sábado, 3 de junho de 2023

Femina Mvndi | Ângela e Luiza - As Irmãs Sigeas - Feira de Época de Torres Novas

 


Final de Quinhentos: depois das guerras e das conquistas, a descoberta de mundos interiores. Ângela e Luiza trazem da corte saber e humanidade, a harmonia da música e o encanto das belas palavras. O cálice ameaça a espada: as mulheres insinuam as utopias do futuro.

Filhas de Diogo de Sigeu e de Francisca de Velasco, família de eruditos e humanistas muito influente na corte de D. João III e da rainha D. Catarina, as irmãs Ângela e Luiza, devido à sua particular cultura letrada e ao amplo reconhecimento granjeado, terão marcado seguramente a sociedade torrejana, em meados do século XVI, quando então se instalaram na Vila.

Luiza Sigea notabilizou-se como humanista de renome, em meados do século XVI, tendo sido figura de destaque na corte da infanta D. Maria, filha de D. Manuel I. Figura incontornável da cultura portuguesa à época, foi também reconhecida em toda a Europa em boa parte devido ao poemeto Syntra, remetido ao Papa Paulo III, em 1546. Na missiva que acompanhava o poema, Luiza Sigea dirigiu-se ao Sumo Pontífice em várias línguas: latim, grego, hebraico, siríaco e árabe, o que lhe terá valido grande lisonja e reputação junto deste. A reputada poliglota terá passado também por Torres Novas quando a família, por volta de 1555, veio instalar-se na então vila. Por breve tempo, porém. Terá seguido depois com o marido para Burgos, onde passou a residir. Morreu em 1560.

Presumivelmente mais nova que a irmã, Ângela Sigea, notabilizou-se, igualmente, no campo das Artes e Letras, como escritora, mas sobretudo como música. Integrou, ao lado de Luiza, a corte da infanta D. Maria, que a terá tomado também como aia. Acompanhando seu pai, Diogo de Sigeu, na vinda para Torres Novas, por volta de 1555, aqui casou com o ilustre Antão Mogo de Melo Carrilho, Juiz dos Órfãos e secretário de Jaime de Lencastre, Bispo de Ceuta e prior das paróquias da vila. Desta união nasceram dez filhos. Ângela Sigea e Antão Mogo de Mello doaram, ainda em vida, os terrenos da Berlé, em 1589, aos frades Arrábidos para a construção do Convento de Santo António. Ângela morreu em 1608 e ficou sepultada na capela do Sr. Jesus dos Lavradores, na Igreja de Santiago.


Nota: Apesar de pouco precisa, porque as fontes são quase inexistentes ou difusas e confusas em datas e registos, das duas Irmãs Sigeas e da sua morada, e passagem, por Torres Novas há literatura basta que pode ser consultada na Biblioteca Municipal, mas também nos repositórios universitários.
Artur Gonçalves, Eduardo Bento, Joaquim R. Bicho e Catarina Monteiro (esta com dissertação de mestrado apresentada à FCSH/UNL), são alguns dos autores que referenciam e dedicam investigação académica à vida destas duas mulheres eruditas, que muito se distinguiram no século XVI.


Fonte: Memórias da História

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