terça-feira, 31 de outubro de 2023

Novo Guia “O Direito a ser nas escolas”

 

Nesta coutada socialista, onde serviços essenciais colapsam uns atrás dos outros, a prioridade de quem nos desgoverna é emitir guias, guiões e manuais que instruam os professores no sentido de encherem as cabecinhas dos filhos dos cidadãos de ideologia do género. Para esse efeito, saiu mais um guia: “O Direito a Ser [uma das letras do abecedário colorido] nas Escolas”. E, pasmem aqueles que ainda pensam que vivemos num país livre onde os pais têm os seus direitos fundamentais assegurados pela Constituição da República Portuguesa, pois o guia foi enviado para as escolas, «para o pessoal docente e não docente», sem que o Projecto de Lei 332/XV, que aplica e impõe a ideologia de género às escolas, tenha sido votado e aprovado na especialidade. Ou seja: o PS quer, o PS vota, o PS aprova e o povo só tem que comer e calar. Como ameaçou o Primeiro Ministro numa entrevista: «Habituem-se!».

Mais, o guia já aplica o «Texto de substituição relativo ao Projecto de Lei n.º 21/XV/1.ª (PAN), ao Projecto de Lei nº 332/XV (PS) e ao Projecto de Lei n.º 359/XV/1.ª (BE)», que, no Artigo 4.º Mecanismos de deteção e intervenção, na alínea 4, determina:

«Qualquer situação de assédio ou de prática de atos lesivos do bem-estar e do desenvolvimento saudável de estudante menor, ou de omissão do comportamento devido para os evitar, praticada dentro ou fora do espaço da escola, derivada da manifestação ou perceção de identidade ou expressão de género que não corresponde ao sexo atribuído à nascença, deve ser comunicada à comissão de proteção de crianças e jovens territorialmente competente

Assim, nas págs. 16-17 do Guia, pode ler-se:

  1. Fazer respeitar o direito a utilizar o nome autoatribuído, em todas as atividades escolares e extraescolares, que se realizem na comunidade educativa, sem prejuízo de assegurar a identificação da pessoa através do seu documento de identidade, em situação de exames nacionais ou outras similares.
  2. Assegurar o acesso a casas de banho e balneários, garantindo que este acesso é seguro e respeita a intimidade e a privacidade de cada pessoa.
  3. Na comunicação com a família, reconhecer a importância da privacidade e dignidade neste domínio. Pode haver situações em que a pessoa ainda não tenha comunicado a sua identidade de género a responsáveis legais, pai, mãe, familiares ou até mesmo no seu círculo de amizades.
  4. Detetar e comunicar às entidades competentes casos de violência ou maus-tratos, de que se tenha conhecimento, designadamente em contexto social e na família em razão destes fatores.

Vamos por partes, ou melhor, por pontos:

  1. Direito a utilizar um nome que não o seu nome próprio? Pode ser outro nome do mesmo sexo? Ou só pode escolher ser tratado por outro nome, caso também escolha ser do outro sexo? E se o aluno for gender fluid [género fluído], como aquele que mencionei no meu artigo anterior? Vai ser tratado por um nome de manhã e por outro à tarde? A mudança de nome nos documentos de identificação pública, enquanto se mantém o nome oficial para outras situações, não vai criar nas escolas o absurdo de o mesmo aluno ter dois nomes? Para uns efeitos, o aluno será identificado com o nome que consta no cartão de cidadão, para outros, será identificado com o nome auto-atribuído? Isto é que vai aqui uma açorda!
  • Porque é que o Estado, em vez de impor a ideologia do género às escolas, não começa por fazer obras nas casas de banho a fim de garantir a privacidade de todos os alunos? Então, um rapaz, com todos os atributos de um rapaz, que mantém o seu órgão sexual intacto e funcional, mas que se identifica como rapariga, pode usar a casa de banho delas e tomar banho, nu, junto com elas?

Sim! É isso que diz o Artigo 5.º Condições de proteção da identidade de género e de expressão: «1 – Tendo em vista assegurar o respeito pela autonomia, privacidade e autodeterminação das crianças e jovens, que realizem transições sociais de identidade e expressão de género, devem ser conformados os procedimentos administrativos, procurando: [..] 3- As escolas devem garantir que a criança ou jovem, no exercício dos seus direitos, aceda às casas de banho e balneários, tendo sempre em consideração a sua vontade expressa e assegurando a sua intimidade e singularidade.»

Assegurando a intimidade e singularidade «das crianças e jovens, que realizem transições sociais de identidade e expressão de género»? E as outras? As que se identificam com o seu sexo e não se identificam com a letra T da bandeira colorida? Quem é que assegura a privacidade, intimidade e a singularidade delas? Quantos daqueles que estão a ler este artigo sabem o que significa «transição social de identidade e expressão de género»? Significa que não precisam de mudar rigorosamente nada no seu corpo, nem tomar hormonas do outro sexo, mas apenas identificarem-se e/ou vestirem-se (este requisito não é obrigatório) como alguém do outro sexo. Ou seja: não é preciso “mudar de sexo” para tomar banho nu com as meninas, basta dizer que sente que é do outro sexo e pode desfrutar do gozo de estar num balneário cheio de meninas nuas. É o império dos sentidos! E isso, caro leitor, tem deixado um rasto de violações por todos os países onde a ideologia assaltou a Escola há mais tempo.

