quinta-feira, 24 de agosto de 2017

INCÊNDIOS: UM ESTRANHO COMPORTAMENTO…

“Os governos têm sido tão incompetentes (relativamente aos incêndios) que até o dinheiro os estorva…”
 (Cidadão português em entrevista na, RTP 2, Jornal das 21:30, no dia 17/8/17)

Sobre toda esta catástrofe nacional os incêndios florestais representam, já se verteram resmas e resmas de artigos, opiniões, entrevistas, reportagens, estudos, análises e o mais que a mente humana pode lucubrar.

Embora, convenhamos, sem qualquer resultado prático.

Sobre um aspecto, porém, tem recaído o mais sonoro silêncio, uma reserva púdica inexplicável e um estado de negação militante, que tem impedido qualquer acção minimamente eficaz sobre o mesmo.

Quero referir-me à questão do fogo posto e da mão que está por detrás, sem dúvida alguma a causa de 99% dos fogos, quer seja por negligência, quer por premeditação criminosa. 

Ora este é o único âmbito em que praticamente não se fala – ou por outra fala-se mas chuta-se para canto como fez o nosso primeiro, no passado Dia da Infantaria (que por sinal, não se comemorou) - não existem estudos, nem relatórios policiais, tão pouco alguma vez se pensou em estabelecer qualquer plano de prevenção ou combate!

E, sem embargo, nele reside a principal causa dos incêndios e a dificuldade em os combater.
Porque é que as coisas se passam assim? 

É o que vamos tentar dilucidar, mesmo correndo o risco que a censura existente – muito maior, mais insidiosa, limitativa e perigosa (e nunca assumida) do que aquela existente durante o Estado Novo - vá tentar por todos os meios silenciar.

A questão explica-se fundamentalmente pelo mesmo fenómeno ocorrido na antiga URSS, em que se levou muito tempo a que fosse criada uma polícia de investigação criminal (só havia a KGB), já que era assumido que a bondade da ideologia comunista reinante excluiria, à partida, que tais manifestações (criminosas) próprias de uma sociedade burguesa e das contradições e exploração funestas do capitalismo, não teriam lugar na nova sociedade socialista. A luz e o elixir do mundo!

Penso que o raciocínio contemporâneo é semelhante. Pois não é suposto que estas coisas não têm razão de ser numa sociedade dita democrática?

Além disso as ideias racionalistas, jacobinas e positivistas, oriundas da Revolução Francesa que tentaram (e têm conseguido) esmagar o Trono e o Altar, não colocaram o homem no centro de tudo – apeando Deus de tal pedestal - e o individuo como “Rei” e “Senhor” de si mesmo?

Como é que um qualquer se pode comportar desta maneira ateando fogos, pelo prazer mórbido da destruição, do espectáculo, de um qualquer apetite vicioso ou mais pragmaticamente, pela ideia avara da ganância e da vingança?

E os discípulos de Rousseau e outros de semelhante jaez, não andaram e andam, a pregar a bondade dos seres que nascem, a igualdade que lhes assiste e o facto da sociedade é que os transforma para o pior, no maior exercício de desresponsabilização individual e colectiva, que jamais foi posto em marcha?

Ou seja ninguém pode ser responsabilizado ou castigado (além de ser proibido proibir)!...

A única coisa que se pode fazer é explicar, desculpar, integrar, facultar as oportunidades todas e mais algumas, reeducar e mais uma quantidade de chavões que estão a sepultar a sociedade num cemitério de coitadinhos desvalidos?!

E ainda virá o dia em que se defenderá, num espectro cada vez maior de imbecilidade colectiva onde só existem direitos e nenhuns deveres (a não ser o sacrossanto dever de pagar impostos, pudera!), que o cidadão também tem o direito quando lhe der na realíssima telha, de pegar fogo ao seu hectare anual, como se tal fosse uma espécie de tiro ao pato numa feira minhota, onde antigamente o varapau era rei! 

Será que ninguém (com responsabilidade) quer perceber e assumir que em cada pessoa e na natureza humana, coexiste o Bem e o Mal e que temos que organizar a sociedade, pelo tempo em que por cá andamos, de modo a que as acções do lado do Bem vençam as do lado do Mal? E que não só as vençam, como as enterrem, sempre que possível?

As coisas são o que são e não as que gostaríamos que fossem…

No Portugal florido a cravos e agora regado a afectos, também não passa pela cabeça de ninguém que possa haver acções subversivas do Estado e da Nação.

Pois bem a mim parece-me que esta acção demoníaca e demolidora, dos incêndios florestais pelas implicações e estragos que provoca, bem se pode classificar como subversiva e terrorista!

Por tudo isto espanta que o edifício legal não seja adequado para fazer face a esta onda de criminalidade e taradice; não se desenvolva um tipo de prisões (diria uma espécie de campo de concentração) para arrecadar pirómanos; não haja investigação criminal a sério que permita descobrir as origens de toda esta débacle e descortinar acções de causa/efeito; os juízes soltam sistematicamente aqueles que as Forças de Segurança vão capturando; não haja escrutínio para uma série de funções ligadas a toda esta temática (incluindo bombeiros) e informações sobre cidadãos em “desequilíbrio mental” e sobre eles se tomem acções preventivas.

A vigilância tem que aumentar muitíssimo, os castigos devem ser duríssimos e a indústria nacional (diria a Força Aérea) deve desenvolver rapidamente um “drone” especialmente dedicado àquele efeito.[1]

Cumulativamente com tudo isto parece existir medo nas entidades governativas em se falar neste assunto, por receio que a fúria popular possa fazer justiça pelas próprias mãos.

É isto que explica, certamente, o dito a despropósito do Director da Polícia Judiciária, sobre a trovoada seca que teria provocado o incêndio de Pedrógão Grande, ao lançar um raio sobre a infeliz árvore cuja identificação certeira no meio de milhares, tinha sido localizada sem sombra de qualquer dúvida!

Mal comparado é assim como antigamente os jornais não darem notícias (e bem) sobre suicídios, ou os de hoje (mal) deixarem de noticiar as prisões dos pedófilos (mais uns anos de Bloco de Esquerda e lá os teremos legalizados, quiçá, incentivados…).

Só que as coisas não são comparáveis e a actual política de esconder o sol com a peneira, só irá exacerbar o sentimento de revolta já latente, não havendo futebol, novelas ou concertos, que o trave – talvez só mesmo a praia, quando toda a população portuguesa estiver acotovelada a viver junto à linha de costa….

Enfim, criámos uma sociedade amoral, paralisada politicamente pela demagogia e pela mentira e onde apenas o negócio transformado no (quase) vale tudo faz sair o cidadão da atonia.

O meu prezado concidadão da citação acima, tem carradas de razão.

O País, esse, vai continuar a arder.





[1] Drone – veículo aéreo não tripulado.



João José Brandão Ferreira
Ten. Cor. Piloto Aviador (ref.)


Fonte: O Adamastor

Sem comentários: