domingo, 22 de janeiro de 2017

Professor Daniel Serrão



Há vidas cuja Luz irradia de tal forma em seu redor, que se tornam presentes em muitas circunstâncias. Dá gosto estar envolvido nessa “Luz”, nesse caminhar e entrega.

Professor Daniel Serrão foi, e continuará a ser, o homem cujo saber, ciência, Fé, amor e estima aos outros, é uma “Luz” na nossa Sociedade e nos nossos tempos.

O Prof. Daniel Serrão foi um Humanista no sentido mais Nobre do conceito. Sendo médico, teve sempre o cuidado de pôr ao serviço do Homem todo o seu saber. O Homem que ele definia como um “todo” desde a fusão dos gâmetas feminino e masculino até ao suspiro final, enchia o seu coração. Não há homens mais ou menos capazes, mais ou menos dignos, todos têm a mesma condição e dignidade.

O Prof. Daniel Serrão era estruturalmente cientista, médico que bem sabia dever ser a sua ciência ao serviço do Homem e nunca o Homem ao serviço da ciência. Esta inquietação constante levou-o a ser um dos “pais da Bioética” em Portugal.

Homem de grandes interrogações – como o vimos fazer em Roma, nos congressos da “Academia Pontifícia para a Vida” – honesto no discernimento científico e filosófico, não se quedava enquanto não obtivesse “a resposta”.

Por várias vezes, em Roma (onde nos encontrávamos mais do que em Portugal) acompanhamos essas suas inquietações que, não se escondendo em qualquer ditame ideológico ou dogmático, tinham sempre o objectivo de encontrar na Razão e nos factos a resposta adequada.

Nas suas funções de Conselheiro do Papa (nomeado por João Paulo II) era um espírito inconformado até encontrar a resposta que a razão, a verdadeira razão ditava, e que obviamente coincidia com a posição mais ortodoxa da Doutrina e da Fé. E aí também a sua lealdade se tornava evidente naquele meio da elevada Academia e do saber das coisas de Deus.

Num desses Congressos, a propósito do uso das células estaminais embrionárias cuja prática se mostrava inconsequente, para além de ser moral e eticamente inaceitável para todos nós, foram apresentados trabalhos médicos com células estaminais adultas, viáveis e que se apresentava como um caminho sério, científico e uma verdadeira aposta no futuro, sem qualquer limitação ética.

Comentado entre nós, os portugueses presentes, tamanha evidência e alegria pelas descobertas feitas, perguntávamos qual a razão pela qual não se parava com esta “maldade” de usar embriões humanos quando, se pode fazer melhor com células estaminais adultas. O Prof. Daniel Serrão apresentou-nos a seguinte explicação: – Tem de vir alguém de fora deste nosso círculo (referia-se à Igreja Católica) por exemplo, um Judeu ou um Oriental, para ser aceite esta evidência. Tem sido assim ao longo da História. Mas nós, vamos continuar o nosso trabalho. Tinha razão. Cerca de 7 anos depois foi Nobel da Medicina Shinya Yamanaka que publicamente disse que, após ter visto a ecografia do seu filho, com apenas algumas semanas de gestação, nunca mais trabalhou com embriões. Palavras que correram o mundo inteiro, e que estão a mudar a investigação científica. O Nobel da Medicina de 2012 é Japonês. Tinha razão o Prof. Daniel Serrão.

Com o Prof. Daniel Serrão Fé e razão caminhavam lado a lado. Tal como ouvimos do Papa João Paulo II na audiência privada em que nos recebeu - Tudo está lá desde a Criação, basta ao homem estudar, conhecer, procurar (referia-se às descobertas médicas feitas a partir das células estaminais adultas) com empenho e verdade”.

Obrigado Senhor Professor Daniel Serrão.


Isilda Pegado


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