  • Então, se a pessoa (no caso, qualquer menor de idade a partir dos 3 anos) não quiser que os pais saibam que ela é trans, a Escola esconde o facto dos pais, em nome da privacidade da criança? Quanto tempo passará até que aquilo que está a acontecer na Califórnia aconteça nas escolas portuguesas? O que é que está a acontecer na Califórnia? «Em Janeiro de 2019, a ala política da Associação de Professores da Califórnia [CTA] reuniu-se para decidir sobre uma série de assuntos, incluindo o Item de Novos Assuntos #6/19-12, que era uma proposta para permitir que estudantes menores trans-identificados deixassem o espaço escolar para obter hormonas sem autorização dos pais. Os delegados aprovaram a medida. Um ano depois, o Subcomité dos Direitos Civis na Educação da CTA foi ao ponto de avançar para a criação de “clínicas de saúde na própria escola” que proporcionariam a “jovens cisgénero, transgénero e não-binários acesso igual e confidencial a uma vasta gama de serviços físicos, mentais e comportamentais.»

É isto que estamos dispostos a ver entrar nas escolas para onde mandamos os nossos filhos?

  • Denunciar, é a palavra de ordem! Denunciar os pais, o vizinho, o colega do lado… Enfim, todos aqueles que não se submetam à auto-determinação de alguém e não confessem ver o que não vêem. Considera-se «violência ou maus-tratos», por exemplo, qualquer rejeição dos pais em aceitarem, apoiarem e incentivarem a sua Maria, que era extremamente feminina, nunca tinha demonstrado qualquer desconforto com o seu sexo e de repente chegou a casa a dizer que tinha nascido no corpo errado e que agora quer ser tratada por Manuel. É a essa rejeição e ao facto de os pais procurarem levá-la a um psicólogo não-afirmativo, que os “pulhíticos” que nos (des)governam rotulam como «assédio ou prática de atos lesivos do bem-estar e do desenvolvimento saudável de estudante menor […] derivada da manifestação ou perceção de identidade ou expressão de género que não corresponde ao sexo atribuído à nascença.» (Artigo 4.º Mecanismos de deteção e intervenção, alínea 4).

E, de uma vez por todas, entenda: O SEXO NÃO É ATRIBUÍDO À NASCENÇA; É CONSTATADO.

Creio que a verdade acabará por prevalecer, mas também acredito que precisamos de lutar por ela no domínio público. Parte da luta é compreender a natureza enganadora e dissimulada da agenda da identidade de género. Lutamos com estatísticas e histórias.

PAIS,

O transgenerismo é um grande negócio travestido de movimento sobre direitos humanos. É difícil imaginar um movimento, “pelos direitos humanos”, tão incrivelmente ligado ao mercado capitalista; usado para vender roupas, maquilhagem, bloqueadores da puberdade, hormonas, cirurgias, serviços de beleza, filmes, séries de TV, tratamento para doenças mentais e lingerie, ao mesmo tempo que é financiado por bilionários filantrópicos, pela indústria da tecnologia e farmacêutica, grandes corporações e bancos.

Mas isso não acontecerá sem clientes.

As empresas que fabricam bloqueadores da puberdade e hormonas sintéticas de sexo cruzado, bem como os prestadores de serviços médicos que “oferecem” serviços cirúrgicos, têm muitos milhões €€€ a ganhar com as tendências actuais. Para aceitar a dependência de drogas para toda a vida, as dores pós-cirúrgicas e os efeitos secundários devastadores dos tratamentos, as mentes impressionáveis têm de ser convencidas de que o “género” está no centro das suas lutas de identidade e de que a medicina pode conseguir que deixem de ser rapazes e passem a ser raparigas, ou vice-versa.

O ponto de partida para esta experiência social sem precedentes é o sistema educativo, uma das ferramentas mais úteis na busca pelo poder. De acordo com Gary DeMar: «O que é ensinado na sala de aula numa geração será acreditado e praticado no governo e na sociedade na geração seguinte.»

As ideias têm consequências, mas, muitas vezes, quando nos apercebemos de que essas consequências estão a ser postas em prática, o navio já está a meio do oceano.

AINDA É HORA DOS PAIS!

Maria Helena Costa

Fonte: Inconveniente

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

25 de Outubro de 1495 - Morre D. João II, "O Homem"

 

D. João II de Portugal nasceu, no Paço das Alcáçovas, no Castelo de São Jorge, em Lisboa, a 3 de Maio de 1455 e era o filho mais novo do Rei D. Afonso V de Portugal e da Rainha D. Isabel de Coimbra. O Príncipe Perfeito acompanhou o seu pai nas campanhas em África e foi armado cavaleiro na tomada de Arzila.

No início desse ano de 1471, a 22 de Janeiro, em Setúbal, desposou D. Leonor de Viseu, Infanta de Portugal, a princesa mais rica da Europa e sua prima direita, porque filha do Infante D. Fernando. Fruto desta união, nasce em 1475 o Infante D. Afonso.

Enquanto D. Afonso V se dedicava a combater os almorávidas e os castelhanos, Sua Alteza o Príncipe Herdeiro dirigia a expansão marítima portuguesa principiada pelos seus tios-avôs os Infantes D. Henrique e D. Pedro.

Em 1474, ainda não tinha vinte anos, assumiu a direcção da política da expansão atlântica, enquanto D. Afonso V travava luta com os castelhanos e, a 25 de Abril do ano seguinte, assumiu a regência do reino que, por ir socorrer o pai a Espanha, passara para o encargo de Leonor. Participou, a 2 de Março, na batalha de Toro.

Deve-se à si a criação do Mare Clausum. É na linha dessa instituição que assina o tratado de Toledo de 1480, em que D. João II aceita partilhar as terras do Atlântico pelo paralelo das Canárias, afasta a concorrência da Espanha em África e protege a mais tarde chamada rota do Cabo.

