É escandaloso o que se está a passar com a TAP. Se já era inadmissível a intervenção sistemática do Estado, com a injecção obscena de capital numa empresa cronicamente a dar prejuízo e que lesou os cofres públicos durante décadas a fio, a novela mexicana a que assistimos neste momento, com contornos criminosos, tem de ser o fim de uma era. Já chega de regabofe. Está na hora de “matar” este problema definitivamente. Porque é caso para que, sempre que se fale na TAP, colocar uma bolinha vermelha com o seguinte alerta: “TAPe” os olhos que isto é conteúdo não recomendado aos contribuintes deste país.
A TAP depois de nacionalizada pela “revolução de Abril”, nunca deu lucro. Na verdade, foi e é um buraco sem fundo onde o país enterrou biliões do esforço do trabalho dos contribuintes (portugueses e europeus). Uma vergonha nacional.
Resumidamente e sem rodeios, a história da TAP conta-se assim:
- Em 1945 foi criada por com a designação de Transportes Aéreos Portugueses, e foi integrada na Star Alliance.
- Em 1953 transforma-se numa Sociedade Anonima Responsabilidade Limitada.
- Em 1975 é nacionalizada e muda de designação para TAP Air Portugal.
- Em 1980 começam a surgir prejuízos astronómicos.
- Em 1991 é transformada em sociedade anónima de capitais maioritariamente públicos.
- Em 1994 é criado um plano estratégico de saneamento económico-financeiro para salvar a empresa da falência.
- Em 1997 o PS prepara a privatização com a Swissair – que, entretanto, se viu a braços com dificuldades financeiras que iriam conduzir ao seu desmantelamento e à criação da Swiss -, que desiste de comprar parte da TAP e a privatização volta à estaca zero.
- Em 2003, a recuperação através do plano estratégico começa a dar frutos e empresa dá finalmente “lucros” pela primeira vez em muitos anos.
- Em 2005, o Estado reduz a sua participação na empresa, dando mais um passo para a sua reestruturação e consequente privatização.
- Em 2011, Sócrates assume compromisso com a Troika, no Memorando de Entendimento, de privatizar a TAP mas o governo adiou a decisão até 2014.
- Em 2015, e depois de muita controvérsia, foi finalmente privatizada. A privatização foi realizada com a venda directa de 66% do capital da companhia aérea: 61% da venda a investidores directos , 5% para os trabalhadores da TAP SGPS e os restantes 34% ficariam na posse do Governo durante dois anos.
- Em 2016, António Costa assinou um novo acordo em que o Estado passa a deter 50% da empresa ficando 45% detidos pela Atlantic Gateway e 5% pelos trabalhadores da TAP.
- Em 2020, com a pandemia de Covid19, e usando o argumento da “importância estratégica”, o governo decidiu “nacionalizar” a empresa adquirindo 72.5% das acções, ficando 22.5% para o consórcio Atlantic Gateway, e 5% para os trabalhadores.
- No presente, e depois de toda esta trapalhada de “nacionaliza – privatiza – nacionaliza” do governo de António Costa, falam agora de uma futura (re)privatização (mais uma!!!) com a venda de capital social da TAP a outros grupos de empresas aéreas europeias, como o grupo “Air France/KLM”, o “Lufthansa Group” ou o “International Airlines Group (IAG)”, mantendo, contudo 20% do capital social reservado ao Estado.
A juntar a isto, a TAP conseguiu ainda a proeza de, durante uma década, apenas ter registado “lucros” no ano de 2017 e somar um total de 1 891,5 milhões de euros em prejuízos, nos restantes:
- 2009 – prejuízo de 3,5 milhões euros.
- 2010 – prejuízo de 57,1 milhões euros.
- 2011 – prejuízo de 76,8 milhões de euros.
- 2012 – prejuízo de 25,5 milhões de euros.
- 2013 – prejuízo de 5,9 milhões de euros.
- 2014 – prejuízo de 85,1 milhões euros.
- 2015 – prejuízo de 156 milhões euros.
- 2016 – prejuízo de 27,7 milhões euros.
- 2017 – a TAP fechou o ano com um resultado líquido positivo de 21,2 milhões de euros.
- 2018 – voltou a terreno negativo com perdas de 118 milhões de euros.
- 2019 – prejuízo de 105,6 milhões de euros.
- 2020 – prejuízo de 1.230,3 milhões euros.
A covid, que tem costas largas, serviu perfeitamente para voltar a “nacionalizar um cancro” para os cofres do Estado. Mas enquanto a Lufthansa, por exemplo, devolveu a ajuda do Estado alemão (cuja ajuda foi comparativamente inferior à nossa), por cá, a TAP recebia mais transferências milionárias dos contribuintes (só entre 2020 e 2021 recebeu 2 mil milhões do Estado e não pensa sequer devolver) enquanto que, sabe-se agora, andava a saque, pelos políticos e seus nomeados. A descoberta de despesismo, favoritismo, amiguismo, promiscuidade política, gestão danosa e corrupção, não apanhou ninguém de surpresa. Apenas confirmou todas as suspeitas, de décadas de gestão pós revolução de Abril.
Aqui, uma pequena amostragem da podridão do regime na companhia aérea, revelada SÓ durante este ano, e que, se continuarmos a cavar fundo, chegará, muito provavelmente a todos os anos do pós 25 Abril:
Falando agora sobre os supostos “lucros” da TAP, nem mesmo esses são conseguidos sem “cosmética contabilística”. Na verdade, mais de metade dos lucros apresentados no ano de 2022 , por exemplo, resultam de um bónus fiscal. Mas, não é preciso ser-se doutorado em finanças para entender que uma empresa que recebe fortunas do Estado para não falir, não é uma empresa com lucros. É uma empresa que gere mais despesa que receitas, “ad aeternum”, porque nunca foi gerida com responsabilidade. No fundo, a TAP não passa de um “doente terminal ligado às máquinas de suporte de vida” do Estado.
Por muito que custe aceitar, pagamos, forçados, a TAP a peso de ouro para depois viajar na Easyjet e Ryanair. Esta é a nossa realidade. E sempre que nos atrevemos a optar pela companhia de bandeira, arrependemo-nos amargamente, juntando-nos à lista interminável de reclamações por um serviço que deixou há muito de ter a qualidade dos seus primórdios.
A TAP há muito que deixou de ser uma companhia aérea para se transformar numa “offshore” ao serviço da ladroagem disfarçada de políticos. É um gravíssimo problema estrutural do país, que se arrasta por décadas e que só terminará com a sua privatização total e definitiva. Infelizmente.
Fonte: Blasfémias
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