, não fosse essa limitação legal, é difícil imaginar Mário Soares, se lhe fosse possível continuar a concorrer, alguma vez derrotado. “O povo português é sábio”, diz por aí a opinião publicada, quando é do seu interesse. O povo português é intrinsecamente monárquico, digo eu…

“O povo português é sábio” quando não é ignorante e volúvel, e é por isso que periodicamente as “elites” têm de se impor à força para o educar, para o curar dos maus vícios e ignorância, como aconteceu no 5 de Outubro de 1910, quando esses generosos revolucionários cuidaram até de mudar os símbolos nacionais. A Nação com 800 anos, há muito consolidada na língua e nas fronteiras, tudo parece aguentar com assinalável bonomia ou conformismo. Até umas eleições para a Chefia de Estado, que no fundo, no fundo, não nos interessa muito. Andamos há oito anos a afeiçoarmo-nos aos modos e idiossincrasias do presidente que nos calhou em sorte e agora os partidos esguedelham-se para lá pôr outro, o seu, quando já tínhamos assimilado o Marcello? Não há direito…

Evidentemente que a agitação política que umas eleições presidenciais proporcionam têm a vantagem de animar o jornalismo e comentariado político, é uma mina para parangonas de jornais e debates televisivos, que gradual e inevitavelmente atrairão algum interesse do português médio conformado, mesmo sabendo que as promessas de “amanhãs que cantam” pelos candidatos, são panaceia, entretenimento, uma democrática “fantasia benigna” a que todos afincadamente nos dedicaremos a tentar levar a sério. Afinal de contas, ao Chefe do Estado Português, mesmo no nosso ambíguo sistema semipresidencial, não cabe governar. Cabe representar o seu povo com dignidade e parcimónia.

Ao contrário do que se pensa, o nosso actual regime semipresidencialista é herança da monarquia liberal, característica que os autores da Constituição de 1976 acharam por bem repescar. A sua ambiguidade durante o “Liberalismo”, permitiu estilos de reinados bastante diferentes: o do Rei Dom Luís, que grosso modo se limitou, mantendo higiénica distância, a deixar os partidos governarem. Já o seu sucessor, o rei Dom Carlos, para mal dos seus (nossos?) pecados, usando-se dos instrumentos constitucionais e da magistratura de influência, teve a veleidade de querer reformar o regime em acelerada degradação. Pagou isso com a vida.

Talvez fosse tempo de olharmos para o nosso regime de Chefia de Estado e conferir-lhe mais dignidade. Vivemos todos bem entretidos, mas verdadeiramente não sabemos se um dia será mesmo necessária.

João Távora


Fonte: Real Associação de Lisboa

domingo, 13 de outubro de 2024

13 de Outubro de 1917: Milagre do Sol em Fátima

 

Alexandrina, a paralítica que se levantava para sofrer a Paixão de Jesus

Dia 13 de Outubro é dia da Beata Alexandrina de Balasar

Alexandrina Maria da Costa, também conhecida como Beata Alexandrina de Balasar, foi uma mística portuguesa, que nasceu em 30 de Março de 1904 e morreu em 13 de Outubro de 1955, tendo passado quase toda vida na sua cidade natal, Póvoa do Varzim, num povoado chamado Calvário. 

O pai abandonou a família, sendo criada apenas pela mãe. Pôde estudar apenas durante 18 meses e com nove anos já trabalhava. Quando tinha 12 anos, enquanto ajudava a fazer um tapete de flores para a Procissão do Santíssimo, colhendo flores, teve sua primeira experiência mística ao começar a sangrar da cabeça; segundo ela, Jesus colocou-lhe uma coroa de espinhos e passou a chamá-la Alexandrina das Dores.

Paralisia

Aos 14 anos, no Sábado Santo de 1918, estava com a irmã e outra menina em casa, trabalhando com costura, quando quatro homens forçaram a porta de entrada. Para escapar do ataque, Alexandrina pulou de uma janela com mais de quatro metros de altura, tendo partido várias vértebras. Até os 19 anos ainda conseguia se arrastar até a Igreja, onde permanecia em oração quase todo dia.

Segundo Alexandrina, até 1928, dez anos após o ataque, ainda pedia a graça da cura, prometendo que sairia como missionária pelo mundo, até que compreendeu que a sua salvação seria pelo sofrimento. Disse: "Nossa Senhora concedeu-me uma graça ainda maior. Depois da resignação deu-me a conformidade completa à vontade de Deus e, por fim, o desejo de sofrer”, e também: "Jesus, tu és prisioneiro no Tabernáculo. E eu por tua vontade prisioneira na minha cama. Far-nos-emos companhia”.

Paixão de Cristo

De Sexta-Feira, 3 de Outubro de 1938 a 24 de Março de 1942, ou seja por 182 vezes, viveu, em todas as Sextas-Feiras, os sofrimentos da Paixão: Alexandrina, superando o estado habitual de paralisia, descia da cama e com movimentos e gestos, acompanhados de angustiantes dores, repetia, durante três horas e meia, os diversos momentos da Via Crucis. Depois disso, a partir de 27 de Março de 1942, Alexandrina deixou de se alimentar, vivendo exclusivamente da Eucaristia durante 13 anos, até à sua morte.