O 13° Rei de Portugal, foi Rei em dois períodos diferentes, primeiro durante quatro dias em Novembro de 1477 após a abdicação do pai, mas tendo-se este último arrependido regressou ao trono e logo D. João lhe devolveu o poder, e só se tornou de novo Rei após a morte do pai, em 1481.

Foi El-Rei Dom João II o pioneiro dos serviços secretos mundiais, pois foi ao Serviço de Sua Majestade Portuguesa que surgiu a primeira rede de espiões profissionais como instrumento à disposição da Coroa: os Lançados.

Estes agentes, os Lançados, eram desembarcados na costa oriental de África e depois seguiam para o interior recolhendo informação que facilitasse a expansão portuguesa no continente que se começava a explorar, e sobretudo sobre o então lendário Reino de Preste João. Eram homens de uma enorme coragem lançados no desconhecido e que por isso lhes deram o nome indígena de Tangomaos, sendo que tangomao significa: ‘aquele que morre ausente ou desterrado da pátria’. Um deles foi Afonso de Paiva que empreendeu uma jornada que hoje se poderá considerar épica, e que se destinou a preparar a viagem do navegador Vasco da Gama à Índia. Porém, o mais famoso destes lançados foi, certamente, Pêro da Covilhã, senhor de um carisma de fazer sombra a um certo espião nada secreto ao serviço de outra Majestade, e que corresponde à visão heróica contemporânea de um agente secreto: mestre na arte de manejar armas – neste caso a espada e o arco e flecha - e senhor de recursos atléticos e intelectuais notáveis – dominava diversas línguas e dialectos – o temerário nascido na Serra da Estrela, confirmou no terreno e por actos a proverbial coragem dos beirões dos Montes Hermínios. Por ordem directa d’El-Rei Dom João II deslocou-se à Abissínia e à Índia sondando pela localização do reino de Preste João. No Cairo foi o primeiro europeu a contrair a Febre do Nilo, que quase lhe tirava a vida, mas que venceu para logo atravessar o deserto do Sinai e passando por Medina e Meca, desembocar na Etiópia. Daí embarcou numa nau que o levou a Calecut, Goa e ao Golfo de Ormuz, sempre recolhendo informações sobre a navegação até à Índia e sobre a possibilidade da circundação de África, por mar, para chegar à Índia, a famosa viagem que viria a ser empreendida com sucesso por Vasco da Gama e que terminaria em 1498, e, que sem dúvida, não seria possível sem a ‘intel’ recolhida por Pêro da Covilhã e que compilaria no relatório que enviou ao Rei de Portugal sob o título de ‘Verdadeira Informação das Terras de Preste João das Índias’. O espião-aventureiro haveria de falecer na Etiópia, reino onde uma vez que se entrasse já não se podia sair, mas mantendo-se sempre ao serviço de Sua Majestade o Rei de Portugal.

Mas a afirmação de que Dom João II criou um verdadeiro serviço secreto de informações na percepção que hoje se tem desses serviços, deve-se não só a esses labores dos espiões, ainda não românticos, mas com forte sentido de honra, mas também à criação de uma rede que tinha não só a incumbência de recolher ‘intelligencia’, mas, também, a missão da produção de contra-informação e a prevenção de actos que pela sua natureza pudessem perigar os intentos descobridores da Coroa Portuguesa, atentar contra a vida do Monarca e por em risco a soberania nacional.

Assim, Dom João II ganhou o cognome de Príncipe Perfeito, pois em tudo o que fazia ou deliberava punha um cunho de perfeição, e para o sucesso das suas decisões em termos de política externa e geoestratégia contava sem dúvida as decisões que tomava em função da informação privilegiada que os seus serviços secretos recolhiam e que o tornavam no mais esclarecido dos monarcas europeus da época.

Prova do seu indelével talento governativo, e expoente máximo da sua política, é o Tratado de Tordesilhas, assinado, em 1494, pelo Rei de Portugal e pelos Reis Católicos, D. Isabel de Rainha de Castela e Leão e D. Fernando II, Rei de Aragão e das Coroas Aragonesas, e como Fernando V, Rei de Castela e Leão, entre 1475 e 1504, em direito de sua esposa (ius uxoris) a Rainha Isabel I , e que pela união matrimonial e das Coroas reinavam sobre a Coroa de Castela.
É muitas vezes apontada a tese de que a Descoberta do Brasil, apesar de ter ocorrido oficialmente em 1500, por Pedro Álvares Cabral ao serviço d’El-Rei Dom Manuel I de Portugal, já havia sido achado nas misteriosas viagens do capitão Duarte Pacheco Pereira para oeste de Cabo Verde e que um lançado de nome João Fernandes ‘Lavrador’ terá mesmo feito uma pequeníssima exploração do território. Então, sabendo disso, Dom João II nas negociações do Tratado de Tordesilhas tudo fez para que o acordo fosse gizado daquela forma, incluindo a ainda por descobrir Terra de Vera Cruz.

Dom João II, logo que ascendeu ao trono, tomou uma série de medidas com vista a retirar poder à aristocracia e a concentrá-lo em si próprio e já em 1482, D. João II centralizou na coroa a exploração e comércio na costa da Mina e Golfo da Guiné.

