segunda-feira, 12 de junho de 2023

A NOVA SOLUÇÃO

 


Na leitura dessa fantástica obra de Juan Manuel de Prada, ‘Uma Emenda à Totalidade’, o autor relembra-nos uma passagem de outra obra, marco incontornável do Liberalismo revolucionário que é O Capital de Karl Marx, onde é mencionado um tal Sr Peel que perante as facilidades dadas pela coroa britânica com vista à colonização da nova Zelândia, cerca de 1830, muda-se com armas e bagagens para essas longínquas paragens.

Para tal desmontou a sua fábrica, ocupando uma frota de barcos, onde transportou também os seus 3000 empregados, levando consigo também os meios de subsistência necessários a tão enorme empresa. O custo total ascendeu a 50000 libras, valor que hoje em dia talvez fosse suficiente para despedir e indemnizar o todo o Conselho de administração de uma TAP!

O que sucedeu ao Sr Peel na Nova Zelândia foi surpreendente; os empregados que o acompanhavam, abandonaram-no, deixando-o com a sua montanha de caixotes repletos de modernas máquinas e consta que não ficou ninguém, nem mesmo para lhe levar uma simples chávena de chá…

Na fecunda disponibilidade de terras aí existente, os trabalhadores partiram em busca do seu quinhão, da posse de propriedade, tendo também ficado demonstrado que o sr Peel se esqueceu de levar consigo, o sistema modernista que o elevou nas tão incivilizadas terras britânicas. Esqueceu-se de levar consigo o liberalismo económico…

António Sardinha, num brilhante ensaio sobre a Nobreza, afirmou que é da natureza do homem e objectivo do seu incessante labor, constituir família, ter uma casa onde ela pudesse florescer seguramente e por último ter um nome pelo qual ela fosse conhecida e respeitada, não pela riqueza que ele poderá comportar, mas pelo serviço à comunidade que esse nome se obriga a prestar, sendo esta uma adequada definição de Nobreza.

Se um nome provoca a admiração e o respeito da comunidade, tal se deve ao serviço prestado e nunca, como se vê nos dias de hoje, ao recheio da bolsa. É esta natural ambição do homem que escapou ao Sr Karl, perdido que estava nos meandros do Liberalismo revolucionário, incapaz de perceber para além do materialismo plutocrático que sempre defendeu.

Infelizmente nos dias de hoje, fruto de um capitalismo cujo fito último é a concentração da propriedade num pequeno número de indivíduos, a propriedade tornou-se inacessível à maior parte das famílias e desenganem-se aqueles que pensem que a solução está num qualquer socialismo. É que, para além de não existir uma diferença substancial entre estas ideologias, (se uns concentram a propriedade num punhado de indivíduos, os outros concentram-na numa elite plutocrática que a controla e dela usufrui), o facto é que após a passagem do socialismo pelo poder, se instala sempre um novo regime capitalista, ainda mais selvagem que o deposto inicialmente.

Os exemplos são infelizmente abundantes e expressivos, a União Soviética deu origem a Rússia capitalista, a China comunista a um dos mais arrepiantes regimes capitalistas e até Portugal não fugiu à regra, a negra revolução dos cravos, abriu as portas a mais um regime capitalista, onde a riqueza e a propriedade se continuam a concentrar num elitista e reduzido número de indivíduos, ou na posse de alguns fundos de investimento internacionais, perante um divertido alheamento de uma sociedade, completamente cretinizada, no centro comercial de direitos disponibilizados pelo seu governo.

Desenganem-se por isso, os que veem a miragem de diferenças no actual espectro partidário. Todos os partidos defendem o mesmo propósito, usam a mesma linguagem de direitos de ‘mercado do Bulhão’ que justificam custos e proveitos, salivam modernismo, mostrando a sua face de bons adoradores do dinheiro.

Por isso, não nos obcequemos com fantasmas de ‘novas ordens mundiais’, ou dispersas teorias de conspiração. A ‘nova ordem’ não é tão nova como parece, começa com Lutero, alastra-se na revolução e modernismo, assenta praça em neo-paganismos, ou no indivíduo que pela ciência se crê já num novo Deus.

Busquemos sim a solução onde ela sempre esteve, nas legiões de gerações perdidas no nevoeiro do Tempo, aquelas que elevando o seu pensamento a Deus, cerraram as suas rudes mãos vezes sem conta na Bandeira e na lança e venceram!

Por Deus, Pátria e Rei

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