Em 1936, Jesus disse-lhe que deveria escrever ao Papa para que consagrasse o Mundo ao Coração Imaculado de Maria. Este pedido foi renovado várias vezes, até que, em 31 de Outubro de 1942, o Papa Pio XII celebrou esta consagração em língua portuguesa, e renovou-a, no Vaticano, em 8 de Dezembro, na Festa da Imaculada Conceição. 

Neste ponto da vida, a sua fama de santidade já era conhecida e muitas pessoas vindas de longe visitavam-na, pediam conselhos e orações. Da sua cama pedia que as pessoas organizassem novenas, jejuns e rezassem intensamente. Tornou-se também uma colaboradora salesiana.

Falecimento e beatificação

No início de 1955 foi-lhe revelado que deveria preparar-se, pois morreria ainda naquele ano. Em 12 de Outubro pediu a Extrema Unção. No dia seguinte rezou o rosário em honra a Nossa Senhora de Fátima e faleceu tranquilamente, após dizer: “Sou feliz porque vou para o Céu”.

Sobre o seu túmulo, que está numa capela na igreja de Balasar, pediu para escrever:

Pecadores, se as cinzas do meu corpo puderem ser úteis para a vossa salvação, aproximai-vos: passai todos por cima delas, pisai-as até desaparecerem, mas não pequeis mais! Não ofendais mais o nosso Jesus! Pecadores, queria dizer-vos tantas coisas. Não bastaria este grande cemitério para escrevê-las todas! Convertei-vos! Não queirais perder a Jesus por toda a eternidade! Ele é tão bom! Amai-O! Amai-O! Basta de pecar!

in tesourosdaigrejacatolica.blogspot.com


sábado, 12 de outubro de 2024

Festa de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira e Rainha do Brasil

Em 1717 três pescadores, após frustrada tentativa de apanhar peixes no rio Paraíba do Sul perto de Guaratinguetá (SP), para um jantar para o Conde de Assumar, D. Pedro de Almeida e Portugal - Governador da Província de São Paulo e Minas Gerais, que iria passar pela Vila de Guaratinguetá, a caminho de Vila Rica, hoje cidade de Ouro Preto, MG -, colheram nas redes o corpo de uma estátua de Maria Santíssima e, depois, a cabeça da mesma. 

A isto seguiu-se uma farta pescaria, que surpreendeu os três homens. Tendo limpado e recomposto a imagem, expuseram-na à veneração dos fiéis em casas de família. Dezassete anos depois, foi construída a primeira capela. Quando a Princesa Isabel veio ao Brasil pela segunda vez, ofereceu um manto azul e uma coroa cravejada de diamantes.

Nossa Senhora da Conceição Aparecida, foi proclamada Rainha do Brasil e sua Padroeira Oficial em 16 de Julho de 1930, por decreto do Papa Pio XI sendo coroada.

50 anos depois foi decreto oficialmente que dia 12 de Outubro seria feriado oficial. Pela Lei nº 6.802, de 30 de Junho de 1980, o então Presidente da República, General João Figueiredo, sancionou:

"É declarado feriado nacional o dia 12 de Outubro, para culto público e oficial a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil."

in Pale Ideas


sexta-feira, 11 de outubro de 2024

♔ | 9 de Outubro de 1261 - Nasce El-Rei D. Dinis de Portugal


El-Rei Dom Dinis I, o Rei Poeta, nasceu a 9 de Outubro de 1261 e faleceu a 7 de Janeiro de 1325, e, era filho do Rei Dom Afonso III de Portugal e da Rainha D. Beatriz, nascida Infanta de Castela. Dom Dinis foi o 6.° Rei de Portugal, reinando por 46 anos entre 1279 e 1325.
Na verdade o seu nome era Dionisius, um nome incomum e mesmo único na genealogia real portuguesa, pelo que deveria ser traduzido como Dionísio e não Dinis, mas resolveram parafrasear o nome do Rei e ficou na História como Dinis.

Após a morte de seu pai, D. Afonso III, em 1279, houve disputas sobre a sucessão, pois o seu irmão, o infante D. Afonso, alegava ser o legítimo herdeiro; mas, com pouco mais de dezassete anos, Dom Dinis foi Aclamado Rei em Lisboa, em 1279, tendo reinado e governado durante 46 anos. Casou em 1282 com Dona Isabel de Aragão - a Rainha Santa Isabel.

O rei enfrentou diversos desafios, mas conseguiu consolidar seu reinado e pacificar relações com o papa.

Foi essencialmente um Rei preocupado com os assuntos de Estado e organização administrativa e não um guerreiro, pois embora envolvesse numa guerra com Castela, em 1295, desistiu dela em troca das vilas de Serpa e Moura.

Assim, estabeleceu a Paz com Castela, definindo-se as fronteiras actuais entre os dois Reinos da Península Ibérica. A assinatura do Tratado de Alcanizes ocorreu a 12 de Setembro de 1297 e fixou os limites geográficos de Portugal, após uma guerra que opôs os dois Reinos Ibéricos.
O tratado de Alcanizes ou Alcanises (em castelhano, Alcañices), que fixou os limites geográficos de Portugal, foi celebrado entre o Reino de Portugal e o Reino de Leão e Castela assinado entre o soberano português D. Dinis, Rei de Portugal, e a regente Rainha-mãe Maria de Molina (viúva do Rei Sancho IV), em nome de Fernando IV, Rei de Leão e Castela, ainda menor, na povoação leonesa-castelhana que lhe deu o nome (Alcanises), na província de Zamora, a dois quilómetros de Miranda do Douro.