Imediatamente, começaram as conspirações. Os seus agentes secretos, também, foram utilizados nos jogos de poder internos, mantendo a nobreza debaixo de olho, e foi deste modo que foi descoberta a conspiração de D. Fernando II, Duque de Bragança que trocou com os Reis Católicos de Espanha diversa correspondência. Essas cartas de reclamação e pedidos de intervenção foram descobertos pelos agentes ao serviço de Dom João II e tiveram papel fundamental na prova produzida no julgamento do Duque que seria condenado e executado por traição. Um ano mais tarde outra conspiração chegou aos ouvidos do monarca: desta feita o primo e cunhado de D. João II, D. Diogo, Duque de Viseu (irmão da rainha D. Leonor), concebeu um plano para apunhalar o soberano na praia, em Setúbal – o próprio Rei degolou o maquinador. Mais 80 membros da nobreza e mesmo do clero haveriam de conhecer igual destino, até que acabaram as tramas na Corte, pois depois destes acontecimentos, mais ninguém em Portugal ousou desafiar ou conspirar contra o rei, que não hesitava em fazer justiça pelas suas próprias mãos. D. João II podia agora governar o país sem que ninguém se lhe ousasse, como Monarca Absoluto.

Ainda, neste âmbito, do secretismo, o Rei Dom João II estabeleceu, ainda, o Segredo de Estado: a salvaguarda dos segredos e da tecnologia marítima de que Portugal foi pioneiro, com vista à supremacia da sua política de expansão marítima, proibindo a divulgação dos planos de construção e a venda de caravelas portuguesas. Criou o conceito de material classificado, organizando e limitando o acesso a esses segredos, que eram agora da Coroa e do Estado. Assim, passou a haver níveis de informação com diferentes graus de acesso que estava limitado a pessoas autorizadas para o fazer consoante a sua grandeza na cadeia de comando, peso estratégico e posição no Estado. Desta forma mapas, cartas de marear, livros de astronomia, roteiros de viagem, instrumentos de navegação ficavam apenas ao alcance de quem tivesse autorização régia para os usar, pois eram ‘classified & top secret’. Dom João II, proibiu ainda pilotos, mestres e marinheiros de servir nações e entidades estrangeiras adversárias. Para quem violasse estas regras instituídas pela Coroa, severas penas estavam reservadas, pois constituiriam acto de traição – tal como nos nossos dias.

A plenitude das descobertas portuguesas do reinado de Dom João II permanece desconhecida. Muita informação foi conservada em segredo de Estado por razões políticas e estratégicas e os arquivos do período foram destruídos no Terramoto de 1755. Ainda há teses de que Cristóvão Colombo não foi o primeiro a chegar à América. Para suportar esta hipótese são citados com frequência os cálculos mais precisos que os portugueses tinham do diâmetro da Terra. No fim do século XV, existia em Portugal uma escola de navegação, cartografia e matemática há mais de oitenta anos, onde os cientistas e sábios mais inteligentes e engenhosos se dedicavam à pesquisa e criação. Enquanto Colombo acreditava poder chegar à Índia seguindo para oeste, é provável que o Rei D. João II já soubesse da existência de um continente no meio.

Alimentou o sonho de uma futura Monarquia ibérica, tendo conseguido ajustar o casamento de seu filho o Príncipe Herdeiro D. Afonso com a primogénita dos Reis Católicos, Isabel de Castela e Aragão. Os reis católicos tinham várias filhas, mas apenas um filho, Juan, de saúde muito frágil. A filha mais velha, D. Isabel, estava prometida ao príncipe D. Afonso de Portugal desde a infância e até terão mesmo contraído matrimónio e consumado o casamento. Se Juan morresse sem deixar herdeiros, o mais certo era D. Afonso, único filho de João II, tornar-se Rei não só de Portugal, mas também de Castela e Aragão. Esta ameaça à coroa espanhola era bem real e por isso levantava forte oposição doa nobreza castelhana. Por tudo isso, a morte do Infante, numa queda de cavalo, esteve envolta em mistério e lenda, até porque veio deitar por terra os planos de D. João II.

A última fase do reinado de D. João II está marcada pelo problema da sucessão do trono. Com a morte do Príncipe D. Afonso, procura o Rei habilitar ao trono o bastardo D. Jorge de Lancastre (Abrantes, 11 de Novembro de 1481 - Setúbal, 22 de Julho de 1550) filho bastardo do Rei João II de Portugal com Ana de Mendonça (aia da Rainha D. Joana - mulher de D. Afonso V), e que foi criado pela tia Santa Joana Princesa, era dotado de grandes capacidades, pelo que foi o 2.º Duque de Coimbra desde 1509, Grão-Almirante de Portugal, 13.º Mestre da Ordem de Santiago e 9.º Administrador da Ordem de Avis, e considerado Pessoa Real, visto ter sido legitimado por seu pai, pelo que era tratado por 'Senhor Dom Jorge'. No seu testamento, todavia, por pressões da Rainha, D. João II nomeia seu sucessor D. Manuel, irmão da Rainha D. Leonor, a 'Princesa Perfeitíssima' - ‘Se D. João II é o Príncipe Perfeito, D. Leonor é a Princesa Perfeitíssima’, disse Ribeiro Sanches da Rainha.

El-Rei morreu de nefrite, em Alvor, no Algarve, em casa de D. Álvaro de Athayde, no dia 25 de Outubro de 1495, apenas com 40 anos, não sem antes rogar aos que o velavam que não o atormentassem com os seus prantos. As causas da sua morte, também, são alvo de várias teorias de conspiração - mas não acontece isso com todos os Grandes?!

Quando soube da Sua morte, a Rainha de Castela, Isabel a Católica afirmou: ‘Morreu o Homem! - Murió el Hombre!’, referindo-se ao monarca português como o Homem por antonomásia, consequência das posições vigorosas que adoptou durante o seu reinado.
El-Rei D. João II foi sepultado inicialmente na Sé de Silves e trasladado, em 1499, para o Mosteiro da Batalha, onde jaz.

