quinta-feira, 18 de agosto de 2011

«De Trindade Coelho, a propósito da morte da Rainha D. Amélia de Orleães (1951).

"Não dependo da realeza, como não dependo de qualquer facção partidária. A minha alma juvenil tem vibrações de entusiasmo sincero, desde entusiasmo franco e lhano, despreocupado e são, que não tem a pautá-lo a norma servil da conveniência.
 
Eu não sei genuflectir ante eminências sociais de qualquer categoria que sejam, não sei calar a voz da consciência para vir a público desempenhar o papel de turibulário oficial.
 
O preito que ora venho render à Majestade que passa é, por conseguinte, o preito de alguém que não tem nos lábios o sorriso que cativa para que ele lhe disfarce o veneno do coração.
 
Este preito antes de ser dirigido à Rainha é dirigido à Mulher; antes de ser a manifestação balofa da minha admiração pela púrpura e pelo arminho do manto - é o tributo do meu respeito à Virtude que enobrece e que tem a consagrá-lo as bênçãos dos infelizes.
 
A realeza do trono fez da princesa uma Rainha, a realeza da Virtude fez da Mulher um Anjo.
Por issu eu a saúdo na sua passagem, por isso eu curvo a minha fronte como a curvaria diante da minha mãe, e só diante dela.
 
E é sincera a saudação, e é bem justo o preito, porque tem a justificá-lo a realidade positiva dos factos.
 
Salve, pois, Rainha dos Portugueses! Caiam sobre ti as bênçãos do Céu como caem sobre os desgraçados as bênçãos da tua Caridade.
 
E é em nome dos desgraçados, em nome dos desprotegidos da sorte, que eu te venho saudar, a ti que se não tivesses um trono que te dá a tua posição e o teu sangue, havias de ter aquele que a virtude te levantou e ante o qual eu ajoelho com aquele respeito com que só o faço no túmulo de minha mãe.
 
Mais que os brilhantes da tua coroa, brilham as lágrimas de gratidão daqueles que a tua caridade protege. por isso te abençoamos, por isso nos orgulhamos de te respeitar como Rainha porque te adoramos como Mãe."

Nunca palavras destas foram ditas a respeito de alguém da República e muito menos ainda, da própria "criatura" que já há 101 anos nos sufoca e parasita.»
 

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