Pelo tratado se restabeleceu a paz entre os dois reinos ibéricos, fixando-se os seus limites fronteiriços. Em troca de direitos portugueses nos termos raianos de Aroche e de Aracena, passaram para a posse definitiva de Portugal: Campo Maior, Olivença (hoje administrada por Espanha, o que originou a Questão de Olivença), Ouguela, São Félix dos Galegos (hoje na posse de Espanha).

E em troca de direitos portugueses nos domínios de Aiamonte, Esparregal, Ferreira de Alcântara e Valença de Alcântara, e outros lugares nos Reinos de Leão e de Galiza, era reconhecida a posse portuguesa de povoações beirãs, chamadas terras de Ribacôa, que compreendiam as seguintes povoações e respetivos castelos: Almeida, Alfaiates, Castelo Bom, Castelo Melhor, Castelo Rodrigo, Monforte, Sabugal e Vilar Maior. Foi ainda acordado pelo tratado uma aliança de casamento em que Fernando IV casaria com D. Constança, filha de D. Dinis; e D. Beatriz, irmã de Fernando IV, com D. Afonso, príncipe herdeiro de Portugal. Estabeleceu-se, ainda, um acordo eclesiástico, pois alguns lugares das regiões supracitadas estavam situados em território português e ao mesmo tempo pertencer a uma circunscrição eclesiástica castelhana e vice-versa. O tratado definiu os limites do território continental português, que não teve alteração posterior, exceptuando a perda de Olivença, em 1801, através do Tratado de Badajoz, denunciado em 1808 pelo Reino de Portugal, mas que não evitou a anexação do território por Espanha. Em 1817, quando subscreveu o diploma resultante do Congresso de Viena (1815), Espanha reconheceu a soberania portuguesa, comprometendo-se à devolução do território o mais rapidamente possível. No entanto, tal nunca chegou a acontecer.

Não obstante, pelo articulado, o Tratado de Alcanizes foi um dos tratados mais importantes celebrados por Portugal até aos dias de hoje.

El-Rei Dom Dinis para estimular a agricultura, distribuiu terras a colonos, mandou construir canais e secar e drenar pântanos para transformar terras inúteis em áreas agrícolas. Limitou os privilégios territoriais da igreja e, idealizou e mandou plantar o Pinhal de Leiria, que ajudou a evitar o acumular de areia nas planícies férteis. Essas medidas resultaram em excedentes agrícolas e fortaleceram as trocas comerciais com outros países, como a Inglaterra, Bretanha e Flandres. Por isso, Dom Dinis, também, foi cognominado de "O Lavrador".

Durante o seu reinado, o comércio também prosperou, com o aumento da extracção de metais, a protecção às feiras e a reorganização da Marinha. Beneficiou a literatura e mandou traduzir livros latinos e árabes, inclusive a Geografia de Razis.

Fundou a primeira universidade do País, que funcionou entre Lisboa e Coimbra, até se fixar nesta última cidade.

O Rei Dom Dinis de Portugal foi renomado poeta e patrono de trovadores e jograis, e por isso, também, foi apelidado de 'O Rei Poeta' ou 'O Rei Trovador' pelas cantigas que compôs e que o distinguiram como um dos mais famosos trovadores da lírica medieval galego-portuguesa.
Depois dos primeiros Reis da Dinastia Afonsina, com preocupações marcadamente geopolíticas de formação e manutenção do território, chega-se ao Reinado de Dom Dinis, que transforma Portugal num dos mais famosos focos da poesia europeia da Idade Média, e que ficou conhecido como o Período Trovadoresco ou Galego-Português. Neste período eram sobretudo o “Amor” e a “Amizade” os temas sobre o que os poetas escreviam e que os trovadores cantavam, mas não exclusivamente, debruçando-se ainda em temas políticos sobretudo feitos guerreiros e até mesmo assuntos satíricos.

Mas dominam sobretudo dois estilos de lirismo: as Cantigas d’Amor – de influência Provençal – e as Cantigas d’Amigo, completamente nativo português.

As primeiras, recatada e requintadamente platónicas, focam-se no enaltecimento das qualidades da mulher amada ou na expressão da saudade do ente amado.

D. Dinis, Trovador e Poeta, era um amante das artes e letras e compôs 137 poemas/cantigas distribuídas por diferentes gêneros: 73 Cantigas de Amor, 51 Cantigas de Amigo e 10 Cantigas de Escárnio e Maldizer. Assim a sua paixão pela poesia e seu apoio aos trovadores e jograis renderam-lhe o epíteto de 'O Trovador'. Foi, também, o primeiro monarca português verdadeiramente alfabetizado, pelo que foi o primeiro rei português a assinar os seus documentos com o nome completo.

Na sublimação da figura feminina participou el-Rei Dom Dinis com a sua mestria e indiscutível talento poéticos:
«Quer’ eu en maneira de poençal
Fazer agora un cantar d’amor
E querrei muit’ i loar mnha senhor’a,
A que prez nem fremusura non fal,
Nem bondade, e mais vos direi en:
Tanto a fez Deus comprida de bem
Que mais que todas las do mundo val.»