Miguel Villas-Boas

domingo, 29 de outubro de 2023

Cardeal Zen: Sínodo é dirigido por apoiantes de homossexuais que foram 'expulsos da Igreja'

O silêncio foi imposto sobre o que se fala no Sínodo porque "os que operam nas trevas têm medo da luz", disse o Cardeal Zen, 91 anos, ao LaNuovaBq.it.

Segundo o LaNuovaBq.it, os participantes do Sínodo tinham defendido a doutrina da Igreja sobre a homossexualidade, e, em resposta, não lhes foi dada a doutrina mas a descrição emocional de casos homossexuais "dramáticos", que a assembleia sinodal, irracionalmente, recebeu com aplausos.

O Cardeal Zen não conhecia esta história [também publicada pelo La-Croix.com] mas não ficou surpreendido: "Este não é um Sínodo de Bispos, mas de apoiantes, ou pelo menos de apoiantes de apoiantes de homossexuais - 'expulsos' da Igreja."

"Não é um Sínodo de discernimento da verdade", explicou, "mas apenas uma 'partilha' de emoções" e, portanto, não se trata da verdade da Fé, mas apenas de psicologia.

in gloria tv


sábado, 28 de outubro de 2023

Dos maus jornais

 


Conversa entre amigos:

– Não se pode explicar como os católicos concorrem com o dinheiro do seu bolsinho para a manutenção de certos jornais anti-católicos. É uma coisa verdadeiramente fenomenal, mas é um facto.
– Mas, senhor, cada qual pode ler o que muito bem lhe parecer.
– Não pode tal. Os jornais que combatem a Religião, que metem a ridículo as coisas religiosas, que insultam os bons católicos, pelo facto de serem católicos, não se devem ler, não se podem ler.
– Mas jornais há, que, apesar de fazerem isso e muito mais do que isso, também falam de coisas boas.
– Mais uma razão para se não comprarem, mais um motivo para se não lerem.
– Ora, então, porque falam de coisas boas, já se não devem ler?
– Não é por isso, senão porque publicam certas coisas de piedade, para melhor enganar os incautos. São hipócritas.
Ora tens entendido, leitor amigo?
– Agora já vou entendendo. Mas quais são esses jornais maus? Quero saber quais eles são, porque para o futuro não há-de ser o meu suor que os há-de enriquecer.
– Tem paciência, isso é que eu te não digo; mas, se o desejas saber, pergunta-o a um padre sábio e virtuoso.
Adeus, meu caro leitor, até outra vez.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 1º Ano, Nº 3, Março de 1895.

§

Vale a pena lembrar que a chamada "liberdade de imprensa" é um dos erros liberais condenados pela Igreja. E se em 1895 ainda se conseguia distinguir os bons jornais dos maus jornais, hoje nem as publicações católicas de tendência conservadora se podem recomendar, por não estarem isentas de erro. Eis o quanto se tem decaído. Eis a gravíssima crise em que vivemos. «Mas quando vier o Filho do homem, porventura achará fé sobre a terra?» (S. Lucas, XVIII, 8).


Fonte: Veritatis

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Orçamento do Estado...

Sem comentários.

Favor comparar as duas rubricas financeiras e ao que se destinam e observem a demência política e social, em que vivemos.

BF


terça-feira, 24 de outubro de 2023

A DERROTA DA HUMANIDADE


Um meio de cretinização social digital propôs um título curioso para descrever as ocorrências de início de semana, “uma derrota para a humanidade, uma vitória para a democracia liberal”.
A “vitória” referia-se ao resultado de um novo embuste eleitoral na Polónia pois, quem quer que ganhasse, ganhava sempre a partidocracia e a democracia liberal; já a “derrota” refere-se à tragédia do bombardeamento de um hospital na faixa de Gaza.
Não é nossa competência ser juiz desta causa, pois nestas guerras cheias de progresso e modernidade, a mentira impera sobre tudo. Só Deus, na sua infinita sabedoria, saberá quem são os culpados pela morte de 500 homens.
A questão está na adjectivação dada à humanidade, pois ela ao ser um somatório de homens e pela ausência de um fim comum a todos, não tem vitórias, nem derrotas, terá sim mais ou menos elementos na sua contagem.
Contudo o meio de cretinização social partilha uma visão moderna de humanidade:- um extenso aglomerado de pequenos casulos individuais, egoístas e desprovidos de livre-arbítrio, polvilhado em abundância de todos os direitos imagináveis, daqueles que só existem no supermercado dos direitos e que constam naquela publicação fantasiosa que dá pelo nome de declaração dos direitos da humanidade. Lá estará o direito mais importante de todos, segundo o Sr Costa, o direito à habitação e deve até mencionar o relativo e escondido direito à vida, bem abaixo do direito ao aborto e do direito à morte assistida.
Como sempre, esta humanidade só será “boa” e “perfeita” se reduzida à normalização das democracias liberais, que à força de régua e esquadro, impõe os seus imutáveis partidos de poder ilimitado, em sociedades que se querem tolhidas e apáticas e cuja principal preocupação deverá ser o contar os tostões perante o furto tributário justificado por uma qualquer taxa de carbono.
Ora em sociedades desprovidas de um Bem Comum, qualquer guerra longínqua é vista como um grotesco jogo de futebol. Claques ao rubro insultam-se, agitando direitos, na certeza que a guerra seguinte fará esquecer a actual e todos os desesperos, dores e angústias de quem por ela passa, num violento turbilhão encoberto pelo néon em forma de arco-íris, do “vamos ficar todos bem”, essa promessa astrológica das democracias liberais, a que chamam progresso.
Como sempre, alertam-nos que devemos ter medo, muito medo. Não pelo decurso e resultado da guerra, mas pelos “medos” dessas bizarras associações mercantis chamadas “mercados”, que prometem fazer-nos a vida negra, ao mesmo tempo que se vão encher com mais umas montanhas de dinheiro, no fundo a grande e última adoração das democracias liberais.
E quando ganham os mercados, ganham sempre as democracias liberais, nunca as sociedades em que vivemos e muito menos a humanidade.
A humanidade e as suas sociedades maravilhosamente diversas, mergulham em sucessivas e constantes derrotas; hoje uma guerra, amanhã um orçamento e assim vão cedendo, perdendo-se na esperança que a quimera do progresso lhe dê casa, erradique a pobreza, no fundo que lhe traga alguma alegria e a felicidade há muito perdidas.
Por isso, voltemos ao início.
As sociedades naturais existem porque há o homem e ele é sociável por natureza; há uma ordem que a estrutura, estando no seu topo o Rei; há um Fim que é de todos e por sê-lo se sobrepõe a todos, Deus Todo o poderoso, Criador de todas as coisas, Soberano incontestado, detentor de todos os direitos.
É no retomar deste duro mas luminoso caminho, que renovamos as nossas forças, a nossa Fé, a nossa inabalável vontade de manter de pé o alvo estandarte que teimosamente empunhamos. As graças recebidas superam em muita a aspereza do trilho e enganem-se todos aqueles que se acham seguros, fortificados na sua casa e na sua família, aguardando um qualquer milagre que nos salve.
Porém, até para o mais pequeno dos milagres é necessária a matéria e a acção que o justifique.

