Vinte e cinco de Julho de 1111, ou de 1109, nascia Dom Afonso Henriques; vinte e cinco de Julho de 1139, nascia no campo de Ourique a vitoria que levaria os portugueses à vida livre; vinte e cinco de Julho, dia de Santiago Maior. A coincidência das três datas, o nascimento do monarca fundador, o seu triunfo sobre cinco taifas mouras e a festa de Santiago Matamouros, patrono da Reconquista, carece de prova, e pode muito bem ter sido invenção - por certo patriótica e bem intencionada - dos cronistas. Sabido é que pouco se conhece das circunstâncias que rodearam aquele triunfo das armas portuguesas: se alguns cronistas insistem em cinco reis maometanos coligados e batidos, outros há para quem a vitória do português foi apenas sobre um chefe mouro. O Milagre de Ourique, ainda, teria sido ocorrência bela, mas não há fontes coevas que o admitam, e muito menos que o secundem: as primeiras referências ao formidável acontecimento, em que o próprio Cristo teria aparecido a Afonso na noite anterior à batalha para prometer-lhe que a monarquia portuguesa jamais cairia, pois sempre se manteria espada e fortaleza da fé cristã, datam apenas do século XVII. Tudo parece indicar, assim, que o Milagre foi conveniente acrescento dos monges de Alcobaça quando, em plena Guerra da Restauração, havia que dar empenho aos portugueses na luta contra os Habsburgos de Espanha.
O nascimento do Rei, como a batalha em Ourique, estão envoltos em incerteza, e de nenhum se sabe ao certo quando ocorreu. Certo é que a generalidade das fontes, como a Chronica Gothorum, ou Crónica dos Godos, confirmam a data de 25 de Julho, mas divergem da versão comum ao colocarem Dom Afonso frente a apenas um rei árabe, de nome "Esmar". Já o aniversário do Rei é igualmente alvo de controvérsia, e à noção comum de que Dom Afonso nasceu a 25 de Julho de 1111 em Guimarães se levantou, no século XX, a objecção de que teria, pelo contrário, aparecido ao mundo em 1109 em Coimbra ou Viseu. Não podendo haver certeza quanto a nenhum dos problemas, em ambos opta a Nova Portugalidade por aderir à tradição e por datar os dois grandes acontecimentos nacionais em 25 de Julho - um de 1111, outro de 1139.
Quanto à batalha, tudo o resto é incerto. O local é-nos desconhecido, reclamado que é por todos os numerosos campos de Ourique existentes em solo português. Prudente, pois, é afirmar que houve batalha, independentemente de ela ter oposto Dom Afonso a um ou a cinco reis mouros; razoável é, também, que era improvável a vitória portuguesa e muito superior a hoste moura que se nos opôs. Cimentado o domínio de Dom Afonso sobre Portugal com aquele triunfo e acalmada a moirama a sul, o filho de Henrique passaria, pouco depois da batalha, a assinar como "Rei dos Portugueses", e já não como "Príncipe" ou "Duque"; o seu título real seria reconhecido pelo primo Afonso de Leão em Zamora dali a quatro anos, e pela Santa Sé em 1179. Do Rei nascido a 25 de Julho, brotava a 25 de Julho, dia de Santiago, a liberdade nacional - e o mundo não mais seria o mesmo.
RPB
Fonte: Nova Portugalidade
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