'O que vos Nunca Cuidei a Dizer' é uma cantiga de amor do rei D. Dinis, onde o eu lírico expressa seus sentimentos de amor e sofrimento, revelando que nunca havia falado sobre o quanto o amor do destinatário o afligia numa linguagem directa e emocional, revelando a intensidade dos sentimentos do trovador, onde todos os ímpares da cantiga são setessílabos graves, enquanto os pares são octossílabos agudos.
«O que vos nunca cuidei a dizer,
com gram coita, senhor, vo-lo direi,
porque me vejo já por vós morrer;
ca sabedes que nunca vos falei
de como me matava voss'amor;
ca sabe Deus bem que doutra senhor,
que eu nom havia, mi vos chamei.
E tod [o] aquesto mi fez fazer
o mui gram medo que eu de vós hei,
e des i por vos dar a entender
que por outra morria — de que hei,
bem sabedes, mui pequeno pavor;
e des oi mais, fremosa mha senhor,
se me matardes, bem vo-lo busquei.
E creede que averei prazer
de me matardes, pois eu certo sei
que esso pouco que ei de viver,
que nenhum prazer nunca veerei;
e porque sõo d' esto sabedor,
se mi quiserdes dar morte, senhor,
por gram mercee vo-lo [eu] terrei.»
Outra Cantiga de Amor muito conhecida é:
«A mia senhor, que eu por mal de mi
vi e por mal daquestes olhos meus,
e por que muitas vezes maldezi
mi e o mund'e muitas vezes Deus,
des que a nom vi, nom er vi pesar
d' al, ca nunca me d'al pudi nembrar.
A que mi faz querer mal mi medês
e quantos amigos soía haver
e de [s]asperar de Deus, que mi pês,
pero mi tod'este mal faz sofrer,
des que a nom vi, nom ar vi pesar
d'al, ca nunca me d'al pudi nembrar.
A por que mi quer este coraçom
sair de seu logar, e por que já
moir'e perdi o sem e a razom,
pero m'este mal fez e mais fará,
des que a nom vi, nom ar vi pesar
d'al, ca nunca me d'al pudi nembrar.»

Mas mais conhecidos e enaltecidos são os seus poemas no estilo de Cantigas d’ Amigo, e a mais célebre Cantiga d’ Amigo D’el-Rei Dom Dinis – escrito sobre a perspectiva de uma personagem feminina, como era comum à mestria da época - foi certamente o célebre: AI FLORES, AI FLORES DO VERDE PINO.
«Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do qui mi á jurado!
Ai Deus, e u é?»
Neste poema, o eu lírico expressa a saudade e a busca por notícias do amigo e do amado. As flores do verde pino e do verde ramo simbolizam a natureza e a esperança, enquanto o apelo a Deus reflete a angústia e a incerteza do eu lírico. A repetição das perguntas cria um ritmo melancólico e nostálgico, característico da poesia trovadoresca.

Já as 'Cantigas de Escárnio e Maldizer' eram veículos para críticas sociais e políticas. Enquanto as cantigas de escárnio apresentavam críticas subtis, as cantigas de maldizer eram vulgares, com o uso de palavrões e explícitas. Elas frequentemente serviam como armas de combate entre diferentes grupos e interesses sociais e políticos.
Uma das suas cantigas de escárnio é intitulada “De Joam Bol’and’eu maravilhado”. Nela, D. Dinis expressa a sua surpresa diante das acções de João, criticando-o de maneira humorística:
«De Joam Bol'and'eu maravilhado
(u foi sem siso, d'home tam pastor)
e led' e ligeiro cavalgador,
que tragia rocim bel'e loução,
e disse-m'ora aqui um seu vilão
que o havia por mua cambiado.
E deste câmbio foi el enganado,
d'ir dar rocim [a]feit' e corredor
por ũa muacha revelador
10 que nom sei hoj'home que a tirasse
fora da vila, pero o provasse
- se x'el nom for, nom será tam ousado.
Mais nom foi esto senom seu pecado
que el mereceu a Nostro Senhor:
ir seu rocim, de que el gram sabor
havia, dar por mua mal manhada,
que nom queria, pero mi a doada
dessem, nem andar dela embargado.
Melhor fora dar o rocim dõado
ca por tal muacha remusgador,
que lh'home nom guardará se nom for
el, que x'a vai já quanto conhocendo;
mais se el fica, per quant'eu entendo,
sem cajom dela, est aventurado.
Mui mais queria, besta nom havendo,
ant' ir de pé, ca del'encavalgado.»
As Cantigas de Amor e de Amigo do rei D. Dinis são uma colecção de poesias líricas medievais que expressam os sentimentos e experiências das mulheres da época. Essas cantigas são caracterizadas por sua simplicidade, melodia e temas amorosos, tesouros da literatura medieval e que nos permitem vislumbrar as emoções e experiências das mulheres da época.

Os últimos anos do reinado d'El-Rei Dom Dinis foram marcados por conflitos internos quando o herdeiro, futuro D. Afonso IV, achando que o rei favorecia o seu filho bastardo, Afonso Sanches, entrou em conflito com o pai, mas não chegou a haver guerra civil.