Por Deus, Pátria e Rei legitimo

Valentim Rodrigues

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Leigos Católicos responderam às perguntas feitas ao Papa

5 Cardeais puseram 5 perguntas (dubia) ao Papa Francisco sobre a doutrina Católica que parece ameaçada pelo Sínodo que está a decorrer no Vaticano. A resposta do Papa, escrita pelo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, 'Tucho' Fernandez, foi tão dúbia que os Cardeais se viram obrigados a reformular as perguntas de modo que a resposta fosse apenas: Sim ou Não. Até agora, o Papa não respondeu.

Entretanto, o site MissaeProMissa.com fez um inquérito com essas mesmas perguntas, para que os leigos pudessem responder. Mais de 1000 leigos Católicos participaram e mais de 90% deles deram as respostas certas, i.e. de acordo com a doutrina perene da Igreja Católica. O sensus fidei não se engana...


domingo, 22 de outubro de 2023

Psiquiatra do Hospital Johns Hopkins: transgénero é um “transtorno mental”; a mudança de sexo é “biologicamente impossível”

 Tradução Deus-Pátria-Rei


"E assim, na Hopkins, paramos de realizar operações de mudança de sexo, porque produzir um paciente 'satisfeito', mas ainda perturbado, parecia-nos razão insuficiente para realizar a amputação cirúrgica de órgãos normais", explica o Dr. McHugh.

Paul R. McHugh, ex-psiquiatra-chefe do Hospital Johns Hopkins e actual ilustre professor de psiquiatria, disse que o transgénero é um “transtorno mental” que deve ser tratado, que a mudança de género é “biologicamente impossível” e que as pessoas que encorajam a cirurgia de mudança de sexo são cúmplices de um transtorno mental, como relata o CNS News .

McHugh, autor de seis livros e de pelo menos 125 artigos médicos revisados ​​por pares, falou recentemente num comentário publicado no Wall Street Journal, explicando que a cirurgia transgénero não é a resposta para pessoas que sofrem de “distúrbio de aceitação” – a ideia de que sua masculinidade ou feminilidade é diferente daquilo que a natureza biologicamente os designou.

Ele também observou um novo estudo que mostra que a taxa de suicídio entre pessoas trans que foram submetidas a cirurgia de mudança de sexo é 20 vezes maior do que a taxa de suicídio entre pessoas não trans. McHugh também fez referência a estudos da Universidade Vanderbilt e da Clínica Portman em Londres sobre crianças que expressaram sentimentos transgéneros, mas 70 a 80 por cento “perderam espontaneamente esses sentimentos ao longo do tempo”.

O transtorno transexual, segundo o Dr. McHugh, consiste na crença da pessoa de que é diferente da realidade física de seu corpo, de sua masculinidade ou de sua feminilidade, conforme lhe foi atribuído pela natureza. Esse distúrbio é comparável a uma pessoa perigosamente magra que tem anorexia e se olha no espelho pensando que está acima do peso, de acordo com McHugh.

Esta suposição de que o próprio género existe apenas na imaginação, independente da realidade anatómica, levou algumas pessoas transgéneros a exigir aceitação social e confirmação de sua verdade pessoal subjectiva, de acordo com o Dr. McHugh. Como resultado, alguns estados – Califórnia, Nova Jersey e Massachusetts – aprovaram leis que proíbem os psiquiatras, “mesmo com autorização dos pais, de procurarem restaurar sensações sexuais naturais a um menor transgénero”, afirmou.

Os defensores dos transgéneros não querem saber, diz McHugh, que estudos mostram que entre 70 e 80 por cento das crianças que expressam sentimentos transgéneros perdem espontaneamente esses sentimentos ao longo do tempo. Além disso, a maioria das pessoas que foram submetidas à mudança de sexo relataram estar satisfeitas com a operação, “mas o seu ajustamento psicossocial subsequente não foi melhor do que o das pessoas que não foram submetidas à operação”.

