Vivemos em sociedades abertas e complexas. Se esta variada confluência cultural contribui para diminuir a pertença comunitária em moldes tradicionais e vai além dos contextos próximos de socialização, a família e a escola, então a democracia requer uma reestruturação necessária para sobrelevar esta nova situação. Se a participação e a interacção das pessoas com os vários grupos sociais já não é tão mediada pela tradição familiar, mas pela necessidade de realização pessoal, de objectivação social, e, se as instituições legitimadoras conflituam, apresenta-se-nos um vazio político onde o descontentamento felizmente ainda se não modelizou, pois não tem sido capaz de formular-se em movimento político coerente e profundo temporalmente. No entanto, existem iniciativas de cidadãos que congregam alguns grupos muito heterogéneos e com objectivos políticos limitados. Assim, a forma democrática requer uma alteração de modo a que a representatividade nacional, e especialmente a do todo nacional, se reconheça numa cultura de fundo e numa instituição suficientemente abrangente que concite a continuada conversação e participação democráticas, bem como seja voz, estandarte e guardiã dos objectivos democráticos, comuns à democracia.
Esta complexa sociedade contemporânea subtraiu-se à hegemonia de um grupo social, seja ele de carácter religioso ou político, de direita ou de esquerda. Assim, a Instituição Real é, para a pluralidade democrática e diversidade cultural, a coesão nacional e o símbolo do Estado. A doença política e democrática a que temos assistido no seu larvar europeu e nacional mostra-se sobretudo pelo massivo alheamento cívico, pela percepção de perda do autogoverno, local e nacional, e exaustão da alternativa democrática.
Os processos revolucionários não têm maior virtude que o paulatino reformismo. Entendo, pois, que as grandes transformações são aquelas que se fazem por incorporação e não por exclusão. De um povo, que se fez grande além de Macedónia e Roma segundo Camões, podemos justamente esperar uma acção decisiva. Facto é que os conceitos sociais e políticos e as fórmulas que evidenciam-se nas letras e nos laboratório, traduzem já esse paradigma de futuro: uma democracia balanceada tanto para a controvérsia e alternativa como para o consenso e a continuidade estratégica, uma sociedade culturalmente plural e uma política centrada no desenvolvimento humano, equilíbrio financeiro e fiscal, uma economia aberta ao mar, participação cívica generalizada e activa, uma solidariedade condizente com uma mudança de vida, uma intensificação da produção de pensamento estratégico e sustentabilidade ambiental.
Fonte: Caderno Monárquico
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