'D. Dinis, o rei que fez tudo quanto quis!’ – ditado popular -, reinou e governou até sua morte, a 7 de Janeiro de 1325, em Santarém, e está sepultado no Convento de São Dinis, em Odivelas.

Miguel Villas-Boas

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Infante D. Dinis em visita ao Porto


O Infante Dom Dinis, Duque do Porto, honrou o Porto com uma visita de 2 dias.

Nesse âmbito reuniu-se e jantou com as Direcções da Real Associação do Porto e da Juventude Monárquica do Porto no Clube de Leça, visitou o Oporto Golf Clube onde jogou uma partida golfe e onde foi recebido pelo Presidente da Direcção Manuel Silva Carvalho, e visitou o Futebol Clube do Porto a convite do Presidente André Villas-Boas, tendo conhecido o Museu e assistido ao jogo entre o FCP e o Manchester United.

terça-feira, 8 de outubro de 2024

Sem rei nem roque

Bandeira da Carbonária (organização terrorista secreta republicana).


Depois de aqui há anos, no centenário da República, ter sido realizado o maior escrutínio historiográfico alguma vez feito a este período negro da nossa história, seria natural que os bem-intencionados titulares do regime se envergonhassem um pouco no momento de o festejar: a revolução de 5 de Outubro de 1910, definitivamente, não merece quaisquer celebrações num país que pretenda ser civilizado.

Mas, porque a memória é curta, atrevo-me a fazer hoje uma pequena síntese daquele período de terror, emergente do feroz regicídio, o assassinato do Rei Dom Carlos e do Príncipe Dom Luís Filipe, acicatado pelas mais indecorosas campanhas de propaganda populista pelos extremistas na imprensa livre das cidades de Lisboa e Porto, que fariam corar de vergonha os seus homólogos da actualidade.

Poucos anos antes de 1910, o PRP era um partido sem implantação nacional, só com alguma expressão nos grandes centros urbanos, como acontece actualmente com os partidos da esquerda radical: as suas estruturas paroquiais não funcionavam, e os seus líderes detestavam-se passando o tempo em intrigas e guerras intestinas. Por isso, apesar dum crescimento no reinado de D. Manuel II, entre os anos de 1908/10, o triunfo da República no 5 de Outubro foi recebido com surpresa e incredulidade por quase todo o país, em particular pelos próprios republicanos. São muitos os testemunhos nesse sentido. Os portugueses, ainda mal refeitos do escândalo do regicídio, nem imaginavam o que os esperava.

O facto é que, nos tempos que se seguiram à revolução, foi implantado um dos regimes mais intolerantes e violentos que Portugal alguma vez teve. Com a demissão ou exílio das antigas elites, militares e civis, a aceleração da decadência das instituições, o caos da vida pública, as prisões políticas em massa, os assassinatos, as bombas e tiroteios, a repressão da imprensa livre, materializada na destruição, assalto e violência exercida sobre os jornais e os jornalistas, o processo atingiria píncaros impensáveis a 19 de Outubro de 1921.


A Camioneta Fantasma.

Nesse dia, um levantamento militar obscuro conhecido por Noite Sangrenta, fez percorrer uma “camioneta-fantasma” por Lisboa em busca de diversas figuras do regime republicano, que foram executadas a sangue-frio por um grupo de marinheiros chefiado pelo Cabo Abel Olímpio, homem sinistro conhecido pela alcunha de “Dente d’Ouro”. O País, há muito arrastado pelo chão, afundava-se na lama. Nessa terrível noite, foram assassinados entre outros, o Presidente do Conselho de Ministros, António Granjo, e Machado Santos e Carlos da Maia, “heróis da Rotunda”. A instabilidade política e social que, entre 1910 e 1926, resultou em 45 governos e sete presidentes da República, um dos quais assassinado a tiro (Sidónio Pais), reflecte bem um país sem rei nem roque.

 

Todo este processo de violência e acelerada decadência, a perseguição aos católicos, que eram a grande maioria dos portugueses, os assaltos e encerramentos de jornais, a restrição acentuada do direito de voto, as prisões políticas, a criação da Formiga Branca, e todo o terrorismo patrocinado pelo Estado, contribuiu definitivamente para o golpe militar de 1926 e a emergência do Estado Novo. O silêncio acrítico da maioria da historiografia do Estado Novo quanto ao regime tenebroso que o antecedeu foi por certo um alto preço pago por Salazar para manter o apoio dos republicanos, deste modo postos em sossego.


Piquete da Formiga Branca.

Como seria de esperar, as promessas republicanas de delirantes amanhãs que cantavam depressa se revelaram em desavergonhadas mentiras. Desde logo quanto à discriminação da participação política das mulheres na vida pública. De facto, foi a I República que excluiu pela primeira vez as mulheres da vida cívica, ao negar-lhes por lei o direito de voto, depois de a médica Beatriz Ângelo ter alcançado esse intento ao votar nas primeiras eleições republicanas, em 28 de Maio de 1911, aproveitando as indefinições existentes no enunciado de uma Lei… da monarquia. Quando se falou do voto feminino pela primeira vez na Assembleia Constituinte de 1911, a sugestão foi recebida com uma frase curta, lacónica, recusando categoricamente a utilidade do voto feminino: “Tem dado lá fora (o alargamento do sufrágio) mau resultado porque as mulheres têm sido quase todas reaccionárias” (Actas da Assembleia Nacional Constituinte. Sessão n.º 21, de 14 de Julho de 1911).  Na “História da República”, de Raúl Rego, pode ler-se que a legislação de 1913 retirou o voto aos analfabetos e às mulheres, significando isto que “a República, na igualdade dos sexos, voltava sobre si mesma e à discriminação da mulher, anjo do lar”. A “democracia” emergente do 5 de Outubro assentou na redução do eleitorado de 70% para 30% dos homens adultos em Portugal…


Convite para sessão inaugural da Assembleia constituinte – só para homens.