“E assim, na Hopkins, paramos de realizar operações de mudança de sexo, porque produzir um paciente 'satisfeito', mas ainda perturbado, parecia-nos razão insuficiente para realizar a amputação cirúrgica de órgãos normais”, explica o Dr. McHugh.

Uma “mudança de sexo” é biologicamente impossível, disse McHugh. “As pessoas que se submetem à cirurgia de mudança de sexo não mudam de homem para mulher ou vice-versa. Em vez disso, tornam-se homens feminizados ou mulheres masculinizadas. Fingir que esta é uma questão de direitos civis e encorajar intervenções cirúrgicas é, na verdade, colaborar e encorajar um transtorno mental.”

Fonte: IFN

sábado, 21 de outubro de 2023

19 de Outubro de 1889 - Morre D. Luís I de Portugal


Luís I (D.) O Popular (n. 31 de Outubro de 1838. f. 19 de Outubro de 1889), foi o 31.° Rei de Portugal; nasceu em Lisboa, no Paço das Necessidades, era o segundo filho da rainha D. Maria II e do rei D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota, e, irmão de D. Pedro V a quem sucedeu após a sua prematura morte e por este não ter descendência.

O seu nome completo era D. Luís Filipe Maria Fernando Pedro de Alcântara António Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis João Augusto Júlio Volfrando Saxe-Coburgo-Gota de Bragança.

El-Rei Dom Luís I realçou a realeza da Sua estirpe com os preclaros dotes de uma inteligência cultíssima.

Aos 8 anos de idade, o infante Dom Luís, Duque do Porto, ainda longe de pensar vir a ser rei, começou a servir na Marinha, iniciando a Sua carreira, em 1846, como guarda-marinha, e exerceu o seu primeiro comando naval em 1857 capitaneando o brigue Pedro Nunes, no qual navegando à cabotagem percorreu a costa de Portugal até Gibraltar. No ano seguinte o Rei, Seu irmão, entrega-lhe o comando da recém-adquirida corveta Bartolomeu Dias, o principal navio de guerra português no qual Dom Luís visita os Arquipélagos portugueses do Atlântico e as colónias africanas portuguesas. Desempenhou, com brio, nove missões de serviço, até se ver, por acaso do destino, alçado Rei.

Ora sendo um homem do Mar não poderia durante o Seu Reinado desviar as atenções da Armada e dos assuntos científicos que aperfeiçoara enquanto marinheiro.

Desde muito cedo, o rigor na educação do Príncipe e a disciplina para a aculturação e aprendizagem marcaram a vida de Dom Luís, então Duque do Porto - título reservado ao 2.º Varão dos Monarcas Portugueses -, como se pode constatar numa nota íntima do Diário de Viagem do próprio, datada de 14 de Dezembro de 1846: ‘Levantei-me às 7. Vim acabar de preparar a minha lição d’alemão; estive com o mestre d’alemão; até às dez menos um quarto fui para o Viale [professor de Filosofia], a lição foi recapitulada da ethica, e a história da 7.ma
Cruzada, recreação até ao meio-dia. Ao meio-dia vim ler de alguns instrumentos que tenho que mandar vir. Há uma hora estive tocando rebeca com o Manuel Inocêncio [professor de Música], às duas horas fui para o jardim; às duas horas vim preparar a minha lição d’inglez e trigonometria espherica. Jantámos às 7. Luiz’.

A par da carreira naval, Dom Luís dedicava-se à sua paixão pela música executando com mestria o violoncelo, instrumento com que animava os saraus do Paço Régio.

De Dom Luís, são variadíssimos os seus atributos desde criança: línguas (falava e escrevia alemão, francês, inglês, latim, etc.), desenho e pintura, esgrima – na qual surpreende o seu mestre d’armas Henri Petit -, equitação e a música para a qual mostrava especial engenho desde muito jovem. O professor de Música dos Príncipes – prole de Dona Maria II e de D. Fernando II de Saxe-Coburgo-Gotha - era o conceituado Manuel Inocêncio Liberato dos Santos por recomendação da antiga regente a Infanta Dona Isabel Maria. O Mestre encontrou no discípulo Dom Luís, um aluno especialmente dotado musicalmente, o que foi comprovado nos exames públicos que o Duque do Porto prestou em 1846 e nos quais foi aprovado ‘Com Louvor’. Também os serões familiares eram animados por Dom Luís ao piano ou ao violoncelo e com a voz de tenor do pai D. Fernando II.

Dá-se uma reviravolta, com a morte de Dom Pedro V, e Dom Luís volta já Rei da Sua viagem à Bélgica onde acompanhou a irmã Dona Antónia e o cunhado Príncipe Leopoldo de Hohenzollern-Sigmaringen.

Já Rei e já casado, o Reinado de Dom Luís I assiste aos melhores momentos da Arte em Portugal: na literatura surgem os nomes maiores como Eça de Queiroz, Antero de Quental, Camilo Castelo-Branco, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Alexandre Herculano, Guerra Junqueiro, Cesário Verde, entre outros não tão grandes. É a época dos ‘Vencidos da Vida’ e das ‘Conferências do Casino’! É o tempo, também, do apogeu da pintura e escultura com Malhoa, Columbano e Rafael Bordallo Pinheiro, Henrique Pouzão, Soares dos Reis, Silva Porto, Teixeira Lopes, Alfredo Keil.

O Culto da Arte era, para além das Suas responsabilidades como Monarca, o interesse maior para Sua Majestade Fidelíssima o Rei Dom Luís I. ‘Escrevia muito, traduzia obras estrangeiras, e desenhava; mas o seu entusiasmo ia sobretudo para a música. Tinha uma grande colecção de violinos. E um bom mestre-capela, Manuel Inocêncio dos Santos, autor do hino do monarca’, escreveu Fontes Pereira de Mello.

