sexta-feira, 5 de agosto de 2011

EL-REI DOM MANUEL II NO BUÇACO

O Rei Dom Manuel II e o Duque de Wellington (neto) fotografados no Bussaco em 1910
 
Um dos últimos acontecimentos que teve participação real decorreu quanto das comemorações dos cem anos da batalha do Bussaco , no dia 27 de Setembro de 1910.
O Rei deslocou-se ao Bussaco em comboio especial naquele que foi um dos últimos actos públicos do Governo e da Monarquia participando directamente nas cerimónias com grande brilhantismo e com a presença de altas personalidades, entre elas o neto do Duque de Wellington, Lord Arthur Charles Wellesley, neto do Duque General. Presentes também os ministros da Guerra e dos Negócios Estrangeiros que acompanharam o Rei na sua deslocação.
Durante a visita, que decorreu com pompa e circunstância, não deixou de se respirar o pesado ambiente de instabilidade politica que se vivia na altura e que terminou alguns dias depois na revolução republicana do cinco de Outubro. El-Rei Dom Manuel inaugurou o Museu Militar do Buçaco, instituição que subsiste hoje associada na sua fundação à figura do Rei e ao seu pequeno reinado.
O cenário posterior é o muro da mata junto à Porta de Sula, local onde se travou parte da batalha.
El Rei empunha a bandeira do centenário perante o Bispo que procede à benção do estandarte. Na mesma foto , em cima, o pelotão fardado à época em plena missa campal. (Revista Brasil-Portugal). Depois desta cerimónia Dom Manuel reinou apenas sete dias, até ao 5 de Outubro.
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Terça Feira, 27 de Setembro de 1910

Bussaco – 1º Centenário da Grande Batalha

Dormi bem. Ás 9 ½ almoço. Ás 10 h. parti com o Sbugosa e Duque de Wellington para o Alto da Serra onde o Bispo Conde d’Arganil, Prelado de Coimbra, benzeu a bandeir...a do Centenário, e disse Missa Campal. Espectaculo único. Não se descreve. Depois houve inauguração do Monumento. Seguiu-se revista das tropas, inauguração do museu, e por fim almoço militar na esplanada junto à Capella. Eram 3 h . quando começou o almoço que foi lindíssimo. Discursaram Coronel A. Costa, Duque de Wellington, José d’Azevedo ( Superior) e El-Rei muito bem.
Ás 16 h da noite houve no Paço uma espécie de ceia-jantar com vários convidados taes como Generais, Bispo Conde, Rapozo Botelho (Ministro da Guerra) José d’Azevedo Castello Branco (Ministro dos Negócios Estrangeiros), Duque de Wellington, e o famoso Professor Charles Oman que ficou ao pé de mim para a conversa.
Depois desta refeição ainda fomos todos com El-Rei para as sallas do Hotel onde ficamos muito tempo. Não gosto de ver El-Rei na intimidade de toda a gente. Não deve ser.
Muitos milhares de pessoas.
O tempo menos mal.

NOTAS

O Duque de Wellington que veio ao Bussaco no dia 27 é um homem alto, elegante, de 60 anos pouco mais ou menos. Chegou no Sud-Express veio ao Hotel vestir-se com o uniforme de Granadeiros da Guarda com a sua enorme barretina de pelle d’urso. Trazia a Gran-Cruz da Jarreteira e o Collar da Águia Negra. Quando chegou ao pé d’El-Rei poz o joelho em terra e beijou-lhe a mão deante de muita gente. Estavam presentes todos os correspondentes dos jornais e nenhum relatou o facto. É por medo de offender a canalha.
Havia na festa do dia 27 uma guarda d’honra vestida com uniformes de há 100 annos. Sargento com um chuço, um pífaro, e um tambor. Não gostei. Dava um tom de mascarada no meio das tropas d’agora. Lembrava o enterro do bacalhau como d’antes se fazia em Sabbado d’Alleluia.
Por ordem d’El-Rei e por eu falar Inglez estive sempre com o Duque de Wellington durante dois dias e companhei-o até ao Avenida Palace. Teve por ajudante de Campo aqui o Capitão do Estado maior de Artilharia Ivens Ferraz. O Duque deu, tanto a este official como a mim, uma gravura de Burgess copia do retrato do seu glorioso avô pintado por Sir Thomas Lawrence.

Fonte: Diário do Conde de Mafra, D. Thomaz de Mello Breyner - que me foi enviado por José Tomaz de Mello Breyner que agradeço com um bem haja!
 
Maria Menezes, Família Real Portuguesa

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