Com o 5 de Outubro de 1910 iniciou-se um período de violenta perseguição religiosa em Portugal. A Igreja viveu por esses dias um período de semiclandestinidade durante o qual diversos membros do clero foram sujeitos à prisão, a maus-tratos e à morte.  No Natal de 1910, com as Igrejas tomadas pelos republicanos, a Missa do Galo foi celebrada à porta fechada, com acesso limitado, e poucos tinham acesso aos “bilhetes” de entrada distribuídos às escondidas.

Curiosamente, não será coincidência a acrisolada devoção dos republicanos ao Marquês de Pombal, na mesma medida em que tomaram os jesuítas como bodes expiatórios, tão insistentemente perseguidos pela propaganda revolucionária. É sintomático que a reverência ao tirânico primeiro-ministro de Dom José tenha perdurado ao longo das décadas, e a sua estátua, a maior de Lisboa, tenha sido inaugurada em 1934 em pleno Estado Novo. De facto, o Marquês de Pombal, além da perseguição aos jesuítas, era tido por um herói inspirador do Partido Republicano Português. O seu centenário foi celebrado ruidosamente pelo PRP, em 1882, e sobre o déspota foram proclamados os maiores encómios, como este:  “A barbaridade, essa era do tempo e nada tem que admirar no supplicio dos Tavoras. O que temos a notar, porem, é que o rigor do ferreo ministro cahia egualmente implacável sobre nobres e plebeus, sobre os poderosos e sobre os parias!”; ou este: “O despotismo, a tyrannia de que se argue Pombal, era imposta pelas necessidades, como o único meio de chegar à liberdade” (M. Emygdio Garcia). Robespierre e Saint-Juste não diriam melhor.


Caricatura de Afonso Costa.


Os jesuítas foram impiedosamente acossados, nos dias seguintes à implantação da República, e são sinistros os relatos do jornalista Valentine Williams, correspondente do News-Chronicle que chegara a Lisboa para testemunhar os acontecimentos. O seu relato do bombardeamento e assalto popular ao colégio jesuíta do Quelhas é impressionante, tendo o próprio, ao ser confundido com um padre da Companhia, sido detido, preso por uma corda, arrastado e conduzido à sede do Governo Civil, onde conseguiu identificar-se e ser libertado, não sem antes lhe terem inspeccionado a nuca à procura da tonsura. Na sequência do seu testemunho da destruição em curso no Colégio, dirigiu-se ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, Bernardino Machado, pedindo-lhe que pusesse cobro à destruição da valiosa biblioteca. A resposta do futuro presidente da República – que curiosamente ou talvez não, não acabou nenhum dos seus dois mandatos – foi lacónica: “A propriedade desses patifes está sequestrada pelo povo Português”, declarou com a solenidade de um mocho. “O povo está no seu direito. Não há nada que eu possa fazer. Bom dia”.

Dos milhares de presos políticos da Primeira República também pouco se fala. Em 1913, já as notícias sobre maus-tratos que lhes eram infligidos tinham transposto fronteiras e conquistado as atenções da opinião pública nos países com mais ascendente sobre a nação lusa. Os grandes órgãos da imprensa britânica, o Times, o Spectator, o MorningPost, reproduziam, com abundância de pormenores, os casos de humilhação, violência, tortura, abuso de poder e tratamento desumano nas prisões portuguesas – a República tinha, por exemplo, adoptado o humilhante capuz penitenciário. A Duquesa de Bedford, presidente da Associação de Visitadoras de Prisões, deslocou-se a Portugal nos princípios de 1913 e visitou várias prisões, onde encontrou motivos para um indignado protesto que publicou em Londres. Sobre este assunto aconselha-se vivamente a leitura do livro biográfico Constança Telles da Gama – Fio-de-Prumo, da autoria de Maria João da Câmara, que inclui pungentes testemunhos da selvajaria infligida a todos aqueles, das mais diversas classes sociais (os mais indefesos naturalmente, eram os mais humildes), que foram denunciados e detidos como monárquicos.

São contundentes os números relativos ao ensino, apresentados por Rui Ramos na sua História de Portugal publicada pela Esfera dos Livros: “O número de escolas primárias em funcionamento, que subira de 4.665 em 1901 para 6.412 em 1911, continuava em 6.750 em 1918. A taxa de escolarização, depois de aumentar de 22,1% para 29,3% entre 1900 e 1910, quase estagnou até 1920 (30,3%). Entre 1911 e 1920, o analfabetismo na população maior de 7 anos recuou apenas de 70,2% para 66,2%, isto é, desceu menos que entre 1900 e 1911”. Empenhados em reprimir o país que rebeldemente lhes resistia, cada vez mais miserável, a velha promessa de prover educação ao povo, “e acabar com a acabar com a religião católica em Portugal em duas gerações” – como declarou Afonso Costa, quando era ministro da Justiça e Cultos – poucos resultados teve.