Dom Luís I ao gosto e grandeza da época não deixa os Seus créditos por mãos alheias: organiza uma enorme e distinta colecção de Pintura com que institui a Galeria de Pintura no Real Paço da Ajuda, na ala norte, e que franqueia ao público que pode visitar a colecção aos Domingos.

Também a Sua erudição não sofre com as novas funções de Servir a Nação como Rei. Sem as descurar, naturalmente, a música – até como escape - tem um papel preponderante na vida do novo Rei: compõe uma Missa para violoncelo, uma Barcarola e uma 'Ave Maria' que o próprio Rossini elogia, pelo que não raras vezes comporá obras dedicadas ao Rei de Portugal, Dom Luís I.

Há ainda D. Luís, o tradutor de obras de Shakespeare, como 'O Mercador de Veneza' de 1879, 'Ricardo III' e o 'Otelo', de 1885, sendo este último o único em que é mencionado o nome do real tradutor.

Não podemos apelidar Sua Majestade Fidelíssima o Rei Dom Luís de Portugal, de Cientista na acepção hodierna, pois os assuntos de Estado afastavam-no da dedicação exclusiva que tal mester obriga. Porém, não se pode deixar de intitular El-Rei de um Homem da Ciência, visto que empreendeu na segunda metade do século XIX, experiências científicas que justificam plenamente o rótulo.

Interessado cientista, a mecânica, a astronomia, as belas-artes, a cartografia, a físico-química e a balística eram ciências que não tinham para Ele segredos, às quais dedicava infatigável actividade e os mais renomados cientistas, que visitavam o Paço Real, não recusavam o auxílio das Suas luzes.

O Rei Dom Luís I, teve uma vida abastada de merecimentos, mas não se pode deixar de destacar uma das Suas ‘invenções’ que, vá-se lá saber porquê, não é suficientemente falada: as estrias na granada de artilharia.

Com os estudos que desde tenra idade o capacitaram, com a preparação técnica que adquiriu como oficial da Marinha Real, e com o intercâmbio de experiências com os principais cientistas da época, o Rei Dom Luís I aperfeiçoou as granadas de artilharia que até aí possuíam alma lisa.
A granada é um artefacto bélico com uma câmara interna que leva uma carga de arrebentamento; o nome deriva da palavra granatum ou romã, pois assemelha-se a tal fruto, embora o primeiro obus a que verdadeiramente se poderá apelidar de granada tenha sido inventado na China medieval, no século IX, e consistia numa cebola oca cheia de pólvora que era atirada, muitos contribuíram para o aperfeiçoamento ou ‘invenção’ da granada moderna – o Rei Dom Luís I foi um deles.

Desde a sua invenção que cada guerra contribuiu para a evolução da granada, e, assim eis que também um português teve a sua intervenção, e não foi um português anónimo: aos obuses lisos, Dom Luís I procedeu a perfurações dos projécteis para que os gases da explosão imprimissem às granadas um curso rotativo que tornava o tiro mais preciso. Além dessas perfurações desenvolveu, também, o sistema de traçado de estrias nas almas lisas das granadas, sistema que viria a prevalecer até aos dias de hoje. Em Janeiro de 1865, enviou as granadas aperfeiçoadas para França, para serem testadas pela potência bélica francesa e em reconhecimento do mérito da invenção o Imperador de França Napoleão III agraciou Sua Majestade Fidelíssima El-Rei Dom Luís I de Portugal com uma Medalha de Honra em Ouro.

Assinale-se, ainda, que D. Luís ordenou a construção e fundação de associações de índole cultural como a ‘Sociedade de Geografia’, em 1875, mas também, na passada de Sua Mãe abraçou as causas sociais e patrocinou a criação de albergues nocturnos para os indigentes, em Lisboa e no Porto.

Lembremos o retrato do monarca - a quem o escritor chamou ‘O Bom’ - traçado pela pena de Eça de Queiroz: ‘para presidir a esta revolução, que cobriu a terra de instrumentos de riqueza e radicou na gente a importância dos interesses, el-rei D. Luís era, pelas favoráveis feições do seu espírito liberal, transigente, modernizado, acessível às inovações, o chefe mais congénere e perfeito. Daí proveio, entre o rei, beneficamente inclinado às reformas, e o reino, que ardentemente se reformava, uma harmonia sólida e séria que, em vinte e oito anos, não sofreu uma interposição nem foi toldada pela sombra.’ Assim foi Dom Luís I, o Popular.

Miguel Villas-Boas

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Arvorados em professores

A Nação em seu Nº 12:131 diz assim: «Consta-nos que a Maçonaria vai fundar um grémio denominado Grupo de Estudos Sociais, que tem por fim combater os princípios religiosos e monárquicos, assim como o ensino ministrado pelos institutos cristãos. Entre os nomes que nos citaram como fundadores desse grémio, contam-se os de alguns médicos, cujo carácter e inteligência eram considerados abaixo de toda a crítica, nos tempos em que esses insignificantes frequentavam as escolas».
Não estranhamos que espíritos apoucados e tacanhos se arvorem em custeadores da verdade, estranharíamos sim que espíritos lúcidos e bem orientados o fizessem, quando despidos de preconceitos.
Todos os dias em jornais jacobinos e outros mais ou menos aparentados com os irmãos decorados de triângulos, vemos artigos esvurmando sandices por todos os poros. Já asneiravam na imprensa, cumpria pois que parvoejassem na cátedra.

«Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 19, Julho de 1896


Fonte: Veritatis