No que respeita à censura e ao controlo da imprensa, o método utilizado na maioria das vezes foi o do empastelamento, do assalto e da destruição dos jornais que se atreviam a confrontar o regime, pela Formiga Branca, uma autêntica polícia política irregular, antecessora da PIDE, que existiu na órbita do Partido Republicano.  Durante esse período, o regime estabeleceu formas imaginativas, directas e eficazes de impedir o acesso do público aos textos críticos ou condenatórios do regime: o uso do assalto, da apreensão, da suspensão, e até da censura sem fundamento legal de jornais ou artigos foi tão frequente e continuado, que, no seu conjunto, constituiu um sistema repressivo sólido e consistente. A estratégia era a sustentação de um regime que não aceitava a contestação dos seus fundamentos, e de uma classe política que não arriscava colocar em jogo a sua permanência no poder. É irónico que os ardinas tenham sido das maiores vítimas da Formiga Branca: quando apanhados viam-se despojados dos jornais, cuja venda era o seu ganha-pão. As correrias dos ardinas, em fuga pelas ruas do Bairro Alto, eram acontecimento quotidiano.

O Ardina a fugir do Guarda Republicano,  in Papagaio Real, 1914.

Sabemos que os herdeiros dos revolucionários de 1910 subsistem nos dias de hoje em Portugal. Habitam as margens radicais da esquerda portuguesa. Sendo uma minoria, têm exposição e palco desproporcionados à sua verdadeira dimensão. Ainda que muitos o não confessem, sabemos, até porque lemos o que escrevem e ouvimos o que dizem, que dificilmente hesitariam em usar métodos semelhantes se o sistema o permitisse. Mas, mesmo assim, julgo que isso não justifica que não se comece a pensar em reformar o feriado do 5 de Outubro, associando-o a um acontecimento capaz de unir e mobilizar os portugueses, o da assinatura do Tratado de Zamora em 1143, consensualmente considerado o momento da fundação da nacionalidade.

O que passou está passado; as feridas, mesmo as mais profundas, estão, para a maioria dos portugueses, já curadas e mesmo esquecidas. Já não há justiça que se possa fazer. Mas ainda podemos ansiar por um futuro mais harmonioso que faça justiça à nossa História comum. Hoje, por esse país fora, em Lisboa, Coimbra e Guimarães, de forma invisível, celebra-se o 5 de Outubro bom. Nesse sentido, celebremos 1143 que é de todos e esqueçamos 1910 que foi de muito poucos.

João Távora


Fonte: Real Associação de Lisboa

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Vila Viçosa acolhe conferência sobre “E Maria de Nazaré, na raíz e história dessa imensa vida” com SAR D. Isabel de Bragança

O Santuário de Nossa senhora da Conceição vai receber no próximo dia 19 de Outubro, pelas 12 horas, uma conferência / debate subordinada ao tema “E Maria de Nazaré, na raiz e na história dessa imensa vida?”, tendo como convidada principal, Sua Alteza Real, a Senhora Dona Isabel de Bragança, Duquesa de Bragança.

A iniciativa é organizada pela Régia Confraria de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa que através deste ciclo de conferências pretende convidar algumas algumas figuras destacadas da Sociedade Portuguesa, a partilharem a importância que Nossa Senhora, nossa Mãe e Rainha, tem para as suas vidas.

A conferência é aberta ao público e contará também com interlúdios musicais, sob a responsabilidade do maestro Paulo Novado, responsável pelo coro do Santuário.

Em nota enviada á nossa redacção, a Régia Confraria de Nossa Senhora da Conceição destaca que o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal, constitui a indelével coordenada secular onde a lusitana fé se celebra, superlativamente, interceptando a nobre História de Portugal com a esperança no futuro da Nação Fidelíssima.

Fonte: Rádio Campanário

domingo, 6 de outubro de 2024

Outubro de 1385: Batalha de Valverde

Vencida a memorável batalha de Aljubarrota, não dormiu no regaço da vitória o Grande Condestável, antes seguindo a boa ocasião passou ao Alentejo e uniu um corpo de mil cavalos, dois mil infantes e alguns besteiros, e resolveu entrar por Castela, e para que fosse mais airosa e mais bizarra aquela expedição, mandou aviso de antes aos Mestres de Santiago e de Alcântara, que se prevenissem, porque os ia buscar; E como era homem de mais palavra, que palavras, logo penetrou com mão armada catorze léguas por Castela dentro, saqueando muitos lugares e ajuntando grandes despojos; Acudiram os sobreditos Mestres e o Conde de Niebla e outros grandes Senhores com todas as milícias das Províncias confinantes, e vieram tomar um passo no Guadiana, por onde era certo que haviam de voltar os Portugueses. Voltaram com efeito, e viram que pela frente lhe obstavam dez mil homens, e pela retaguarda os vinham picando quase outros tantos, de maneira que se acharam cercados, e parecia (dizem as histórias daquele tempo) o nosso esquadrão no meio dos inimigos uma pequena eira no meio de um dilatado campo. Era grande o aperto, mas nos apertos grandes se provam os grandes corações. Romperam os Portugueses pelos esquadrões inimigos, que tinham à vista, e com tanto ímpeto, que os fizeram retirar e retroceder para um monte; A ele os foram buscar, e em três combates sucessivos os venceram, e no último (sucedido no lugar de Valverde, que deu o nome à vitória) os derrotaram de todo, com morte de muitos, e entre eles do Mestre de Santiago, Dom Pedro Nunes de Godoy; O de Alcântara, e o Conde de Niebla, e todo o mais corpo do Exército, se puseram em declarada fugida. Observou-se que no maior ardor do último combate, em que o sucesso esteve sumamente duvidoso, repararam alguns soldados Portugueses que faltava o Condestável da testa do esquadrão, que era o seu lugar naqueles casos. Foi logo um Cavaleiro saber dele, e achou-o em sítio apartado entre dois penedos, os joelhos postos em terra, as mãos e os olhos levantados ao Céu, estático, absorto, elevado. Primeira, segunda e terceira vez lhe advertiram o aperto em que se achavam os seus; Respondeu à primeira: Não é tempo; À segunda e terceira não respondeu; e passado um breve espaço, sem dizer palavra, se levantou, e brotando-lhe pelo rosto e olhos uma nova e extraordinária alegria, voltou a renovar o combate, e lhe deu o glorioso fim de uma felicíssima vitória. Assim se uniram neste grande herói as excelências, que, divididas, fizeram famosos aos maiores. Moisés orava no monte: Josué pelejava na campanha: O não menos Santo que valoroso Condestável, como Josué pelejava na campanha, como Moisés orava no monte; e desempenhando só os empregos de um e outro, se mostrava singular imitador de ambos.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744

Fonte: Veritatis

sábado, 5 de outubro de 2024

5 DE OUTUBRO DE 1143 – INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL

Em 5 de Outubro de 1143 foi realizada a Conferência de Zamora, na cidade leonesa homónima.


Tratou-se de uma conferência de paz organizada pelo Arcebispo de Braga Dom João Peculiar e que teve como intervenientes Dom Afonso Henriques e o seu primo D. Afonso VII de Leão e Castela, sob os auspícios do enviado papal, o Cardeal Guido de Vivo.


Desta Reunião, vulgarmente conhecida por Tratado de Zamora, resultou a INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL!


De facto e de direito, Portugal faz 875 anos e como tal não começou há 114 anos, isso foi a república portuguesa! Antes, durante 771 anos existiu o Reino de Portugal e dos Algarves. Portugal, País forjado à espadada e valentia por Reis e heróis extraordinários. O Reino de Portugal e depois, também, dos Algarves, e depois, também, d’Aquém e d’Além-Mar, com o seu desejo oceânico fruiu o Mundo e esses tempos de Glória de Portugal, não podem ser encarados como meras recordações, ecos ensurdecidos, pois em Monarquia ultrapassamos sempre as crises: granjeamos a Nação Portucalense, expulsamos os sarracenos, sobrevivemos à ocupação castelhana, às Invasões Napoleónicas com a sua política de delapidação e terra-queimada, sobrevivemos a Ultimatos e guerrilhas.


Por isso, hoje, 5 de Outubro, os Monárquicos, e os Portugueses em geral, celebram o nascimento do Reino de Portugal, em 1143.


Neste Acordo de Zamora, ficou assente que Afonso VII de Castela e Leão concordava com a transformação do Condado Portucalense em Reino de Portugal com Dom Afonso Henriques com o título de ‘Rex Portucalensis’– Rei de Portugal, embora continuasse, apesar do reconhecimento da Independência, como vassalo do Rei de Castela e Leão, que se intitulava Imperador da Hispânia. Porém, caso único entre todos os Reis da Ibéria, Dom Afonso Henriques nunca prestou essa vassalagem. A partir desta data, Dom Afonso Henriques passou a enviar ao Papa remissórias declarando-se vassalo lígio e comprometendo-se a enviar anualmente uma determinada quantia em ouro, pelo que, em 1179, o Papa Alexandre III, através da Bula Manifestis Probatum, reconheceu Dom Afonso Henriques como Rex.


Alexandre Herculano escreveu que “o imperador reconheceu o título de rei que seu primo tomara, e que este recebeu dele o senhorio de Astorga, considerando-se por essa tenência seu vassalo. Não é menos provável que, ainda como rei de Portugal ficasse numa espécie de dependência política de Afonso VII, o imperador das Espanhas ou de toda a Espanha, como ele se intitulava nos seus diplomas”. Todavia, na Bula acima referida, o Papa ao aceitar que Dom Afonso Henriques lhe preste vassalagem directa, reconhece não só, definitivamente, a independência do Reino de Portugal, como o Rei de Portugal fica livre de prestar vassalagem ao Rei de Leão e Castela, imperador de toda a Espanha, porque nenhum vassalo podia ter dois senhores directos.


Assim sendo, tendo ganho a sua Independência e soberania enquanto Estado naquele 5 de Outubro de 1143, Portugal encontra-se a 25 anos de completar 900 anos de existência – que celebre a data já novamente como Reino é o nosso desejo.


Viv’ó Rei! Viv’á Monarquia!
VIVA PORTUGAL Independente e Soberano!

Miguel Villas-Boas

Fonte: Plataforma de Cidadania Monárquica